
por Gerson Soares
Conversávamos, Mané e eu, numa noite fria, chuvosa, de um mês de julho, no jardim da bela casa no Jardim Botânico. Os assuntos eram os mais variados sempre que tínhamos chance de dialogar. Confesso que algumas de suas palavras eu não conseguia captar. Não porque fossem inaudíveis, mas porque muitas das vezes ficava emocionado por estar diante de uma personalidade do mundo, um homem venerado e idolatrado por sua genialidade e alegria, transmitidas aos olhos de todos quando exibia o seu futebol.
Estava deslumbrado, feliz pelo privilégio inigualável de poder estar frente a frente com Garrincha. De repente, chegou Mário, um amigo, morador do bairro, tosse incessante. Trocou algumas palavras com Elza na sala e se aproximou, quase que se arrastando, até perto de nós dois: "Boa-noite, seu Mané! Oi, Gersinho! Boa-noite!"
Garrincha não se conteve:
"O que houve, Mário? Todo agasalhado... Está doente?"
"Estou gripado, seu Mané. Dói tudo! Ponha a mão na minha testa, veja como está quente."
Eu também botei a mão na testa de Mário e o amigo estava mesmo com febre altíssima, afônico, queixando-se de dores pelo corpo. Então, perguntei:
"Já tomou algum remédio?"
"Pois é! Só por isso saí de casa. Para pedir a tia Elza um comprimido. Estou sem um tostão."
Mané tirou uma nota de cem cruzeiros da carteira e a ofereceu ao debilitado Mário.
"Cem pratas! Quer?"
"Se quero? Com essa grana vou comprar um hospital..."
Ao esticar a mão para pegar a nota, Mané desafiou:
"Só ganha a nota se pular na piscina. Agora."
"Se eu cair na piscina? Que é isso, Mané?! Com essa gripe, essa febre... Se fizer uma loucura dessas vou morrer na hora!"
"Certo! Então, nada de grana."
Pegou a nota e a recolocou na carteira. Mário reagiu:
"Também não é assim, seu Mané! Preciso de tempo para pensar. Tenho de tomar o remédio."
Tentei demover Mané da idéia da piscina. Caía uma chuva fina, dez horas da noite, Mário com febre altíssima...
"Cale a boca, Gerson!"
Mário estava desesperado. Mesmo ciente do seu problema com a gripe, arriscou:
"Se eu cair na água você me dá essa grana, Garrincha?"
Mané retirou a nota do bolso e a balançou, provocando Mário:
"Será toda sua. Mas ande logo. Se a Crioula chegar, não vai deixar você mergulhar. E ai... Perdeu a grana."
O jardim da casa era belíssimo. Um gramado bem cuidado cercava a piscina. Enquanto caminhava até a beira dela, Mário pensava, espirrava e tossia ao mesmo tempo. Olhou fixamente para a nota que Mané balançava. Hesitou. Ao ver que Mané não parava de balançar a nota que o ajudaria a resolver o problema financeiro, de imediato começou a tirar a roupa. Mané gritou:
"Nada disso! Tem de pular de roupa e tudo."
Mário, lentamente, vestiu a peça que havia tirado e num ato tresloucado mergulhou.
Elza chegou, viu o pobre rapaz dentro d'água e esbravejou:
"Você está maluco? Com essa febre, gripado e pulando na piscina? O que houve, Neném?" Era assim que Elza chamava Mané. E exigiu explicações.
Mané, matreiramente, se saiu com essa: "Sei lá o que aconteceu! Ele chegou aqui, deu boa-noite, dizendo que queria tomar banho de piscina, e mergulhou."
Logo depois. Mané se retirou para o quarto, antes que Elza lhe desse um puxão de orelhas.
Mário saiu da água, foi imediatamente coberto com uma toalha levada por uma empregada. Olhou para mesa e só viu a mim.
"Onde está o seu Mané?"
"Foi dormir", respondeu Elza, sem saber do desafio.
"Não deixou nada para mim?
Mário ficou sem saber o que fazer. Sentiu que fora enganado. Coisas de Garrincha.
O amigo Mário dormiu no quarto comigo e meus irmãos, tossindo sem parar. A febre o fazia delirar. Balbuciava palavrões, seguidos do nome Garrincha, que naquela noite se transformara na obsessão inconsciente de sua febre. No dia seguinte, Mané o chamou e lhe deu o dinheiro, a desejada nota de cem cruzeiros.
Fiquei pensando: por que aquela brincadeira perigosa com o rapaz? E se como conseqüência da exigência de Mané ele morresse? Procurei Mané, pedi explicações sobre o motivo da brincadeira e ele me disse que um bom banho frio baixa qualquer febre. Tudo bem, mas deixo aqui uma reflexão: você deve avaliar seus atos, pois nem sempre dinheiro é a melhor solução.
.
Fonte: www.sosserve.com.br
Conversávamos, Mané e eu, numa noite fria, chuvosa, de um mês de julho, no jardim da bela casa no Jardim Botânico. Os assuntos eram os mais variados sempre que tínhamos chance de dialogar. Confesso que algumas de suas palavras eu não conseguia captar. Não porque fossem inaudíveis, mas porque muitas das vezes ficava emocionado por estar diante de uma personalidade do mundo, um homem venerado e idolatrado por sua genialidade e alegria, transmitidas aos olhos de todos quando exibia o seu futebol.
