domingo, 14 de setembro de 2008

Estofo de campeão, procura-se!...

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Não sou ingrato e confesso que passei muitos bons momentos de emoção na ‘era Cuca’ e agora nesta ‘era Ney’, apesar das críticas que fiz aquele e dos elogios que tenho feito a este. E espero ter ainda muitas alegrias com Ney Franco a comandar a equipa.

Porém, face à derrota de ontem no Engenhão, que perfaz duas vezes seguidas sem ganharmos em casa, enquanto os três jogos no Sul foram todos ganhos, creio que o treinador tem que rever a equipa e rever-se a ele próprio.

Em primeiro lugar, Ney Franco não tem realmente banco, pelo que não compreendo como se manifesta tão favoravelmente ao plantel que tem. Isso torna-se ainda mais estranho quando leio que Ney Franco elogia o desempenho de Gil, um jogador que praticamente não fez nada durante as inúmeras partidas em que interveio.

Sei que Ney é um ‘cavalheiro’, um positivista, mas também os cavalheiros e os positivistas sabem avaliar as verdadeiras circunstâncias das coisas. E as circunstâncias são as seguintes: por três vezes, no Engenhão e no Maracanã, o Botafogo poderia ter ascendido à vice-liderança ou ao 3º lugar, e, por três vezes, o Botafogo não ganhou em casa após bons desafios fora de casa.

Julgo que o peso psicológico que estes jogadores herdaram da ‘era Cuca’ permanece nos momentos mais importantes e das duas uma, ou não conseguem realmente superar a ‘dor de burro’ dos momentos decisivos, ou o plantel são apenas onze titulares e a equipa não sabe jogar sem eles – por exemplo, sem Túlio e sem Carlos Alberto.

Face ao futebol que o Botafogo tem jogado noutras partidas, não é compreensível o que se passou ontem, com o Internacional a anular praticamente o Botafogo até os 2x0. No início da semana eu acreditava que íamos ganhar, a meio da semana ‘torci o nariz’ à solução do trio atacante, mas confesso que no Sábado, após o desaire do Grêmio, a minha alma mudou mesmo e temi que perdêssemos justamente por não conseguirmos segurar a responsabilidade de ficarmos apenas a quatro pontos do líder. Por isso andei mal disposto no Domingo e, no início do 2º tempo, tudo isso se confirmou.

Creio que o treinador tem um trabalho psicológico a fazer com os jogadores, além de ter que rever certas posições que tem assumido. Eu explico-me.

Ney entrou no Botafogo dando banco a Lúcio Flávio e a outros, modificou algumas coisas importantes, mas parece-me que começou a entrar em alguns erros de avaliação que se podem pagar caro. Citarei alguns.

Ney Franco não pode (ou não deve…) liderar o Botafogo à moda de Cuca, suavemente e sem cobrança dos erros. Uma parte importante da equipa é composta por bons jogadores, mas os homens respondem às lideranças diferentemente, e Ney necessita de estimular esta equipa com competitividade interna e assunção de defeitos e virtudes.

Gil parece-me não servir mesmo e Zárate tem que ser ‘apertado’ pelo treinador para entrar em forma, porque não temos nenhum goleador neste momento. Lúcio Flávio não pode continuar a ser dono das faltas e dos escanteios, porque há muitíssimo tempo que não há uma jogada de gol saída dos pés dele quando cobra bolas paradas (menos penalties).

Wellington Paulista tem o dom de cair constantemente e deve ser chamado à atenção sobre isso. Carlos Alberto é excessivamente individualista e isso não é admissível num grupo que apenas pode valer pela sua capacidade de equipa. Renato Silva será sempre um ‘pereba’ com grandes responsabilidades em ambos os gols do Internacional. Num caso está lá e deixa Nilmar fazer o que quer e, no outro caso, o gol passa precisamente pelo sítio em que Renato deveria estar. Aliás, logo aos 12 minutos Renato Silva preparou-se para isso, indo ao ataque atabalhoadamente, não tendo recuperado, como é seu costume, e a defesa ficou toda desarrumada, não tomando gol por sorte. É preciso encontrar meio de substituir adequadamente o Renato Silva. É difícil, porque desde que foi preterido por Cuca o Ferrero baixou de forma, mas é necessário que Ney se esforce para encontrar melhor solução.

