sábado, 6 de fevereiro de 2010

Caio a titular já, não!

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Sou daqueles que não desejo Caio como titular na equipa do Botafogo antes de se encontrar um padrão de jogo e uma estabilidade duradoura.

As mudanças frequentes de treinador – muito comuns no Rio de Janeiro – e as mudanças de equipas inteiras de ano para ano, como acontece no Botafogo, são dois dos graves problemas que enfrenta o nosso futebol – sem falar, obviamente, que a atual diretoria é um absoluto desastre em termos de gestão futebolística.

Caio parece ser, indubitavelmente, a 3ª ‘eureka’ do Botafogo em um ano apenas. Maiocosuel, Jobson e Caio foram as grandes descobertas, duas das quais a diretoria tratou de se livrar rapidamente: no 1º caso para ganhar dinheiro que não se sabe para onde foi (porque não foi revelado) e no segundo caso por absoluta inoperância de André Silva junto do Brasiliense. Segue-se Caio…

Em primeiro lugar, se Caio brilhar excessivamente, poderemos ter a venda do rapaz logo em final de campeonato carioca. Em segundo lugar, após um período absolutamente incaracterístico do Botafogo conviria, em minha opinião, tratar o nosso futebol com mais calma do que aquela que caracteriza o frenesi dos treinadores e dos adeptos que querem logo títulos.

Passamos longos períodos sem títulos: 1912-1930; 1935-1948; 1948-1957; 1968-1989; 1999-2006. Porque não esperar um pouco mais para tornar consistente uma equipa que de consistência ainda não tem nada?... Que dificilmente poderá competir com outros clubes que têm repatriado craques ou que criaram estruturas futebolísticas consistentes há muitos anos?...

No caso concreto em que a equipa do Botafogo é uma pura manta de retalhos cozida pelas agulhas ferrugentas de André Silva e de Anderson Barros, creio que a abordagem à equipa deve ser muito cautelosa, e parece-me que está a ser adequadamente realizada por Joel Santana. O novo treinador decidiu-se a não crucificar ninguém e, como sempre tem feito, gerir cada jogador individualmente, aceitando quer a genialidade do craque quer a imbecilidade dos que jogam muito pouco futebol. Mas Joel Santana sabe que o segredo da gestão humana é abordar os imbecis imbecilmente e os inteligentes inteligentemente. Um dos sucessos de José Mourinho é justamente a capacidade de falar a linguagem de cada um de modo a entrar na cabeça de cada qual individualmente. Joel conhece, em geral, as capacidades dos jogadores – ‘artísticas’, físicas e intelectuais – e age em conformidade com elas de modo a entrar na cabeça de cada um. Porque não é fácil conseguir-se colocar os melhores e os piores a interiorizar, simultaneamente, o mesmo pensamento de um treinador.

Ora, quando os melhores e os piores tiverem entendido o que Joel Santana pretende, então é altura de Caio vir a ser titular. E porque não já, diriam os leitores?...

Em geral, quando um novo jogador, que seja capaz de desequilibrar, chega a uma equipa ‘em andamento’, duas coisas podem ocorrer: ou acrescenta capacidades à equipa através dos seus contributos ou interioriza os ‘velhos ‘ problemas da equipa com o passar do tempo.

Ora, parece-me um risco muito grande lançar um jovem de 19 anos para a frente como ‘salvador da equipa’, arriscando-nos a ter interiorizado os problemas da equipa dentro de umas semanas. Porque é que Maicosuel nunca passara de promessa antes de ingressar no Botafogo?... Porque é que André Lima de 2007 era o maior marcador de gols do Botafogo no 1º semestre quando apenas entrava na 2ª parte para reanimar o ataque?... Porque é que tantas e tantas promessas – claramente jogadores com grande capacidade técnica – nunca vingaram no estrelato futebolístico?...

Eu respondo: porque foi mal feita a gestão da sua carreira – por eles e pelos clubes que representaram.

No caso de Caio verifica-se um 1º impacto que revelou que a equipa sente as suas características, designadamente pela velocidade que imprime, jogando melhor. Por outro lado, como é um individualista, Caio teve momentos de felicidade marcando gols numa equipa que ainda só mostrou a relativa qualidade de Herrera.

Porém, há um 2º impacto que pode ocorrer se não for bem gerida a entrada de Caio: o jogador começa a sentir os ‘velhos’ problemas da equipa e, se não for acompanhado no modo como joga para o coletivo, acaba por remeter-se à sua individualidade e esgotar-se.

Claro que há sempre a ‘hipótese ideal’ que seria Caio perceber os problemas da equipa e conseguir ser o motor da sua resolução, mas creio que não tem idade nem maturidade para o fazer sem riscos – para ele e para o Botafogo.

Ademais, há outro problema por resolver: Caio é um bom jogador ou um rapaz de ‘boas jogadas’?...

