
Esta semana alguém desdenhava de Mané Garrincha devido a ter sido um bêbado e um isto e aquilo e aqueloutro. Controlei o mau humor que me sobreveio, respondi com a veemência que me caracteriza e, por delicadeza, encerrei o assunto rapidamente. Reabro-o agora.
Creio que há muita gente que não sabe quem foi a pessoa Mané Garrincha, geralmente taxado de «ingénuo inconsequente», analfabeto, desprovido de cultura e com um quociente de inteligência de não criar inveja a ninguém. Nada mais errado do que isso. Eu penso que a maior parte das pessoas que avaliam Garrincha desse modo, são pessoas desprovidas de sensibilidade, de cultura antropológica, de bom senso e, quiçá, de quociente de inteligência suficiente e essencial a uma vida em comunhão com a natureza.
Mané Garrincha, a propósito de um homem ganancioso que não ligava para os animais, os rios, as árvores e as florestas, disse, um dia, o seguinte: "Quando ele chegar perto de Deus verá um Ser cujo corpo é uma frondosa árvore, com micos, gambás, gatos, cobras. Ou saltando ou rastejando em seu tronco; seus braços longos serão galhos floridos com ninhos e frutas penduradas; seus olhos, dois rios em que se pode ver peixes mergulhando; sobre sua cabeça verá pássaros em revoada; à sua volta, vários animais... Deus é a própria natureza que esse homem, agora, diante dele, destruía sem dó.”
Mané Garrincha, muito antes da teoria, equacionou, de modo simples e radical, a concepção ecológica mais avançada que funde o humano e o inumano, isto é, todo a natureza cósmica num sistema ecológico Universal. E ainda há quem duvide da inteligência de Mané Garrincha?!... Aos que avaliam Mané Garrincha pelo seu fim, eu respondo:
– Nunca perguntem como um homem morreu, mas como é que viveu!
Caros amigos, tornarei ao tema por considerar que Mané Garrincha é um ‘génio radical’ a que somente os grandes protagonistas – seja em que domínio for – se conseguem elevar. Leiam atentamente este magnífico excerto sobre Mané Garrincha, porque vale a pena.
Mané Garrincha
por Telmo Zanini
“Um anjo torto, que se deliciou em fazer felizes os seus semelhantes enquanto teve força nas pernas e, quando elas acabaram, se entregou a qualquer sofrimento numa auto-imolação. Sem o poder de semear a alegria no coração do seu povo a vida não tinha mais interesse para Mané Garrincha. Para ele, que sempre achou o mundo material insano, que literalmente jogava o dinheiro para o alto, pois não via nele o menor valor, a permanência na Terra se tornou entediante e desnecessária.
Gente que nunca foi a um campo de futebol, gente que nunca viu Garrincha jogar, entendia e respeitava essa escolha de vida. A decisão de continuar pobre, de continuar sendo “gente do povo”, apesar das oportunidades de regeneração oferecidas a toda a hora pelo sistema. Garrincha nunca quis ser um bem sucedido, um vitorioso como Pelé. Ele teve coragem de invariavelmente driblar a matéria, e por isso tanta gente foi chorar por ele [no enterro].
(…) Mané Garrincha viveu os seus últimos 20 anos totalmente desajustado à sociedade. Mergulhou fundo no alcoolismo, ficou incapaz sequer de se relacionar com qualquer um dos 14 filhos que deixou espalhados pelo mundo. Espancado pelas companheiras, desmaiava nas portas de bares, dormia nas calçadas, era acolhido por homossexuais e só sobrevivia graças aos favores e à filantropia do poder público.
No entanto, sem convite, sem convocação, sem atender a qualquer chamamento, mais de 300 mil pessoas acompanharam o enterro de Mané Garrincha formando um verdadeiro corredor humano entre o salão nobre do estádio do Maracanã, onde foi velado, e a igrejinha do cemitério.
