
O remo brasileiro, outrora o esporte preferido de cariocas e brasileiros, que fazia as delícias das manhãs de Domingo na Enseada de Botafogo e enchia o Pavilhão de Remo, desde as elites às massas populares, entrou em declínio quando o futebol emergiu (na foto do Arquivo do BFR, António Mendes de Oliveira Castro, primeiro campeão brasileiro de remo representando o Club de Regatas Botafogo).
Em 2009 a Confederação Brasileira de Remo conheceu a sua mais profunda crise. Sob averiguação, a Confederação teve eleições ganhas pelos opositores aos antigos dirigentes e procura-se agora encontrar imaginação e vigor suficientes para que o remo brasileiro retome a sua glória.
O Botafogo contribuiu nos últimos anos com a revelação do atleta Armando Max – atleta surdo-mudo que já no Botafogo foi campeão sul-americano juvenil de remo – e, recentemente, incluiu nas suas fileiras o atleta Aílson Eráclito da Silva, vice-campeão mundial e o mais promissor remador brasileiro.
Armando Max (foto abaixo) conquistou duas medalhas de ouro internacionais: em 2002 foi campeão na categoria “oito com” nos Jogos Sul-Americanos de Remo Masculino Sénior “A” e em 2005 foi campeão na categoria "single skiff" nos Campeonatos Sul-Americanos de Remo Unificado

Por seu lado, o atleta amazonense Aílson Eráclito da Silva, que fez parte da equipa da Tuna-Luso, obteve o tricampeonato brasileiro de single-skiff e conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de Remo, categoria sub-23, bem como, já como atleta do Botafogo, se sagrou novamente vice-campeão mundial, conquistando a medalha de prata de Single-Skiff, peso leve, durante o Campeonato Mundial Aberto de Remo 2009.
A modalidade, que no Rio de Janeiro é honrada por grandes clubes como o Botafogo, o Flamengo e o Vasco da Gama, os quais possuem a designação de ‘regatas’ na sua denominação, encontra-se em vias de um novo impulso em vários Estados brasileiros.
Desde o Rio Grande do Sul à Amazónia, os apaixonados deste extraordinário desporto – nos quais me incluo –, procuram novos caminhos para revigorar a modalidade, destacando-se, entre outros, o projeto social desenvolvido em Manaus e do qual foi beneficiário o campeão botafoguense Aílson Eráclito da Silva (foto abaixo: Sculler Brasil / Globo).

Com uma infância muito sofrida, Aílson iniciou-se aos 13 anos no projeto ‘Remo Social’, em Manaus, nas águas do Rio Negro. O seu treinador, Manasseh Barbosa, desde que avançou com o projeto em 1984, ensinou quase 20 mil pessoas a remar em apenas 25 anos.
Aílson conta como foi: – "Até tentei jogar bola, mas me quebrava inteiro. Depois, fiz kung-fu, mas o curso acabou. O remo veio por que o meu irmão já remava. Eu resolvi tentar".
Aílson, ao contrário do que é habitual, nunca estranhou o remo desde o primeiro momento. Manasseh refere mesmo que Aílson “parecia que remava desde pequeno. Os movimentos eram muito naturais, ele tem uma intimidade com o barco, com a água, que impressionaram desde a primeira vez em que remou”.
Daí ao estrelato decorreram apenas 8 anos, porque Aílson foi vice-campeão mundial pela primeira vez em Julho passado. Mas Aílson foi apenas um entre muitíssimas crianças cobertas por projetos sociais como aquele em que participou.
Hoje, no ‘berço de remo’ de Aílson, 50 crianças reúnem-se diariamente nas margens do Rio Negro enquadradas pelo projeto ‘Remo Social’, sob a direção do manauara Manasseh Barbosa. Com 52 anos e 18.900 novos praticantes catalogados em fichas individuais desde 1984, Manasseh inicia os novos atletas em barcos que eles próprios ajudam a construir, visto que ficam por 1/5 do preço normal.
Nesta sua homérica função, Manasseh formou, longe dos centros da modalidade no país, novos campeões brasileiros: Jucélia Barbosa Maciel, medalha de bronze em 2008; Waldonilton de Andrade Reis, que já possui duas medalhas; Aílson Eráclito da Silva, vice-campeão mundial em 2009.
Manasseh, com dinheiro do seu bolso, conseguiu recentemente levar a São Paulo uma delegação do ‘Remo Social’: Aílson, apoiado pelo Botafogo, seu novo clube, e ainda Waldonilton, Jucélia e Matheus Barbosa, seu filho, que competiram na Raia Olímpica da Universidade de São Paulo. Como seria de esperar, Aílson competiu em single skiff, peso leve masculino, e conquistou a medalha de ouro na II Copa Pinheiros de Remo.

