por CARLOS FERREIRA VILARINHO
especialmente para o Mundo Botafogo
sócio-proprietário e historiador do
Botafogo de Futebol e Regatas
Carlos
Ferreira Vilarinho é autor da obra ‘Quem Derrubou João Saldanha’ (2010) e
‘Futebol do Botafogo – 1951-1960’ (2013, I volume). No prelo estão o II e o III
volumes de ‘Futebol do Botafogo’, mas o autor antecipa para os leitores do
Mundo Botafogo alguns trechos destes dois volumes ainda não publicados. Além
dos trechos publicados no Mundo Botafogo sobre a 1ª obra, Carlos Vilarinho
presenteia-nos com o 7º artigo que antecipa os volumes I e II. Nas rubricas
‘fragmentos’ (coluna do lado direito do ecrã) encontram-se publicados, a partir
de hoje, 17 artigos do I volume e 7 artigos antecipando o II e o III volumes.
Neste artigo o autor escolheu descrever a história deveras interessante dos
vencimentos dos craques do Botafogo ao longo da década de 1950 e início da
década de 1960, desmascarando completa e cabalmente a ideia falaciosa de que o
Botafogo explorou os seus craques.
Artigo Imperdível.
Na noite de 30/11/1968, pela fase de classificação do
Torneio Roberto Gomes Pedrosa (hoje, como a Taça Brasil, equiparado ao
Campeonato Brasil), o Vasco da Gama venceu firme o Flamengo (2x0) e garantiu a
segunda vaga do Grupo B no quadrangular final.
Agora na Gávea, Garrincha superou tudo, baixou o peso para
71 kg (emagreceu 13 kg) e jogou 45 minutos de um futebol excelente.
Explica-se. Em 20 de agosto, três semanas após desistir do
Boca Juniors, Garrincha chegou a Barranquilla para defender o Deportivo Júnior
até dezembro, mas só disputou um jogo, pois, na primeira semana de setembro,
Elza Soares chamou-o de volta. Mané pretendia voltar em novembro para disputar
o terceiro turno do campeonato colombiano, contudo, duas semanas depois,
começou a se exercitar no Flamengo (clube da devoção da cantora). O Deportivo
desistiu do negócio. Em 22 de outubro, Wadih Helu (presidente do Corinthians)
cedeu aos pedidos da moça, autorizando Garrincha a assinar com o Flamengo até
junho de 1969. O empréstimo sairia de graça.
Pois bem, na Última Hora (edição de 30 de novembro), o
jornalista Fernando Horácio perdeu as estribeiras, afirmando que Mané, mesmo
sem contrato (foi inscrito na véspera), jogaria “por amor ao Mengo”. Na coluna
do lado, João Saldanha, certo de que ninguém consultaria as coleções dos
jornais, falseou os fatos com cinismo incomum: “Apesar de ter sido o que foi
como jogador, Garrincha só ganhou ordenado e, diga-se de passagem, apesar de
ter sido o melhor jogador de seu clube, nunca foi o melhor ordenado. Nem o
segundo, talvez, nem o terceiro. Só quando foi para o Corinthians é que ganhou
umas luvinhas”.
Vejamos. Em agosto de 1955, Garrincha assinou seu segundo
contrato com o Botafogo, passando a ganhar mensalmente 16 mil cruzeiros, mais
luvas (50 mil), superando o salário de Nilton Santos (14 mil).
Em fevereiro de 1956, Didi foi contratado por 28 mil
mensais. Passados seis meses, Nilton Santos renovou pelo mesmo valor. Em agosto
de 1957, Didi renovou por um salário de 70 mil, o maior do Brasil. Três meses
depois, Mané renovou por 32 mil (segundo salário).
Em julho de 1958, o Botafogo aumentou os salários de
Nilton Santos e Garrincha para 50 mil e 45 mil, respectivamente. Zagalo foi
contratado por 100 mil mensais, entre ordenado (40 mil) e luvas. Cinco meses
depois, Garrincha passou a ganhar 80 mil, mais que Didi. Em julho de 1959, Didi
foi vendido ao Real Madrid.
