quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O "piloto" Sabará


por Gerson Soares

Cada componente da comissão técnica da vitoriosa delegação da Copa Do Mundo de 1958 ganhou um carro: um Renault Dauphine. Entre eles, o roupeiro e massagista Assis, do Vasco. Como não sabia dirigir, vendeu o Dauphine para Sabará, um dos maiores pontas-direitas do nosso futebol.

Sabará também não sabia dirigir. Pediu, então, ao craque Escurinho, que fora caminhoneiro em Minas Gerais antes de se tornar um dos maiores ídolos do Fluminense, que passasse a usar o carro.

Escurinho levava de carona, além de Sabará, Mané Garrincha, Quarentinha e Clóvis, na época o quarto-zagueiro do Fluminense. Deixava primeiro Sabará no Vasco; depois, Quarentinha e Mané no Botafogo; e seguia com Clóvis para as Laranjeiras. Depois, fazia caminho o inverso.

Enquanto dirigia, Escurinho pedia a Sabará que prestasse atenção. Prestastivo, Escurinho parava algumas vezes numa rua deserta da Ilha do Governador, onde todos moravam, para tentar ensinar, na prática os fundamentos a Sabará.

Durante o percurso, Garrincha, sempre brincalhão e provocador com todos, insistia para que Sabará dirigisse, sob protestos dos companheiros. Afinal, Sabará não conseguia passar nem sequer a primeira marcha. Um mês depois, de tanto ouvir Mané dizer que ele estava pronto para assumir o volante, Sabará se encheu de coragem e resolveu levar o carro, para aflição de Quarentinha e Clóvis. Escurinho tentou evitar, mas Sabará disse que, naquela dia, daria carona aos amigos. Mané sorriu.

A cada barbeiragem de Sabará pela Avenida Brasil, Quarentinha e Clóvis imploravam para Escurinho expulsá-lo do volante. No entanto, Sabará parecia tranqüilo. A tal ponto que nem percebia as loucuras que fazia.

Já próximo de São Cristovão, Escurinho alertou que teria de entrar na segunda rua à direita. Ordenou calma e que prestasse atenção. Mas Sabará entrou na primeira rua e não na segunda.

Todos se apavoraram, pois havia uma enorme carreta atravessada. Sabará, nervoso, acelerou e foi diretamente de encontro à carreta. Os companheiros, aos berros, cheios de pavor, puseram as mãos nos olhos. Porém, o Dauphine passou por sob a carreta, arranhando apenas o teto.

Um guarda, ao ver a cena, ligou a sirene da sua moto e foi atrás. Emparelhou com Sabará e ordenou que encostasse o carro. Assustado, sem habilitação, Sabará não atendia e continuava em alta velocidade, para desespero de Quarentinha, Clóvis e Escurinho.

E de nada adiantavam os apelos dos três para Sabará encostar. Mané, que só fazia sorrir, achou tempo para fazer de suas brincadeiras com Quarentinha, pedindo que pusesse a cabeça para fora do carro para o guarda reconhecê-lo. Quarentinha reagiu, xingando Mané.

Quando Sabará conseguiu parar, o guarda se aproximou de arma em punho e disse:

"Meu amigo, você é um às do volante. Passou por debaixo daquela carreta... Que coragem!"

O guarda pediu a habilitação. Sabará não tinha. Mandou que todos descessem. Foi a sorte. Ele reconheceu os craques, principalmente o ídolo, Mané Garrincha.

Mané disse que precisava chegar cedo ao treino. Mas o guarda percebera que ele corria risco de nem chegar. Para surpresa, o guarda mandou Escurinho assumir o volante do Dauphine. Disse a Mané para subir na garupa de sua moto e o levou em segurança para o treino no Botafogo.

4 comentários:

Fernando Gonzaga disse...

caro Saulo...

estou me deliciando ao ler o livro do Quarentinha, O ARTILHEIRO QUE NÃO SORRIA...são tantas histórias prazeroras...tempo este que não volta mais....

grande abraço!!!

Gil disse...

Amigo Rui,

Essas histórias é que nos fazem esquecer o triste momento que passa o nosso amado BOTAFOGO.

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Ruy Moura disse...

Ainda nao consegui ler todo. Em Abril trouxe mais seis livros do BFR. Tenho 24. E estou mandando vir o ultimo editado no mês passsado.

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

Pois é, Gil. Temos que saber aproveitar essas histórias nos momentos difíceis.

Abraços Gloriosos!

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