quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Marcos Müller, o Pai das Estátuas do Engenhão

Marcos Müller e eu em Humaitá em vésperas da final do Cariocão 2009

Por experiência própria sei que muitas vezes a imprensa se engana a noticiar acontecimentos. Umas vezes é intencional, outras não. No afã de se criar uma boa matéria, quando o jornalista não é um craque do ofício, no sentido de ‘investigador’ prevenido e bem informado, cometem-se imprecisões que às vezes não são de desprezar.

Também por experiência própria habituei-me, ao longo da vida, a assinar todos os trabalhos em que participei, entre os quais doze livros, mais de uma centena de artigos técnicos e científicos, mais de uma centena de comunicações, dezenas de relatórios, entre outros. E também sempre fiz questão de registrar publicamente os nomes de todos os que participaram em projetos, obras ou eventos coordenados por mim, incluindo secretariados de congressos.

Em virtude do exposto acima venho por este meio usar o espaço do Mundo Botafogo para retificar uma gralha significativa saída a propósito da inauguração da estátua de Zagallo, que já estava pronta há muito tempo no ateliê do escultor e aguardava vir a público.

Precedendo esta estátua, o Engenhão foi ‘presenteado’ por estátuas de Garrincha, Nilton Santos e Jairzinho. Em São João de Nepomuceno também foi inaugurada uma estátua semelhante de Heleno de Freitas.

A ordem de inauguração das estátuas foi a seguinte: Nilton Santos (27.09.2009), Garrincha (24.01.2010), Jairzinho (21.08.2010) e Heleno de Freitas (12.02.2012).

Sucede que quem idealizou a implantação de estátuas de craques botafoguenses no Engenhão foi um torcedor botafoguense, Marcos Müller, ex-mascote do Botafogo nos finais da década de 1960 e início da década de 1970, filho de um ex-Conselheiro do Botafogo nos Gloriosos anos desses tempos.

Marcos Müller idealizou, em 2009, o Engenhão rodeado por estátuas de atletas Gloriosos que honraram as cores alvinegras em inúmeras conquistas, alguns dos quais, nada menos de oito, foram campeões do mundo, seis dos quais titulares indiscutíveis no tricampeonato da Seleção Brasileira ganho com ataques formados por botafoguenses.


O Marcos reuniu um grupo de torcedores botafoguenses que se quotizaram para cobrir as despesas da 1ª escultura – a de Nilton Santos, em 27.09.2009 – em troca de receberem uma miniatura simbólica da estátua.

O Marcos não pretendeu nenhum protagonismo, não lançou o seu nome como muitos gostam de fazer a propósito de tudo e de nada, e passou despercebida a autoria da ideia das estátuas, assunto que foi emendado a partir da 2ª estátua, cuja mídia faz amplas referências ao Marcos por indicações de amigos dele.

O meu amigo Paulo Marcelo Sampaio narra assim a luta inicial do Marcos:

“Não sei quantos meses de sua vida Marcos Müller, meu amigo e filho do também amigo João Ignácio Müller, dedicou seu tempo lutando por uma estátua de Nilton Santos, nosso maior ídolo. (…) Mas o que interessa agora mesmo é que por obra e graça dele e de Edgar Duvivier – escultor escolhido para criar a estátua – inaugura-se hoje, daqui a pouco, às 16h30, a estátua que eterniza no Engenhão a Enciclopédia do Futebol Mundial.”

Leia o texto completo em http://arquibabotafogo.com/blog/?p=358


Entretanto, face ao sucesso da 1ª estátua, Marcos tratou de se dedicar rapidamente à angariação de novos torcedores para custearem a 2ª estátua, a de Mané Garrincha, inaugurada pouco tempo depois, em 24.01.2010.

Marcos reuniu um grupo de “torcedores botafoguenses, que dividiram o valor total de R$ 56 mil em 16 cotas de R$ 3.500, da mesma forma que aconteceu com a estátua de Nilton Santos.”


Paulo Marcelo Sampaio tornar a agradecer ao Marcos Müller:

“Eram oito e meia da manhã quando chegamos ao Engenhão. E o que fazíamos ali, num sábado de sol a pino, se o Botafogo não jogava naquele dia? Estávamos ali para ver de perto, a realização de um sonho, da luta de um idealista chamado Marcos Müller. Com muito amor e mais esforço ainda, Marcos, o popular Mazolinha, conseguiu juntar, desde ontem, em duas estátuas, dois velhos amigos: Nilton Santos e Garrincha. (…) Obrigado, Marcos Müller!”

