domingo, 17 de maio de 2020

Os estudantes do Botafogo de 1910

por MÁRIO FILHO
Jornalista desportivo

Do time do Botafogo, campeão de 10, só três jogadores trabalhavam: o goalkeeper, Coggin, um fullback, Edgard Pullen, um halfback, Lefreve. Coggin e Pullen, com seus 24 anos, os mais velhos de todos. Trabalhavam em firmas importadoras, inglesas. […] O Futebol tendo, para eles, o seu lugar e o seu tempo, sem atrapalhar o trabalho. Primeiro o trabalho, depois o futebol. […] Lefreve, o outro que trabalhava, mais moço, mais livre. Corretor. […]

O resto, tudo estudante. Lulu Rocha, Emanuel Sodré e Lauro Sodré, acadêmicos de direito. Rolando Delamare e Décio Vicares, acadêmico de medicina. Dinorah de Assis e Mimi Sodré, alunos da Escola Naval. Abelardo Delamare ainda no Abílio, terminando os preparatórios. Tinha dezessete anos como Mimi Sodré. Os caçulas do time. Dinorah com os seus dezoito, os outros com os vinte e um anos. […]

Fora difícil formar um time, fundar um clube, transplantar o futebol da Inglaterra para o Brasil. Formado o time, fundado o clube, o futebol estava pegando.

O Paissandu também tinha um time de futebol. E havia outro em Niterói. Para Alberto Borghert, Gustavo de Carvalho e Chico Loup, bastava. SE o Fluminense fosse o único clube, bastava do mesmo jeito. O futebol era o Fluminense. Para Flávio Ramos e Emanuel Sodré, não. O Fluminense era uma coisa, futebol outra. Compreenderam logo o futebol, não compreenderam o Fluminense. […]

Voltaram para casa com a cabeça cheia de futebol. Era fácil jogar, meter o pé numa bola, sair correndo atrás dela. […] Mas nada do Fluminense, nada de ir para o campo da Rua Guanabara bater bola. No Largo dos Leões havia um campo. Uma praça, larga, três filas de palmeiras. Servia perfeitamente como campo. As palmeiras não atrapalhavam, pelo contrário. Onde eles iriam encontrar barras de gol melhores do que as palmeiras imperiais do Largo dos Leões? Se o gol ficasse muito largo, arranjava-se um paralepípedo.

O Botafogo nasceu ali, no Largo dos Leões, no campo das palmeiras. De tarde, depois das aulas, antes de escurecer, juntavam-se para um par ou ímpar, os rapazes de Botafogo.

Uns estudavam, como Flávio Ramos, como Emanuel Sodré, como Lauro Sodré, no Colégio Alfredo Gomes. Outros, como Álvaro Werneck, Mário Figueiredo e Basílio Viana, no Abílio. Otávio Werneck, Arthur César de Andrade, Vicente Licínio Cardoso e Jacques Raimundo, eram do Ginásio Nacional, o Pedro II. Gente do mesmo colégio se separava, gente de colégios diferentes se juntava.  […]

O desejo de ser homem, tão forte em todo o rapazinho, aproximava-os mais do Fluminense. O desejo de ser homem não era menos forte em Flávio Ramos, em Emanuel Sodré, com menos de vinte anos. Mas eles se tornariam homens no Botafogo, no seu clube.

Fonte (livro à venda): FILHO, Mário (2003). O negro no futebol brasileiro. Mauad Editora, 4ª Edição, pp. 38 e 82-83.

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