
por Gerson Soares
A tarde de uma quinta-feira, dia da pelada semanal, estava chuvosa. Era uma pelada muito concorrida, disputada no campo circundado por uma vala negra e que ficava atrás de nossa casa na Barra da Tijuca.
Nesse dia, a não ser que caísse um dilúvio, a pelada tinha de ser realizada. Mais uma vez, aparecera gente de fora e conhecidos querendo vaga num dos times ou simplesmente para ter o privilégio de ver Garrincha e alguns de seus convidados famosos, como Oliveira (Au) e Mário Tilico e Vermelho (ambos do Bangu), entre outros, darem show sem a responsabilidade profissional.
Geralmente, era pai contra filhos, ou seja, Mané contra Carlinhos, Gílson e eu. Não preciso dizer que éramos fregueses de caderno do time escolhido por Mané, mas mantínhamos nossa esperança diante dos craques e tentávamos, no grito, vencer. Vencemos algumas vezes; as que perdemos, os culpados foram os árbitros, que torciam por Mané.
Antes de seguirmos para o campo, fizemos um rápido lanche. Quando digo rápido, refiro-me a Carlinhos, Mané e eu. Gílson permaneceu, como de hábito, à mesa, degustando lentamente pães, queijos, presunto, bolo, tudo muito bem acompanhado de um copo duplo de café com leite. Por isso, tinha uma obesidade, combatida, inutilmente, por Mané e Elza.
Mas meu irmão nem ligava, ele gostava de comer e não escondia isso. Dificilmente poderia fazer regime, diante da fartura de guloseimas na casa. Fato que o impedia de atender aos apelos dos pais para emagrecer.
Ainda batíamos bola no campo, enquanto os capitães escolhiam os times no par ou ímpar, e Gílson chegou, mastigando um dos sanduíches, arrastando seus quilos e requisitando a sua vaga. Confesso que a maioria não gostava de jogar do seu lado, pois era o ponto fraco do time. Mas a escalação era sempre assegurada por Mané, que gostava do menino e exigia que jogasse.
Nesse dia, porém, Mané se arrependeu de defender sua participação na pelada. GíIson jogou na lateral. E como todos sabiam ser ali o ponto fraco, os melhores jogadores do adversário tramavam por seu lado, para desespero dos companheiros do time de Gílson.
Mané, que gostava de brincar com zagueiros profissionais, divertia-se ao fazer Gílson de João e resolveu jogar como ponta-direita, sua verdadeira posição. Foi um passeio. Ele driblava meu irmão como se não houvesse ninguém a marcá-lo. Então, Carlinhos, irritado, ao término do primeiro tempo mexeu com os brios do irmão mais novo.
Chamou-o no canto, deu-lhe um puxão de orelhas, exigiu que não se deixasse ser ridicularizado diante de tanta gente e que marcasse Mané com mais dureza, evitando de qualquer forma a progressão das jogadas por seu lado. Como se isso fosse fácil ou possível.
Gílson encheu-se de orgulho, dizendo que na segunda etapa seria outro, que não seria feito de bobo. Prometeu segurar o ponta de qualquer jeito. Não acreditamos. Mané jogava como queria, como gostava, brincava com qualquer um que tentasse marcá-lo.
Mas algo inusitado aconteceu. No primeiro lance, Mané partiu despreocupadamente para cima de Gílson, que se agarrou ao seu corpo e o jogou ao chão. No segundo lance, Gílson, segurou com firmeza sua camisa e para não tê-la rasgada Mané parou. E mais uma vez Mané não conseguiu driblá-lo, para espanto e surpresa de todos, que, mesmo de maneira irregular, viram que meu gordinho irmão estava conseguindo o seu objetivo
Nos dois lances seguintes, Gílson segurou a camisa de Mané, que não prosseguiu a jogada. Então, Mané teve a idéia de tirá-la. Gílson, não tendo onde agarrar, passou a se pendurar no seu calção. Agora Mané não corria o risco de perder a camisa, mas sim de ficar nu. E foi parado. Melhor dizendo, anulado.
