quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Aida dos Santos: botafoguense negra e pobre, única brasileira em Tóquio

 

por JÚLIA BARBON

Folhapress, Niterói

Aida Santos, aos 83 anos, tem várias medalhas, três diplomas, uma pista de corrida com seu nome e um documentário.

Aos 27 anos, Aida dos Santos não tinha sapato, técnico, colchão e muitas vezes nem comida. Aos 83, tem várias medalhas, três diplomas, uma pista de corrida com seu nome e um documentário. O fio que amarra essas duas épocas é ela mesma, e apenas ela.

Começou por acaso, nos jogos de vôlei aos domingos na adolescência. A colega que lhe dava carona de bicicleta praticava atletismo e fez a chantagem: "Se hoje não tiver quórum para o jogo e você não quiser fazer salto em altura comigo, volta para casa a pé".

O resultado foi que Aida tornou-se a única mulher brasileira na Olimpíada de 1964, última a acontecer em Tóquio. A capital japonesa iria sediar o evento novamente a partir de sexta-feira (24), mas ele foi adiado para 2021 por causa da Covid-19. A cerimônia de abertura agora está marcada para 23 de julho do ano que vem.

A atleta mistura afeto e tristeza ao lembrar dos dias que passou no país quando tinha seus 27 anos. "Eu chorava muito naquele Japão, meu Deus do céu", disse na casa onde vive com o marido em Niterói, região metropolitana do Rio, em entrevista dada à Folha de S. Paulo pouco antes da pandemia.

As lágrimas vinham da solidão de disputar uma Olimpíada sem técnico, sem intérprete, sem uniforme, sem nada. O descaso começou antes dos Jogos, quando ela e outra colega negra foram obrigadas a passar por cinco eliminatórias mesmo já tendo atingido o índice olímpico de 1,65 metro (hoje ele é de 1,96 metro).

Só ela atingiu os critérios estabelecidos, portanto foi a única mulher na delegação brasileira naquele ano, em meio a quase 70 homens. Lá conseguiu preencher apenas nome e data de nascimento na ficha de inscrição, e isso porque um japonês cantarolou o ritmo de "Parabéns Pra Você".

"Me deram só uma camiseta, um short e um agasalho da equipe de futebol, tive que pedir uniforme do Botafogo para levar. Na Vila Olímpica deviam perguntar: 'De qual África é essa negra, que não tem nada?' Eu pensava assim", assume soltando um riso fácil.

Treinava sozinha, olhando suas rivais com até três técnicos. A sapatilha própria para a modalidade também não veio, e ela teve que competir com um calçado para corridas de curta distância cedido por um fornecedor que ficou com pena ao vê-la chorar.

Aida – se lê Aída, mas não tem acento porque seus pais não foram alfabetizados – se classificou para a final com um salto de 1,70 metro, no qual torceu o pé. "Torci porque no Brasil eu estava acostumada a pular em um buraco de areia. Lá você pulava no colchão. Sair do ruim para o bom também estranha, né?"

Olhou a arquibancada lotada sem nenhuma bandeira do Brasil, rodou o estádio mancando, com fome, e se perguntou o que fazia ali. Um médico da delegação cubana então fez uma botinha de esparadrapo que permitiu que ela saltasse 1,74 metro na final. Ficou em quarto lugar.

O quarto lugar, mesmo sem o mínimo de estrutura, foi o melhor resultado individual de uma atleta brasileira na Olimpíada por 32 anos e lhe rendeu muitas entrevistas, propostas e o apelido de Leoa de Tóquio. Até hoje ela não sabe de onde surgiu a alcunha, mas tem um palpite.

"Eu vou à luta, para mim nada é impossível. Antes eu não sabia nem o que era atletismo ou Olimpíada. Diziam: 'Para que você quer saber o recorde mundial se você nem sabe o recorde carioca?' Eu sempre quis estar lá na frente, mesmo que não fosse chegar, eu ia brigar para tentar."

A garra já se via nos tempos de criança no Morro do Arroz, favela de Niterói onde era a caçula entre seis irmãos, em uma casa sem luz elétrica.

Nasceu prematura, filha de um pedreiro alcoólatra e de uma lavadeira. No primário trabalhava de doméstica, nas férias do ginásio, fazia faxina "em casa de madama". Estudava o dia inteiro com fome e hoje não gosta de carambola, fruta que tirava do pé quando não tinha o que comer.