Leia o texto completo em http://arquibabotafogo.com/blog/?p=433


Mas o meu amigo Marcos ainda não estava satisfeito, porque o seu projeto era de fundo e de grande fôlego, e então tornou a reunir adeptos e conseguiu inaugurar a 3ª estátua em 21.08.2010:

“O monumento [a Jairzinho] foi novamente uma iniciativa do torcedor Marcos Müller, assim como a de Garrincha e de Nilton Santos, e confeccionada pelo artista plástico Edgar Duvivier.”


“O monumento do Furacão foi novamente uma iniciativa do torcedor Marcos Müller, assim como a de Garrincha e de Nilton Santos, e confeccionada pelo artista plástico Edgar Duvivier.”


Foi, então, a minha vez de homenagear Marcos Müller no Mundo Botafogo a 18.09.2010:

“Bem… regularmente aparece na mídia que o Botafogo homenageia os seus ídolos encomendando estátuas destinadas ao Engenhão – as de Garrincha, Nilton Santos e Jairzinho. Na verdade, meus amigos, não é o Botafogo enquanto entidade que realiza tais acontecimentos, mas um torcedor que fez nascer a ideia, que se determinou a encabeçar o movimento de criação das estátuas e que é o responsável por angariar donativos de botafoguenses para o efeito. Esse alguém – o ‘Pai das Estátuas do Engenhão’ – é Marcos ‘Mazolinha’ Müller! És fantástico, Marcos! Só podias ser botafoguense! Todos nós te agradecemos a extraordinária iniciativa e todo esse amor incomensurável!”



Entretanto, o Marcos preparava-se para fazer avançar a 4ª estátua – a de Heleno de Freitas – e a 5ª estátua, que seria Didi ou Zagallo. Porém, algo se passou, não sei exatamente o quê, e a estátua do fabuloso Heleno acabou sendo financiada e apropriada pela prefeitura de São João Nepomuceno e inaugurada nesta cidade em 12.02.2012, sendo Edgar Duvivier o artista escolhido para as três estátuas anteriores.

Um leitor do Mundo Botafogo – Marcelo ‘Foguete’ Mendonça – fez a reportagem para o nosso blogue:



Finalmente, a CBF entra a financiar a estátua de Zagallo (a única sem a Camisa Gloriosa, e que fica a destoar de todas as outras, embora o perfil seja em tudo igual aos das outras estátuas de Duvivier) e inaugura-a após várias indecisões.

E a mídia, sabe-se lá porque razão obscura e desconhecida, atribuiu a idealização da estátua ao presidente do Botafogo: “Como esperado, Zagallo também elogiou o presidente Maurício Assumpção, idealizador do projeto.”

Noticiado, por exemplo, em:



Como sou muito sensível à apropriação intelectual indevida, registro neste espaço do nosso Glorioso clube, que a ex-mascote do Botafogo, Marcos Müller, foi o grande idealizar das estátuas em torno do Engenhão, tendo para o efeito reunido um grupo de “torcedores botafoguenses, que dividiram o valor total de R$ 56 mil em 16 cotas de R$ 3.500.”

Mais uma vez, OBRIGADO, MARCOS MÜLLER!

PS: Também não posso deixar de referir a gafe cometida por Zagallo quando elogiou Seedorf e Vitinho; na verdade, Zagallo esqueceu-se do único atleta do Botafogo que enverga a camisa da Seleção Brasileira de futebol: o grande Jefferson, o maior goleiro brasileiro em atividade.

8 comentários:

MAM disse...

É isso amigo Ruy, estamos aqui para alertar e dar os devido louros a quem merece.

Salve o Botafogo!

E hoje teremos um grande jogo.

Lorismario disse...

