
“Com a ajuda de Nossa Senhora Aparecida, o Botafogo espera sair da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Desde quarta-feira, o elenco treina abençoado pela padroeira do Brasil. A imagem foi comprada pelo supervisor Márcio Touson, em uma loja na estrada” [notícias de Internet].
Já em 2007, após uma série de declarações públicas desconexas e de o Botafogo entrar em queda livre, Carlos Augusto Montenegro levou um padre para rezar missa em General Severiano. E aconteceu o que aconteceu.
Permitam-me, estimados amigos, que por uma única vez fale de Deus, apesar de este não ser o sítio apropriado para o efeito.
Faz-me muita confusão que um crente, em vez de preservar a imagem do seu Deus, de se recatar no silêncio da relação divina e de orar em privado, contrate padres e espiritistas para pedir a Deus que seja parcial durante um jogo de futebol, para que Ele trate uns como filhos e outros como enteados. Faz-me confusão que em vez de treinarem com afinco, apurarem a técnica e a preparação física e mostrarem o que sabem em campo, os jogadores entrem rezando ostensivamente ao seu Deus, como a maioria – apesar de a seguir saber-se que uns vão perder e outros vão ganhar – e se ajoelhem exaustivamente fixando o firmamento na comemoração de um gol, como Lúcio Flávio faz. Esperam benefício sem esforço.
Faz-me confusão que se pretenda que o Deus de cada um nos beneficie contra aqueles que são melhores do que nós, pela simples razão de serem mais competentes e persistentes do que nós, de serem mais talentosos e inteligentes do que nós. Faz-me confusão que o Glorioso, com a ressalva do exercício dos seus tradicionais ritos e superstições (que fazem parte do nosso ‘folclore cultural e identitário’), acabe por ser tão igual aos piores, não obstante os talentosos dirigentes de outrora nos terem levado a sermos eleitos entre os melhores do mundo por duas vezes – em meados e em finais do século XX (artigos publicados no blogue).
Os atuais dirigentes do Botafogo são incapazes, por si mesmos, de erguerem o Glorioso e, em função das suas incompetências, apelam a convicções religiosas que consigam fazer por eles aquilo que eles são obrigados a fazer e não conseguem fazer por óbvia incapacidade de talento, de habilidade e de inteligência.
Em minha família nunca vi essa banalização de Deus, que foi sempre uma entidade respeitadíssima e preservada das vulgaridades terrenas. Creio que Deus não deveria ser banalizado como fazem hoje as sociedades ocidentais, com a aquiescência dos povos. Deus não deveria ser exposto em público de modo tão exuberante e parcial. É por isso que a UEFA, após as exuberantes comemorações de camisas despidas em público para comemorar gols, quer proibir tais manifestações religiosas em campo. Creio que é um exagero da UEFA, mas os exageros atraem exageros e acabam por estragar as coisas melhores da vida.
Se o presidente do Botafogo fizesse o que devia, se os diretores cumprissem as suas funções, se a comissão técnica exercesse uma forte liderança, se os médicos e preparadores físicos tratassem atempadamente os atletas e os medicassem adequadamente e se os jogadores soubessem honrar a Gloriosa camisa botafoguense, o Deus de cada um estaria resguardado da exposição pública e creio que os nossos sofrimentos estariam definitivamente afastados.
Renato Estelita, nos idos de 1957, após uma produtiva reunião de gestão do futebol com o presidente Paulo Antônio Azeredo e o treinador João Saldanha, a qual foi o começo de um dos mais sensacionais títulos do Glorioso, comentou para este: – "Ganhando, tudo irá bem. Mas... escuta uma coisa: que tal se nós contratássemos o seu Valdemar? Aquele macumbeiro de Catumbi, um que já trabalhou para o Vasco. Ele é bom...”. E Saldanha respondeu de imediato: – "Ora, Renato, não enche. Se macumba resolvesse em futebol, o campeonato baiano terminaria empatado!..."