Mas Gílson começou a sentir cansaço. Conseqüência, claro, da obesidade, das muitas horas que passava todos os dias à mesa. Para ser mais claro, conseqüência do pequeno (?) lanche que fizera pouco antes da pelada que não podia deixar de ser disputada naquela quinta-feira chuvosa. Mané, então, sorrindo, driblou Gílson seguidas vezes.
Num dos lances, depois de mais uma seqüência de dribles, Gílson, suando muito, boca aberta, implorando por ar, agarrou-se às costas de Mané. De nada adiantou. Gílson foi sendo arrastado por Mané. A cada passo do ponta-direita, Gílson mais escorregava. E escorregou até chegar à altura do calção.
Desesperado, imaginando que seu ato fosse uma forma de vingança contra Mané, Gílson não resistiu: deu uma dentada na bunda de Mané. Sem resistir à dor, Mané gritou. E para alívio de Gílson, abandonou a pelada.
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Fonte: www.sosserve.com.br
A tarde de uma quinta-feira, dia da pelada semanal, estava chuvosa. Era uma pelada muito concorrida, disputada no campo circundado por uma vala negra e que ficava atrás de nossa casa na Barra da Tijuca.
Nesse dia, a não ser que caísse um dilúvio, a pelada tinha de ser realizada. Mais uma vez, aparecera gente de fora e conhecidos querendo vaga num dos times ou simplesmente para ter o privilégio de ver Garrincha e alguns de seus convidados famosos, como Oliveira (Au) e Mário Tilico e Vermelho (ambos do Bangu), entre outros, darem show sem a responsabilidade profissional.
Geralmente, era pai contra filhos, ou seja, Mané contra Carlinhos, Gílson e eu. Não preciso dizer que éramos fregueses de caderno do time escolhido por Mané, mas mantínhamos nossa esperança diante dos craques e tentávamos, no grito, vencer. Vencemos algumas vezes; as que perdemos, os culpados foram os árbitros, que torciam por Mané.
Antes de seguirmos para o campo, fizemos um rápido lanche. Quando digo rápido, refiro-me a Carlinhos, Mané e eu. Gílson permaneceu, como de hábito, à mesa, degustando lentamente pães, queijos, presunto, bolo, tudo muito bem acompanhado de um copo duplo de café com leite. Por isso, tinha uma obesidade, combatida, inutilmente, por Mané e Elza.
Mas meu irmão nem ligava, ele gostava de comer e não escondia isso. Dificilmente poderia fazer regime, diante da fartura de guloseimas na casa. Fato que o impedia de atender aos apelos dos pais para emagrecer.
Ainda batíamos bola no campo, enquanto os capitães escolhiam os times no par ou ímpar, e Gílson chegou, mastigando um dos sanduíches, arrastando seus quilos e requisitando a sua vaga. Confesso que a maioria não gostava de jogar do seu lado, pois era o ponto fraco do time. Mas a escalação era sempre assegurada por Mané, que gostava do menino e exigia que jogasse.
Nesse dia, porém, Mané se arrependeu de defender sua participação na pelada. GíIson jogou na lateral. E como todos sabiam ser ali o ponto fraco, os melhores jogadores do adversário tramavam por seu lado, para desespero dos companheiros do time de Gílson.
Mané, que gostava de brincar com zagueiros profissionais, divertia-se ao fazer Gílson de João e resolveu jogar como ponta-direita, sua verdadeira posição. Foi um passeio. Ele driblava meu irmão como se não houvesse ninguém a marcá-lo. Então, Carlinhos, irritado, ao término do primeiro tempo mexeu com os brios do irmão mais novo.
Chamou-o no canto, deu-lhe um puxão de orelhas, exigiu que não se deixasse ser ridicularizado diante de tanta gente e que marcasse Mané com mais dureza, evitando de qualquer forma a progressão das jogadas por seu lado. Como se isso fosse fácil ou possível.
Gílson encheu-se de orgulho, dizendo que na segunda etapa seria outro, que não seria feito de bobo. Prometeu segurar o ponta de qualquer jeito. Não acreditamos. Mané jogava como queria, como gostava, brincava com qualquer um que tentasse marcá-lo.
