por RUY MOURA
Editor o Mundo Botafogo
O Ludismo, ou Luddismo, foi um movimento de
trabalhadores ingleses do ramo de fiação e tecelagem, ativo no início do
século XIX nos primórdios da Revolução Industrial, e que se notabilizou
pela destruição de máquinas como forma de protesto. Os ludistas, assim nomeados
devido à sua associação a um homem chamado Ned Ludd, consideravam que o
maquinário era usado, "de maneira fraudulenta e enganosa", para
contornar práticas laborais consolidadas pela tradição.
A princípio, os ataques ludistas foram enfrentados a tiros
pelos proprietários das máquinas, mas, por fim, o movimento foi reprimido por
forças militares.
***
´Capatazes’ nos jogos de futebol, os homens do apito
serviam os interesses dos mais poderosos. O povo botafoguense reclamava, ao
mesmo tempo que as vitórias e as conquistas escasseavam e eram escandalosamente
entregues a outros. Por vários meios, desde presidentes a torcedores, todos
reclamavam, em vão, perante a sanha imoral dos ‘proprietários’ do futebol que coziam
os resultados e tinham nos ‘testas de ferro’ do apito o seu braço armado.
Ainda assim, os operários do futebol conseguiam aqui e
acolá ganhar títulos e, de quando em vez, incomodar os ‘senhores feudais’. As
interpretações dos operários e do povo botafoguense – assim como outros povos
deixados injustamente sem o alimento dos títulos entretanto sonegados – opunham-se
às interpretações dos capatazes a mando dos senhores feudais e, por vezes, instalava-se
o incômodo de ter que se recorrer a escandalosos erros humanos dos capatazes do
apito, o que evidenciava laivos hipocritamente indesejáveis de oportunismo e
até corrupção.
O povo botafoguense – e muitos outros povos por esse
mundo afora – eram cada vez mais espoliados dos seus rendimentos, das suas
vitórias e dos seus títulos e reclamavam à boca cheia do estado pantanoso a que
a coisa tinha chegado, tendo sido decidido, então, para ocultar os privilégios
que deviam continuar na sombra dos bastidores, ‘cientificizar’ as decisões com
o auxílio das máquinas, o VAR – o Vídeo Árbitro.
A máquina, científica e neutra, apoiaria as decisões do
árbitro, esclarecendo as jogadas por confirmação ou infirmação, especialmente gols
e pênaltis. Porém, o perigo para os senhores feudais era iminente e os próprios
capatazes sofreriam perda da sua influência. Decidiu-se, então, que o VAR,
interpretando a máquina ao seu modo, decretaria ao capataz principal a decisão
final. E supostamente com base científica.
O povo botafoguense percebeu, finalmente, que o VAR era
um logro, que o uso da máquina era fraudulento e enganoso, que visava contornar
as decisões justas, mas… que fazer? Já se tinha reclamado em toda a parte e
lutado por todos os meios e… nada. Se os capatazes eram maus atores, os VAR,
respaldados por uma máquina, eram muito piores e muito mais dolosos na
intensidade das suas decisões. E o povo botafoguense – e outros ‘miseráveis’
explorados pelos senhores feudais – explodia jogo após jogo, sonegação após
sonegação do VAR, supostamente orientado pela máquina.
Mas… em tempo de pandemia e de estádios vazios o povo
botafoguense nada podia fazer. A não ser desacatos nas ruas, coisa que não
estava no seu DNA. A angústia era total, o desespero absoluto.
Porém, após sucessivos dolos, descobriu-se subitamente que
a solução da lavagem de alma botafoguense estava dentro do próprio estádio
vazio, dentro do Nilton Santos, num jogo Botafogo x Internacional, em que o VAR
e sua equipe tomaram novamente as rédeas dos desejos dos senhores feudais em
espoliar o Botafogo de vitórias, de títulos, de tudo, de tudo, de tudo, na
tentativa (espera-se, vã) de desmoralização total, de destruição do projeto
Botafogo SA, de liquidação dos botafoguenses doloridos e espezinhados pela
imoralidade, pela inética, pela fraudulência e pelo dolo dos proprietários do
futebol e seus capatazes, agora munidos de máquinas pseudocientíficas para
justificar o injustificável.
Eis, então, que dos confins da angústia, do desespero e
da revolta do povo botafoguense, surge, sublime, por entre as brumas da mais
genuína e inusitada criação, o herdeiro de Ned Ludd, o vingador da
desumanização e da exploração sintetizada no VAR, o genuíno intérprete da alma
e da vontade botafoguenses, o homem que, não podendo fazer justiça pelas
próprias mãos junto dos capatazes e dos VARgabundos, destruiu a máquina com um potente
‘chutludd’ e lavou, uma a uma e cada uma das gloriosas almas botafoguenses – GATITO ‘LUDD’ FERNÁNDEZ!
8 comentários:
Sensacional, Rui!
Essa narração me lembrou do sítio Botafoguismo do nosso Amigo Danilo.
Abs e Sds, Botafoguenses!
Brilhantíssimo. Uma aula de história e até onde pode chegar a indignação humana diante das injustiças. Parabéns Ruy, Parabéns Gatito. Abs e SB!
O Botafoguismo foi um belo empreendimento que talvez pudesse ser retomado nestes tempos tumultuosos. Contente por teres gostado tanto da narração.
Abraços Gloriosos.
É verdade, Sergio. Temos direito a externar a indignação quando ela é comprovadamente justa. Deveria punir-se as causas da indignação, não a justa indignação. No caso concreto as causas são a liderança dos Gacibas e as ações dos seus homens de mão. Na CBF como na FFERJ.
Abraços Gloriosos.
Belissima ilustração!!..Além do conflitos de interesses e ações corruptas nos bastidores do nosso futebol..creio que uma das raizes desse problema esteja na falta de diálogo entre CBF e clubes, no sentido de resolver problemas básicos de qualificação dos àrbitros e melhor adptação dessa suposta ferramenta tecnologica à nossa realidade..não podemos instalar uma turbina em um fusca com o motor avariado e quatro pneus carecas.. acredito que restringir a atuação do VAR à lances dentro da grande área já seria um começo...contudo..esse dialogo parece estar muito distante..ja que os resultados desse equívoco sempre beneficiam os clubes queridinhos da midia.. Saudações e abraços Gloriosos Caro Rui
É isso mesmo, Filipe, não há interesse na cooperação, na reunião de esforços, mas na consolidação da divisão entre todos de modo a favorecer 'os mais queridos'. Na Europa, embora ainda com erros, o VAR funciona porque os esforços foram conjuntos. E ainda assim há muito que fazer ao nível de diretrizes e da formação dos VAR. Ora, no Brasil foi mesmo colocar a turbina em cima de um calhambeque.
Abraços Gloriosos.
Texto incrível! Se o Gatito lavou a alma de todos os botafoguenses com seu chute na máquina fria e mal utilizada do VAR pelos serviçais do sistema podre do futebol brasileiro, seu texto nos brindou com inteligência e criatividade! O “Gatismo” representa (com um chute na máquina da burguesia do patronato) um gesto político que chama à atenção para as mazelas sistêmicas e horrorosas que se instalaram no futebol brasileiro há mais tempo do que eu posso rememorar. Parabéns!
O ato de Gatito, meu amigo, fica indelevelmente gravado na história que, entre tantas histórias, tem feito as Glórias do Botafogo de Futebol e Regatas!É uma honra única sermos botafoguenses!
Grande e glorioso abraço!
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