Entrevistado pelo blogue Sculler Brasil percebe-se facilmente, nas duras palavras de Manasseh (foto acima da Sculler Brasil / Globo), a realidade social de uma parte do país e a importância deste homem ter ‘gasto’ metade da sua idade em prol das crianças e o papel que o remo pode exercer na vida da juventude.
Palavras de Manasseh Barbosa ao Sculler Brasil:
– “ Trabalho para tirar os garotos dos vícios das ruas. Já atendi mais de 18.500 crianças jovens e adolescentes em 26 anos de luta. Trabalho para dar a eles um sonho para se manterem vivos, pois chegam quase mortos às nossas mãos, fracos, raivosos, tristes, sem esperanças, verdadeiros trapos humanos. Mas daqui saem prontos e fortes para enfrentarem a dureza de vida com suas realidades. (…) Na nossa região, quando tiramos a merenda das aulas de remo, perdemos mais de 200 meninos, pois a merenda era a principal motivação deles. As crianças chegavam a desmaiar, alguns enjoar, fraquejar, ter dor de cabeça, e não ter força para explicar o que estava acontecendo. É triste, mas é real. (…) Ailson já desmaiou várias vezes, podem acreditar. No dia da chegada dele, do exterior, sua mãe me falava dos diversos dias que faltou comida em sua casa: – “Você já viu um pão dormido ser dividido em 12? Pois já fizemos isso várias vezes”, disse ela.
Entretanto, o ‘Remo Social’ conseguiu obter parceria com a Petrobras e espera envolver cerca de 300 jovens em 2010. Porém, Manasseh não tem dúvidas sobre a necessidade de novos apoios financeiros: – “Hoje, nosso projeto é embaixo da árvore. Não temos uma sede, um galpão para deixar os barcos”.
É fundamental o rejuvenescimento do remo, não apenas pela tradição desportiva que representa, mas também pelo importante papel que pode desempenhar na educação e na cultura de jovens e crianças que são o futuro do país.
De Norte a Sul novos destinos se apresentam ao remo. À recente comissão eleita para traçar o futuro da Confederação Brasileira de Remo, às Federações estaduais e aos Projetos Sociais de remo, deseja-se que o uso da inteligência e da criatividade seja uma constante no futuro da modalidade.
E que o Botafogo apoie novos projetos sociais – tal como faz no basquetebol –, que revele atletas de elite e que aproveite para renovar os seus horizontes e conquistar novos títulos!
Fontes
Acervo e pesquisa de Rui Moura
http://esporte.uol.com.br/ultimas/2009/09/17/ult58u1637.jhtm
http://esporte.uol.com.br/ultimas/2009/09/17/ult58u1638.jhtm
http://www.scullerbrasil.com/
Em 2009 a Confederação Brasileira de Remo conheceu a sua mais profunda crise. Sob averiguação, a Confederação teve eleições ganhas pelos opositores aos antigos dirigentes e procura-se agora encontrar imaginação e vigor suficientes para que o remo brasileiro retome a sua glória.
O Botafogo contribuiu nos últimos anos com a revelação do atleta Armando Max – atleta surdo-mudo que já no Botafogo foi campeão sul-americano juvenil de remo – e, recentemente, incluiu nas suas fileiras o atleta Aílson Eráclito da Silva, vice-campeão mundial e o mais promissor remador brasileiro.
Armando Max (foto abaixo) conquistou duas medalhas de ouro internacionais: em 2002 foi campeão na categoria “oito com” nos Jogos Sul-Americanos de Remo Masculino Sénior “A” e em 2005 foi campeão na categoria "single skiff" nos Campeonatos Sul-Americanos de Remo Unificado

Por seu lado, o atleta amazonense Aílson Eráclito da Silva, que fez parte da equipa da Tuna-Luso, obteve o tricampeonato brasileiro de single-skiff e conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de Remo, categoria sub-23, bem como, já como atleta do Botafogo, se sagrou novamente vice-campeão mundial, conquistando a medalha de prata de Single-Skiff, peso leve, durante o Campeonato Mundial Aberto de Remo 2009.
A modalidade, que no Rio de Janeiro é honrada por grandes clubes como o Botafogo, o Flamengo e o Vasco da Gama, os quais possuem a designação de ‘regatas’ na sua denominação, encontra-se em vias de um novo impulso em vários Estados brasileiros.
Desde o Rio Grande do Sul à Amazónia, os apaixonados deste extraordinário desporto – nos quais me incluo –, procuram novos caminhos para revigorar a modalidade, destacando-se, entre outros, o projeto social desenvolvido em Manaus e do qual foi beneficiário o campeão botafoguense Aílson Eráclito da Silva (foto abaixo: Sculler Brasil / Globo).