Mas algo inusitado aconteceu. No primeiro lance, Mané partiu despreocupadamente para cima de Gílson, que se agarrou ao seu corpo e o jogou ao chão. No segundo lance, Gílson, segurou com firmeza sua camisa e para não tê-la rasgada Mané parou. E mais uma vez Mané não conseguiu driblá-lo, para espanto e surpresa de todos, que, mesmo de maneira irregular, viram que meu gordinho irmão estava conseguindo o seu objetivo
Nos dois lances seguintes, Gílson segurou a camisa de Mané, que não prosseguiu a jogada. Então, Mané teve a idéia de tirá-la. Gílson, não tendo onde agarrar, passou a se pendurar no seu calção. Agora Mané não corria o risco de perder a camisa, mas sim de ficar nu. E foi parado. Melhor dizendo, anulado.
Mas Gílson começou a sentir cansaço. Conseqüência, claro, da obesidade, das muitas horas que passava todos os dias à mesa. Para ser mais claro, conseqüência do pequeno (?) lanche que fizera pouco antes da pelada que não podia deixar de ser disputada naquela quinta-feira chuvosa. Mané, então, sorrindo, driblou Gílson seguidas vezes.
Num dos lances, depois de mais uma seqüência de dribles, Gílson, suando muito, boca aberta, implorando por ar, agarrou-se às costas de Mané. De nada adiantou. Gílson foi sendo arrastado por Mané. A cada passo do ponta-direita, Gílson mais escorregava. E escorregou até chegar à altura do calção.
Desesperado, imaginando que seu ato fosse uma forma de vingança contra Mané, Gílson não resistiu: deu uma dentada na bunda de Mané. Sem resistir à dor, Mané gritou. E para alívio de Gílson, abandonou a pelada.
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Fonte: www.sosserve.com.br
4 comentários:
Do blog do Lédio Carmona:
http://colunas.sportv.globo.com/lediocarmona/2009/03/17/estaduais/#comments
"Clube demais, gente de menos
ter, 17/03/09
por Lédio Carmona |
categoria Estaduais
De novo, os Estaduais. Muitos blogueiros não entendem o motivo da minha implicância com a competição. Respeito a tradição e a história de todos. Do Acre ao Rio Grande do Sul. O que me incomoda mais do que o tempo de disputa, que é grande, é o excesso de clubes pequenos. Principalmente no Rio e em São Paulo, onde a política tem falado mais alto. No Carioca, são quatro grandes e 12 pequenos. E no Paulista, se formos considerar Ponte Preta, Guarani, São Caetano, Portuguesa, Santo André e Barueri como médios, são dez pequenos na competição.
Com a ajuda de Guilherme Maniaudet, resolvi levantar a média de público do Carioca-2009. E, claro, constatamos o mais óbvio resultado. Pouca gente quer ver os jogos de grandes contra pequenos, enquanto que quase ninguém vê as partidas envolvendo apenas equipes pequenas. O que o público realmente gosta de ver são os clássicos! Descobri a pólvora? Não. Mas, ele, os cartolas, menos ainda.
Maior público: Botafogo x Resende (Final da Taça GB): 72.301 pagantes;
Pior público: Boavista x Duque de Caxias (1a rodada da Taça Rio):88 pagantes
Média de público em clássicos: 34.360 pagantes;
Média de público de “grandes” contra “pequenos”: 10.343 pagantes;
Média de público de “pequenos” contra “pequenos”: 477 pagantes (25 jogos tiveram menos de 500 torcedores).
Média de público da Taça Guanabara: 7.038 pagantes.
*Em breve, traremos os números do Paulista-2009."
O campeonato que era interessante, emocionante quando tinha 12 clubes agora se arrasta demais com 16 e dilui demais os clássicos entre tantos jogos com pequenos. Pequenos esses cada vez mais artificiais. Lamentável.
é um enorme prazer desfrutar de uma leitura como esta.
obrigado, rui!
sds. botafoguenses!!!
Fernando, creio que os campeonatos estaduais terão que mudar de figurino. É uma estafa que leva os clubes já cansados ao Brasileirão. As suas observações têm toda a pertinência.
Abraços Gloriosos!
Valeu, snoopy!
Abraços Gloriosos!
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