por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Poderia ter sido uma noite Gloriosa
com uma vitória categórica, mas, com metade da equipe titular de 2023 em campo
na 2ª parte do jogo, o Botafogo recuou, chamou o adversário ao nosso campo e, em
vez de guardar a bola e enervar o adversário, eis que o dito ‘time da virada’ ia mesmo virando o
placar e plantar para sempre, nas nossas mentes, o temor de enfrentar o
Palmeiras e até mesmo quaisquer finais nos próximos anos.
Entre o que poderia ter sido
novamente o desastre mental para o resto do ano e o alívio de se poder
enfrentar o futuro de cabeça erguida, creio que todos os botafoguenses
perceberam o erro tático das substituições de AJ – que tão bem havia preparado
a equipe para o jogo – e o aproveitamento que Abel Ferreira fez com as últimas
substituições refrescando o ataque, enquanto nós ficamos a ver o adversário
jogar e quase chegando a nova classificação épica, ganhando nova vida para o 2º
semestre do ano.
Porém, afinal, os deuses do futebol
protegeram a equipe – que não merecia ser eliminada – e deram-lhe um gol
anulado e o mesmo local do travessão que Savarino tinha acertado aos 4’ de
jogo.
Saudemos a classificação,
mas, talvez principalmente, retiremos uma nova lição dos erros em campo depois
de a equipe se ter batido denodadamente para chegar aos 2x0.
Mas vamos ao jogo.
Até aos 6’ o Botafogo criou
dois lances perigosíssimos: primeiro, em remate de Gregore que saiu ao lado;
segundo, um remate de Savarino de fora da área que embateu na trave em cima do
ângulo de 90º.
Depois a coisa foi mudando
lentamente com o Palmeiras encaixando a marcação ao Botafogo e dominando em
posse de bola e ataques a partir dos 15’ iniciais.
Aos 20’ Estêvão escapou para
dentro da grande área e Alexander Barboza bloqueou o remate in extremis;
aos 23’ Ríos foi à linha de fundo, cruzou à medida para Flaco López que, de
cabeça, ia marcando, mas a bola saiu rente ao poste.
Porém, o domínio do
Palmeiras passou a ser mais territorial do que efetivo e somente aos 40’ criou
nova grande oportunidade quando Estêvão avançou pela ala direita, serviu Marcos
Rocha que rematou cruzado para John enviar para escanteio com um tapa na bola.
O 2º tempo começou com um
falhanço da zaga do Botafogo e o Palmeiras esteve perto de marcar com invasão
de área e remate rente ao ângulo superior esquerdo. No entanto, aos 55’ o
Botafogo avançou pela ala direita cobrando lateral, a bola chegou a Matheus
Martins, muito marcado e já caindo, mas ainda conseguiu tocar no chão para
Savarino, que também muito marcado se desequilibrou e, também já no chão, tocou
para a entrada da pequena área e Igor Jesus, com muita oportunidade, colocou o
Botafogo em vantagem, ampliando o saldo de gols das oitavas-de-final da
Libertadores. Botafogo 1x0.
E enquanto o Palmeiras se
procurava reorganizar do golpe que sofrera, eis que o Botafogo atacou novamente
pela direita, Savarino recebeu o passe no centro, sensivelmente a meio do que se
chama o ‘último terço’, livrou-se do marcador, invadiu a área e não perdoou:
Botafogo 2x0.
Tudo parecia maravilhoso
para o Glorioso com três gols de vantagem na eliminatória e chegando ao segundo
gol fora de casa, talvez contra a melhor equipe do Brasileirão, depois do
próprio Botafogo, e enchendo o peito de emoção e alegria. Porém…
Porém, o Palmeiras nunca
desistiu (assume-se como o ‘time da virada’), continuou a tentar o ataque
assumindo a posse de bola e AJ efetuou substituições que, talvez por não ter
passado pela trágica virada de 4x3 do Palmeiras em 2023, em que Tiquinho
poderia ter resolvido o campeonato se convertesse a grande penalidade que nos
daria o 4x1, eis que de um titular vindo do ano passado (Marlon Freitas),
acrescentou à equipe, no 2º tempo, mais quatro titulares de 2023, passando o
Botafogo a ter em campo metade da equipe vinda de 2023: Marlon Freitas, Hugo, Danilo
Barbosa, Tchê Tchê e Tiquinho Soares – e a equipe recuou, em vez de pausar o
jogo, segurar a bola e não dar chances como deu.