Estava deslumbrado, feliz pelo privilégio inigualável de poder estar frente a frente com Garrincha. De repente, chegou Mário, um amigo, morador do bairro, tosse incessante. Trocou algumas palavras com Elza na sala e se aproximou, quase que se arrastando, até perto de nós dois: "Boa-noite, seu Mané! Oi, Gersinho! Boa-noite!"
Garrincha não se conteve:
"O que houve, Mário? Todo agasalhado... Está doente?"
"Estou gripado, seu Mané. Dói tudo! Ponha a mão na minha testa, veja como está quente."
Eu também botei a mão na testa de Mário e o amigo estava mesmo com febre altíssima, afônico, queixando-se de dores pelo corpo. Então, perguntei:
"Já tomou algum remédio?"
"Pois é! Só por isso saí de casa. Para pedir a tia Elza um comprimido. Estou sem um tostão."
Mané tirou uma nota de cem cruzeiros da carteira e a ofereceu ao debilitado Mário.
"Cem pratas! Quer?"
"Se quero? Com essa grana vou comprar um hospital..."
Ao esticar a mão para pegar a nota, Mané desafiou:
"Só ganha a nota se pular na piscina. Agora."
"Se eu cair na piscina? Que é isso, Mané?! Com essa gripe, essa febre... Se fizer uma loucura dessas vou morrer na hora!"
"Certo! Então, nada de grana."
Pegou a nota e a recolocou na carteira. Mário reagiu:
"Também não é assim, seu Mané! Preciso de tempo para pensar. Tenho de tomar o remédio."
Tentei demover Mané da idéia da piscina. Caía uma chuva fina, dez horas da noite, Mário com febre altíssima...
"Cale a boca, Gerson!"
Mário estava desesperado. Mesmo ciente do seu problema com a gripe, arriscou:
"Se eu cair na água você me dá essa grana, Garrincha?"
Mané retirou a nota do bolso e a balançou, provocando Mário:
"Será toda sua. Mas ande logo. Se a Crioula chegar, não vai deixar você mergulhar. E ai... Perdeu a grana."
O jardim da casa era belíssimo. Um gramado bem cuidado cercava a piscina. Enquanto caminhava até a beira dela, Mário pensava, espirrava e tossia ao mesmo tempo. Olhou fixamente para a nota que Mané balançava. Hesitou. Ao ver que Mané não parava de balançar a nota que o ajudaria a resolver o problema financeiro, de imediato começou a tirar a roupa. Mané gritou:
"Nada disso! Tem de pular de roupa e tudo."
Mário, lentamente, vestiu a peça que havia tirado e num ato tresloucado mergulhou.
Elza chegou, viu o pobre rapaz dentro d'água e esbravejou:
"Você está maluco? Com essa febre, gripado e pulando na piscina? O que houve, Neném?" Era assim que Elza chamava Mané. E exigiu explicações.
Mané, matreiramente, se saiu com essa: "Sei lá o que aconteceu! Ele chegou aqui, deu boa-noite, dizendo que queria tomar banho de piscina, e mergulhou."
Logo depois. Mané se retirou para o quarto, antes que Elza lhe desse um puxão de orelhas.
Mário saiu da água, foi imediatamente coberto com uma toalha levada por uma empregada. Olhou para mesa e só viu a mim.
"Onde está o seu Mané?"
"Foi dormir", respondeu Elza, sem saber do desafio.
"Não deixou nada para mim?
Mário ficou sem saber o que fazer. Sentiu que fora enganado. Coisas de Garrincha.
O amigo Mário dormiu no quarto comigo e meus irmãos, tossindo sem parar. A febre o fazia delirar. Balbuciava palavrões, seguidos do nome Garrincha, que naquela noite se transformara na obsessão inconsciente de sua febre. No dia seguinte, Mané o chamou e lhe deu o dinheiro, a desejada nota de cem cruzeiros.
Fiquei pensando: por que aquela brincadeira perigosa com o rapaz? E se como conseqüência da exigência de Mané ele morresse? Procurei Mané, pedi explicações sobre o motivo da brincadeira e ele me disse que um bom banho frio baixa qualquer febre. Tudo bem, mas deixo aqui uma reflexão: você deve avaliar seus atos, pois nem sempre dinheiro é a melhor solução.
.
Fonte: www.sosserve.com.br
5 comentários:
Que história, meu amigo! Mais uma para o folclore do Mané!
Amigo Rui
Tudo bem contigo? Ando um pouco afastado dos comentários e espero que me perdoe.
Rui, estou muito preocupado,assim como você, do sumiço do Vinicius Barros ele que, inclusive, tinha criado um outro blog e de repente some. Espero que esteja tudo bem com ele e que volte a postar o mais rápido possível e se tiver notícias avise.
Abraços vascaínos
mané e suas loucuras... hehe
jorge, esse assunto me preocupa também, pois, sobre isso, mandei um e-mail para o vinícius já faz um tempinho e nada de respostas.
tomara que ele esteja bem!
abraços e sds. botafoguenses!!!
Cara de 30, histórias doMané há de tudo, especialmente as de 'menino travesso'. Era danado ele. E um pouco irresponsável, claro.
Abraços Gloriosos!
Amigos, eu todos os dias penso no Vinícius. Ele sumiu depois que foi tirar o gesso do braço. Confesso que não esto augurando coisa boa,mas não como fazer parasaber algo dele. Do Geninho sei, atravé sda simpátia filha. Mas do Vinícius, nada.
Abraços Gloriosos!
Enviar um comentário