Até agora sabemos que é um rapaz de ‘boas jogadas’, sem dúvida. Mas conseguirá ser um ‘bom jogador’?... Isto é, será capaz de perceber o essencial de uma equipa e trabalhar para ela coletivamente, independentemente das suas explosões de ‘boas jogadas’?...

Se Joel Santana raciocinar como eu, não arriscará ‘queimar’ um bem tão precioso como promete ser Caio. Porque depois de o ver jogar novamente, e de perceber que ele também é capaz de entender o coletivo, acredito que possa ser um ‘bom jogador’ que também faz ‘boas jogadas’ e cujo impacto na equipa pode melhorar muito com a conexão às suas características.

Por isso, eu faria uma gestão atenta e cuidadosa do rapaz, mantendo-o, até a equipa evoluir mais e ser capaz de se adequar ao seu futebol, como a ‘arma secreta’ do segundo tempo. A não ser em casos de exceção em que seja necessário substituir um atacante que não possa jogar.

Por enquanto, eu teria a tendência de explorar a força do 1º impacto que revela uma melhoria significativa da velocidade do ataque botafoguense quando Caio, fisicamente sem desgaste e sem o peso do inevitável encaixe de jogo das equipas em confronto, entra com uma nova lógica e uma nova velocidade que impele a equipa para ele e desnorteia o adversário.

E quando o padrão da equipa tivesse evoluído e pronto a estabilizar, lá estaria Caio com toda a sua pujança técnica a titular.

8 comentários:

Rodrigo Federman disse...

Rui, eu entendo (e acho que faz muito sentido) a sua observação, mas então eu considero que dependemos única e exclusivamente do JS.
Explico: Talento e futebol para ser titular, sabemos que o Caio tem (inclusive, discordo das três "eurekas" que vc citou, pois pra mim, além do Maicosuel, apenas incluo o Caio, excluindo - mesmo reconhecendo a importância - o Jobson, que eu sempre achei que não é "tudo isso" que muitos torcedores acham).
Agora, o JS precisa então definir o que quer fazer e com quem contará no time. O problema é que ele já disse inúmeras vezes que não fará nada com pressa e esperará o final do Carioca para ter uma melhor avaliação do elenco.
Pô, assim, entendo que o Caio continuará como "amuleto" (e nós sofrendo com esse time mal escalado e insistindo nos mesmos de sempre) e depois, lançado em pleno Brasileirão ou Copa do Brasil, quando o nível e pressão aumentam muito mais.
Pra mim, amigo, o Caio já tinha que jogar (e ter a nossa paciência) desde amanhã no time titular!
Enfim, boa sorte ao JS! Que ele faça as escolhas corretas!
Abs e SA!!!

Ruy Moura disse...

Roma, não sei onde foi parar o seu comentário solicitando o hino do BFR na Internet. Aí vai: http://www.youtube.com/watch?v=IOnHkX33LJI

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Rodrigo, concordamos ambos em muitas coisas, mas quanto aos jogadores de base estamos relativamente afastados. Pelo Rodrigo, a equipa já era toda composta pelo ex-juniores, mas, na minha modesta opinião, não é lançando juniores à toa - pela simples razão de termos maus seniores na equipa - que se defende os jogadores e o clube.

Alguns torcedores apelaram para a titularidade de Gabriel, Laio e outros juniores tão medianos quanto eles. Na verdade, nunca reconheci, além do Wellington Junior, que esses garotos tivessem provado fosse o que fosse. Servem tanto como alguns dos que contrataram.

Recordo que mesmo no auge das categorias de base do BFR (1965-66), o nosso clube não lançou para a 'fogueira' o Jairzinho, o Arlindo, o Roberto e outros. Pelo contrário, procurou fazer um ataque com Sucupira, Bianchini, Parada, etc. e introduzir os juniores adequadamente, em vez de ficar dependente de gente tão nova como eram os juniores do BFR.

A gestão das bases, e sobretudo dos talentos, é uma coisa séria que se este Botafogo - pouco sério a administrar - começa a desbaratar, nunca mais teremos bases de jeito. Se 'queimamos' estes garotos estaremos bem arredados da sensibilidade devida às bases.

De resto, Rodrigo, para mim é claro que dependemos ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE do Joel Santana. Porque o 'presidente' é incapaz, o diretor de futebol ainda mais e o gerente de futebol bate o recorde de incapacidade. A equipa é uma destrambelhice pegada, que nem um único jogador serve, por exemplo, para capitão (LF?... LG?... nem brincando...). É claro que dependemos exclusivamente de JS. Do seu bem senso e das suas velhas fórmulas. Mal por mal, sempre é alguém respeitado fora do Botafogo e conhecedor das cabeças dos jogadores.

Ele irá definir o que fazer, claro. E com quem contará, claro. Mas não já. Não estamos nas ruas da amargura, mas também não estamos em condições de aspirar ao título. Provavelmente acabaremos o turno com 6 vitórias e 1 derrota. Não é mau. Temos equipa para sermos campeões?... Não?... Estão esperemos. Esperemos as definições de Joel. Temos todo um segundo turno para fazê-lo. A não ser que passe pela cabeça dos botafoguenses quererem ser campeões cariocas e acelerar o que não deve ser acelerado.

