domingo, 11 de abril de 2010

Facho de Luz versus Apagão

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Confesso-vos que o que mais me espanta no futebol brasileiro é a capacidade de regeneração que os clubes evidenciam quando tudo parece estar perdido, seja no tempo em que a fabulosa matéria-prima futebolística atuava em clubes do Brasil, seja quando a qualidade dos jogadores que restam em ação no país é genericamente má.

Lembro-me que o Botafogo já fez viradas de 0x3 para 4x3 e 0x4 para 5x4 (relatado no blogue na etiqueta ‘grandes viradas’) e que em nenhum momento os jogos estão ganhos antes de terminarem.

Ontem o Botafogo marcou um gol muito cedo, mas em vez de dar mais ânimo ao Glorioso, deu mais ânimo ao Fluminense apostado em arrumar o assunto nos primeiros 45 minutos. Os jogadores do Fluminense ‘voavam’, e uma equipa mediana paga geralmente essa ousadia na segunda parte.

O Botafogo resistiu como pôde com a sua equipa praticamente sem ‘individualidades’ a um adversário mais uma vez apontado pela mídia como amplo favorito.

E na segunda parte as mudanças no Botafogo resultaram em cheio pelo descomunal apagão do Fluminense, uma equipa que, aparentemente com o jogo na mão, mostrou mais uma vez não estar à altura nos momentos decisivos, fracassando rotundamente (com a exceção da Copa do Brasil 2007, que seria nossa se não fosse a auxiliar de arbitragem – a Ana ‘Pelada’ Oliveira).

Uma nova viragem consagrou mais uma noite Gloriosa de um Facho de Luz que persiste vigoroso mesmo nos períodos mais adversos do clube. Apesar da absoluta incompetência da diretoria do Botafogo, Joel Santana tem conseguido fazer valer a camisa Gloriosa e os jogadores têm lutado nos momentos mais cruciais – embora fracassem sistematicamente na Copa do Brasil perante clubes ‘pequenos’ porque a própria diretoria e a comissão técnica nunca valorizam a Copa do Brasil como uma meta essencial e preferem realçar a importância que o campeonato carioca não tem. Talvez para que o presidente do Glorioso possa “tirar sarro do porteiro”.

Outra coisa que me espanta no futebol brasileiro é a soberba de dirigentes, jogadores e comentaristas. Espanta-me o enorme desrespeito aos adversários quando aparentam ser mais fracos, ou quando pretendem menorizá-los, ou até depois de os vencer, ridicularizando-os. E como os ‘grandes homens’ vencedores respeitam sempre os vencidos, o que ocorre mostra a insignificância humana do comportamento de muitos dirigentes desportivos, atletas, comentaristas, etc.

A falta de qualidade da ‘palavra’ está bem patente em afirmações profissionalmente descabidas como as de Flávio Garcia, editor do L!:. “O alvinegro terá que se contentar com a disputa pelo título carioca.”

Lembro-me que o Botafogo foi considerado ‘carne para canhão’ desde a primeira hora do campeonato carioca e, não obstante, é o único que tem conseguido resultados concretos. Em cinco anos estamos sempre lá, garantindo ontem a 12ª decisão durante esse período. Mas veja-se a que estávamos destinados através, por exemplo, do comportamento de jogadores cathartiformes, do presidente vascaíno e do treinador fluminense:

• Na semifinal da Taça Guanabara a nossa derrota era tão garantida pelos dirigentes cathartiformes que os jogadores deles ficaram sambando até altas horas no carnaval carioca. Ganhámos 2x1 ao Flamengo, de virada.

• Na final da Taça Guanabara contra o Vasco da Gama, o adversário já se dava como vencedor e o seu desbocado presidente até já escolhera o adversário para a final da Taça Guanabara: o Flamengo. Ganhámos 2x0 ao Vasco da Gama.

• Na semifinal da Taça Rio o Fluminense já estava tão garantido que Cuca afirmara que “vamos ser campeões da Taça Rio”. Ganhámos 3x2 ao Fluminense, de virada.

Dois jogos de virada, nenhum necessitado de grandes penalidades para decidir o vencedor. Orgulho-me de ser botafoguense e tão diferente desta gente. Continuo absolutamente convicto que, salvo as normais exceções, somos uma torcida claramente diferenciada. Entre outras coisas, somos ‘reclamões’, como sugere a divertida postagem central de hoje, mas essa é a nossa cultura. Temos cultura, vigor e capacidade de resistir a tudo e a todos.

E ousamos vencer os nossos três rivais em três jogos decisivos!

“Na estrada dos louros, um facho de luz tua estrela solitária te conduz”.

13 comentários:

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

O Cuca é um mal-caráter, arrogante, estúpido e patético.
Desmereceu os adversários e falou que já estaria na final.
Veja:
http://aureliojornalismo.blogspot.com/2010/04/como-ser-um-mentiroso-arrogante-e.html

Jatahy disse...

