domingo, 24 de maio de 2020

Didi: personalidade única do futebol mundial (V)

“Didi: a trajetória da folha-seca no futebol de marca brasileira” – artigo científico de Luiz Henrique de Toledo do qual o Mundo Botafogo selecionou alguns excertos.

por LUIZ HENRIQUE DE TOLEDO
Antropólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), formado pela Universidade de São Paulo (graduação em Ciências Sociais-1988, Mestrado em Antropologia-1994, Doutorado em Antropologia-2000 e pós doutorado-2018)

[ALGUNS EXCERTOS EXPRESSOS PELO PRÓPRIO DIDI QUE REVELAM A SUA PERSONALIDADE ÚNICA (pp. 85-86, 110, 112)]

Uma vez fizemos [com o time do Botafogo, sob o comando de João Saldanha] uma excursão pela América Central, e estávamos no Equador. Tinha terminado o contrato do Amarildo, e ele iria renovar assim que voltássemos. O Quarentinha já tinha renovado. Então houve um pênalti. Amarildo e Quarentinha estavam com quase a mesma quantidade de gols. Aí o Quarentinha pediu pra bater, que era o artilheiro, e tal. E eu falei: “Mas o Amarildo também é artilheiro, e o contrato dele tá terminando. O dr. Paulo Azeredo e o João Silas, o pessoal que tá lá no Rio, estão vendo só a artilharia, lá pelo jornal. Se o Amarildo for artilheiro, dr. Paulo vai ter que pagar um pouco mais pra ele. Deixa o Amarildo bater...” [...]

O Quarentinha parou em campo. Eu fui lá no Paulo Amaral [preparador físico] e disse: “Olha, tira o Quarenta porque ele não quer correr. Ficou chateado porque não bateu o pênalti. Ou tira ele ou saio eu”. E o Amaral: “Não, Didi, pelo amor de Deus, fica aí”. E tirou o Quarenta. Depois que terminou o jogo eu fui falar com ele: ‘Ô cabeçudo, uma cabeça desse tamanho e não pensa? Amarildo tem que fazer a artilharia, precisa fazer um bom contrato, tem que ganhar o dobro do que você tá ganhando! Porque depois, quando terminar o teu, você vai e ganha o dobro do que ele, e assim vai...” (Revista Bundas, no 61, ago. 2000.)

No Real Madrid, eu tentava calcular a folha-seca de acordo com o vento que soprava no estádio. Pra isso treinava muito, mas não revelava o segredo a ninguém. Todos achavam que era por acaso.

[Luiz Henrique de Toledo conclui citando Roberto Porto:]

Certa vez, já como treinador mas em plena forma física, Didi veio ao Brasil e foi visitado no Hotel Novo Mundo por seu antigo companheiro Pinheiro, dos velhos tempos do Fluminense e da Seleção Brasileira. O mestre ocupava uma suíte e obrigou Pinheiro a esperá-lo um bom tempo. Lá pelas tantas, Didi apareceu de robe de chambre bordado, cor de vinho, e provocou um tremendo espanto em Pinheiro:

– O que é isso, crioulo, ficou besta? – perguntou o ex-companheiro. Falando na voz pausada de sempre, Didi, sério, respondeu: – Olha aqui, Pinheiro, em primeiro lugar vamos acabar com essa história de crioulo. Eu era crioulo quando jogava futebol com você. Hoje sou um treinador de respeito e exijo um tratamento melhor. Que tal senhor Didi ou outra coisa do gênero?

Pinheiro deixou o Hotel Novo Mundo estarrecido. (Roberto Porto, 2001, p. 129-130.)

FIM DA SÉRIE

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