terça-feira, 25 de agosto de 2009

Jogos inesquecíveis: Botafogo 6x2 Fluminense

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Botafogo e Fluminense decidiram o título carioca de 1957 sob o excesso de confiança do diretor de futebol do Fluminense, que, na véspera do jogo, declarou que o Fluminense já era campeão e que o Botafogo esperasse outra oportunidade.

O técnico do Fluminense tratara de aperfeiçoar o esquema defensivo e escalar o meio-campo com Jair Santana, Róbson e Jair Francisco, trio que teria de contar com a ajuda de Telê. Mas o técnico João Saldanha tinha ideias diferentes: confiou a Quarentinha a marcação cerrada e permanente de Telê, o jogador-chave do adversário, visando dominar o meio-campo e chegar na cara do Castilho, o goleiro das Laranjeiras.

No dia 22 de Dezembro de 1957 o árbitro Alberto da Gama Malcher deu início ao jogo com mais de 90.000 torcedores no Maracanã. E aos 3 minutos de jogo, a cruzamento de Didi, Paulo Valentim inaugurou as redes de Castilho: Botafogo 1x0.


Carlito Rocha dissera que Jesus Cristo lhe aparecera a anunciar a vitória do Botafogo, mas quem se apresentou em campo foi um demónio com o número 7 às costas. A cada bola recebida de Didi, Garrincha passava fulgurante pelo seu marcador Altair, e quando o zagueiro Clóvis saía da área para o combater também era inevitavelmente driblado. Aberta como uma lata, a defesa do Fluminense vergava-se a Garrincha, que cruzava para os remates, as cabeçadas e as bicicletas de Paulo Valentim. Alguns gols do centroavante foram verdadeiramente espíritas, porque até as bolas que chutava mal entravam na baliza de Castillo, incluindo uma com o joelho.

Aplicando a tática de João Saldanha, os jogadores não davam espaço para o Fluminense criar fosse o que fosse. A defesa tricolor descontrola-se: Pinheiro, atraído pelo deslocamento de Paulo Valentim para a ponta esquerda, deixa a área livre; Clóvis está desorientado e não sabe se deve dar cobertura a Pinheiro ou ao lateral Altair, que leva um verdadeiro baile de Garrincha.


A certa altura Garrincha dribla Altair, cruza da linha de fundo, a bola passa por Édson e Castilho, mas Paulo Valentim entra pela meia-esquerda e toca de joelho para o gol vazio, aos 35 minutos: Botafogo 2x0.

Sete minutos depois é Nílton Santos quem avança como ponta-esquerda e cruza alto sobre a área. De costas para Castilho, o centroavante Paulo Valentim acerta em cheio uma bicicleta e a bola entra no ângulo direito do goleiro: Botafogo 3x0. A torcida botafoguense vai ao delírio e o cenário do colorido Fluminense era o preto, o branco e o cinza de pesadelo.

O gol de Paulinho Valentim ilustrado por Edson, botafoguense que edita o blogue Infogol:


A foto da fantástica ‘bicicleta’ de Paulinho Valentim:


No início do segundo tempo, Escurinho faz uma jogada individual pelo meio, aproveita uma rebatida de Adalberto e toca de cabeça para fazer 3x1. Mas para o Botafogo isso era completamente indiferente: três minutos depois Paulo Valentim dá dois dribles em Pinheiro dentro da área deixando o zagueiro sentado e o artilheiro da tarde fixa um novo placar: Botafogo 4x1.

Aos 12 minutos Garrincha passa por Pinheiro e Clóvis, entra na grande área, chuta cruzado no canto direito de Castilho e faz Botafogo 5x1. Mas a torcida pede mais gols, e aos 23 minutos Garrincha investe novamente pela ponta direita, Altair fica novamente batido, tal como Clóvis, e toca para Paulo Valentim que, diante de Castilho, aumenta o marcador: Botafogo 6x1.


Emocionados, os jogadores do Botafogo choram, vibram, comemoram o título esperado há nove anos. Perto do final Valdo desconta para 6x2, mas os botafoguenses até disso se aproveitam para fazer rima: “Foi 6x2… no pó-de-arroz”.


João Saldanha é carregado aos ombros da torcida; Paulo Valentim, desmaiado, sai carregado. O Maracanã é uma festa da torcida botafoguense, reforçada pelas torcidas do América, do Flamengo e do Vasco da Gama, que não suportavam a arrogância tricolor.


Esse título foi marcado não apenas pelas exímias finalizações de Paulo Valentim, artilheiro do campeonato, mas pela promessa feita por Didi de que caminharia do Maracanã a General Severiano se fosse campeão, e cumpriu a promessa (na foto, abraçando a esposa Guiomar).


Um torcedor decidiu também vestir a estátua do Manequinho, em frente à sede social do clube, com a camisa botafoguense. Manequinho, a nova mascote, passaria a envergar a camisa d’O Glorioso sempre que o clube fosse campeão.

6 comentários:

Reinaldo disse...

Esse jogo é para mim inesquecível, com oito anos e meu pai me incentivando a torcer pelo fogão, ouvimos juntos pela Radio Nacional; a contar daquele dia uma lindíssima estrela se instalou em meu coração, até hoje me emociono lembrando de cada momento daquela partida.

Ruy Moura disse...

Reinaldo, eu cheguei ao Rio apenas em 1960, e de resto tinha cinco anos nessa final. Mas confesso que se eu tivesse que eleger um único jogo do Botafogo seria esse: o dos golaços de Paulinho Valentim e dos bailes de Mané Garrincha. Para nem falar nos toques fabulosos de Didi e nos arranques laterais de Nilton Santos. Deve ter sido absolutamente soberbo! Não creio que tenha havido final mais empolgante, mais absoluta nem com um craque tão inspirado como o Paulinho!

Abraços Gloriosos!

Luis Eduardo Carmo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luis Eduardo Carmo disse...

Rui,

E as fotografias!

Sobre o fotojornalismo e em especial a cobertura do futebol, uma grande diferença no conteúdo. Se fosse hoje em dia a imprensa provavelmente só se interessaria pela foto com o Saldanha, dispensando aquela fantástica do chute do Paulo Valentim.

SA!

Ruy Moura disse...

Exato, Biriba. Há um diferencial enorme de conteúdo. A criatividade da foto a preto e branco dos anos 1950 e a massificação da foto sem criação dos anos 2000, são um abismo entre si.

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

Alô, Rui! Então em 1957 foi a segunda decisão de campeoanto do Rio de Janeiro que o Fluminense levou seis do Botafogo. Segue a súmula da primeira. Nós gostamos de vo6!

BOTAFOGO 6 x 1 FLUMINENSE
Data: 25 / 09 / 1910
Local: Rua Voluntários da Pátria, Rio de Janeiro
Árbitro A. W. Hassell
Competição: Campeonato Carioca
Gols: Abelardo de Lamare (3), no 1° tempo; Lulú Rocha (contra), Décio Viccari (2) e Mimi Sodré, no 2° tempo
Botafogo: Coggin, Edgard Pullen e Dinorah; Rolando de Lamare, Lulú Rocha e Lefévre; Emmanuel Sodré, Abelardo de Lamare, Décio Viccari, Mimi Sodré e Lauro Sodré
Fluminense: Waterman, Félix Frias e Ernesto Paranhos; Nery, Mutzenbecher e Gallo; Millar, Oswaldo Gomes, Edwin Cox, Gilbert Hime e A. Borgerth
VIVA O BOTAFOGO! O GLORIOSO! CAMPEÃO DESDE 1907!

Saudações Botafoguenses e insulanas.

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