por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo
Eis o DNA do Botafogo absolutamente
épico e formidável como é desde sempre: de Robin Wood quando menos se espera a exterminador
‘impossível’ de superfavoritos no palco mundial!
É um Botafogo sempre pronto
a encher as taças da decepção e em seguida deslumbrar-nos enchendo taças de
júbilo com o mais saboroso champagne comemorativo dos grandes campeões, seja no
palco nacional, continental ou mundial, fazendo jus àquilo que é capaz de fazer
quando se dispõe ao melhor: fazer explodir a nossa mais profunda emoção com conquistas
épicas movidas pela grande Alma Botafoguense.
A tarefa era ‘simples’: fazer
o ‘possível’ não bastava, seria necessário ousar lutar e criar uma vitória ‘impossível’.
O super milionário PSG, no
alto do seu pedestal, traçou o rumo do jogo: aquele ‘botafoguinho’ de fraco
futebol demonstrado na estreia do Mundial vai cair nos primeiros vinte minutos,
bastando entrar com um futebol agressivo, enfiar duas ou três bolas como foi
contra os ‘colchoneros’ e gerir o resto da partida, porque o PSG não está nem
aí para gastar o seu futebol com clubes tecnicamente, financeiramente e
eteceteramente inferiores.
E assim foi o modo como o
jogo começou: no 1º minuto da partida um tal de Kvaratskhelia rematou com precisão
e John esticou-se e espalmou a bola. Porém, na jogada seguinte, o Botafogo foi à
área adversária e respondeu com um remate, embora à figura do goleiro adversário.
A toada da famosa ‘posse de
bola’ entrou em campo e o PSG dominada o jogo com mais de 70% de posse de bola.
Durante talvez uns 15 minutos os nossos corações pulsavam mais forte, assustados
com o ‘colosso’ francês a dominar as operações em campo. Mas eis que,
paulatinamente, nos apercebemos que o Botafogo domina com muita precisão a ‘não
posse de bola’, algo que em muitas ocasiões o Mundo Botafogo referiu como uma característica
central das nossas equipes – já vinda mesmo do tempo de Garrincha –, que passa por
montar uma boa defesa e contra-atacar nos momentos cruciais das partidas. E
aqui e ali, logo que fosse possível, o Botafogo contra-atacava em busca da
surpresa.
Um aparte: diversos clubes foram campeões em grandes torneios continentais com 30% de posse de bola, uma defesa primorosa e um contra-ataque letal; o Botafogo venceu o PSG com 25% de posse de bola.
E quando chegámos ao
intervalo de refrescamento, por volta dos 30’ de jogo, eis que o PSG já não
estava nem possante nem fresco como entrara. E o Botafogo contava com isso. O
domínio inócuo do PSG fez-se sentir nesse período e o exímio exercício de defender
mostrou um Botafogo com grande capacidade de ripostar. Apesar disso nós
temíamos que a ‘máquina demolidora’ do PSG, constituída por campeões vindos de
toda a parte do mundo, pudesse inaugurar o marcador e desmontar assim toda a
nossa estratégia – e por isso eramos cautelosos sem perder de vista o grande
objetivo que era vazar a baliza adversária.
E reatada a partida aos 32’,
o rumo de jogo que o PSG decretara antes mesmo de se iniciar, não funcionava. O Botafogo percebeu esse momento do jogo e, aos 35’, num contra-ataque letal,
Savarino endereçou uma bola primorosa para Igor Jesus, rasgando a defesa
contrária, e o nosso goleador conseguiu penetrar por entre dois adversários, que
o perseguiram tenazmente, e com a alma toda do mundo rematou para a glória:
Botafogo 1x0!
A nossa equipe acabara de
colocar o PSG em sentido!
Os vencedores recentes da mítica
Champions League, bem como alguns dos
seus jogadores (portugueses) que acumulavam também a recente conquista da
Nations League, haviam sido vergados pela estratégia, pela inteligência, pela
capacidade coletiva e por uma Alma Botafoguense que acabara de impor ao mundo
uma só estrela – a Estrela Solitária.
E nada mais aconteceu na 1ª
parte. Perdão… aconteceu o espanto, a incredulidade dentro e fora de campo – o PSG
estava sendo dominado com a sua posse de bola. Além do 1º minuto, John não
fizera uma única defesa, o PSG não penetrara na grande área botafoguense e foi
para o intervalo cozido em banho-maria.
