por PAULO MENDES CAMPOS
Eu me assentarei nas
arquibancadas para sofrer noventa minutos; mas a sua vitória será doce como os
frutos. A sua ala esquerda pode desferir chutes indefensáveis, e a sua ala
direita é mais insinuante do que o vento.
Eu vos conjuro, botafoguenses de todo o Brasil, a comparecer ao Maracanã; para o que der e vier; aquele é o Garrincha, ei-lo que vem como um cabrito montês, saltando os obstáculos; eis que entra na área adversária, causando um pânico formidável.
Se o Botafogo entrar
bem, eu andarei pelos bares da praia até que assopre o dia e declinem as
sombras; jardim fechado será a sua defesa, jardim fechado, fonte selada; Nilton
Santos é como o aquilão, assoprando de todos os lados; e muito difícil será
contê-lo. Dorme, Adalberto, ele velará o seu sono.
Eis que é Didi batendo
à porta do adversário, e dizendo: "Abre, Castilho, sou eu"; e a sua
folha-seca será bonita como um exército carregado de bandeiras; o Botafogo
entrou por uma fresta e as entranhas do Fluminense estremeceram.
Os tricolores fecharam
a porta com um pesado ferrolho; mas o Botafogo já tinha se ido, e era já
passado a outra parte. O meu time é alvo e negro, e possui uma estrela
solitária. Suas vitórias são melhores que o vinho; seus campeonatos são como a
mirra preciosa.
O Botafogo desceu pela
direita, terrível como um exército ordenado; nem todos os cacás do mundo terão
forças para detê-lo; quem é este que avança pelo centro como um leão esfomeado?
E eis que é o Paulinho abrindo a marcação dos contrários como um leão
esfomeado; põe o teu selo sobre a leiteria, para que as gerações pronunciem o
teu nome com respeito.
P.S.- Trecho de uma "crônica" ruim e nervosa que saiu
publicada na manhã de 22 de dezembro de 1957 no Diário Carioca. Ruim, porém
profética: no fim da tarde, o Botafogo era o campeão carioca, tendo vencido o
Fluminense de 6 a 2, 5 gols de Paulinho Valentim e 1 de Garrincha.
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