Depois foi Castillo com a 1ª saída em falso aos 15 minutos e o mau posicionamento aos 22 minutos, tendo a bola passado ao longo da baliza pelo alto. E a seguir o gol com a saída extemporânea de Castillo que deixou a baliza completamente escancarada. E no segundo gol não fez a diferença, isto é, não salvou em estirão como o fez já várias vezes Renan – provavelmente por ser bem mais alto na vertical e mais comprido na horizontal do que Castillo.

E isto leva-nos a outra questão. Castillo é um goleiro pouco mais do que mediano. É um goleiro aceitável, especialmente face aos que tivemos em 2007, mas não me transmite a confiança de Renan, e não consegue realmente defender bolas difíceis. Geralmente Castillo tem pouco trabalho, defende o que é medianamente defensável, mas pouco mais. E Renan tem feito grandes exibições, salvando bolas de quase gol. Sei que Renan é jovem, mas muitos outros jovens já eram consagrados aos 18 e aos 19 anos. Creio que com a forma que Renan demonstra tem condições para ser o titular da baliza, tanto mais que tem vontade disso. E peço muito que Ney não repita a mesma asneira de Cuca no ano passado ao fazer entrar a titular o Dodô em má forma e dispensando o André Lima no auge da sua forma. Com as exibições que Renan tem feito merece ser titular. Então, Castillo teria que disputar o lugar e melhoraria provavelmente a sua performance.

Quanto a outras saliências do jogo realce-se que o Botafogo jogou muito pouco, porque o Internacional fez uma marcação de alto nível, foi sempre rápido sobre a bola e, sobretudo, não errou os passes decisivos, coisa que o Botafogo faz muitas vezes, mesmo quando joga bem. Na verdade, em todo o 1º tempo o Botafogo teve uma ocasião de gol aos 3 minutos através de Wellington Paulista e depois só ameaçou novamente a baliza contrária com André Luís no final dos 45 minutos iniciais.

O 2º tempo começou quase com a falha clamorosa da defesa botafoguense. Depois Lúcio Flávio não acertou sequer uma bola em escanteio e em falta, perdendo ainda uma grande oportunidade de gol aos 38 minutos. A defesa manteve-se desarrumada com Renato Silva perdido no jogo, as opções laterais à linha de fundo não surgiram, tendo-nos limitado ao ‘chuveirinho’ e… Gil não entrou em campo… segundo a minha avaliação, claro, porque segundo Ney Franco, Gil tem jogado ao nível dos demais e está satisfeito com a sua produção (!).

Um chute perigoso de Triguinho aos 12 minutos, uma cabeçada de Jorge Henrique aos 29 minutos, o passe notável para o gol do Botafogo e uma perdida de Lúcio Flávio aos 38 minutos constituíram a 2ª parte botafoguense. Ah!... E um penalty desnecessário do goleiro colorado sobre Wellington Paulista que o juiz resolveu não marcar. Talvez por ter achado que o Wellinãogoll não emendaria para o fundo da baliza se não tivesse sido escandalosamente empurrado… Neste caso o juiz não será preterido pela Comissão de Arbitragem como foi o juiz que arbitrou Botafogo x Cruzeiro, pois não?... Aliás, o narrador televisivo nem sequer comentou a falta… talvez seja primo do árbitro…

Ontem provou-se que ainda não temos ‘estofo de campeão’ e que o resto do ano deve ser priorizado tendo em consideração a Copa Sul-Americana, a qual afirmo, desde o início do ano, que devia ser prioridade (na verdade, no início do ano eu fiz as prioridades: ganhar a Copa do Brasil – que dava acesso à Libertadores – e ganhar a Copa Sul-Americana). O campeonato carioca já tem pouca importância e o campeonato brasileiro não deveria ser prioridade para este ano (optaria por um 6º a 9º lugar se tivéssemos ganho a Copa do Brasil).