Ah!... Mas a 2ª parte do
jogo vai ser diferente. O PSG tornou a buscar uma maior agressividade e ao 51’
John foi ‘fuzilado’ à queima-roupa, mas respondeu à altura do seu tamanho – fez
a maior defesa do jogo.
O Botafogo entendia perfeitamente
o jogo e percebeu que tinha que contra-atacar rapidamente para recolocar o PSG novamente
em sentido, e no minuto seguinte, aos 52’, Savarino testou de cabeça dentro da
área levando perigo à baliza adversária.
Luis Enrique percebeu que
tinha que fazer algo mais e aos 55’ operou 4 substituições ao mesmo tempo.
Renato Paiva esperou para perceber o que pretendia o treinador adversário e
acabou por efetuar duas substituições.
Porém, o que mudou foi
apenas o Botafogo intensificar as suas tentativas de contra-ataque para ‘matar
o jogo’. Poderia ter acontecido, talvez com um pouco mais de ousadia de quem
conduzia a bola, mas a lição estava bem estudada: jogar pela certa e
coletivamente. E como Igor Jesus estava muito sozinho no ataque tinha que
esperar pela chegada dos companheiros, perdendo o tempo de surpresa.
Na verdade, o Botafogo atuava de uma forma totalmente organizada, com duas linhas de 4 ou duas de 4 e 5,
deixando mais à frente, em determinados momentos, um ou dois atletas. No entanto, a recomposição era imediata após os
contra-ataques, a concentração era total, o foco na vitória era absoluto.
E chegados aos novo
intervalo de refrescamento, aos 75’, tudo como dantes no quartel de Abrantes. A
‘não posse de bola’ jogada com inteligência dominava totalmente a ‘posse de
bola’ inócua e anulava, jogada após jogada, qualquer tipo de criatividade que o
PSG ousasse esboçar – e tudo isso sem antijogo, encarando o adversário de
frente, com a bola a rolar e a alma cheia de energia para uma vitória histórica
do Glorioso.
E o que se passou nos
últimos 25 minutos?... Nada mais do que a continuada incapacidade do PSG em
penetrar na nossa área, já muito cansados fisicamente e, sobretudo, cansados de
não encontrarem um só coelho na cartola de Luis Enrique.
Na verdade, Renato Paiva
errou (quase) tudo o que fez contra o Seattle Sounders e Luis Enrique acertou
tudo o que fez na goleada sobre o Atlético de Madrid. Porém, como afirmara o
nosso treinador anteriormente, há dias de infelicidade e outros de felicidade. O
embate Botafogo x PSG confirmou a escrita: foi a vez de Luis Enrique errar tudo
o que tentou para mudar o jogo e Renato Paiva acertar tudo aquilo que alterou
durante o jogo. Um vinha soberbo com um saco cheio de gols e de títulos; o outro
vinha modestamente com uma equipe ambicionando alcançar novamente o cume,
mostrar que não é qualquer equipe que conquista ‘La Gloria Eterna’ e vencer no
palco mundial, sabendo que as vitórias costumam sorrir a quem ousa lutar e
criar o seu próprio espaço.
E como souberam criar esse
espaço e encher os jornais de todo o mundo com a épica vitória, considerada
impossível por todos, menos por uma equipe técnica, por uma equipe de futebol e
por um mar de milhões de torcedores botafoguenses de todo o planeta orgulhosos
de terem sido escolhidos pela estrela mais brilhante do Universo.
Notas?... Bem, Igor Jesus
foi novamente escolhido como ‘craque do jogo’, e provavelmente estará de novo
na seleção da rodada, mas a verdade é que uma equipe que ‘joga junto’ com
treinadores, jogadores e torcedores que se ouviam claramente em todo o estádio,
merece ‘apenas’ nota 10!!!
Um Bem-haja a todos, porque
os nossos corações pulsam cheios de vida e as nossas almas ocupam definitivamente
cada espaço do Universo!
FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x0 PSG
» Gols: Igor Jesus, aos 35’
» Competição: Campeonato do Mundo de Clubes
» Data: 19.06.2025
» Local: Estádio Rose Bowl, em Pasadena, Los Angeles, E.U. América
» Público: 53.699 espectadores
» Árbitro: Drew Fischer (Canadá); Assistentes: Micheal Barwegen (Canadá) e Lyes Arfa (Canadá); VAR: Shaun Evans (Austrália)
» Disciplina: cartão amarelo
– Gregore e Cuiabano (Botafogo)
» Botafogo: John; Vitinho, Jair, Alexander Barboza e Alex
Telles (Cuiabano); Gregore, Marlon Freitas e Allan (Newton); Artur (Álvaro
Montoro), Igor Jesus e Savarino (Santi Rodríguez). Técnico: Renato Paiva.
» PSG: Donnarumma; Hakimi, Beraldo, Pacho e Lucas Hernandez
(Nuno Mendes); Vitinha, Zaïre-Emery (João Neves) e Mayulu (Fabián Ruiz);
Kvaratskhelia, Gonçalo Ramos (Barcola) e Doué (Lee). Técnico: Luis Enrique.
12 comentários:
Fala meu querido amigo Ruy e amigos!
Todos aqui devem estar na lua de tanta felicidade e merecem mesmo!
Uma vitória espetacular, um time super aplicado, uma lição para toda imprensa brasileira e seu terrível complexo de vira lata.
Botafogo fez bonito por si e por todo futebol brasileiro, parabéns aos amigos e obrigado ao Botafogo!
O artigo ou comentário mais sério e Hilário e ao mesmo tempo cheio de ironia que li em 60 anos como torcedor Glorioso desde 1965! (Rsrs)
VIVA O GLORIOSO DE FUTEBOL E REGATAS!!!
Saudações Gloriosas!
Émerson.
Viva, estimado Leymir! Várias lições se podem tirar, realmente. Creio que a mais significativa é que a soberba pode sempre ser derrotada por quem sabe exatamente quais são os seus pontos fortes e fracos, e o dos adversários, e consegue pela atitude, foco, exigência e ambição superar-se superando os adversários. A história do Botafogo está cheia disso, e as suas grandes conquistas no futebol estão geralmente associadas a esses aspectos cruciais de quem quer ganhar pela capacidade de luta, de ousadia e de criatividade.
Grande Abraço!
UAU! Esse é um comentário / elogio pra lá de soberbo! Não mereço tanto, José Vanilson, afinal, tais encômios devem ser diretamente endereçados à minha alma botafoguense, que utiliza a minha pessoa para se exprimir! (rs)
Quem diria que o meu racional se deixar levar por emoções como... a ironia! (rs)
Abraços Gloriosos, companheiro de jornada!
É o mais desconcertante Clube do futebol brasileiro, quiçá do mundo. Creio que isso se deve aos desconcertantes rapazes que em 1911 abandonaram a federação carioca para se solidarizarem com Abelardo e aos dribles de Garrincha da década de 1960. É Glorioso e Desconcertante, e os seus torcedores foram escolhidos à medida desses atributos!
Abraços Gloriosos, companheiro Émerson.
A única dúvida que resta é: Campeão Mundial ou Bi Campeão Mundial (1996 e 2025)?
Se o SPFC venceu do vice da Champions League em 1993 e foi considerado título mundial, se o Atlético de Madrid (vice da Champions) venceu o Independiente em 1974 e foi considerado título mundial, por que o Botafogo atual campeão da Libertadores que venceu o PSG, atual campeão da Champions League, não é também tão campeão mundial quanto estes?
E dessa vez usando a própria camisa - o branco nos cai bem.
Confesso ao amigo que no lance do gol, assim como disse o próprio Igor Jesus após o jogo, fiquei com a visão turva: Era Viktor Jesus? Era Igor Gyokeres? Era o tradicionalíssimo Jamor numa tarde de domingo 25 de Maio? Era o centenário Rose Bowl, palco do Tetra? Era o Monumental de Nuñez novamente? Não sei, não sei... Mas tudo parecida uma coisa só e, ao fim e ao cabo, na baliza onde Baggio perdeu o pênalti que deu ao Brasil o Tetra, o nosso 99 ('duas vezes 9') marcou e guardou contra a melhor zaga e o melhor goleiro do mundo - e não era um time embreagado do Liverpool como um outro aí, rsrs.
