sexta-feira, 9 de março de 2012

Botafogo do olé, da cera técnica ou da posse de bola?


A notícia que se apresenta foi publicada há 50 anos no jornal O Globo e foi-me gentilmente anunciada por Ronaldo Corrêa, leitor e amigo do Mundo Botafogo:


“28 DE FEVEREIRO DE 1962

Olé do Botafogo vai para a súmula

Amilcar Ferreira, cumprindo a promessa feita depois do encontro de anteontem, colocou na súmula os nomes de todos os jogadores do Botafogo, acusando-os de “menosprêzo ao adversário”. E citou, como é lógico, João Carlos, do América, como tendo sido expulso por agressão. A atitude do veterano árbitro, como é natural, provocou grande repercussão, pois inegavelmente é inédita. Os leitores sabem que há muito os alvi-negros praticam o que se conhece como “cêra técnica”, com o apelido popular de “olé”.

Há muitos anos era usado pelos aspirantes do Botafogo, quando foram bicampeões. Em 1961 passou a ser utilizado pela equipe principal, para alegria da torcida alvi-negra e protesto dos adeptos de outros clubes. O primeiro a sofrer foi o Flamengo, no jôgo final do Torneio Início da temporada passada. Durante o turno de classificação e na disputa oficial, a tática foi repetida, com aborrecimentos e perigos também, pois nem sempre tem sido possível controlar a reação dos contrários.”

Creio que os ‘olés’ do Botafogo e os dribles de Garrincha são razões para que ainda hoje o Botafogo seja obscenamente tratado por muitos locutores e comentadores desportivos, bem como por jogadores do passado. E cuja radicalização com o nosso clube foi transmitida para filhos e netos.

Efetivamente, o Botafogo foi protagonista de famosos ‘olés’ como o que rubricou no México contra o River Plate, ou no estádio do Maracanã quando nove atletas botafoguenses foram titulares da Seleção Brasileira num mesmo jogo (a ‘Selefogo’) e golearam a Argentina por 4x1 com direito a um olé de 52 passes antes de finalizarem o ‘baile’ com o quarto gol.

Atualmente, os ‘olés’ e os dribles do tipo dos de Garrincha não são aceites, e são condenados.

Todavia, devemos lembrar que a posse de bola, que hoje se apresenta como um dos trunfos das grandes equipas, é algo parecido com os ‘olés’ do Botafogo. Atribui-se inicialmente o ‘olé’ à equipa aspirante do Botafogo e, mais tarde, à equipa principal botafoguense em que pontificou Garrincha, na década de 1960, mas uma parte desses ‘olés’ eram, nada mais, nada menos, do que posse de bola à espera da 1ª oportunidade para marcar gol ou para segurar um resultado.

Essa ‘cera técnica’, embora sob a forma mais polida de ‘posse de bola’, é hoje praticada principalmente no Barcelona, e antes disso pela fabulosa equipa do Ajax e da Seleção Holandesa na década de 1970. Porém, o ‘olé’ é ‘filho’ de um passado ainda mais distante.

Essa ‘cera técnica’ foi criada pelo famoso Honved, base da Seleção da Hungria – a melhor seleção de todos os tempos –, e foi com esse clube que o Botafogo aprendeu a fórmula ao ser goleado por 6x2 por um combinado do Honved-Ferencváros numa excursão à Europa em 1956. No ano seguinte o Honved deslocou-se ao Brasil e foi goleado pelo Combinado Botafogo-Flamengo, mas ganhou outros jogos usando novamente a posse de bola.

Foi nesse contexto que o Botafogo aprendeu a posse de bola, ou a ‘cera técnica’, como se designava à época, e que redundou nos ‘olés’ que marcaram as equipas do Botafogo no fim da década de 1950 e início da década de 1960.

A diferença entre o passado botafoguense e a atualidade catalã é que muitos dos que criticaram a ‘cera técnica’ do Botafogo, ainda hoje lançam o seu veneno sobre o nosso clube, mas enaltecem os ‘olés’ do Barcelona, a que chamam 'posse de bola'.

5 comentários:

luiz sergio cunha disse...

RUI,

há alguns pontos equivocados no texto, pois o olé começou com o juvenil de jairzinho, roberto, arlindo e othon valentim, que o tornou oficial na conquista do torneio início, sobre o flamengo por 1x0, gol do jairzinho, certame em que eliminou antes 4 adversários sem necessidade de ir para os penais.

outro equivoco é o fato do honved ter jogado contra o flamengo 3 partidas, vencendo duas e perdendo a que foi realizada no pacaembu e tambem ter ganho do botafogo, mas perdeu por 6x3 para o combinado flamengo-botafogo, no qual o time tinha 6 botafoguenses com o garrincha na ponta esquerda e o joel na direita e jogaram com uma camisa vinho.
eu só não assisti a partida no pacaembu e tambel vi no maraca, esse torneio início, que eu adorava.

abraços,

LSCUNHA

Ruy Moura disse...

Caro amigo, quanto ao 1º equívoco tenho dúvidas, porque o texto de O Globo refere-se a que os aspirantes iniciaram esse tipo de jogo e os juvenis consagraram-no.

Quanto ao 2º equívoco tem inteira razão. A frase que construi saiu errada e deu a ideia que foi o Honved que goleou o combinado. Na verdade, quem foi goleado foi o botafogo quando se deslocou à Hungria.

Vou emendar a frase. Muito obrigado pelas notas.

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

Me perdoe por estar fugindo do texto, mas eu queria perguntar ao senhor Rui ou a qualquer um que souber se por acaso sabe quem era os capitães do Botafogo em suas conquistas desde o carioca de 1907 até o Rio-São Paulo de 1966 porque os outros eu consegui descobrir por pesquisa pela internet.
Só de aceitar o comentário, já agradeço

Ruy Moura disse...

William, essa é uma boa ideia de pesquisa, mas efetivamente não a fiz. E neste momento será difícil fazê-lo por razões profissionais. Mas verei se tenho alguma informação dessa relativamente aos campeonatos cariocas e Rio-São Paulo anteriores a 1966.

Ou talvez algum leitor possa responder desde já.

Abraços Gloriosos!

Anónimo disse...

Ah sim, muito obrigado por responder

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