O ‘trauma’ está na cabeça
deles. Efetuar estas substituições não foi fatal por um triz. A equipe recuou,
recuou, chamou o Palmeiras e o Palmeiras não se fez de rogado, criou diversos
ataques perigosos, foi destemido à frente e virou para 3x2. Toda a ‘nação’
botafoguense paralisou durante os minutos seguintes de checagem do gol do
Palmeiras, que acabou por ser anulado.
Efetivamente, aos 85’,
Gabriel Menino alçou a bola na área, Flaco López antecipou-se sozinho a três
defensores alvinegros e de cabeça diminuiu o placar. Botafogo 2x1.
E logo depois, com os
jogadores do Botafogo tomados pelo pânico, Gabriel Menino cobrou uma falta e eis
que Rony conseguiu, dentro da pequena área, esticar o pé e mandar a bola para
as nossas redes. Empate 2x2, e classificação em perigo.
Tão em perigo que o Palmeiras
acabou por virar o placar nos descontos durante uma confusão dentro da pequena
área com o Botafogo totalmente abalado. Porém, o autor do remate final, Gustavo
Gómez, desviou a rota da bola com a mão – que ia claramente sair pela linha de
fundo no lado oposto ao passe recebido e o gol não foi validado.
No último minuto de jogo,
numa falta totalmente inexistente, cujo protagonista ludibriou o árbitro
baixando a cabeça ao nível da chuteira do alvinegro, a Gloriosa ‘nação’
alvinegra ia tendo uma parada cardíaca, da qual seria difícil recuperar, quando
Gabriel Menino cobrou a falta imaginária e a bola embateu exatamente no mesmo
sítio do remate de Savarino aos 4’ de jogo: no ângulo superior esquerdo, a 90º,
da mesma baliza do remate que fora feito por Savarino 90 minutos antes.
Foi um alívio do qual já não
me lembro sequer do último caso ocorrido numa decisão. O Botafogo foi do Céu (com
dois gols em 8 minutos do 2º tempo) ao Inferno (com dois gols palmeirenses em 4
minutos do 2º tempo e depois o gol da virada anulado) e, finalmente, exaustos e
aliviados ficamos pairando nas nuvens, entre o Céu e a Terra, sem saber se
chorar, se gritar, se rir – e creio que nenhum de nós conseguiu adormecer
calmamente. O que sabemos claramente quando hoje acordamos para as lides da
vida, é que estamos classificados para as quartas-de-final.
Artur Jorge e os jogadores
que entendam claramente que um jogo “só acaba quando termine” e que em futebol tudo
é possível – e não poucas vezes, por erros de detalhe como me parece que ocorreram
nesta partida, os jogos perdem-se e os títulos não chegam.
Que a lição seja aprendida!
Porque o certo mesmo é que em oito dias vencemos dois clássicos e empatamos um contra as outras duas mais poderosas do país entre três - que somos nós!
E que venha o São Paulo ou o Nacional - estaremos certamente prontos para vencer!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 2x2 Palmeiras
» Gols: Igor Jesus, aos 55', e Savarino, aos 63' (Botafogo)
Flaco López, aos 85’, e Rony, aos 89’ (Palmeiras)
» Competição: Copa Libertadores, jogo de volta das oitavas
de final
» Data: 21.08.2024
» Local: Allianz Parque, em São Paulo (SP)
» Público: 40.269 espectadores
» Renda: R$ 4.706.504.52
» Arbitragem: Facundo Tello (Argentina); Assistentes: Juan Pablo Belatti (Argentina) e Cristián Navarro (Argentina); VAR: Silvio Aníbal Trucco (Argentina)
» Disciplina: cartão amarelo – Alexander Barboza, Gregore e
Mateo Ponte (Botafogo) e Richard Ríos (Palmeiras)
» Botafogo: John; Ponte, Bastos, Barboza e Cuiabano (Hugo);
Gregore (Danilo Barbosa), Marlon Freitas, Luiz Henrique (Matheus Martins) e
Savarino; Thiago Almada (Tchê Tchê) e Igor Jesus (Tiquinho Soares). Técnico:
Artur Jorge.