E fomos campeões ganhando por 6x2 ao ‘pó-de-arroz’…
Que saudades tenho do teu talento, das tuas habilidades e da tua inteligência, João Saldanha!...
Já em 2007, após uma série de declarações públicas desconexas e de o Botafogo entrar em queda livre, Carlos Augusto Montenegro levou um padre para rezar missa em General Severiano. E aconteceu o que aconteceu.
Permitam-me, estimados amigos, que por uma única vez fale de Deus, apesar de este não ser o sítio apropriado para o efeito.
Faz-me muita confusão que um crente, em vez de preservar a imagem do seu Deus, de se recatar no silêncio da relação divina e de orar em privado, contrate padres e espiritistas para pedir a Deus que seja parcial durante um jogo de futebol, para que Ele trate uns como filhos e outros como enteados. Faz-me confusão que em vez de treinarem com afinco, apurarem a técnica e a preparação física e mostrarem o que sabem em campo, os jogadores entrem rezando ostensivamente ao seu Deus, como a maioria – apesar de a seguir saber-se que uns vão perder e outros vão ganhar – e se ajoelhem exaustivamente fixando o firmamento na comemoração de um gol, como Lúcio Flávio faz. Esperam benefício sem esforço.
Faz-me confusão que se pretenda que o Deus de cada um nos beneficie contra aqueles que são melhores do que nós, pela simples razão de serem mais competentes e persistentes do que nós, de serem mais talentosos e inteligentes do que nós. Faz-me confusão que o Glorioso, com a ressalva do exercício dos seus tradicionais ritos e superstições (que fazem parte do nosso ‘folclore cultural e identitário’), acabe por ser tão igual aos piores, não obstante os talentosos dirigentes de outrora nos terem levado a sermos eleitos entre os melhores do mundo por duas vezes – em meados e em finais do século XX (artigos publicados no blogue).
Os atuais dirigentes do Botafogo são incapazes, por si mesmos, de erguerem o Glorioso e, em função das suas incompetências, apelam a convicções religiosas que consigam fazer por eles aquilo que eles são obrigados a fazer e não conseguem fazer por óbvia incapacidade de talento, de habilidade e de inteligência.
Em minha família nunca vi essa banalização de Deus, que foi sempre uma entidade respeitadíssima e preservada das vulgaridades terrenas. Creio que Deus não deveria ser banalizado como fazem hoje as sociedades ocidentais, com a aquiescência dos povos. Deus não deveria ser exposto em público de modo tão exuberante e parcial. É por isso que a UEFA, após as exuberantes comemorações de camisas despidas em público para comemorar gols, quer proibir tais manifestações religiosas em campo. Creio que é um exagero da UEFA, mas os exageros atraem exageros e acabam por estragar as coisas melhores da vida.
Se o presidente do Botafogo fizesse o que devia, se os diretores cumprissem as suas funções, se a comissão técnica exercesse uma forte liderança, se os médicos e preparadores físicos tratassem atempadamente os atletas e os medicassem adequadamente e se os jogadores soubessem honrar a Gloriosa camisa botafoguense, o Deus de cada um estaria resguardado da exposição pública e creio que os nossos sofrimentos estariam definitivamente afastados.
Renato Estelita, nos idos de 1957, após uma produtiva reunião de gestão do futebol com o presidente Paulo Antônio Azeredo e o treinador João Saldanha, a qual foi o começo de um dos mais sensacionais títulos do Glorioso, comentou para este: – "Ganhando, tudo irá bem. Mas... escuta uma coisa: que tal se nós contratássemos o seu Valdemar? Aquele macumbeiro de Catumbi, um que já trabalhou para o Vasco. Ele é bom...”. E Saldanha respondeu de imediato: – "Ora, Renato, não enche. Se macumba resolvesse em futebol, o campeonato baiano terminaria empatado!..."
