sexta-feira, 8 de maio de 2009

"Na minha terra..."


por Gerson Soares
Ao entrar na Rua Aires Saldanha, em Copacabana, dirigindo o Fusca de Mané Garrincha, mexi com uma mulher que passava pela calçada:

"Bonitona!"

Seu acompanhante, de imediato, reagiu:

"Veado!"

Mané, mostrando surpresa por eu não reagir ao xingamento do homem, me perguntou:

"O que é isso, Juca? O cara xinga você de bicha e nada de reação sua?"

"Espere aí, Mané: não foi bicha, foi veado. E ele teve razão para me xingar, pois eu mexi com a mulher dele."

"Quer dizer que chamam você de veado e fica tudo normal? Hummm! Não estou entendendo! Um filho meu não é veado. Volte lá e tire satisfação com o cara!"

"Eu não, Mané. Arranjar briga por nada?"

"Por nada? Então você é veado, Juca?"

"Claro que não! Mas não preciso brigar para provar."

Mané insistiu, enchendo minha cabeça. Pediu-me que o deixasse no botequim para tomar um cafezinho. Antes de saltar, vaticinou:

"Na minha terra, quando um homem é ofendido reage na hora. E se possível com sangue."

Dei mais uma volta no quarteirão, à procura de uma vaga. Ao entrar novamente na Aires Saldanha, vi o casal na calçada lendo um papel como se estivessem procurando um endereço. Sem pensar, parei perto do homem:

"Meu irmão! O que você falou para mim?”

Ele esperou um pouco, pensou e se lembrou:

"Você mexeu com minha senhora e eu o xinguei!"

"Pois não gostei e não repita mais isso ou a coisa vai ficar feia para você."

Sem medo, o homem chegou mais para perto do carro:

"Pois vou repetir o que disse: Veado! Você é veado!"

Dessa vez xingou alto. Da janela do apartamento em que morávamos, Elza, João, tio Jarbas e Gílson apareceram, apreensivos. No entanto, do botequim, Mané, com um copo na mão e acompanhado de três amigos, com gestos me incentivava a reagir. Infelizmente, contrariando meus princípios pacifistas, tomado por uma honra tolamente ferida, mas estimulado por Mané, respondi para todos ouvirem, também:

"Se repetir, não responderei por mim, meu chapa!"

O cara não se intimidou:

"Veado!"

Sai do Fusca, sem saber o porquê. Mas antes de descobrir, o sujeito que tinha uns dois metros de altura, deu-me um tapa na orelha que me deixou tonto e pendurado na porta do carro, com as pernas balançando no ar. O homem levantou parte de sua camisa, discretamente, mas o suficiente para eu ver o cabo reluzente de um revólver na sua cintura:

"Agora entre nesse carro e se mande!"

Com a orelha ardendo, envergonhado, assustado, obedeci.

Deixei o carro na praia e fui, furioso, para pegar Mané. Ele havia saído para pescar, mas antes disse a Elza que eu encontrara um antigo desafeto na rua e queria tirar satisfações, não atendendo aos seus insistentes apelos para não brigar.

E acabei levando um puxão de orelhas de Elza, de meus irmãos e de tio Jarbas. Todos acreditaram em Mané! E ainda me chamaram de troglodita.

Fonte: www.sosserve.com.br 

4 comentários:

Juh disse...

haushaushauhsuahs
essa historia foi boa !!

Ruy Moura disse...

Juh, o Garrincha tem as histórias mais versáteis que se possa imaginar. Entre muita irreverência, algo de irresponsabilidade e uma soberba visão da vida nos seus elementos mais essenciais, Garrincha é uma surpresa constante.

Abraços Gloriosos!

Fernando Lôpo disse...

Essas histórias do Mané são sensacionais.

Abraços.

Ruy Moura disse...

Pois são, Fernando, e mostram diversas facetas da personalidade múltipla do Mané.

Abraços Gloriosos!

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