A equipa não manteve a postura serena e tranquila que a caracterizou em muitas partidas anteriores e que me dava imensa confiança de que o gol sairia… O tempo vai passando e parece que a falta de um ‘matador’ e as insuficiências de uma defesa individualmente mediana emergem inevitavelmente…

Sinceramente, gostei apenas de um único desempenho botafoguense no jogo de ontem: a incansável torcida d’O Glorioso!!!

FICHA TÉCNICA
Botafogo 1x2 Internacional
Gols: Alex 28' 1ºT e D'Alessandro 5' 2ºT; André Luís 14' 2ºT
Competição: Campeonato Brasileiro
Estádio Olímpico João Havelange, o ‘Engenhão’; 14/09/2008
Arbitragem: Evandro Rogério Roman (PR); José Carlos Dias Passos (PR) e Moisés Aparecido de Souza (PR)
Cartões Amarelos: André Luís e Triguinho (Botafogo); Gustavo Nery e Edinho (Internacional)
Cartões Vermelhos: André Luís (Botafogo)
BOTAFOGO: Castillo, Thiaguinho (Zé Carlos), Renato Silva, André Luís e Triguinho; Leandro Guerreiro (Alessandro), Diguinho e Lúcio Flávio; Jorge Henrique, Wellington Paulista e Gil (Alexandro) - Técnico: Ney Franco.
INTERNACIONAL: Clemer, Ricardo Lopes, Índio, Bolívar e Gustavo Nery; Edinho, Magrão, Guiñazú e D'Alessandro (Rosinei); Nilmar e Alex (Taison) - Técnico: Tite.

9 comentários:

Impasse Livre disse...

Fala Rui, hoje em nosso programa, no quadro Professor Prancheta, falaremos de Quarentinha, o artilheiro paraense do fogo... é breve, mas será dito! o programanosso já tem ficado na net disponivel: www.malditafutebolclube.com.br vá em mídia e uma vez aberta, clique no arquivo que começa a rolar...é um programa de paixão, tvz vc goste, torcedores defendendo o seu time jornalísticamente falando, ou seja fina ironia mesclado de rock and roll e informações relevantes dadas com bom humor e irreverência...abs, e quando pesquiso o fogão eu sempre te uso de base....afinal és uma enciclopédia alvinegra blogulante...abs...Leandro carvalho

Ruy Moura disse...

Oi, Leandro!... Cliquei, mas só aparece a data de 29 de Setembro... É aí?!...

Saudações Gloriosas!

Anónimo disse...

Rui,

Concordo com quase tudo que escreveu. Só não acho que o Renan tenha condições de ser o titular. Acho que a calma que transmite em campo tem a ver com a sustentação que o Castillo lhe passa. Agora, não entendo essas duas últimas má apresentações do Botafogo no Engenhão. Erros do Ney Franco na minha opinião. Contra o náutico desmentou o sistema defensivo, quando a preocupação tinha que ser em justamente não levar gol. Pois, 2 gol alvinegro era questão de tempo. E ontem, aquela escalação sem propósito de 3 atacantes.

Anónimo disse...

Rui,

Concordo com quase tudo que escreveu. Só não acho que o Renan tenha condições de ser o titular. Acho que a calma que transmite em campo tem a ver com a sustentação que o Castillo lhe passa. Agora, não entendo essas duas últimas má apresentações do Botafogo no Engenhão. Erros do Ney Franco na minha opinião. Contra o náutico desmentou o sistema defensivo, quando a preocupação tinha que ser em justamente não levar gol. Pois, 2 gol alvinegro era questão de tempo. E ontem, aquela escalação sem propósito de 3 atacantes.

Patrick Dias

Ruy Moura disse...

Concordo sobre os erros do Ney, Patrick. Embora ache que não é apenas isso, porque sinto também a necessidade de o Ney impor uma liderança mais assertiva (apesar de não estar mal) que mude comportamentos de jogadores.

Sobre o Renan não tenho essa certeza toda de que o Castillo é que lhe dá tranquilidade. Patrik, o Renan já fez defesas de elevado nível, e isso não se consegue só com tranqulidade, mas com qualidade. O Renan é um goleiro diferenciado e será muitíssimo superior ao Castillo. A dúvida que paira entre nós os dois julgo que é saber se ele se aguenta já como titular ou não. Mas tendo em conta que estava a jogar tão bem, não seria de manter?...

