por SOL DE ANLAREC | Colunista
do Mundo Botafogo
Recentemente
vivi a experiência de caminhar sobre um vulcão. Não pensem que sou lá muito
destemida! Na verdade, estava movida pela curiosidade em conhecer o responsável
pelo aniquilamento de uma civilização inteira da idade do bronze, ou seja, bem
antes de Pompéia!
Ouvi do guia
relatos fantásticos: o som da explosão teria se propagado num raio de muitos
quilômetros, ao mesmo tempo em que toneladas de detritos incandescentes e
cinzas eram lançados na atmosfera, vitimando não só os habitantes da região,
quanto os de lugares mais distantes. Os efeitos arrasadores perduraram por
vários dias, ao longo dos quais pesadas nuvens encobriram o sol e vagas
colossais lamberam as costas das ilhas próximas.
Pude
imaginar uma fração da magnitude desse acontecimento, ao visitar dias depois o
sítio arqueológico de um lugarejo afastado. Impactou-me ver a espessa camada de
material vulcânico que ainda recobre a maior parte da antiga povoação, que,
cabe ressaltar, manteve-se esquecida até meados do século passado, quando,
então, se iniciaram as escavações que trouxeram à luz vestígios de ruas, casas,
afrescos, potes de cerâmica e alguns objetos de uso cotidiano.
Voltando à
minha aventura, iniciei a subida para o topo do vulcão percorrendo um
acidentado caminho, em que me vi ladeada pelos escombros provenientes das
entranhas da Terra.
A paisagem é
dominada por pedras e mais pedras que se amontoam pelo terreno, formando um
caótico visual com os mais variados tamanhos, cores e formas! Aqui e ali há
sinais de uma vegetação rasteira – majoritariamente em tons de palha seca.
Ao me
aproximar do cume, crescia a expectativa de encontrar o visual tradicional dos
filmes – um gigantesco poço redondinho, cheio de lava borbulhante!
Que nada!!
Eis que me deparo com...
...uma
grande decepção!!!
A cratera –
embora com vasto diâmetro – está seca, obstruída por montes de rochas
salpicadas irregularmente sobre ela. A única prova que denota a atividade
constante do vulcão é uma fumacinha branca – quase invisível – que escapa por
seis pequenas fissuras.
Desapontada,
me encaminhei para a borda, de onde é possível contemplar o panorama. Achei-me
em uma ilha circundada por um belo mar azul, vizinha de outras duas, que se
mantêm em contínua expansão, formando um conjunto que está inserido em uma
caldeira monumental, parcialmente submersa.
“Quanta
destruição” – pensei, olhando o cenário à minha volta e comparando-o ao de uma
casa após uma briga. As rochas empilhadas se assemelhavam aos destroços de
móveis jogados pelo ar durante um violento acesso de raiva!
Raiva – essa
emoção negativa – alimentada por ódios, mágoas, frustrações, ressentimentos e
tantos outros lixos mentais, vive dentro de nós em constante estado de
ebulição, tal como o magma no interior da Terra.
Às vezes,
podemos controlá-la, evitando causar danos maiores. É como a fumacinha
branca à que me referi antes.
Todavia, há
uma hora em que isso não é possível. Perdemos o controle! Não há como aplacar
as emoções! Elas explodem e se derramam – tal como a esbraseante lava! Os
estragos podem ser fatais...
Dei-me conta
de que, naquele exato momento, eu pisava sobre um oceano de magma, separado de
mim apenas por uma camada de terra, passível de rompimento a qualquer instante.
Os gregos da
antiguidade, ao interpretarem a Natureza e suas manifestações, atribuíram uma
divindade aos vulcões – Hefesto – que, além de ser feio, era manco, e...
...como
desgraça pouca é bobagem, ainda era corno!
Pobre deus!
Tinha a esposa mais linda do Olimpo, mas de que adiantava? Ela o desprezava,
traindo-o sem pudor. Pra piorar, os mexeriqueiros do Olimpo diziam que sua
problemática com as mulheres vinha desde o nascimento: ele havia sido rejeitado
pela própria mãe!
Que babado
forte, né não? Tadinho do Hefesto! Agora fica mais fácil entender porque ele
foi escolhido como uma espécie de padroeiro dos vulcões. Tinha motivos
suficientes para viver explodindo!
Brincadeiras
à parte, e concluindo a narrativa da minha aventura, empreendi o caminho de
volta prestando atenção redobrada à paisagem, que me parecia um quadro de
revolta, violência e abandono. A palavra “raiva” continuava vagando em minha
cabeça.
Confesso que
me senti um pouco apreensiva! Embora tenha visto os equipamentos que monitoram
a cratera continuamente, sei também que as erupções não têm data marcada. Não
há como controlar os imprevisíveis humores da Natureza!
Torcendo
para que a raiva de Hefesto continuasse só na vibe – “soltar uma
fumacinha” –, tratei de seguir rápido para o barco.
Contudo, não
consegui parar de ter pena do esquentado deus e arrisquei pensar: “nos dias
atuais ele bem que poderia recorrer a um coach e, assim, mitigar seu
sofrimento!”.
Este,
seguindo o melhor estilo do bordão Casseta&Planeta – “Seus
problemas acabaram”, logo o mandaria abandonar o martelo e a bigorna e
adotar a tecnologia!
Incentivado a
assumir uma postura descolada, Hefesto se modernizaria e, de cara, se
inscreveria num site de relacionamento sob o perfil – “Pezinho Quente”. Em sua bio
figuraria uma daquelas frases de psicologia de boteco: “Menos aparência,
mais essência”.
Afinal, com
tanta gente com fetiche em pés, quem sabe ele não conseguiria um match rapidinho?
Ora, se a esperança é mesmo a última que
morre, confiemos, então, no que diz o velho d(e)itado: “Há sempre um chinelo
velho para um pé cansado”!
6 comentários:
Quando duas forças da natureza se encontram - SOL e VULCÃO- o que vemos é uma explosão magnífica de beleza e criatividade a jorrar suas brilhantes lavas por todo o Mundo Botafogo. Tal explosão vem disfarçada de crônica com a única intenção de ser melhor saboreada pelos leitores do blogue.
Beijos,
Lucia Senna
Excelente
Excelente, minha amiga! Parabéns!
Lucia querida,
vc sempre transbordando generosidade!! Fiquei encantada com seu comentario ! bjks
Sol de Anlarec (solanlarec@gmail.com)
Eu, que já te acompanhei em duas viagens com direito a Vulcão, imagino a sua frustração de não assistir "a raiva" deles . Recordo-me, quando do retorno do último, você dizendo: Pô!!!! cadê as lavas???? Achei que iria ver a cratera fervendo KKKKK. Por sorte , "a raiva" passou e ele deixou você passear e desfrutar do que dele restou. Excelente texto.
Um vulcão de idéias e sentimentos! 👏👏👏👏👏👏👏😍
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