“Didi: a
trajetória da folha-seca no futebol de marca brasileira” – artigo científico de
Luiz Henrique de Toledo do qual o Mundo Botafogo selecionou alguns excertos.
por LUIZ HENRIQUE DE TOLEDO
Antropólogo e professor da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), formado pela Universidade de São Paulo
(graduação em Ciências Sociais-1988, Mestrado em Antropologia-1994, Doutorado
em Antropologia-2000 e pós doutorado-2018)
[ALGUNS EXCERTOS
EXPRESSOS PELO PRÓPRIO DIDI QUE REVELAM A SUA PERSONALIDADE ÚNICA (pp. 85-86,
110, 112)]
Uma vez fizemos [com o time do
Botafogo, sob o comando de João Saldanha] uma excursão pela América Central, e
estávamos no Equador. Tinha terminado o contrato do Amarildo, e ele iria
renovar assim que voltássemos. O Quarentinha já tinha renovado. Então houve um
pênalti. Amarildo e Quarentinha estavam com quase a mesma quantidade de gols.
Aí o Quarentinha pediu pra bater, que era o artilheiro, e tal. E eu falei: “Mas
o Amarildo também é artilheiro, e o contrato dele tá terminando. O dr. Paulo
Azeredo e o João Silas, o pessoal que tá lá no Rio, estão vendo só a
artilharia, lá pelo jornal. Se o Amarildo for artilheiro, dr. Paulo vai ter que
pagar um pouco mais pra ele. Deixa o Amarildo bater...” [...]
O Quarentinha parou em campo. Eu
fui lá no Paulo Amaral [preparador físico] e disse: “Olha, tira o Quarenta
porque ele não quer correr. Ficou chateado porque não bateu o pênalti. Ou tira
ele ou saio eu”. E o Amaral: “Não, Didi, pelo amor de Deus, fica aí”. E tirou o
Quarenta. Depois que terminou o jogo eu fui falar com ele: ‘Ô cabeçudo, uma
cabeça desse tamanho e não pensa? Amarildo tem que fazer a artilharia, precisa
fazer um bom contrato, tem que ganhar o dobro do que você tá ganhando! Porque
depois, quando terminar o teu, você vai e ganha o dobro do que ele, e assim
vai...” (Revista Bundas, no 61, ago. 2000.)
No Real Madrid, eu tentava
calcular a folha-seca de acordo com o vento que soprava no estádio. Pra isso
treinava muito, mas não revelava o segredo a ninguém. Todos achavam que era por
acaso.
[Luiz
Henrique de Toledo conclui citando Roberto Porto:]
Certa vez, já como treinador mas
em plena forma física, Didi veio ao Brasil e foi visitado no Hotel Novo Mundo
por seu antigo companheiro Pinheiro, dos velhos tempos do Fluminense e da
Seleção Brasileira. O mestre ocupava uma suíte e obrigou Pinheiro a esperá-lo
um bom tempo. Lá pelas tantas, Didi apareceu de robe de chambre bordado, cor de
vinho, e provocou um tremendo espanto em Pinheiro:
– O que é isso, crioulo, ficou
besta? – perguntou o ex-companheiro. Falando na voz pausada de sempre, Didi,
sério, respondeu: – Olha aqui, Pinheiro, em primeiro lugar vamos acabar com
essa história de crioulo. Eu era crioulo quando jogava futebol com você. Hoje
sou um treinador de respeito e exijo um tratamento melhor. Que tal senhor Didi
ou outra coisa do gênero?
Pinheiro deixou o Hotel Novo
Mundo estarrecido. (Roberto Porto, 2001, p. 129-130.)
FIM DA SÉRIE
Sem comentários:
Enviar um comentário