terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Dinorah de Assis, entre o drama e a glória


Dilermando Cândido de Assis, aspirante do exército e irmão de Dinorah, jogador do Botafogo Football Club que viria a ser campeão carioca em 1910, perdeu-se de amores em 1905, com apenas 17 anos de idade, por Anna Sólon da Cunha, então com 30 anos, filha do general Sólon Ribeiro e esposa de Euclides da Cunha, engenheiro militar e famoso escritor autor da obra ‘Os Sertões’.

Dilermando e Anna tornaram-se amantes, tendo-lhe ela indicado um quarto na Pensão Monat, porque Dilermando era órfão e morava na Escola Militar. Os amantes encontravam-se na pensão durante as longas ausências de Euclides, sempre em viagem e, mais tarde, alugaram uma casa na rua Humaitá, onde passavam longos períodos juntos.

Dilermando era descrito como belo, alto e loiro e, mesmo continuando casada, Anna teve dois filhos de Dilermando, registados como Cunha: Mauro, em 1906, morrendo com apenas sete dias, e Luís, em 1907.

Após o retorno de Euclides, Dilermando transfere-se para a Escola Militar de Porto Alegre, em 1906, mantendo correspondência com a amante. Em 1908 conclui o curso, é promovido a tenente e passa a morar no Rio, com o irmão Dinorah, no bairro da Piedade. Anna foge para casa do amante, mas o marido traído descobriu-os e entrou em sua casa de arma em punho para os matar. Foi aí que Dilermando maculou para sempre a sua imagem ao protagonizar o trágico episódio que vitimou mortalmente Euclides e feriu o irmão Dinorah, que mais tarde se tornou inválido.

Quando Euclides chegou de arma em punho, Dinorah atendeu-o e Dilermando, apercebendo-se da situação, foi vestir o seu uniforme militar. O escritor grita que ali fora para “matar ou morrer” e Dilermando é atingido na virilha e no peito ao descer as escadas. Dinorah também recebeu uma bala na nuca ao socorrer o irmão. Então, Dilermando descarregou a arma em cima de Euclides e matou-o, tendo sido absolvido a 5 de Maio de 1911, casando-se com Anna sete dias depois, a 12 de Maio. O casal teve quatro filhos, mas o relacionamento dura apenas catorze anos. Dilermando viveu em muitas cidades ao serviço do Exército e foi promovido até ao posto de General.

Entretanto, os irmãos escaparam, mas a bala de Dinorah só foi extraída quatro anos mais tarde. Porém, Dinorah fez questão de entrar em campo sete dias após ter sido baleado por quatro balas, para jogar contra o Fluminense em 1909. E jogou todo o campeonato de 1910, sagrando-se campeão carioca, ainda com uma bala alojada na coluna vertebral, perto dos pulmões. Porém, as sequelas da quarta bala, encravada numa vértebra cervical, tornaram-no gradualmente hemiplégico. Então, Dinorah mudou-se para Porto Alegre, sua terra natal, e após sete anos de doenças e bebedeiras pôs termo à vida em 1921, afogando-se no Rio Guaíba, em Porto Alegre. aos 31 anos de idade.

Entretanto, Solon, filho mais velho de Anna e Euclides, delegado no Acre, foi assassinado numa tocaia, na floresta em 1914. Dois anos após este acontecimento, Quidinho (Euclides da Cunha Filho), aspirante da Marinha, encontrou-se a 4 de Julho de 1916 no Cartório do 2º Ofício da 1ª Vara de Órfãos, no Rio de Janeiro, com o responsável pela morte de seu pai. Puxou a arma e feriu Dilermando de Assis. Logo após este novo atentado, Dilermando reagiu ali mesmo e matou o filho da amante com três tiros. Novo escândalo, nova absolvição, mas Dilermando fica para sempre com um rasto de sangue atrás de si.

Dilermando abandonou Anna em 1926, com cinco filhos. Ela estava com 50 anos, ele com 36. Anna e Dilermando morreram no Rio de Janeiro, em 1951: ela no mês de Maio, com um cancro, aos 74 anos, e ele de ataque cardíaco, em Novembro, aos 63 anos de idade.

Este triste episódio deu origem à mini-série ‘Desejo’, encenada pela Rede Globo, em 1990, tendo Tarcísio Meira interpretado Euclides da Cunha, Guilherme Fontes interpretado Dilermando e Vera Fischer interpretado Anna Emília Solon da Cunha.

No entanto, o maior drama foi o do botafoguense Dinorah de Assis, aspirante a oficial da Marinha de Guerra e craque de futebol do Botafogo, porque foi vítima inocente e alheia ao adultério e à vingança de Euclides, o qual disparou sobre ele quatro tiros pelas costas.

Apesar do heroísmo em jogar pelo seu amado Botafogo uma semana após a tragédia e de, no ano seguinte, se tornar campeão carioca pelo Glorioso, ainda com uma bala na coluna, a saúde de Dinorah foi piorando até se tornar inválido e suicidar-se ainda jovem.

Entre o drama e a glória, entre a vítima e herói, Dinorah foi tudo isso, mas também foi o precursor da tradição mística da camisa número quatro do Botafogo, que identificava os ‘full-back’ canhotos da época, a quem se seguiram o argentino Basso, que, segundo consta, inspirou o futebol de Nílton Santos, considerado por muitos o maior lateral esquerdo do mundo.

4 comentários:

Wilson Oliveira disse...

Muito bom esse texto. Gosto de ler relatos sobre ocorridos de antigamente. Só assim fico conhecendo um pouco mais o grande Dinorah de Assis.

Aproveito tambem para agradecer a visita no "futebol, música e etc". Vi o link e já estou providenciando um link para o "Mundo do Botafogo" lá no meu blog.

Um grande abraço e mais uma vez obrigado pela visita lá no blog.

Ruy Moura disse...

Seja bem vindo ao blogue, Wilson Hebert.

O seu blogue é muito interessante e eu já tinha lá ido diversas vezes, embora não tivesse publicado comentários. É interessante a diversidade de amigos de diversos clubes que tem no seu blogue. O espírito esportivo é muito óbvio no seu blogue. Continue assim!

E visitá-lo-ei sempre. Ah... E obrigado por divulgar este blogue!

Abraço amigo.

wilson moreira cesar disse...

, Hoje, temos muitos Euclides e Annas , nessa nossa Sociedade moderna e rica.. Cada um se divorcia numa boa e seguem o seu caminho. Lavar a "honra" é coisa do
passado...

Ruy Moura disse...

Isso, amigo Wilson! Tornarmo-nos assassinos para "lavar a honra" é algo profundamente egoísta e irracional. E uma grande hipocrisia da sociedade desse tempo.

Abraços Gloriosos.

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