quarta-feira, 6 de março de 2013

Um dia de 1911


Dia 25 de junho de 1911. Botafogo x America pelo campeonato carioca. A peleja termina empatada.

Esse jogo marca o Botafogo para sempre, o Clube da Capa e Espada: define a honra e a coragem de um clube ainda hoje fidalgo e transparente.

O America, sabe-se lá instigado por quem, usa de enorme violência sobre os atletas botafoguenses, até que Flávio recebe violenta falta de Gabriel de Carvalho e protesta. Abelardo intervém e aconselha Flávio a reagir. Gabriel insulta brutalmente Abelardo. Abelardo repele-o com um bofetão. O campo é invadido, recomeçando o jogo a muito custo.

O prélio termina empatado 1x1, mas apesar dos esforços da diretoria do Botafogo novo conflito, entre torcidas. Flávio Ramos chegou a desarmar um homem desvairado que empunhava um revólver!

O resto já se sabe: a Federação suspendeu Gabriel por 30 dias e… Abelardo por um ano! O Botafogo levanta-se em unidade e solidariza-se com Abelardo Delamare, desligando-se da Liga.

Nesse ano, enquanto todos os atletas e dirigentes do Botafogo cerraram fileiras e nenhum atleta seu saiu entre 1911 e 1912, o Fluminense, campeão de 1911, preferiu perder nove dos seus atletas do que ceder a que as escalações não fossem apenas do Comitê para o efeito, mas também dos jogadores.

Foi assim que nasceu o futebol no Flamengo, liderado pelo ex-tricolor Alberto Borgerth e mais oito atletas dissidentes do Fluminense.

Nesse ano, os acontecimentos no Botafogo e no Fluminense marcaram para sempre o perfil dos dois clubes.

Contra o violento America, o Botafogo alinhou com Dinorah, Baby, Villaça e Lefévre; Rolando, Lulú e J. Couto; Emanuel, Flávio, Abelardo, Mimi e Lauro.

Pesquisa de Rui Moura (blogue Mundo Botafogo).

4 comentários:

Luis disse...

Caro Rui,não entendi o final da história.O que aconteceu com o Fluminense que gerou a saída dos seus jogadores?

Gil disse...

Rui,

Como sonho e desejo um pouco, pouquíssimo, dessa determinação e perfil ao atual Botafogo!

Sonhar não custa nada, ainda!

Abs e Sds, Botafoguenses!!!

Ruy Moura disse...

Luís, o Fluminense tinha um Comitê de escalação, como era normal à época, porque treinadores a sério não havia. Então, criou-se uma corrente, liderada por Alberto Borgerth, mediante a qual se pretendia que nas escalações também fossem ouvidos os atletas, porque, não esqueçamos, tratava-se de futebol amador e as comissões técnicas tinham várias pessoas à época. Como a direção do clube se opôs firmemente, Borgerth e mais oito atletas foram fundar o futebol no Flamengo. O Fluminense preferiu perder um time e manter os 'homens feitos' no comando, em vez de debater e democratizar uma modalidade feita apenas por paixão.

É interessante notar que o Flamengo montou uma equipa de futebol com esse núcleo duro de atletas, e foi Borgerth, já no Flamengo, que manobrou para o Botafogo voltar à Liga, o que se concretizou em 1913. Nesse ano houve o 1º clássico Botafogo x Flamengo, que ganhamos por 1x0 numa partida muito renhida e com muitas palmas de parte a parte. A imprensa disse que o último desafio realmente emocionante já não se via no Rio desde 1910...

Abraços Gloriosos!

Ruy Moura disse...

O Botafogo fundado por garotos irreverentes e às vezes roçando uma certa arrogância intelectual (o BFC foi a 1ª equipa 'intectual' de futebol no Brasil), e os campeões de 1910 acabaram todos por concluir um curso universitário.

Nós ainda somos assim, porque a génese é a génese. Dificilmente se muda. Nós somos irreverentes, exigimos o debate democrático, mantemos a honra dos garotos de 1910, e da sua torcida que era a mais fanática à época, somos por vezes algo arrogantes. Somos o clube da capa e espada intelectualizado.

Repara, Gil, que os quatro grandes do Rio são muito diferentes uns dos outros - tão diferentes quanto as características das suas origens.

Quanto a mim, o Botafogo e o Flamengo têm as histórias mais bonitas dos clubes do Rio. A diferença é que o Flamengo alegre e virtuoso das décadas de 1910, 20, 30 (que reunia sobretudo as elites do Rio, tal como Botafogo e Fluminense), tornou-se um clube reles e insuportável.

Na verdade, os maiores rivais do Rio deviam ser Bota x Flu, mas pouco a pouco Botafogo e Flamengo colocaram-se nas antípodas das atitudes sociodesportivas, e por isso são acérrimos rivais - que praticamente se detestam mutuamente - e não a tal dupla Fla x Vasco, inventada pelo Eurico Miranda para erguer o Vasco no pódio. Repara que ninguém desgosta do Vasco e o Flu até gostaria de ficar sozinho com o Fla. Portanto, Botafogo e Flamengo geram as maiores rivalidades.

A diferença hoje não está propriamente na torcida, que teve grandes 'chefes como Peixoto, Tarzan ou Russão, a diferença é que a diretoria não é assertiva e não obriga os clubes e as instituições a respeitar o Botafogo, e eles vão aproveitando isso (mídia, clubes, dirigentes federativos, árbitros, etc.). Conclusão: esta diretoria não honra a génese do clube, o seu desenvolvimento e os seus títulos e os seus craques.

Abraços Gloriosos!

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