Rui, Eh bom dizer tambem que nao nascemos reclamoes, mas nos tornamos, nao sem motivo.
Desculpe a falta de acentos mas estou em New Orleans, pronto para sair a rua com a camisa do nosso grande Nilton Santos.
Inte,

Jatahy

Ruy Moura disse...

Jatahy, percebo o que quer dizer com 'nos tornamos', mas em minha opinião somos reclamões de nascença, meu amigo. E não acho mal nenhum porque eu reclamei sempre com o mundo desde que me conheço, porque o mundo se organiza muito mal. Reclamar e querer mudar as coisas faz parte de uma cultura da qual jamais abdicarei. Eu explico porque é que, em minha opoinião, nascemos assim.

O Clube de Regatas Botafogo nasceu porque Luiz Caldas e o seu grupo de remadores reclamou contra as apostas no remo em defesa da modalidade.

O Botafogo Futebol Clube nasceu de um grupo de garotos 'reclamões' que se mantiveram unidos e 'reclamões' mesmo quando foram campeões em 1910, abandonando a liga por solidariedade com Abelardo Delamare. Isso foi em 1911 e nesse ano o Fluminense deixou sair 9 dos seus jogadores que fundaram o futebol no Flamengo, para que continuasse de bem com a Liga. Portanto, Flu e Bota são postos à nascença. Ao contrário do Flu, o Flamengo era um clube também 'jovem' como nós, com atitude, e que infelizmente perdeu ao longo dos anos quando começou a apelar às arbitragens. Agora, até no futebol de bases e no showbol o flamengo é beneficiado...

Também usei a minha camisa hoje em Lisboa. Que tenhas um belo dia!

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Aur+élio, apesar de certamente muitos leitores deszte blogue gostarem do Cuca, confesso que estou inteiramente d eacordo consigo. Acho o Cuca tudo isso que diz, e quem o conhece bem - e eu conheço quem o conhece bem e conheço certos pormenores -, ele é tudo isso que o Aurélio diz.

De resto, ele fez no Botafogo praticamente o que os seus sucessores fizeram com muito menos jogadores de qualidade: finais de campeonatos cariocas e conquistas de Taça Guanabara e Taça Rio. Nos outros clubes, antes e depois do Botafogo, nunca conseguiu nada, a não ser a oferta da arbitragem nas finais do campeonato carioca de 2009.

Só acrescento mais uma coisa: ele queimou os jogadores 'não brasileiros' do plantel botafoguense, incluindo o melhor defesa que tivemos nos últimos anos - Ferrero.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Ah... e recebeu o Petkovic no plantel com um seco "Oi". Inacreditável para um treinador responsável, ético e cidadão. Porque simplesmente não queria um estrangeiro, que afinal foi um dos pilares dos bons jogos do flamengo no campeonato brasileiro.

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

Rui,

Estou convencido que uma boa estratégia de jogo (saber a hora de se defender e a hora de acelerar o jogo, liberar um pouco mais o meio,lançar bolas para o atacante escorar para quem vem atrás etc...)é fundamental para alacançar uma vitória. Correr desesperadamente, invariavelmente, não leva a lugar nenhum. Aqui no Brasil se dá muito valor ao esquema tático, que seria o posicionamento dos jogadores em campo. Isso é só um item da estratégia. Nem acho que seja o mais importante.

Patrick Dias

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

O Cuca nunca me enganou, com seu espírito derrotista. Ele fala uma coisa, mas sempre demonstra o contrário em gestos e atitudes.
Era ele quem passava a mão na cabeça do Júlio César (goleiro) à cada frango escandaloso dele, era ele que colocava os jogadores como coitadinhos após tantas derrotas vergonhosas.

Ruy Moura disse...

Meu amigo Patrick, se percebi bem o que disse, desta vez tenho uma opinião diferente da sua.

Concordo inteiramente que o 'segredo' está no equilíbrio do conjunto entre defesa, meio campoo e ataque, e por isso a tática e o posicionamento são fundamentais, mas em minha opinião não é isso que as equipas brasileiras fazem.

Em minha opinião há duas maneiras de 'fazer' futebol:

1) Criando.
2) Construindo.

A) 'Criar' é típico do futebol brasileiro (e, em parte, do futebol argentino), que teve em Garrincha o seu expoente máximo. É um futebol de grandes 'explosões', de grande capacidade individual e de pura arte.

B) 'Construir' é típico do futebol europeu, que assenta não na individualidade, mas no conjunto, pelo que a tática e a estratégia são mais importantes do que a 'arte'.

No 1º caso, é um futebol de emoção baseado no 'coração'; no 2º caso é um futebol da razão, baseado na 'mente'.