» Palmeiras: Weverton; Marcos Rocha (Gabriel Menino),
Gustavo Gómez, Vitor Reis e Caio Paulista; Zé Rafael (Aníbal Moreno), Richard
Ríos (Rony) e Raphael Veiga; Estêvão, Felipe Anderson (Lázaro) e Flaco López.
Técnico: Abel Ferreira.
4 comentários:
O drama faz parte da história do Botafogo de Futebol e Regatas, e ontem ao final do jogo eu daria para o que aconteceu com o time e torcida o título do filme sobre o grande artista do renascimento italiano Michelangelo : "Agonia e Êxtase". Antes do jogo de ontem não sei a razão mas estava muito nervoso, algo que não acontecia comigo desde de a final do carioca de 1989.
O Botafogo de certa forma controlou o jogo no primeiro tempo começando bem, mas começou a ceder campo ao adversário, embora chances reais que me recordo foi uma cabeçada do jogador do Palmeiras.
O segundo tempo começou com um Botafogo tirando, mas fez dois gols e estava controlando a partida, a jogada principal mais efetiva e que é característica do time do Palmeiras era o chuveirinho, o fogo do abafa, de certa forma o Botafogo controlava razoavelmente. Porém as substituições, a exceção a do Cuiabano que se contundiu, não surtiram efeito e trouxe mais ainda o Palmeiras para o campo do Botafogo que ao tomar o primeiro gol num erro absurdo de marcação, assustou o time, que sentiu muito e começou um desespero terrível. Some-se a isso os dois gols perdidos pelo Botafogo, um com Marlon Freitas e outro numa cabeçada do Tiquinho, que em outros tempo converteria em gol.
Do jogo de ontem tiro algumas conclusões:
1- precisamos reforçar de forma urgente a defesa, zaga e laterais. O planejamento do início do ano com o Mazzuco foi muito ruim.
,2- os jogadores que entraram entraram muito mal, são remanescentes daquela virada de 2023, parece que sentiram o jogo.
3- o time do Botafogo não pode desperdiçar tantos gols como vem acontecendo ao longo do campeonato, e isso me lembro de pelo menos uns 10 jogos.
4- o time tem que aprender a recuar de forma estratégica, e não dando tanto espaço e sem controle da bola, o time se limitou a chutões e não soube reter a bola e acalmar a pressão, algo que acontece há vários jogos.
5- o time do Botafogo precisava de um jogo difícil nessa competição para criar uma casca, pois esse tipo de competição precisa dessa força e agora com o Botafogo voltando a disputar a LA a tendência é aprender a jogar a competição. Faz parte da nova era alvinegra, faz parte da evolução.
Apesar da tensão e do sofrimento no jogo de ontem, devemos comemorar e muito a classificação, foi uma classificação épica, que mostra que o Gigante estão se reerguendo e começando a incomodar muita gente.
Parabéns Botafogo, "não podes perder, perder prá ninguém. Tomara que essa classificação tenha exorcizado os fantasmas do passado, e que o jogo de ontem sirva de lição permanente. Abs e SB!
Faltou um detalhe importante no meu comentário: se o jogo fosse válido pelo campeonato brasileiro, tenho minhas dúvidas se o var anotaria a infração do jogador do Palmeiras. Abs e SB!
Totalmente de acodo com as suas cnclusões, Sergio!
Diria apenas que em vez de "Agonia e Êxtase", fomos pelo inverso: "Êxtase e Agonia", êxtase com o 2º gol, agonia com a virada do Palmeiras, que felizmente acabou por não se concretizar, e depois o alívio, sem êxtase. Para o Palmeiras talvez tenha sido pior: foram da agonia (0x2) ao êxtase (3x2) e regressaram, se não à agonia, pelo menos a uma frustração profunda com a anulação do gol e a bola no ângulo de 90º no último minuto, exatamente no mesmo ponto em que o Savarino acertou na 1ª parte.
Mas... estamos nas quartas! E se futebol se mede por resultados, alcançamos o objetivo para conquistar a meta almejada. Que é muito ambiciosa: ser Campeão Continental - sem esquecer que o foco é jogo a jogo e que só no final são contados os tiros certeiros das espingardas de cada contendor.
Abraços Gloriosos.
Eu quase garantiria que os únicos árbitros que marcariam essa mão no campeonato brasileiro seriam árbitros estrangeiros indicados pela Conmebol...
Abraços Gloriosos.
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