sábado, 30 de março de 2013

Meu caro Seedorf

por Joaquim Ferreira dos Santos
Jornal ‘O Globo’

É por essas e outras que eu deixei de ir aos estádios ver os jogos. Não há muita escolha. Ou se leva uns catiripapos no meio de algum entrevero de torcidas ou, olhando-se para o gramado, grassa a decepção com juízes e jogadores. Vi o último jogo do Botafogo perla TV como tem sido a rotina deste torcedor que já viu jogos na rua Bariri e no Stade de France, e me acabrunhei com os vexames a que você, cracão, foi submetido.

Primeiro o lance do pênalti que, quando você ia bater, o juiz voltou atrás e deu por não dado a marcação. Ele evidentemente tinha recebido a informação, pelo ponto eletrônico, de que a TV estava passando o lance e a marcação era indevida, pois havia um impedimento anterior. Depois, a trapalhada da sua expulsão, um lance ordinário e complicado demais para ser explicado aqui.

Eu gosto de futebol como gosto de respirar e outras coisas mais. É um dos grandes espetáculos da civilização brasileira, que o recriou em doses artísticas que nem o momento ruim o deixa menos interessante. Já não somos os melhores, mas definitivamente somos diferentes e aquele gol do Oscar contra a Itália não me deixa mentir.

De uns tempos para cá, o espetáculo foi ficando grosseiro, o pau canta em todos os jogos, na arquibancada, fora do estádio ou dentro do gramado – e eu achei melhor ver isso tudo de longe.

Tenho este texto das quartas-feiras para escrever, tenho meu neto Eduardo para ver crescer e ando lendo entusiasmado uma reportagem em livro sobre os bastidores da produção de “Psicose”, o filme de Hitchcock. Não posso correr o risco de, para ver ao vivo uma arrancada do Rafinha, levar uma pedrada no quengo e perder um desses prazeres.

Fico em casa vendo os jogos pela TV, mas definitivamente não me conformo por terem me tirado um programa desses. Por que, meu caro Seedorf, o futebol no estádio virou um privilégio de meia dúzia de torcedores violentos que esquecem o jogo e ficam lá aos pulinhos esperando a hora da bola parar e eles saírem na porrada com os torcedores adversários?

O que você sofreu em campo com o juiz atabalhoado, meu grande Seedorf, o torcedor tem sofrido para ver os jogos. É a maior bagunça, não tem banheiro, não tem segurança, os estádios, como esse de Moça Bonita, do jogo com o Madureira, são vergonhosos e permanecem os mesmos  desde os anos 1950, quando o time do Bangu era conhecido por “Os roxinhos de Moça Bonita”.

Enfim, Seedorf, toda a minha solidariedade e pedido de desculpas por esse vexame a que você foi submetido no jogo com o Madureira. Vou continuar te vendo de casa, batendo o fino no balão de couro. Fico na esperança silenciosa de que com o novo Maracanã, chicoteado pela Fifa, possa haver alguma mudança e torcedores que não estejam a fim de sair na porrada com a torcida adversária, torcedores    que queiram ver com algum conforto a bola rolando, sejam novamente privilegiados nos estádios.

Aquele abraço.


4 comentários:

Anónimo disse...

O comentário mais perfeito que já li sobre futebol. (José Vanilson Julião - jornalista - Natal/RN)

Ruy Moura disse...

É pena ser perfeito, amigo José Vanilson, porque significa que o futebol brasileiro está entregue aos incapazes.

Mas, indubitavelmente que, nas condições atuais, é o comentário perfeito.

Abraços Gloriosos!

RENATO BRUSTOLIN disse...

RUI MOURA É UMA SATISFAÇÃO ENORME LER SEUS COMENTARIOS,LAVA A ALMA DA GENTE.TUDO QUE VC, DIZ É OQUE GOSTARIA-MOS DE DIZER.CONTINUE NÓS DELICIAR COM ELES.SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES.

Ruy Moura disse...

Obrigado, Renato. Creio que se refere ao artigo 'Meu caro Bolívar'. Apareça mais vezes!

Abraços Gloriosos!

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