Saudações Gloriosas!

Rodrigo Federman disse...

Rui, bela análise, amigo.
Acho que o gol pode ser o último dos nossos problemas a serem resolvidos. Primeiro temos que acertar urgentemente o ataque, depois as alas, seguido pelo companheiro do AL. Aí sim, Castillo ou Renan.
Abs e SA!!!

Anónimo disse...

Querido Rui, infelizmente não tive condições de acompanhar o jogo de domingo. A última vez que não acompanhei um jogo do Botafogo, foi naquele fatídico 5X2 para o Vitória. Mas lendo os comentários e análises, chego as seguintes conclusões: 1 - efetivamente nos falta banco, e nosso ataque titular não é lá grande coisa; 2 - O Carlos Alberto e o Túlio fazem muita falta, pois não temos jogadores de reposição minamente em condições de substituir os dois; 3 - O Renan é mais goleiro que o Castillo. 4 - O Gil foi uma contratação ruim, parecida com a do Athirson ano passado; 5 - a escalação do NF foi equivocada, e o Inter soube se aproveitar disso; 6 - o Inter tem excelentes jogadores, e quando acertam, fica complicado.O que torço no monmento, é que o Botafogo consiga manter a grande maioria dos jogadores para o ano que vem, além da permanência do NF, que pode até ter errado, mas considero-o um bom treinador, e espero que aprenda com os próprios erros. Se formos à Libertadores e ganharmos a Sul Americana, eu ficarei muito satisfeito. Grande abraço e Saudações botafoguenses.

Anónimo disse...

Rui, esqueci de falar sobre a arbitragem, embora não sirva de desculpa, mas ela continua errando sempre contra nós. Esse juiz que apitou domingo é um incompetente ou mal intencionado. Se quiser comprovar o que falo, de uma olhado no blogdojoaoninguem; você vai ficar pasmo. Engraçado, é que falam do penalti mal marcado contra o Cruzeiro, mas nesse mesmo jogo teve um não marcado instantes antes e ninguém comenta. Contra o Vasco o Ca foi derrubado dentro da área, mas naturalmente o Beltrami (ele novamente) não marcou. Contra o Náutico o empurrão no JH foi um escândalo, mas o Paulo C. Oliveira, o mesmo que ano passado, em um, jogo importante contra o Paraná, não deu um penalti claro no Dodo. Diga-se de passagem, que por causa desse resultado, entramos em desvantagem no jogo seguinte contra o SP, quando o time paulista jogou na retranca se aproveitando dos erros do Botafogo, já que o empate o favorecia. Sinceramente, estou cansado de ver tantos erros decisivos contra nós e tantos erros que favorecem clubes da preferência da nefasta CBF. ABS E SB!

Ruy Moura disse...

Querido amigo Sergio, concordo inteiramente com os seis pontos.

No início do ano defendi que deviaam ser estabelecidas as seguintes metas´: conquista da Copa Brasil, 6º a 9º lugar no brasileirão e conquista da Copa Sul-americana. Ma spara isso não se podia ter investido tanto no campeonato acrioca, que rebentou os jogadores para a Copa do Brasil. Agora pretende-se o título, que dificilmente chegará, e não se priorizou a Copa Sul-americana. Como não ganhámos a CB e não acedemos à Libertadores com isso, penso que as metas agoira seriam precisamente o G4 e a Copa Sul-americana.

Porém, não gostei das últimas opções do Ney, nem das suas declarações. Temo que entre em invenções como fazia o Cuca e amoleça com os jogadores. Espero que faça uma reflexão e mantenha a postura com que iniciou o cargo.

No entanto, penso que o ideal seria manter o Ney e o plantel, ma snão creio nisso. No fim do ano sairá o Jorge Henrique e provavelmente outros.

E não antevejo modernização da gestão com o C. A. Montenegro. Túlio Maravilha no BFR antes de se aproximar do gol mil é brincadeira.

Estou preocupado.

Saudações Gloriosas!

Botafogo Campeão Metropolitano Sub-12 (todos os resultados)

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