Saudações Botafoguenses e Leoninas!
BFR + SCP = O Leão da Estrela
Sempre muito criativo, meu Amigo! Essa mistura dos dois goleadores, dos estádios e dos simbolismos é soberba! Terminando com a cereja em cima do bolo: O Leão (SCP) da Estrela (BFR)! - Sublime.
Nota aos leitores que não saibam: 'O Leão da Estrela' é um filme de ficção português estreado em 1947.
Em futebol nada é impossível, mas há equipes tecnicamente muito superiores ao Botafogo e não será fácil batê-las todas - até porque agora olham-nos com mais atenção e seremos adversário temido a abater. No entanto, no que respeita a europeus, temos a vantagem de chegarem em fim de época e não estarem habituados a temperaturas muito elevadas. Aliás, o Botafogo sabia bem disso antes do embate com o PSG e aproveitou bem.
Conseguirmos chegar longe implica que a comissão técnica estude muito bem os adversários e não cometa erros de palmatória quando necessita de introduzir mudanças nas partidas, porque quanto aos jogadores, se iniciaram a competição com pouca atitude, aprenderam rapidamente que a atitude é muitas vezes mais crucial do que a capacidade técnica e parece que finalmente regressaram aos jogos épicos de vencer o Palmeiras fora de casa e assegurar o título brasileiro contra todas as expectativas dos não botafoguenses e derrotar o Atlético Mineiro com um jogador a menos durante todo o tempo e garantir 'La Gloria Eterna' contra a lógica numérica.
Desejo, evidentemente, que se falharem as capacidades técnicas não nos falte atitude para compensar e nos guiar a novos destinos!
Abraços Gloriosos.
Que texto maravilhoso Ruy!
Infelizmente não consegui assistir o jogo de ontem, pois estava passando mal, uma sonolência e a pressão um pouco alta, talvez estivesse ansioso, e com certeza pela tensão do jogo eu não arrisquei ter um piripaque. Mas já li e vi tudo sobre a vitória épica, gigantesca, histórica do nosso Botafogo. Só esse clube gigante é capaz de proporcionar isso. Para os que gostam de números, há 12 anos um clube sul-americana não vencia uma equipe europeia, mas 12 tem a ver com o nosso Botafogo: dia da fundação e 21 ao contrário, nosso número mágico. Seria coincidência?
Todos os atletas estão de parabéns pela vitória, pela garra, pela ordem tática perfeitamente executada, mas sem dúvida devemos também ressaltar o Renato Paiva, que soube entender bem o PSG e soube montar de forma primorosa o time do Botafogo.
Ainda sobre o Renato Paiva, devo dizer que achei a atitude dele atribuindo a si, o mal desempenho do Botafogo contra o Seattle Sounders, "fiz asneira", disse ele ao entrar no vestiário após o término da partida. Reconhecer os próprios erros e algo muito grande.
Parabéns Botafogo, e , não podia deixar de citar nosso hino: "foste herói em cada jogo". BOTAFOGO É GIGANTESCO! Abs e SB!
Curiosamente, Sergio, ontem eu estava muito tranquilo e só comecei a não me controlar totalmente na reta final após os 75'. Aí, quando os jogos não estão com placar ainda indefinido, começo a ficar nervoso e tenho que andar pela casa para controlar a 'aflição'. Ainda assim, acreditava que o placar já estava definido. Estive menos nervoso nessa parte final contra o PSG do que na parte final contra o Seattle, porque empatar aquele jogo seria quase entregar a classificação.
O jogo começou a ser ganho pela estratégia definida pelo Maestro e depois primorosamente executada pelos Pianistas, Violinistas, Flautistas...
Quanto ao Paiva tenho pronta uma publicação de elogio à sua capacidade pública de fazer 'mea culpa'. Coisa raríssima em qualquer parte d mund.
Abraços Glooriosos.
Olha quem apareceu! Vocês também fizeram bonito contra os ingleses, meus parabéns! E sim, a vitória do Alcineir me deixou em êxtase.
Sim, o Flamengo obteve uma vitória muito significativa. E à 2ª rodada os quatro clubes brasileiros terminaram na liderança!
Abraços Gloriosos.
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