Na primeira competição que ganhou depois de ser descoberta pelo Fluminense, levou uma surra e ouviu do pai que medalha não enche barriga. No Vasco, não ia aos treinos porque o dinheiro da passagem era confiscado para comprar pão, açúcar e café para a família. Mesmo assim, sempre vencia as provas.

Por um longo período, Aida fez faculdade de manhã, trabalhou à tarde e treinou à noite. Se formou em geografia, educação física e pedagogia. Foi também professora de educação física na UFF (Universidade Federal Fluminense) de 1975 a 1987.

Fundou um instituto com seu nome onde crianças tinham aulas de vôlei, atletismo e também reforço escolar gratuito, com apoio de psicólogo e serviço social. O único requisito era estar estudando.

"A vida que eu tenho hoje foi graças ao esporte e porque eu estudei. Se eu fizesse esporte e não estudasse também não ia dar em nada", acredita ela, que teve de fechar o instituto após dez anos de atividade.

O mesmo incentivo foi dado aos três filhos, entre eles a jogadora de vôlei Valeska Menezes, a Valeskinha, campeã nos Jogos de Pequim-2008. Ao lado dela, Aida conduziu a tocha olímpica no Rio em 2016.

Fonte: http://www.diariodecuiaba.com.br/esportes/mulher-negra-e-pobre-foi-unica-atleta-brasileira-em-toquio-1964/536359

QUINO partiu!

 

QUINO, o criador da Mafalda, faleceu aos 88 anos de idade. Grande revolucionário da banda desenhada, eternizou-se há muito tempo! Obrigado pelas excelentes leituras, risos e ensinamentos de vida em sociedade!

Série: Coisas & Loisas (440)

 

terça-feira, 29 de setembro de 2020

1974: Taça do Torneio Independência do Brasil

 

por PEDRO VARANDA

Colaborador do Mundo Botafogo

 

O Botafogo conquistou a Taça de campeão do Torneio Independência ao vencer o Vitória de Salvador por 1x0, em Brasília. Eis a ficha técnica da partida:

 

BOTAFOGO 1x0 VITÓRIA DE SALVADOR

» Gol: Nílson Dias, aos 53’

» Competição: Torneio Independência do Brasil

» Data: 08.09.1974

» Local: Hélio Prates da Silveira, em Brasília (DF)

» Árbitro: Édson Resende; Assistentes: Cid Fonseca e Adélio Nogueira

» Botafogo: Wendell, Waltencir, Mauro Cruz, Osmar e Marinho Chagas; Nei Conceição, Marcos Aurélio e Dirceu; Nílson Dias, Puruca e Fischer (Jorge Luís). Técnico: Mário Zagallo.

» Vitória de Salvador: Agnaldo, Roberto Oliveira, Válter, Vavá (Róbson) e Valença; Roberto Meneses, Gibira e Mário Sérgio; Osni, André e Davi. Técnico: Bengalinha.

 

Confira a campanha do Botafogo no Torneio clicando aqui: 1974: Torneio Independência do Brasil 

Fontes: Jornal do Brasil e Jornal dos Sports.

Grandes Seleções euro-sulamericanas e os meus 7´s

 

Duas grandes Seleções. Que permitem debate sobre quem poderia sair e quem poderia entrar. Porém, uma coisa é certa: sou fã do 7 sul-americano e fã do 7 europeu!

Ninguém empata como a gente...

 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

EMPATUORI 1x1 Atlético Goianiense

 

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

Recentemente Paulo Empatuori afirmou, em coletiva de imprensa, que “é muito difícil alguém ganhar do Botafogo”.

Fiquei cogitando sobre o assunto e questiono se não terá Empatuori querido dizer que “é muito difícil o Botafogo ganhar de alguém”.

Fora o brilharete contra o Vasco da Gama, a carreira de Empatuori no Campeonato Brasileiro é absolutamente pífia: EEVEDEEEDEE. Uma vitória em 10 jogos e há 8 jogos sem vencer. 1/3 de aproveitamento global.

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ… 4!!!

