por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
O Botafogo entrou bem na partida e durante o primeiro
quarto de hora criou duas grandes oportunidades, uma com um centro de Artur à
medida de Cuiabano que se atrapalhou com a bola à frente da baliza e conseguiu
a proeza de rematar ao lado, outra com Vitinho na corrida rematando cruzado
muito próximo da baliza.
Depois o jogo acalmou, com o Universidad fechado na
defesa porque quem precisava do resultado era o Botafogo, e aos 23’ Jair quis
sair bonito com a bola, adiantou-a e cometeu a imprudência suprema de um carrinho
que pretendia recuperar a posse de bola, originando uma falta grosseira, claramente
para cartão vermelho que acabou por merecer.
Felizes, os chilenos esfregavam as mãos de contentes,
acreditados, tal como aconteceu com o Atlético Mineiro, em 30 de novembro de
2024, que o jogo estava na mão. Ledo engano: Paiva manteve o esquema, tal como
AJ naquele dia Eterno, e o Botafogo nunca deixou de tentar contra-ataques
rápidos. E quinze minutos após a expulsão, aos 38’, Vitinho passou a bola a
Artur, que lançou Savarino na corrida pela direita, que centrou
milimetricamente para Igor Jesus, que cabeceou fulminante para o fundo das
redes. Belíssima jogada. Botafogo 1x0.
Agora cabia ao Universidad correr atrás do prejuízo!
O Botafogo geriu bem a partida até ao intervalo, mas o
segundo tempo começou meio assustador com o Universidad rematando de fora da
área aos 49’ para a bola explodir no travessão. Parecia dado o sinal que a
coisa ia ser complicada. Porém, aos 51’ foi Artur que, em corrida, centrou da
linha de fundo para Igor rematar muito por alto em frente da baliza; aos 55’ o
Botafogo contra-atacou, Igor venceu a zaga, esticou para Artur e o camisa 7
estufou as redes num lindo gol, mas anteriormente, no início da jogada, Igor ajeitara
a bola com a mão e o gol foi invalidado; aos 60’ houve nova oportunidade e
Artur quase encobriu o goleiro para ampliar o placar.
Daí em diante nada de verdadeiramente relevante se
passou: após a bola do Universidad no travessão nenhuma outra oportunidade o
adversária teve a seu favor, nem antes nem depois do bola no travessão, tanto mais
que John apenas defendeu uma bola enquadrada com a baliza durante toda a
partida.
O Universidad foi tendo bola, mas quase nunca conseguiu
entrar na nossa grande área com a bola a correr, nem rematar de meia distância
porque a defesa do Botafogo organiza-se muito bem, tal como o contra-ataque quando
tem espaço por mínimo que seja. As melhorias foram significativas durante o
jogo.
Uma partida jogada quase na perfeição por quem tem apenas
10 elementos em campo, um desempenho extraordinário de Barboza, Artur e Igor
Jesus (notas 10), seguidos de perto por Savarino, Gregore e Renato Paiva (notas
9.5), mas também os demais estiveram em alto nível (notas 8 a 9), se excluirmos
Jair que tem muito que aprender, bem como assentar no que respeita a uma certa vaidade – típica da
juventude – que, na opinião do Mundo Botafogo, por vezes prejudica o coletivo.
Ou talvez não tivéssemos jogado com 10 atletas, como assegura Renato Paiva: “Começamos com 12 e quando o Jair foi expulso jogamos com 11. A torcida deixa qualquer profissional desse clube sem palavras”. Portanto, nota 10 também para a torcida.
Certo, certo, é que 30 de novembro e 27 de maio são datas
gêmeas de superação da inferioridade numérica;
certo, certo, é que foi na reta final da fase de grupos
da Libertadores em 2024 e 2025 que nos redimimos de duas campanhas que
inicialmente pareciam fadadas ao fracasso e construímos vitórias épicas;
certo, certo, é que quando estamos em risco de falhar,
por inferioridade técnica ou inferioridade numérica, não falha a atitude e a
entrega ao jogo;
certo, certo, é que o modo como foi conquistada ‘La
Gloria Eterna’ mudou o DNA do Glorioso, porque até as gerações mais antigas
parecem ter deixado o pessimismo para trás e acreditado nesta classificação mesmo
depois dos 23 minutos de jogo – tal como eu também acreditei ao relembrar-me
automaticamente dos 29 segundos de 30 de novembro.
Afigura-se que o nosso destino pode estar verdadeiramente
em reconstrução se as novas ações estratégicas, táticas e operacionais incidirem
coerentemente na mesma direção. Incidirão?...
Temos todos que nos manter alerta e exigir aos nossos dirigentes que mantenham o ‘facho de luz’ na direção certa.
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Curiosidade: o Botafogo defrontou o Club
Universidad de Chile em 5 jogos (1 amistoso e 4 Libertadores), obtendo 2
vitórias e 3 derrotas, 7 gols a favor e 7 gols contra; todavia, as nossas duas
vitórias bastaram para nos dar a classificação à fase seguinte da Copa Libertadores de 1996 e de 2025.
