[Nota preliminar do editor do blogue: Thiago Pinheiro (Movimento Carlito Rocha), teceu algumas considerações acerca das mudanças operadas na nossa torcida. Estou completamente de acordo com o Thiago e creio que uma das ‘novidades’ do futebol brasileiro é ter surgido um novo e inigualável ‘Botafogo’ – o de Maurício Assumpção. Porque o ‘velho’ e Glorioso Botafogo, a extraordinária e inquebrantável torcida alvinegra e as características emblemáticas e combativas dos jogadores, sumiram-se completamente. Se contrastarmos a atual torcida (em particular a organizada) com a torcida narrada no texto abaixo, é indiscutível o abismo entre ambas. E uma torcida de qualidade é indispensável para fazer compensações imprescindíveis de equilíbrio quando os mandantes se transformam em tsunamis. Desejo que a/s torcida/s organizada/s ressuscite/m com a alma de sempre e conduza/m os nossos Gloriosos torcedores ao seu verdadeiro estatuto de "a mais apaixonada e barulhenta torcida do Rio”.]

por José Antônio Gerheim
– Em nome de uma velha paixão, a torcida alvinegra despreza a falta de títulos, empurra o time na Copa do Brasil e rivaliza com a galera do Flamengo –
Na bagunça da Copa do Brasil de 1986, um dos raros fatos que merecem destaque é o desempenho da fiel e sofrida torcida do Botafogo. Foi a massa alvinegra, sem dúvida, a maior responsável pelo fato de o time – todo remexido e formado às pressas – não ter sido eliminado na 1ª fase da competição. Pior que o rebaixamento para a Segunda Divisão em 1987 seria a obrigatoriedade de a galera adiar, mais uma vez, a hora de berrar “sou campeão”, como aconteceu há 18 terríveis anos. Mas a paixão pelo Glorioso não permitiu o desfecho trágico. A cada derrota a torcida aumenta, grita mais forte e briga, mesmo com a aproximação do precipício.
Os números atestam a participação dos botafoguenses na luta pela preservação do sonho do título. Nos cinco jogos que o time disputou em casa, no início da Copa, 94 476 pessoas empurraram o alvinegro, com uma média de 18 895 por partida. O Flamengo, campeão carioca e dono indiscutível da maior galera da cidade, teve de se contentar com um público médio de 11 159 adeptos.
Como explicar o amor a um time que não aceita se transformar no “São Cristóvão da zona sul”, como vaticinaram os inimigos? Para o psicólogo João Alberto Barreto, “o botafoguense é um judeu à espera do Messias que nunca chega”. Ou seja: Não existe base científica para explicar tamanho envolvimento.
Segundo José Alberto, a torcida, carente de títulos, habituou-se a lotar o Maracanã ao menor sinal de surgimento no tal Messias, que pode vir na forma de um craque salvador ou de um campeonato conquistado. Isso também é chamado de “entropia do sistema”, que, explica José Alberto, é algo que foge ao comum.
Ocorre que a geração de pais que viu o grande Botafogo do final da década de 50 e durante os anos 60 condiciona os filhos a seguir a estrela solitária. O fenómeno em que se transformou a torcida do Botafogo começou a ser notado já na década de 40, de acordo com o pesquisador Roberto Mércio. Autor do livro “Histórias do Futebol Carioca”, ele sustenta que a paixão alvinegra deu os primeiros sinais quando o centroavante Heleno de Freitas chegou ao clube. Apaixonado pela estrela solitária, craque, temperamental, bonito e elegante, ele atraiu para o time um número cada vez maior de simpatizantes, até mulheres. Antes, o horizonte de adeptos da equipe era limitado quase que totalmente aos moradores do bairro que lhe dá o nome e Copacabana.
Uma opinião unânime: a grande explosão da massa botafoguense viria em 22 de Dezembro de 1957. Naquele dia, o time, graças ao incomparável talento de Mané Garrincha, aplicou uma goleada histórica de 6x2 no Fluminense, na final do Campeonato Carioca. Delírio na cidade. Dali em diante, foi mais fácil ao torcedor alvinegro encontrar aliados.
O Botafogo também rende votos. Na campanha para as eleições de 15 de novembro, vários candidatos fazem de sua opção clubística bandeira para conseguir um mandato. Da direita à esquerda, eles invocam a condição de adepto do alvinegro e confiam na fidelidade da galera. Agnaldo Timóteo, do PDS; Carlos Imperial e Eduardo Portela, do PMDB; André Barros, do PT; e Stepan Nercessian, do PSB, estão entre eles. O ator Stepan, aliás, não esconde o sonho. “Quero ser presidente do Botafogo”, anuncia. A plataforma? Indicar João Saldanha para técnico da equipe.

por José Antônio Gerheim
– Em nome de uma velha paixão, a torcida alvinegra despreza a falta de títulos, empurra o time na Copa do Brasil e rivaliza com a galera do Flamengo –
Na bagunça da Copa do Brasil de 1986, um dos raros fatos que merecem destaque é o desempenho da fiel e sofrida torcida do Botafogo. Foi a massa alvinegra, sem dúvida, a maior responsável pelo fato de o time – todo remexido e formado às pressas – não ter sido eliminado na 1ª fase da competição. Pior que o rebaixamento para a Segunda Divisão em 1987 seria a obrigatoriedade de a galera adiar, mais uma vez, a hora de berrar “sou campeão”, como aconteceu há 18 terríveis anos. Mas a paixão pelo Glorioso não permitiu o desfecho trágico. A cada derrota a torcida aumenta, grita mais forte e briga, mesmo com a aproximação do precipício.