FICHA TÉCNICA

Botafogo 1x1 Atlético Goianiense

» Gols: Victor Luís, aos 44' (pen.) (Botafogo); Hyuri, aos 49' (Atlético Goianiense)

» Competição: Campeonato Brasileiro

» Data: 27.09.2020

» Local: Estádio Olímpico, Goiânia (GO)

» Árbitro: Leandro Vuaden (RS); Assistentes: Jorge Eduardo Bernardi (RS) e José Eduardo Calza (RS); VAR: Rodrigo Guarizo do Amaral (SP)

» Disciplina: cartão amarelo – Caio Alexandre, Rentería e Kanu (Botafogo) e Gilvan e Dudu (Atlético Goianiense)

» Botafogo: Diego Cavalieri; Kanu, Forster e Sousa; Kevin, Rentería, Caio Alexandre (Luiz Otávio), Bruno Nazário (Davi Araújo) e Victor Luís; Matheus Babi e Pedro Raul (Kalou). Técnico: Paulo Autuori.

» Atlético Goianiense: Jean; João Victor (Dudu), Gilvan, Oliveira e Natanael (Nicolas); Marlon Freitas, Edson e Matheus Vargas (Chico); Janderson, Matheuzinho (Gustavo Ferrareis) e Hyuri (Júnior Brandão). Técnico: Vagner Mancini.

Série: minhas diversões infanto-juvenis (38)

 

Jéssica Sánchez: uma paraguaia no futebol do Botafogo

 

Jéssica Sánchez, 19 anos, paraguaia, artilheira da Liga Sul-Americana Sub-19, tornou-se a primeira estrangeira a fazer parte de um elenco de futebol feminino do Botafogo.

domingo, 27 de setembro de 2020

Marlene José Bento: representação do ideal Olímpico

 

por RUY MOURA

Editor do Mundo Botafogo

 

Marlene José Bento nasceu a 23 de junho de 1938, no Rio de Janeiro, e foi atleta de basquetebol na posição de pivô, tendo feito 22 anos de carreira basquetebolista, 17 dos quais também ao serviço da Seleção Brasileira.

 

Marlene iniciou a carreira de basquetebolista no Clube do Sargento (RJ) em 1951 a fim de combater a bronquite asmática, porque o seu médico recomendou-lhe o exercício físico. Como era muito alta (1,80m) praticava tanto o basquete como o vôlei.

 

Em 1954, devido ao seu talento, ingressou no Botafogo, jogando simultaneamente voleibol e basquetebol, mas destacou-se no basquete, onde se sagrou campeã carioca pelo Botafogo pela primeira vez em 1955 e, nesse mesmo ano, foi convocada para integrar a Seleção Brasileira, que representou entre 1955 e 1971.

 

Em 1962 Marlene transferiu-se para o Flamengo e em 1965 para o São Caetano (SP), onde encerrou a carreira em 1971.

 

No Botafogo, Marlene destacou-se nos títulos cariocas de 1955 e 1960, tendo assinalado incríveis 151 pontos em 8 jogos em 1955 e 402 pontos em 18 jogos em 1960 (além de ter feito a cesta do título carioca na decisão contra o Fluminense).

 

Em 1959, Marlene José Bento foi portadora, em General Severiano, da Tocha Olímpica dos Jogos de 1960, realizados em Roma.

 

Quando se aposentou, a atleta tornou-se Professora de Educação Física, em São Paulo, e foi figura importante na consolidação do basquete na região, ensinando em escolinhas de São Caetano e treinando as categorias de base. A cidade retribuiu a dedicação da pivô e batizou o Ginásio Poliesportivo do município com o seu nome. Marlene tem agora 82 anos de idade e vive em Niterói, no estado do Rio de Janeiro.

 

Títulos pelo BOTAFOGO:

 

» Campeonato Carioca: 1955, 1960, 1961

» Jogos Abertos de Santos: 1956

» Torneio Poços de Caldas: 1957

 

Títulos pela SELEÇÃO BRASILEIRA:

 

Campeonato Mundial

Bronze

1971

64 pontos

6 jogos

Campeonato Sul-americano

Bronze

1956

?

?

Ouro

1958

94 pontos

8 jogos

Prata

1960

52 pontos

7 jogos

Ouro

1965

64 pontos

5 jogos

Ouro

1967

16 pontos

3 jogos

Ouro

1968

?

?