No mês seguinte, Nilton Santos renovou por 60 mil mensais,
mais 400 mil na mão. Em julho de 1960, Zagalo renovou por 70 mil. No mês
seguinte, Didi foi comprado de volta, passando a ganhar como Mané. Em janeiro
de 1961, o Botafogo premiou Garrincha com 300 mil para a compra de um terreno.
Em agosto, o ordenado de Nilton Santos foi equiparado ao
de Didi e Garrincha. Em dezembro, Mané renovou por 150 mil, mais 3 milhões na
mão. Em julho de 1962, Zagalo renovou pelos mesmos 150 mil, mais luvas de 4,5
milhões (3 anos). Nilton Santos ganhou 3 milhões de luvas (2 anos) e o mesmo
salário de Garrincha e Zagalo. Didi deixou o Botafogo para seguir a carreira de
treinador do Sporting Cristal, do Peru.
Em agosto, Mané ganhou um apartamento valendo 7 milhões.
Em outubro, Amarildo renovou pelo salário-teto, acrescidos de 10 milhões. Em
janeiro de 1963, Nilton Santos, Garrincha e Zagalo ganharam 1 milhão a título
de luvas. No mês seguinte, cada um recebeu mais 2 milhões. Em julho, Amarildo
foi vendido ao Milan. Dois meses depois, Gérson foi comprado, ganhando como
Amarildo: 150 mil, mais 10 milhões na mão.
Em fevereiro de 1964, além dos bichos normais, Garrincha
passou a receber cotas por jogo (100 mil), que subiriam para 150 mil (nas
vitórias). No exterior, a cota seria de 300 mil. Contrato melhor, só o de Pelé.
Nilton Santos ganharia o mesmo. Zagalo receberia menos: 50 mil por partida no
Brasil e o dobro no exterior. Cinco meses depois, o contrato de Nilton Santos
lhe garantiu uma remuneração mínima de 300 mil mensais, jogando ou não.
Em agosto, Didi retornou, ganhando o salário-teto. Quatro
meses depois, Nilton Santos decidiu se aposentar. Em fevereiro de 1965, Didi
foi emprestado ao Vera Cruz, do México. Em abril, Garrincha renovou, passando a
ganhar 800 mil por mês, mais 150 mil por jogo (300 mil no exterior),
independentemente do resultado. Cinco vezes mais do era pago a Gérson.
Em setembro, Gérson passou a receber 3,7 mil mensais,
entre luvas e ordenado (750 mil). Em outubro, Zagalo voltou aos gramados (por
450 mil), mas logo depois (janeiro de 1966), pendurou as chuteiras. No mesmo
mês, Garrincha foi vendido ao Corinthians, que lhe pagou 30 milhões de
cruzeiros pelos 15%. Que luvinhas!
Hoje, dez entre dez botafoguenses acreditam piamente que o
Botafogo foi um clube muito malvado, trapaceiro e explorador de Garrincha (e
também de Nilton Santos, Didi, Amarildo, Zagalo, etc., etc.).
Em 30/11/1968, a volta de Mané foi decisiva para lotar o
Maracanã (mais de 100 mil torcedores). O Flamengo (2 vitórias em 16 jogos –
vice-lanterna do Grupo A), apesar da derrota, passou a rir a toa, pois
arrecadou, numa só noite, a quantia de 73 mil cruzeiros novos (muito mais do
que Garrincha recebeu pelos 15%). Além disso, foi convidado pelo Atlético para
se exibir em Belo Horizonte, ganhando 40 mil limpos (sem pagar um centavo a
Garrincha). Quanta bondade!
Cinco anos depois, Garrincha confessou: “Continuo
Botafogo, ele mora no meu coração” (Jornal do Brasil - 18/12/1973).
Nota do autor: Extraído do volume III do livro O Futebol do Botafogo –
1966-1970 (a ser lançado).
Nota do Mundo Botafogo: Os livros de Carlos Ferreira Vilarinho podem ser
adquiridos nas melhores livrarias do Rio de Janeiro ou através da página www.ofuteboldobotafogo.com.
2 comentários:
Rui,
Se hoje incomodamos pelo passado, imagino naquele tempo!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Eu compreendo que eles tenham raiva de nós: em campo arrasavamos os cathartiformes; fora de campo zoavamos os tipos até à última gota da gozação.
Abraços Gloriosos.
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