No futebol brasileiro o técnico é 'pai', porque mexe com o 'coração'; no futebol europeu o técnico é 'mentor', porque mexe com a mente.

Justamente o que eu gostaria no Botafogo é que não andassem todos a correr para lado nenhum, a desgastarem-se. Didi dizia que a bola é que tinha que correr, e dou-lhe inteira razão. O jogador tem que fazer piques para recebê-la e ficar na cara do gol, mas não tem que correr desenfreadamente, sem tárica e baseado nas suas piruetas, tipo Caio. Apesar da arte ser algo notável, eu preferia que, à falta de craques, o Botafogo jogasse mais à europeu, 'construindo' coletivamente, correndo apenas para receber a bola, e sobretudo marcar e posicionar-se bem, que é coisa que os nossos atletas 'perebas' não fazem e nem são incitados a fazê-lo pelo 'paizão'...

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

É verdade sim, Aurélio. Foi o Cuca que encobriu o Zé Roberto, e quando não pôde mais pediu à diretoria para suspendê-lo até final de contrato. Logo a seguir, aflito por causa da suspensão do Dodô, e sem opções suficientes no banco, pediu à diretoria o seu regresso, sempre limpando as mãos. Quando se demitiu após aquela coisa do River Plate lançou bas culpas todas para cima dos jogadores, e a nossa torcida foi atrás e chamou-os de bonecas de saltos altos. Fomos nós que iniciámos o chororô nesse dia a partir do Cuca e acabámos no 'palco' em 2008 do ano seguinte com o Cuca a lamentar-se publicamente. Uma tristeza...

Depois de se demitir quis voltar atrás e andou publicamente, nos jornais, a boicotar o Mário Sérgio, e 10 dias depois voltou vergonhosamente por sobre o 'cadáver' do M. Sérgio. Aí não desculpo nem o Bebeto nem o Montenegro, que foram coniventes com o Cuca.

Mas vou-me calar, porque senão ficaria aqui um ano inteiro a desfiar o mau caráter de Cuca, mas que engana bem os mais distraídos.

Se compararmos a qualidade da equipa do Cuca em 2007 e o seu real desempenho com a qualidade da equipa de 2010 e o seu desempenho, podemos concluir duas coisas:

1) A equipa de 2007 era muito superior mas era 'amamentada' pelas panelinhas do vestiário.

2) A equipa de 2010 é bastante fraca, mas tem um espírito notável de superação de si mesma nos momentos cruciais. Nesses momentos, a equipa de 2010 'só' ganhou ao Flamengo, Vasco da Gama e Fluminense...

Mesmo com o inclassificável presidente que temos, os gerentes de futebol inacreditáveis e alguns erros táticos do Joel, estes jogadores superam-se e ganham.

Abraços Gloriosos!

Lorismario disse...

Grande Rui. Depois dos relâmpagos que "torraram" meu computador doméstico e de terem me roubado o micro no trabalho estou de volta com máquina doméstica nova. Isso não vem ao caso.
A imbecilidade e arrogância no futebol, principalmente relacionada à crônica futebolista é porque aqui no Brasil qualquer besteira é publicada, e quanto mais besteira melhor, pois o "niver curturar " é baixo de forma geral relativo aos apaixonados pelo futebol. Poder-se-ia usar o futebol para melhorar a coisa. Sobre a falta de respeito lembro-me de uma frase da qual não lembro mais o autor. Diz assim: " O que seria do vencedor se não houvesse perdedor." A disputa de 12 títulos em 5 anos é negligenciada pelos catartídeos pois eles só sabem contar até o "hexa" fraudulento. É impressionate como a Flapress decretou o hexa para os catartídeos. Abração saudoso. Loris

Ruy Moura disse...

Loris, todos os grandes homens vencedores souberam dignificar os vencidos que lhes trouxeram a honra da vitória. Por isso adoro um trecho do hino da Portuguesa carioca: "vencer com galhardia, perder com fidalguia".

Estes torcedores ignorantes (especialmente os cathartiformes), a quem não basta a alegria da vitória, mas apenas a humilhação do adversário, mostra mais do que analfabetismo - mostra o traumatismo mental que sofrem e a incapacidade de serem felizes pelo lado do bem.

Abraços Gloriosos!

Aurelio Bulhões Pedreira de Moraes-Jornalista disse...

Tenho visto gente com medo do Flamengo. Quem tiver medo, então que mude de time.

Ruy Moura disse...

Isso, Aurélio. Quem tem medo, que mude de time e compre um cão feroz.

Mas acho que muito desse medo não é dos cathartiformes, mas das arbitragens. Não vou assumir derrotas, mas quanto a mim o tetra está sendo cozinhado em banho maria desde o início do campeonato. Só um jogo fenomenal do Botafogo resolveria o problema sem apelo nem agravo...

Abraços Gloriosos!

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