Ouro

1970

120 pontos

7 jogos

Jogos Pan-americanos

Bronze

1955

3 pontos

4 jogos

Prata

1959

79 pontos

8 jogos

Prata

1963

48 pontos

6 jogos

Ouro

1967

66 pontos

7 jogos

Ouro

1971

42 pontos

5 jogos

Série: minhas diversões infanto-juvenis (37)

 

Famílias Botafoguenses (XVIII) – o Glorioso Bruno

 

Acabado de nascer, Bruno é o filho caçula do meu querido amigo Rodrigo Federman e o neto do meu querido amigo Jacob Federman. Além da camisa, dentro em breve o Rodrigo vai lhe oferecer a vestimenta alvinegra completa.

sábado, 26 de setembro de 2020

João Saldanha: sinopse do enredo da Botafogo Samba Clube para 2021

 

por MARCELO ADNET & RICARDO HESSEZ

“Meus amigos”, que falta faz a voz de João Saldanha! Os mais jovens provavelmente não conhecem suas fabulosas histórias, mas deveriam. O fato é que a lenda engoliu o fato e se tornou história.

“Entre o fato e a lenda, imprima-se a lenda”

João nasceu envolto em fábula, no revolucionário 1917. Dizem que foi em Porto Alegre, mas ele garante que foi no Alegrete, embora sua certidão seja do Uruguai. Cresceu cercado por facas, ponchos, espingardas, bombachas e chimarrão. Seu pai era um líder Maragato, lenço vermelho no pescoço e sangue de guerreiros. Mesmo em uma família de algumas posses, aprendeu que seguir seus ideais custava a luta de uma vida inteira. Quando criança, cruzava a fronteira trazendo armas do Uruguai para o Rio Grande e dormia sob a cama da mãe, prevenindo represálias dos Chimangos. Acostumou-se ao exílio: a família foge para o Uruguai e volta nos rastros abertos pela Coluna Prestes – do amigo Luis Carlos, que moraria com os nove filhos junto à família de João em seu apê, décadas mais tarde.

Os Saldanha se assentam em Curitiba, de onde seguem em romaria política: com a Revolução de 30, a família se muda para o Rio de Janeiro. Esse encontro de dois Rios em revolução forjariam a identidade de João.

A Estátua do Cristo Redentor chega ao Rio de Janeiro em 1931. Junto com ela, o jovem que se encontra em bares e cafés; na boêmia com vedetes, em batalhas de confete; praias, carnaval e futebol. João entrou de penetra em bailes com Heleno de Freitas, com quem dividiria uma garçoniére cujo acesso se dava por uma funerária. Viu o tetra-campeonato do Botafogo, sua grande paixão, e passou a integrar o time de praia do lendário Neném Prancha. Diz-se que muitas das famosas frases atribuídas a Neném, eram, na verdade, de João. Vai saber:

“Goleiro bom tem que dormir com a bola…”

“Pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente”

“Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado”

Flanava entre as Turmas dos Cafajestes e da Bossa Nova, de Vinícius – João atuou em um filme do Poetinha – e de seu primo Tom, que “falavam difícil”. Se identificava com Neném e o pessoal da praia mais popular, a Turma da Miguel Lemos.

Filiado ao PCB, ao participar da Reunião Contra a Bomba Atômica, considerada subversiva pela polícia, não se conteve quando autoridades interromperam o evento. João arremessou uma cadeira no chefe da polícia e tomou um tiro que perfurou seu pulmão. Ainda ensanguentado organizou a fuga com elegância: “mulheres primeiro, por favor”. Detido e levado ao hospital, escapa espetacularmente e passa a ser foragido.

Muda-se para a Vila Formosa, em São Paulo, onde milita pela causa “O Petróleo é Nosso” e é preso e torturado pelo DOPS e depois jogado do Alto do Sumaré.

Mas João não descansa, nem usa seu lugar de privilégio para se acovardar ou acomodar. Logo se envolve no conflito agrário de Porecatu, no Norte do Paraná. Enfrentou polícia, jagunços, fazendeiros e a milícia Mata Pau ao lado dos camponeses posseiros. Entre emboscadas e tiroteios, o misterioso homem agiu sob identidade secreta e arriscou sua vida para fazer aquela Reforma Agrária que assentou cerca de 1600 famílias nas cidades vizinhas.

Ricardo Hessez e Marcelo Adnet

F2 João ainda participou da Passeata das Panelas Vazias que, para o desespero dos patrões, evoluiu para a Greve dos 300 Mil. Sob o codinome “Souza da Vila Formosa”, cativou o Sindicato das Tecelãs e trouxe junto os Carpinteiros, Gráficos, Metalúrgicos e Vidreiros com quem organizava piquetes e reivindicava aumento salarial e melhores condições de trabalho. Segurou a greve sob sabres e socos da cavalaria paulista.

