
por Abdias Ferreira Neto
Blogue Rabiscos do Samuel Junior
Tem coisas que só acontecem… com botafoguenses.
A Lua não precisava estar cheia, mas estava…
Não precisaria ter jogo do Botafogo numa pacata segunda-feira, mas tinha…
E os Deuses do futebol precisavam estar alegres – e estavam! Afinal, Armando Nogueira estava finalmente entre eles. Armando não era um Deus do futebol através de suas pernas, mas sim de suas mãos, fazendo com as palavras o que os jogadores mais qualificados fazem ou faziam com a bola. Alçando lançamentos de um parágrafo a outro, driblando com as letras e finalizando textos mágicos sempre com pontos finais precisos e certeiros.
Quis o destino que o ponto final de sua passagem pelo planeta bola fosse numa segunda-feira – pasmem – de futebol. E não poderia ser outra equipe a entrar em campo senão o seu Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, que aprendeu a amar recém-chegado ao Rio, vindo da sua terra natal, o Acre.
Na cidade maravilhosa, transformou um acre de terra em um pequeno lenço, para que Garrincha pudesse driblar seus “Joões”, como se estivesse num latifúndio. E assim foi sua vida, transformando esporte em poesia, futebol em poesia, futebol em sentimento; sentindo com o coração e amando com as palavras. Como sabia espalhar palavras num campo de papel com perfeita eficiência tática, com vibração, com técnica, com raça!
Como poderia ter futebol em plena segunda-feira? Numa pacata segunda-feira que normalmente só tem futebol através das palavras, comentários verbais e escritos, nos jornais da vida, nas televisões espalhadas nas casas dos torcedores…
Mas quis o destino que por ironia sua, um jogo da rodada não encontrasse horário nem espaço para ser disputado no fim-de-semana, e ficasse reservado para uma segunda-feira marcada pela despedida de um torcedor ilustre do time da “Estrela Solitária”, torcedor esse muito mais ilustre quando se punha a realizar seu ofício, de transformar grandes momentos esportivos em poesia.
Dizem que homenagens devem ser feitas em vida. Quando o Botafogo entrou em campo na noite dessa segunda-feira, com seu terceiro uniforme, dispensou a faixa negra pelo luto de sua torcida, por ser todo ele negro, Armando ainda devia estar numa dimensão muito próxima. Do alto, planando em uma silenciosa aeronave – sua outra grande paixão –, assistiu a homenagem de seu time: alem da camisa negra, guardada para poucas ocasiões, talvez nunca uma tão especial, viu os quatro gols da vitória do Botafogo e partiu, sorrindo, feliz e satisfeito. Tão satisfeito quanto as inúmeras vezes em que saiu do Maracanã ou de General Severiano, após ver seus heróis de camisas listradas em preto e branco tornando-lhe mais fácil sua arte de transformar futebol em poesia.
Referência:
http://rabiscosdosamueljunior.blogspot.com/2010/03/intimacao-de-um-leitor-botafoguense.html
Sem comentários:
Enviar um comentário