(…) Vou-me afastando do cemitério (…). Chego na parte mais alta do açude, o refúgio de Mané Garrincha, o pesqueiro referido. A calma é completa, o silêncio absoluto. O recanto camuflado pelo mato, onde as águas se alargam e formam um viveiro natural de peixes, sempre foi um lugar especial, mas, agora, parece assumir um ar sagrado. Garrincha foi muito feliz aqui. Quanta alegria liberou, quanta vitalidade transmitiu aos amigos! As piadas que fazia, as brincadeiras que inventava. Dias de porre, de pescaria, noites que se fechavam em volta das histórias de bruxas, de fantasmas, assombrações e espíritos errantes que ele gostava de contar. (…) O corpo de Mané Garrincha irradiava uma centelha divina.”
Fonte
Telmo Zanini: Mané Garrincha – o anjo torto, São Paulo, Editora Brasiliense, 1984.
Creio que há muita gente que não sabe quem foi a pessoa Mané Garrincha, geralmente taxado de «ingénuo inconsequente», analfabeto, desprovido de cultura e com um quociente de inteligência de não criar inveja a ninguém. Nada mais errado do que isso. Eu penso que a maior parte das pessoas que avaliam Garrincha desse modo, são pessoas desprovidas de sensibilidade, de cultura antropológica, de bom senso e, quiçá, de quociente de inteligência suficiente e essencial a uma vida em comunhão com a natureza.
Mané Garrincha, a propósito de um homem ganancioso que não ligava para os animais, os rios, as árvores e as florestas, disse, um dia, o seguinte: "Quando ele chegar perto de Deus verá um Ser cujo corpo é uma frondosa árvore, com micos, gambás, gatos, cobras. Ou saltando ou rastejando em seu tronco; seus braços longos serão galhos floridos com ninhos e frutas penduradas; seus olhos, dois rios em que se pode ver peixes mergulhando; sobre sua cabeça verá pássaros em revoada; à sua volta, vários animais... Deus é a própria natureza que esse homem, agora, diante dele, destruía sem dó.”
Mané Garrincha, muito antes da teoria, equacionou, de modo simples e radical, a concepção ecológica mais avançada que funde o humano e o inumano, isto é, todo a natureza cósmica num sistema ecológico Universal. E ainda há quem duvide da inteligência de Mané Garrincha?!... Aos que avaliam Mané Garrincha pelo seu fim, eu respondo:
– Nunca perguntem como um homem morreu, mas como é que viveu!
Caros amigos, tornarei ao tema por considerar que Mané Garrincha é um ‘génio radical’ a que somente os grandes protagonistas – seja em que domínio for – se conseguem elevar. Leiam atentamente este magnífico excerto sobre Mané Garrincha, porque vale a pena.
Mané Garrincha
por Telmo Zanini
“Um anjo torto, que se deliciou em fazer felizes os seus semelhantes enquanto teve força nas pernas e, quando elas acabaram, se entregou a qualquer sofrimento numa auto-imolação. Sem o poder de semear a alegria no coração do seu povo a vida não tinha mais interesse para Mané Garrincha. Para ele, que sempre achou o mundo material insano, que literalmente jogava o dinheiro para o alto, pois não via nele o menor valor, a permanência na Terra se tornou entediante e desnecessária.
Gente que nunca foi a um campo de futebol, gente que nunca viu Garrincha jogar, entendia e respeitava essa escolha de vida. A decisão de continuar pobre, de continuar sendo “gente do povo”, apesar das oportunidades de regeneração oferecidas a toda a hora pelo sistema. Garrincha nunca quis ser um bem sucedido, um vitorioso como Pelé. Ele teve coragem de invariavelmente driblar a matéria, e por isso tanta gente foi chorar por ele [no enterro].