Com uma infância muito sofrida, Aílson iniciou-se aos 13 anos no projeto ‘Remo Social’, em Manaus, nas águas do Rio Negro. O seu treinador, Manasseh Barbosa, desde que avançou com o projeto em 1984, ensinou quase 20 mil pessoas a remar em apenas 25 anos.
Aílson conta como foi: – "Até tentei jogar bola, mas me quebrava inteiro. Depois, fiz kung-fu, mas o curso acabou. O remo veio por que o meu irmão já remava. Eu resolvi tentar".
Aílson, ao contrário do que é habitual, nunca estranhou o remo desde o primeiro momento. Manasseh refere mesmo que Aílson “parecia que remava desde pequeno. Os movimentos eram muito naturais, ele tem uma intimidade com o barco, com a água, que impressionaram desde a primeira vez em que remou”.
Daí ao estrelato decorreram apenas 8 anos, porque Aílson foi vice-campeão mundial pela primeira vez em Julho passado. Mas Aílson foi apenas um entre muitíssimas crianças cobertas por projetos sociais como aquele em que participou.
Hoje, no ‘berço de remo’ de Aílson, 50 crianças reúnem-se diariamente nas margens do Rio Negro enquadradas pelo projeto ‘Remo Social’, sob a direção do manauara Manasseh Barbosa. Com 52 anos e 18.900 novos praticantes catalogados em fichas individuais desde 1984, Manasseh inicia os novos atletas em barcos que eles próprios ajudam a construir, visto que ficam por 1/5 do preço normal.
Nesta sua homérica função, Manasseh formou, longe dos centros da modalidade no país, novos campeões brasileiros: Jucélia Barbosa Maciel, medalha de bronze em 2008; Waldonilton de Andrade Reis, que já possui duas medalhas; Aílson Eráclito da Silva, vice-campeão mundial em 2009.
Manasseh, com dinheiro do seu bolso, conseguiu recentemente levar a São Paulo uma delegação do ‘Remo Social’: Aílson, apoiado pelo Botafogo, seu novo clube, e ainda Waldonilton, Jucélia e Matheus Barbosa, seu filho, que competiram na Raia Olímpica da Universidade de São Paulo. Como seria de esperar, Aílson competiu em single skiff, peso leve masculino, e conquistou a medalha de ouro na II Copa Pinheiros de Remo.

Entrevistado pelo blogue Sculler Brasil percebe-se facilmente, nas duras palavras de Manasseh (foto acima da Sculler Brasil / Globo), a realidade social de uma parte do país e a importância deste homem ter ‘gasto’ metade da sua idade em prol das crianças e o papel que o remo pode exercer na vida da juventude.
Palavras de Manasseh Barbosa ao Sculler Brasil:
– “ Trabalho para tirar os garotos dos vícios das ruas. Já atendi mais de 18.500 crianças jovens e adolescentes em 26 anos de luta. Trabalho para dar a eles um sonho para se manterem vivos, pois chegam quase mortos às nossas mãos, fracos, raivosos, tristes, sem esperanças, verdadeiros trapos humanos. Mas daqui saem prontos e fortes para enfrentarem a dureza de vida com suas realidades. (…) Na nossa região, quando tiramos a merenda das aulas de remo, perdemos mais de 200 meninos, pois a merenda era a principal motivação deles. As crianças chegavam a desmaiar, alguns enjoar, fraquejar, ter dor de cabeça, e não ter força para explicar o que estava acontecendo. É triste, mas é real. (…) Ailson já desmaiou várias vezes, podem acreditar. No dia da chegada dele, do exterior, sua mãe me falava dos diversos dias que faltou comida em sua casa: – “Você já viu um pão dormido ser dividido em 12? Pois já fizemos isso várias vezes”, disse ela.
Entretanto, o ‘Remo Social’ conseguiu obter parceria com a Petrobras e espera envolver cerca de 300 jovens em 2010. Porém, Manasseh não tem dúvidas sobre a necessidade de novos apoios financeiros: – “Hoje, nosso projeto é embaixo da árvore. Não temos uma sede, um galpão para deixar os barcos”.
É fundamental o rejuvenescimento do remo, não apenas pela tradição desportiva que representa, mas também pelo importante papel que pode desempenhar na educação e na cultura de jovens e crianças que são o futuro do país.
De Norte a Sul novos destinos se apresentam ao remo. À recente comissão eleita para traçar o futuro da Confederação Brasileira de Remo, às Federações estaduais e aos Projetos Sociais de remo, deseja-se que o uso da inteligência e da criatividade seja uma constante no futuro da modalidade.
E que o Botafogo apoie novos projetos sociais – tal como faz no basquetebol –, que revele atletas de elite e que aproveite para renovar os seus horizontes e conquistar novos títulos!
Fontes
Acervo e pesquisa de Rui Moura
http://esporte.uol.com.br/ultimas/2009/09/17/ult58u1637.jhtm
http://esporte.uol.com.br/ultimas/2009/09/17/ult58u1638.jhtm
http://www.scullerbrasil.com/
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