Grande Rui. Você é uma pessoa realmente fantástica. Sabe por que fantástica? Porque você deu os CRÉDITOS a quem merece com este seu artigo. Sem a iniciativa do Marcos Muller, outro fantástico botafoguense, filho de outro fantástico botafoguense, João Ignácio Muller (foi médico do Botafogo) nada disto teria acontecido. Os eventos que ocorrem no mundo não são meras obras do acaso. Há sequências de acontecimentos que terminam (e logo a seguir iniciam outros) em um grande acontecimento. O iniciador deste grande acontecimento foi realmente Marcos Muller, a quem eu agradeço, e os devidos méritos foram colocados nos seus devidos lugares por este "artigo histórico" escrito por Rui Moura. Parabéns a Marcos Muller e a Rui Moura bem como a todos os quotistas que deram inicio a este enorme reconhecimento a quem nos fez tão felizes. Abraços. Loris

Ruy Moura disse...

Nem mais, Marco! Sempre corrigindo o jornalismo imberbe.

Abraços gloriosos!

Ruy Moura disse...

Oh... meu amigo, Loris, não precisa agradecer. Fiz o elementar para repor os princípios da cidadania, que neste caso se referem ao item da 'propriedade intelectual'. Porque, como diz, se não fosse o 'pai' Müller, a estátua de Zagallo e as demais jamais teriam dado à luz do dia, nem Edgard Duvivier teria um portfólio tão rico de realizações. Afinal, são cinco baitas esculturas que ele contabiliza no seu curriculum.

Abraços Gloriosos!

Gil disse...

Rui,

Hoje tive que responder a vários colegas de trabalho de quem foi a ideia e execução dessas homenagens.
Incrível como muitos repetem e acreditam nos pseudos jornalistas.


Heleno merecia uma no Engenhão. Didi, nem se fala!

Valeu Rui!
Valeu Marcos Muller!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Heleno, Didi e Amarildo mereciam o quanto antes. Depois poderia seguir-se outras lógicas. Não esquecer os grandes Nilo e Carvalho Leite. Completar com os outros campeões do mundo: com Paulo Cezar Caju e Roberto Miranda. Ainda mereciam estátuas Quarentinha, Manga e Gerson. A partir daí já não tenho a certeza, mas há excelentes nomes bons: Mauro Galvão, Mendonça, Marinho Chagas, Túlio Maravilha.

E ainda ficam por considerar alguns campeões de 1910, entre os quais Flávio Ramos e Mimi Sodré.

Tivemos outros craques como Lônidas da Silva e Carlos Alberto Torres, mas acho que esses são sobretudo património de outros clubes, já que estiveram apenas um ano no Glorioso.

Depois desses todos, quem merecia uma estátua era o Marcos Müller!

Abraços Gloriosos!

Sergio Di Sabbato disse...

Parabéns Rui por colocar as coisas no seu devido lugar. Parabéns ao Marcos Muller pela iniciativa e realizações. O Botafogo tem tantos ídolos, ao invés de se fazer estátuas, pois não haverá lugar para tantas (vai acabar ficando igual ao exército de terracota chinês), sugiro que se faça um baixo relevo, pois pela quantidade de grandes craques que vestiram a gloriosa camisa do Botafogo, dá para adornar o entorno do Engenhão. Uma pena que os botafoguenses mais novos não tenham noção da grandeza do Botafogo. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Sim, o baixo relevo é mais adequado à enormidade e à quantidade dos nossos futebolistas.

Acho que os mais jovens não têm noção da nossa glória porque a lógica é viver exclusivamente o presente sem recuo ao passado, por mais glorioso que tenha sido - e sem se pensar muito no futuro. Por exemplo, nós engalanamos com o Seedorf, mas quem teve Didi e Jefferson pode colocar Seedorf a meio da tabela apenas...

Em tempos a torcida vibrava com o Dodô, mas quem teve Amarildo e Jairzinho, coloca Dodô abaixo do meio da tabela. E o Túlio foi oportuno, mas quem teve Quarentinha não dá tanto crédito assim ao Túlio. E por aí vai... Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, gerson, Fischer, Roberto Miranda, PC Caju... Enfim... um rosário de verdadeiros craques.

Talvez por eu ter visto jogador todos os craques tricampeões do mundo e da década de 1960, seja exigente e pouco otimista com os nossos times, que insistem em não manter o padrão e a consistência, temendo os adversários e acabando por soçobrar. Quem teme os adversários invariavelmente fracassa. É o que eu penso ainda para este ano, infelizmente... Acho que não temos técnico capaz e não amadurecemos o suficiente. E isso fará a diferença algures adiante. Espero e desejo enganar-me. E vou manter-me no apoio incondicional a este time, apesar do treinador...

Abraços Gloriosos!

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