E fomos campeões ganhando por 6x2 ao ‘pó-de-arroz’…
Que saudades tenho do teu talento, das tuas habilidades e da tua inteligência, João Saldanha!...
13 comentários:
Rui. Fantástico o seu texto. É uma pena que a diretoria, comissão técnica e jogadores do Botafogo provavelmente não irão lê-lo. Se isto acontecesse eles talvez, duvido muito, mas talvez, ao invés de ficar banalizando O Deus e as santas dos crédulos se preocupassem com os vários pontos apontados por você no texto e que seriam as atribuições deles.
Temos que vencer amanhã de qualquer jeito e acredito que a torcida vai comparecer com força e vai apoiar muito essa equipe.
Creio que há quem leia, Loris, mas não capta... Há gente assim...
Abraços Gloriosos!
Veremos, Saulo, veremos... Acho que há flamenguista demais infiltrado na equipa... Eu demitia todos os simpatizantes da Lagoa...
Abraços Gloriosos!
Rui, faço minhas as palavras do Loris!
FANTÁSTICO TEXTO!
Abs e SA!!!
Obrigado, Rodrigão!... O meu desejo é traduzir e refinar o sentimento dos botafoguenses. Precisamos de reinventar a nossa cultura, as nossas convicções e o nosso futuro. Precisamos de cristalizar homogenamente um novo conjunto de características que simultaneamente nos distinga dos outros e nos crie futuro.
Sinto, como o Loris, que algo tem que ser feito por nós, que somos o Botafogo Vivo, porque dos dirigentes apenas podemos esperar uma multiplicação de zero por coisa nenhuma?...
Precisamos de uma nova alquimia!!!
Abraços Gloriosos!
Rui,
Mais um a dizer FANTÁSTICO!
Os atuais dirigentes e jogadores acreditam que o "sucesso" vem antes de "trabalho".
Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!
Isso, Gil. Acreditam que o sucesso vem antes do trabalho e ainda por cima que pode 'cair do céu'. Isto é, nem charme sabem fazer para atrair o sucesso (sorte), mas apenas rudezas e, parece, ensaiando as culpas para cima dos torcedores que não vão aos jogos.
É curioso... Será que estes dirigentes querem alterar as ditas leis de mercado fazendo com que o comprador é que tenha que satisfazer o vendedor e não o contrário?... É que quem compra bilhetes são os torcedores e a qualidade do produto é obrigação da diretoria, que é quem vende bom ou mau espetáculo. Se o produto é mau, ainda assim a culpa é de quem deixa de o comprar?...
Não há paciência para esta gente. Nem para a medíocre entrevista do presidente do Botafogo, que não possui nível intelectual para tão prestigioso cargo.
Abraços Gloriosos!
Desculpe amigo, mas discordo em parte.
A parte que eu discordo:
Não escreverei o que penso sobre as crenças (todas) ou a fé em Deus (todos) para não ofender você e os companheiros que frequentam esse espaço.
Quero apenas lembrar que as crenças e Deus estiveram envolvidos em quase todas as situações pelas quais a humanidade passou, das mais dignas às mais vulgares. Eu já vi de tudo e você, mais experiente que eu, deve ter visto também. Logo não entendi a razão da admiração.
Acho natural que pessoas religiosas tentem encontrar significado religioso até na formiga que morde o dedo do seu pé. Algo como: "acabei de pagar um pecado!" Já que essas pessoas encontram significado no sofrimento, por uma questão de lógica, devem ver a a presença de seu Deus também nas alegrias, nas vitória, até mesmo em vitorias absolutamente mundanas, como no futebol.
A parte que eu concordo:
Para mim a atitude da diretoria do Glorioso foi incômoda, não por banalizar a crença, mas por banalizar o trabalho.
Pelo que entendi você pensa da mesma forma.
Não é possível pedir a Deus que me ajude a atravessar o mar vermelho se eu não estou disposto nem mesmo a dar um único passo.