Os números atestam a participação dos botafoguenses na luta pela preservação do sonho do título. Nos cinco jogos que o time disputou em casa, no início da Copa, 94 476 pessoas empurraram o alvinegro, com uma média de 18 895 por partida. O Flamengo, campeão carioca e dono indiscutível da maior galera da cidade, teve de se contentar com um público médio de 11 159 adeptos.
Como explicar o amor a um time que não aceita se transformar no “São Cristóvão da zona sul”, como vaticinaram os inimigos? Para o psicólogo João Alberto Barreto, “o botafoguense é um judeu à espera do Messias que nunca chega”. Ou seja: Não existe base científica para explicar tamanho envolvimento.
Segundo José Alberto, a torcida, carente de títulos, habituou-se a lotar o Maracanã ao menor sinal de surgimento no tal Messias, que pode vir na forma de um craque salvador ou de um campeonato conquistado. Isso também é chamado de “entropia do sistema”, que, explica José Alberto, é algo que foge ao comum.
Ocorre que a geração de pais que viu o grande Botafogo do final da década de 50 e durante os anos 60 condiciona os filhos a seguir a estrela solitária. O fenómeno em que se transformou a torcida do Botafogo começou a ser notado já na década de 40, de acordo com o pesquisador Roberto Mércio. Autor do livro “Histórias do Futebol Carioca”, ele sustenta que a paixão alvinegra deu os primeiros sinais quando o centroavante Heleno de Freitas chegou ao clube. Apaixonado pela estrela solitária, craque, temperamental, bonito e elegante, ele atraiu para o time um número cada vez maior de simpatizantes, até mulheres. Antes, o horizonte de adeptos da equipe era limitado quase que totalmente aos moradores do bairro que lhe dá o nome e Copacabana.
Uma opinião unânime: a grande explosão da massa botafoguense viria em 22 de Dezembro de 1957. Naquele dia, o time, graças ao incomparável talento de Mané Garrincha, aplicou uma goleada histórica de 6x2 no Fluminense, na final do Campeonato Carioca. Delírio na cidade. Dali em diante, foi mais fácil ao torcedor alvinegro encontrar aliados.
O Botafogo também rende votos. Na campanha para as eleições de 15 de novembro, vários candidatos fazem de sua opção clubística bandeira para conseguir um mandato. Da direita à esquerda, eles invocam a condição de adepto do alvinegro e confiam na fidelidade da galera. Agnaldo Timóteo, do PDS; Carlos Imperial e Eduardo Portela, do PMDB; André Barros, do PT; e Stepan Nercessian, do PSB, estão entre eles. O ator Stepan, aliás, não esconde o sonho. “Quero ser presidente do Botafogo”, anuncia. A plataforma? Indicar João Saldanha para técnico da equipe.
4 comentários:
Rui,
No jogo contra o time da colina, embora a nossa torcida fosse um pouco maior, levamos um banho na empolgação, vibração e principalmente nos cânticos de guerra. Antes mesmo do início do jogo! Imagine depois!?
Atualmente só temos três cânticos; o ninguém cala, hino do clube e o samba da cantora Beth Carvalho. Nenhum outro.
Enquanto isso as outras torcidas organizadas inovam e possuem diversos cânticos que empolgam seus torcedores e jogadores.
Atualmente a maior torcida organizada faz, apenas, o jogo do poder e intimida os torcedores independentes e anônimos de se manifestar.
A CORJA que se apoderou de GS desenvolveu, muito bem, a politicagem da negociata, intimidação e esvaziamento para se manter no poder.
QUEREMOS O NOSSO BOTAFOGO DE VOLTA!
Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!
Rui,
Ótimo artigo, resportagens como essa deveriam ser mais divulgadas nos espaços alvinegros na grande rede.
Só quem viveu aqueles anos e frequentou as arquibancadas sabe muito bem o que significa ler uma matéria como essa.
Abraço e saudações alvinegras!!!
Luiz Rogério
Gil, a nossa principal torcida organizada está à medida dos novos tempos: neoliberalizou-se...
Os torcedores em geral são muito bons, mas sem enquadramento de liderança não se consegue tirar partido do vigor e da alegria dos botafoguenses. E a 'corja' sabe bem como virar as coisas para o seu lado... Nisso eles são 'capazes'...
Abraços Gloriosos!
Luiz Rogério, creio que devíamos fazer uma campanha séria de divulogação das glórias e do peso de um clube e de uma torcida que foram notáveis em diversas ocasiões de vida do Glorioso.
Em 2003 não havia sequer água nos treinos do BFR, mas subimos de divisão. Foi um ano de garra que se perdeu. E este ano tem sido absolutamente o contrário de tudo o que é a instituição BFR. Mas quem reage?... CD, nada. Outros notáveis, nada. Glórias antigas, nada. Torcidas organizadas, nada. Torcedores organizados espontaneamente, nada. A Corte dos Gordos domina incrivelmente o Glorioso com a pior conversa e os piores pensamentos de sempre. Futuro bem incerto, este.
Abraços Gloriosos!
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