Bem ou mal o JS é a única cabeça pensante entre dirigentes, comissão técnica e líderes de opinião botafoguenses conhecidos. Vamos depender dele, sim. A não que tudo lhe corra muito mal, porque caso contrário poderá ser o homem forte para colocar certas pessoas nos seus devidos lugares.

O futuro consistente nunca se fez a correr, e às vezes exige paciência de chinês. Pergunte aos são-paulinos como foi.

Abraços Gloriosos!

Thais Oliveira disse...

E aí, galera? Alguém viu que irado o Tour da Taça original da Copa que a Coca-Cola está fazendo no Brasil? Assisti à transmissão de hoje e estão falando que vai dar pra ver o evento live no site oficial amanhã, segunda e terça-feira às 17h30. Demais, todo torcedor deveria acompanhar! http://comemore.cocacola.com.br/taca.html

Lewis Kharms disse...

Rodrigo, concordo que o Caio tem futebol de sobra pra estar entre os titulares, mas acho que isso implica em perdermos uma ‘arma’ fulminante pro segundo tempo. Explico o porquê disso mais abaixo.

Saudações alvinegras!

Lewis Kharms disse...

Concordo, Rui.

Sua análise vai além das questões táticas e estratégicas que venho discutindo em relação à entrada ou não do Caio no início dos jogos.

Pro jogo de amanhã, é provável que não surta o mesmo efeito que nas últimas partidas, porque, no meu entender, o Joel arma times ‘fechados’ e muda conforme a maré do jogo. Sendo assim, o Caio jogaria (jogará, segundo o noticiário) como segundo atacante. Isso faz com que ele perca o espaço criado pela presença de dois atacantes além dele, que tira pelo menos dois ou três defensores da sua cola.

Essa é a grande vantagem de Caio jogar com mais dois homens de ataque e entrando no decorrer da partida, porque como você bem diz: “...quando Caio, fisicamente sem desgaste e sem o peso do inevitável encaixe de jogo das equipas em confronto, entra com uma nova lógica e uma nova velocidade que impele a equipa para ele e desnorteia o adversário”. E como o Joel sabe determinar muito bem o momento de sua entrada, o jogo já ‘encaixado’ sofre uma ‘cambada’.

No jogo contra o América foi um lance isolado, apesar de o Joel ter percebido a subida do lateral, que tinha só um jogador na sua cobertura, e a aposta deu certo. Contra o Madureira, não. O adversário não tentou se ajustar à mexida de Joel e sofreu 3 gols em 10 minutos.

Concordo que o Caio seja um ‘elemento surpresa’ – assim como deveria ter sido o Jobson, que foi mal aproveitado.

Amanhã torço pra que o técnico do Resende não tenha recursos pra armar um esquema de marcação especial ao Caio e criar um sistema defensivo que o afaste do Loco Abreu. Mas sempre esperando pela grande jogada individual da última boa ‘novidade’ alvinegra.

Saudações alvinegras!

Ruy Moura disse...

Concordo com a análise, Luiz. Creio que vai ser mais difícil para o Caio jogar amanhã sem o Herrera. Mas creio ser a melhor alternativa face à ausência do argentino.

No jogo da Copa do Brasil o Caio também pode ser novamente testado, e penso que pode constituir boa arma de segundo tempo se disputarmos a semifinal.

As táticas do Joel ajustam-se a esta perspectiva. Uma das coisas que gosto do Joel é a capacidade de leitura de jogo e de mudança de tática, coisa que nunca vi fazerem o Cuca, o Ney e o estevam durante o jogo. E penso que um treinador que não intervém para mudar o jogo não é um bom treinador. Veja-se, por exemplo, como mais uma vez o Andrade acertou as substituições e o Cuca errou as substituições. Resultado: o Cuca tomou 4 gols de seguida no FlaxFlu. Tal como nós tomamos 3 gols de seguida na Argentina contra o River Plate.

Abraços Gloriosos!

Luiz Rogério disse...

Rui,

Concordo com você e com o Luís, no momento o Caio deve entrar com arma surpresa do time, ou se for entrar na formação titular, que tenha mais dois companheiros de ataque, como foi contra o América e Madureira.

A torcida precisar ter paciência e confiar na escolha do Joel Santana.

Não pude ver o jogo de hoje contra o Resende, mas escutei pelo rádio e comentarista do jogo disse que o Caio estava "nojento", fazendo firulas descenessárias. Li também, neste mesmo sentido, no globoesporte.com.

Espero que o Joel resolva esta questão, para não desperdiçarmos esse jovem talento, que precisa ainda ser lapidado.

Abraço e saudações alvinegras!!!
* Ih f#*deu, é Loco Abreu!!!!

Luiz Rogério

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