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FICHA
TÉCNICA
Botafogo 1x0 Universidad de
Chile
» Gols: Igor Jesus, aos 38’
» Competição: Copa Libertadores da América
» Local: Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro (RJ)
» Data: 27.05.2025
» Público: 33.393 pagantes; 36.342 espectadores
» Renda: R$ 1.672.405,00
» Árbitro: Andrés Rojas (Colômbia); Assistentes: Alexander Guzmán (Colômbia) e Cristian Aguirre
(Colômbia); VAR: Heider
Castro (Colômbia)
» Disciplina: cartão amarelo
– Cuiabano e John (Botafogo);
Guerrero, Hormazábal, Calderón e Altamirano (Universidad de Chile); cartão vermelho – Jair (Botafogo)
» Botafogo: John; Vitinho, Jair, Alexander Barboza e Alex
Telles (Mateo Ponte); Gregore e Marlon Freitas; Artur, Savarino (Danilo Barbosa),
Igor Jesus e Cuiabano (Allan). Técnico: Renato Paiva.
» Universidad de Chile: Castellón; Hormazábal, Calderón e Nicolás
Ramírez; Guerrero, Marcelo Díaz (Altamirano), Poblete (Assadi), Aránguiz e
Sepúlveda; Leandro Fernández e Di Yorio (Guerra). Técnico: Gustavo Álvarez.
2 comentários:
Essa é a terceira partida decisiva que o Botafogo vence com um a menos: Taça Guanabara de 67, Jairzinho expulso por revidar agressões que vinha sofrendo. A glória eterna em 30/11/2024 e ontem. Parece que o Botafogo descobriu a fórmula de ganhar na LA, jogar com um a menos, porém, tenho que concordar que a torcida maravilhosa do Botafogo é um jogador a mais e, tão como na final da LA, ontem foi a repetição bfe uma torcida apaixonada e poderosa.
Eu concordo totalmente com esse DNA que você tão bem explanou, o que o Botafogo fez ontem é algo de um time com características de vencedor, que está exorcizando os fantasmas dos fracassos do passado.
Que partida notável fez o Igor Jesus, mas não podemos deixar de ressaltar a partida extraordinária do Gregori, Barboza. Concordo totalmente com as notas que você deu aos jogadores, treinador e torcida. Parece que o Renato Paiva e os jogadores estão começando a entender o que está sendo proposto. E me chama a atenção o treinador não mexer no time, apostando na qualidade e no entendimento dos jogadores em relação a situação, bem diferente de treinadores brasileiros, que sempre que perdem um defensor tiram um atacante e colocam um outro defensor, o que acaba de certa forma prejudicando o sistema do time. Seria isso uma característica dos treinadores portugueses?
Mais uma vez a emoção me tomou conta, esse é o Botafogo que está descrito: "Foste herói em cada jogo". Parabéns especial para esse torcida maravilhosa. Abs e SB!
Os árbitros da LA vão parar de expulsar botafoguenses para os adversários poderem vencer! (rssrsrs)
Este DNA - independentemente de eu não lhe perdoar as fugas - começou com o L. Castro, foi aprofundado pelo A. Jorge e agora temos o Renato Paiva que parece que poderá começar a dar conta do recado e consolidar esse DNA no futuro próximo.
Todavia, é preciso que tanto os dirigentes como a torcida estejam em consonância com a comissão técnica e o plantel nessa matéria para que esta mentalidade vencedora seja "o pão nosso de cada dia" botafoguense.
Claro que houve uns melhores que outro tecnicamente, com notas entre 8 e 10, mas em matéria de mentalidade, nota 10 para todos.
Parece que sim, que as propostas do Paiva estão entrando em força na equipe Se assim for, ainda temos boas hipóteses de um ano alegre! Talvez o Paiva consiga superar as nossas desconfianças iniciais sobre ele. Pelo menos o homem acredita que sim. Tomara!
Esse esquema de não tirar um atacante (por isso ganhamos a LA com um a menos o tempo todo), bem como outras soluções de treino e de tática, são progressos normais entre os melhores treinadores. Os treinadores brasileiros têm que acelerar a sua formação, a sua reciclagem e atualização para acompanharem o que se passa no mundo dos treinadores de futebol. Não é novidade aqui no blogue o que penso sobre isso. Há muitos anos que considero que no futebol brasileiro só os jogadores são realmente bons (em geral, há maus dirigentes, maus técnicos, maus árbitros, maus magistrados desportivos e maus jornalistas desportivos). E porque os jogadores foram tão bons no passado é que foi possível os treinadores brasileiros sentarem-se à sombra da bananeira e ainda assim verem os seus pupilos vencerem. Mas hoje o mundo do futebol não se compadece disso, porque também existem extraordinários atletas em todo o mundo que não são brasileiros. Então, os treinadores brasileiros que antes eram contratados pelo futebol mundial mais desenvolvido (basicamente europeu), gradualmente deixaram de ser contratados e não se vêem hoje, como antes se viam, treinadores brasileiros nas principais ligas europeias, porque gradualmente se foi percebendo que não se atualizam. (Ver, por exemplo, as declarações de Joel Santana criticando Paiva por não levar os titulares ao jogo de Brasília, e ainda foi jocoso com os jogadores perguntando o que iam fazer no sábado e no domingo em vez de treinarem, talvez fossem rezar... - pura vontade de aparecer, sem critério)
Porém, penso que as coisas estão mudando e gradualmente o futebol brasileiro vai regressar à alta roda, e os indícios estão aí: muito mais treinadores e muito mais jogadores estrangeiros, tal como no futebol europeu, porque o futebol globalizou.
Bem vista a nota que fez sobre o Botafogo descrito como "herói em cada jogo"!
Abraços Gloriosos.
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