Anistiado, volta ao Rio de Janeiro e comanda o Botafogo em 1957, sagrando-se Campeão Carioca. O técnico que abriu alas para Garrincha desfilar é carregado nos ombros da torcida que invadiu o gramado do Maracanã. Sem ganhar salário e tirando do bolso para pagar Garrincha, era o líder que tomava uma com os jogadores no bar, escrevia seus esquemas táticos em maços de cigarro e militava pela liberdade: “se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”.

Logo depois se tornaria “o comentarista que o Brasil consagrou” e criou expressões como “a vaca foi para o brejo”, “zona do agrião”, ir pro vinagre”, no bagaço”, “cabeça de bagre”, “mostrar o mapa da mina” e “entregar o tesouro ao bandido”. Sua voz ecoava pelo velho Maracanã, amplificada pelos radinhos de pilha. João comentava olhando nos olhos dos geraldinos, gesticulando e falando a língua do povo.

Pois eis que chega a ditadura e João antevê um “longo e tenebroso inverno”.

Em tempos de repressão e censura, “João Sem Medo, que fazia os abutres calarem as bocas de ódio”, como Nelson Rodrigues definia, fazia as televisões saírem do ar. Assim foi ao vivo na Alemanha ao dizer que “bárbaros são vocês” e ao partir pra cima de Castor de Andrade em uma mesa redonda. Enquanto o AI-5 aprofundava a ditadura, João aceitava o convite para ser técnico da Seleção. Queriam calar um opositor? Aproveitar sua popularidade? Depois da melhor campanha do Brasil em eliminatórias, as arquibancadas do Maracanã explodiram: “Saldanha! Tricampeão!”. O técnico que abriu os caminhos para a conquista do Tri, comandando os “feras do João” era o maior ídolo do país atrás de Pelé.

Acontece que Médici assumiu a presidência e João o definiu como “o maior assassino da história do Brasil”, além de denunciar tortura e desaparecimentos nos maiores jornais do mundo. Para piorar, Médici queria Dario na seleção e João disparou: “organize seu Ministério que eu organizo meu time”. Tornou-se um problema de Estado e criou-se uma intervenção para tirar o “comuna” da Seleção. Saiu com bom humor: quando Havelange sentenciou: “está dissolvida a Comissão Técnica”, sem levar desaforo para casa, João respondeu: “não sou sorvete para ser dissolvido”. Acreditava no brasileiro e creditou a vitória a nosso talento, “que não copia ninguém e fez da arte dos seus sua força maior”.

Ainda viu seu Botafogo ser campeão de 89 e sua última Copa na Itália, onde recebeu seu derradeiro parabéns dos emocionados colegas da imprensa. Morreu em Roma, no campo de batalha.

Seus milhões de fãs e amigos juraram: “João, o Rio vai gritar sempre para defender você”

Como a morte não é um fim absoluto, renovamos esta prece e invocamos a voz de indignação que jamais deve se calar. Que João nos inspire a escolher as lutas certas: “eu não brigo para ganhar, eu brigo porque tenho razão”.

Em um tempo em que se renovam o medo, o temor, a injustiça e as desigualdades, a Botafogo Samba Clube move as engrenagens do espaço e do tempo através da memória para sintonizar a poderosa voz de João nos dias de hoje. “Não acendam um fósforo perto do João”, dizia Nelson Rodrigues. Desculpe, Nelson, mas vamos riscar e botar fogo na paixão que arde no peito do brasileiro. A paixão pela justiça, pela igualdade. João era assim: um apaixonado pela verdade caminhando em nuvens – ou seriam tempos? – de ilusão. Embalados pelo samba, pela coragem e a insubmissão, festejemos a luta de João com uma pergunta: o que ele diria se estivesse aqui hoje, armado com um microfone?

A Voz de João hoje é a nossa voz! Viva João Saldanha!

Fonte: https://www.carnavalesco.com.br/conheca-a-sinopse-do-enredo-da-botafogo-samba-clube-para-2021/

Marcelo de Almeida e Isabella Gomes conquistam 5 medalhas no Pan-Americano de Remo

Marcelo de Almeida. Fonte: Instagram botafogo.remo por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo Marcelo Barbosa de Almeida (14.02.2003) e Is...