Meus pais sempre pedem a Deus e à Virgem Maria que lhes dê forças para cumprir suas obrigações. Note que eles não pedem que seu Deus cumpra as obrigações para eles.
Um grande abraço.
Estimado Phoquinha, creio que todos os homens são, de uma forma ou de outra, religiosos porque partilham ritos e crenças de toda a espécie. Mas isso é algo quase mágico que pouco tem a ver com as situações concretas de glória ou desgraça pelas quais a humanidade passou. A religiosidade humana, em sentido cósmico, é mais do que as 'religiões terrenas' e os seus burocráticos (e às vezes maldosos) 'ministros' (cardeais, bispos, pastores, profetas, etc.). Nós, por nos sentirmos bem pequenos diante do deslumbrante Universo, é que puxamos às 'coisas' da vida aquilo que é muito mais do que 'coisas' da vida.
Por outro lado, na fé não há lógica, e na lógica não há fé. São duas coisas irredutíveis uma à outra. Um dos conflitos centrais da interioridade humana nasceu precisamente com a mente cartesiana que sucedeu à mente religiosa. E desde aí, a tese e antítese confrontam-se e lutam. A síntese vai sendo dificilmente feita entre a religião e a ciência (a lógica), e os homens individualmente mais evoluídos logram atingir sínteses mais consistentes, mas incompletas por enquanto.
Tudo isso, que é mágico e religioso, não tem, quanto a mim, nada a ver com pedir que façam por mim as minhas coisas ou pedir que certas entidades me dêem forças para prosseguir (com todo o respeito). Ambas são coisas que devem fazer parte da minha síntese. Quanto mais eu 'pedir' seja o que for, menos autónomo me sinto, menos desenvolvido sou; quanto menos pedir, mais autónomo me sinto, mais desenvolvido sou. Significa, neste caso, que caminho para integrar absolutamente todo o universo em mim e agir autonomamente num horizonte infinito.
Espero que perceba, porque mais não devo dizer neste espaço. E espero que este complemento aos seus comentários também não ofenda ninguém nas suas convicções, sejam elas quais forem.
Finalmente, penso que a banalização do trabalho e a banalização da crença são, no caso em debate, cara e coroa de uma só moeda. Embora, obviamente, o que interesse mais num blogue desta natureza seja a discussão sobre a banalização do trabalho feita por esta diretoria.
[PS: Creio que se um dia pudermos debater 'ao vivo' poderemos chegar a conclusões interessantes sob um tema tão significante]
Abraços gloriosos!
rui,
que texto magnífico,amigo.
olha, sou criado em uma família católica com convicção e também me tornei um.
NUNCA relaciono futebol com o meu Deus, justamento pelas razões que você falou.
estaria aí me julgando melhor mais merecedor do que os outros, o que, por si só, já é um atentado aos princípios bíblicos.
valeu, gostei muito do texto.
abração e sds. botafoguenses!!!
Entendeste muito bem o que eu quiz dizer, Fábio. Iso significa que, independentemente das tuas crenças e da tua 'verdade', procuras crescer e ser autónomo como ser humano que deve procurar o difícil caminho de uma interioridade elevada à verdadeira noção da grandeza cósmica/divina. O esforço que importa é aproximarmo-nos da noção de 'Deus', não é pedir-lhe 'coisas' ou seja o que for.
E significa também que não vulgarizarás o teu trabalho, como dizia o nosso amigo Phoquinha, nem o resto das coisas da tua vida. Significa que lutarás por elas empregando exclusivamente as tuas capacidades, que podem ser sempre melhoradas se estiveres atento aos aprendizados da vida.
A minha frase preferida: VIVE COMO SE FOSSE O ÚLTIMO DIA DA TUA VIDA; APRENDE COMO SE FOSSE O PRIMEIRO!
[PS: Gostei muito que reconhecesses que os princípios bíblicos são esses, contrariando as ideias praticistas dos humanos, as quais tendem ao favorecimento individual, e não fazem 'crescer']
Abraços Gloriosos!
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