(…) Mané Garrincha viveu os seus últimos 20 anos totalmente desajustado à sociedade. Mergulhou fundo no alcoolismo, ficou incapaz sequer de se relacionar com qualquer um dos 14 filhos que deixou espalhados pelo mundo. Espancado pelas companheiras, desmaiava nas portas de bares, dormia nas calçadas, era acolhido por homossexuais e só sobrevivia graças aos favores e à filantropia do poder público.
No entanto, sem convite, sem convocação, sem atender a qualquer chamamento, mais de 300 mil pessoas acompanharam o enterro de Mané Garrincha formando um verdadeiro corredor humano entre o salão nobre do estádio do Maracanã, onde foi velado, e a igrejinha do cemitério.
(…) Vou-me afastando do cemitério (…). Chego na parte mais alta do açude, o refúgio de Mané Garrincha, o pesqueiro referido. A calma é completa, o silêncio absoluto. O recanto camuflado pelo mato, onde as águas se alargam e formam um viveiro natural de peixes, sempre foi um lugar especial, mas, agora, parece assumir um ar sagrado. Garrincha foi muito feliz aqui. Quanta alegria liberou, quanta vitalidade transmitiu aos amigos! As piadas que fazia, as brincadeiras que inventava. Dias de porre, de pescaria, noites que se fechavam em volta das histórias de bruxas, de fantasmas, assombrações e espíritos errantes que ele gostava de contar. (…) O corpo de Mané Garrincha irradiava uma centelha divina.”
Fonte
Telmo Zanini: Mané Garrincha – o anjo torto, São Paulo, Editora Brasiliense, 1984.
8 comentários:
Grande Ruy, igual ao mané inexiste! Genial e genioso, o craque do drible e da objetividade artística no mundo dabola é refrência icônica a quem quer driblar, até os dias atuiais! Muito bom o post...sou fão mesmo daqui, e nem botafoguense sopu, (sou vasco) mas domingo fogão neles!abs, leandro
Belas as suas palavras, Leandro. Creio que botafoguenses e vascaínos têm simpatia mútua. Penso que os botafoguenses só não simpatizavam com o Vasco de Eurico Miranda e provavelmente os vascaínos não simpatizavam com o Botafogo de Montenegro e amigos subsequentes. Hoje, Botafogo e Vasco têm uma nova geração de dirigentes, felizmente. Ao contrário dos outros dois clubes...
Abraços Gloriosos!
RUY PARA MIM BASTA A LEMBRANÇA DA PEQUENA HISTÓRIA DAQUELE GAROTO QUE VOCE GENTILMENTE REPRODUZIU NO BLOG - MANÉ FOI E SEMRPE SERÁ RVERENCIADO POR MIM COMO O MAIOR JOGADOR DE TODOS OS TEMPOS QUE VI JOGAR - MELHOR QUE PELÉ, QUE MARADONA QUE QUALQUER OUTRO - SOU FELIZ POR ISSO - MARCOS VENICIUS
votem e garrincha no site www.bestfootballer.com - MARCOS VENICIUS - pode votar todos os dias
Aliás, Marcos, a história que você contou do Garrincha o tomar pela sua mão e levaá-lo lá dentro, ao treino, em General Severiano, mostra bem a sensibilidade e a inteligência social de Garrincha. Quantos outros fariam o mesmo?... Grande Mané!
Saudações Gloriosas!
Marcos, faço o quê com a camisa do Liedson se você ainda não me enviou a sua morada?...
ABraços Gloriosos!
RUA DR RAYMUNDO MENDES 180 - TREMEMBE - SP - CEP - 12120-000
E POR FAVOR COMO FAÇO PARA LHE REMETER O VALOR REFERENTE A CAMISA.AH EM SETEMBRO IREI CONHECER LISBOA COM MEUS FILHOS E A PATROA E VISITAR A ILHA DA MADEIRA LOCAL DE NASCIMENTO DA MINHA MÃE. SAUDAÇÕES ALVINEGRAS - MARCOS VENICIUS
Vou enviar, Marcos.
Abraços Gloriosos!
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