terça-feira, 6 de agosto de 2024

O VULCÃO

por SOL DE ANLAREC | Colunista do Mundo Botafogo

Recentemente vivi a experiência de caminhar sobre um vulcão. Não pensem que sou lá muito destemida! Na verdade, estava movida pela curiosidade em conhecer o responsável pelo aniquilamento de uma civilização inteira da idade do bronze, ou seja, bem antes de Pompéia!

Ouvi do guia relatos fantásticos: o som da explosão teria se propagado num raio de muitos quilômetros, ao mesmo tempo em que toneladas de detritos incandescentes e cinzas eram lançados na atmosfera, vitimando não só os habitantes da região, quanto os de lugares mais distantes. Os efeitos arrasadores perduraram por vários dias, ao longo dos quais pesadas nuvens encobriram o sol e vagas colossais lamberam as costas das ilhas próximas.

Pude imaginar uma fração da magnitude desse acontecimento, ao visitar dias depois o sítio arqueológico de um lugarejo afastado. Impactou-me ver a espessa camada de material vulcânico que ainda recobre a maior parte da antiga povoação, que, cabe ressaltar, manteve-se esquecida até meados do século passado, quando, então, se iniciaram as escavações que trouxeram à luz vestígios de ruas, casas, afrescos, potes de cerâmica e alguns objetos de uso cotidiano.

Voltando à minha aventura, iniciei a subida para o topo do vulcão percorrendo um acidentado caminho, em que me vi ladeada pelos escombros provenientes das entranhas da Terra.

A paisagem é dominada por pedras e mais pedras que se amontoam pelo terreno, formando um caótico visual com os mais variados tamanhos, cores e formas! Aqui e ali há sinais de uma vegetação rasteira – majoritariamente em tons de palha seca.

Ao me aproximar do cume, crescia a expectativa de encontrar o visual tradicional dos filmes – um gigantesco poço redondinho, cheio de lava borbulhante!

Que nada!! Eis que me deparo com...

...uma grande decepção!!!

A cratera – embora com vasto diâmetro – está seca, obstruída por montes de rochas salpicadas irregularmente sobre ela. A única prova que denota a atividade constante do vulcão é uma fumacinha branca – quase invisível – que escapa por seis pequenas fissuras.

Desapontada, me encaminhei para a borda, de onde é possível contemplar o panorama. Achei-me em uma ilha circundada por um belo mar azul, vizinha de outras duas, que se mantêm em contínua expansão, formando um conjunto que está inserido em uma caldeira monumental, parcialmente submersa.

“Quanta destruição” – pensei, olhando o cenário à minha volta e comparando-o ao de uma casa após uma briga. As rochas empilhadas se assemelhavam aos destroços de móveis jogados pelo ar durante um violento acesso de raiva!

Raiva – essa emoção negativa – alimentada por ódios, mágoas, frustrações, ressentimentos e tantos outros lixos mentais, vive dentro de nós em constante estado de ebulição, tal como o magma no interior da Terra.

Às vezes, podemos controlá-la, evitando causar danos maiores. É como a fumacinha branca à que me referi antes.

Todavia, há uma hora em que isso não é possível. Perdemos o controle! Não há como aplacar as emoções! Elas explodem e se derramam – tal como a esbraseante lava! Os estragos podem ser fatais...

Dei-me conta de que, naquele exato momento, eu pisava sobre um oceano de magma, separado de mim apenas por uma camada de terra, passível de rompimento a qualquer instante.

Os gregos da antiguidade, ao interpretarem a Natureza e suas manifestações, atribuíram uma divindade aos vulcões – Hefesto – que, além de ser feio, era manco, e...

...como desgraça pouca é bobagem, ainda era corno!

Pobre deus! Tinha a esposa mais linda do Olimpo, mas de que adiantava? Ela o desprezava, traindo-o sem pudor. Pra piorar, os mexeriqueiros do Olimpo diziam que sua problemática com as mulheres vinha desde o nascimento: ele havia sido rejeitado pela própria mãe!

Que babado forte, né não? Tadinho do Hefesto! Agora fica mais fácil entender porque ele foi escolhido como uma espécie de padroeiro dos vulcões. Tinha motivos suficientes para viver explodindo!

Brincadeiras à parte, e concluindo a narrativa da minha aventura, empreendi o caminho de volta prestando atenção redobrada à paisagem, que me parecia um quadro de revolta, violência e abandono. A palavra “raiva” continuava vagando em minha cabeça.

Confesso que me senti um pouco apreensiva! Embora tenha visto os equipamentos que monitoram a cratera continuamente, sei também que as erupções não têm data marcada. Não há como controlar os imprevisíveis humores da Natureza!

Torcendo para que a raiva de Hefesto continuasse só na vibe – “soltar uma fumacinha” –, tratei de seguir rápido para o barco.

Contudo, não consegui parar de ter pena do esquentado deus e arrisquei pensar: “nos dias atuais ele bem que poderia recorrer a um coach e, assim, mitigar seu sofrimento!”.

Este, seguindo o melhor estilo do bordão Casseta&Planeta – “Seus problemas acabaram”, logo o mandaria abandonar o martelo e a bigorna e adotar a tecnologia!

Incentivado a assumir uma postura descolada, Hefesto se modernizaria e, de cara, se inscreveria num site de relacionamento sob o perfil – “Pezinho Quente”. Em sua bio figuraria uma daquelas frases de psicologia de boteco: “Menos aparência, mais essência”.

Afinal, com tanta gente com fetiche em pés, quem sabe ele não conseguiria um match rapidinho?

Ora, se a esperança é mesmo a última que morre, confiemos, então, no que diz o velho d(e)itado: “Há sempre um chinelo velho para um pé cansado”!

6 comentários:

Lúcia Costa disse...

Quando duas forças da natureza se encontram - SOL e VULCÃO- o que vemos é uma explosão magnífica de beleza e criatividade a jorrar suas brilhantes lavas por todo o Mundo Botafogo. Tal explosão vem disfarçada de crônica com a única intenção de ser melhor saboreada pelos leitores do blogue.
Beijos,
Lucia Senna

Anónimo disse...

Excelente

Anónimo disse...

Excelente, minha amiga! Parabéns!

Anónimo disse...

Lucia querida,
vc sempre transbordando generosidade!! Fiquei encantada com seu comentario ! bjks
Sol de Anlarec (solanlarec@gmail.com)

Anónimo disse...

Eu, que já te acompanhei em duas viagens com direito a Vulcão, imagino a sua frustração de não assistir "a raiva" deles . Recordo-me, quando do retorno do último, você dizendo: Pô!!!! cadê as lavas???? Achei que iria ver a cratera fervendo KKKKK. Por sorte , "a raiva" passou e ele deixou você passear e desfrutar do que dele restou. Excelente texto.

Anónimo disse...

Um vulcão de idéias e sentimentos! 👏👏👏👏👏👏👏😍

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