quarta-feira, 2 de abril de 2014

A aventura de Tarzan

[Paulo Marcelo Sampaio é o autor destas crônicas, interpretando os protagonistas pelos quais assina; as crônicas publicadas no Mundo Botafogo são uma gentileza do autor.]

por Otacílio Batista do Nascimento, o Tarzan*

Quem me trouxe a novidade foi João Ignácio Müller. Médico competente, gostava de brigas e polêmica. Muita polêmica. A torcida do Botafogo fizera uma adaptação de uma música do Sidney Magal. Apesar de cantar bem, Jim andava sem muito fôlego. Antes de subir aos céus, Jim passara muito tempo deitado. Isso afetara os seus pulmões. Mas isso não impediu que ele cantarolasse o hit das arquibancadas. “Fogo, eu te amo! Fogo, eu te amo meu amor! Fogo eu te amo! O meu sangue ferve por você”. Achei a ideia até boa. Mas até hoje não entendo como abreviaram o nome do Glorioso. Fogo, dito assim, simplesmente, parece grito de socorro aos bombeiros. Comigo não era assim; me lembro até de um entrevero com um torcedor por conta desse grito de guerra. Magrinho, teimava em gritar “Fooooogo! Fooooogo!”, insistia Jorge Maumau. Um dia me enchi dele e ele se encheu do meu pulso forte. Foi com uns amigos assistir o jogo atrás do gol. E assim nascia o Poder Jovem. Mas como o meio era o fim, logo logo fizemos as pazes.

Fui morar em Belo Horizonte. Morri longe do Botafogo, mas a tempo de assistir, pela TV Manchete, o fim do jejum, em 1989. Com a chegada de João Ignácio Müller e, dois anos antes, do Luiz Mendes e do Guilherme Arinos, voltei a acompanhar meu clube de coração. Por aqui há uma grande vantagem. Do alto vemos o jogo e não precisa se gastar nada. Poxa, até hoje me perguntam por aqui como conseguia tanto dinheiro para comprar morteiros que soltávamos quando o time entrava em campo. O que gasto com meu clube recebo em dobro, multiplicado. Mais vale uma satisfação de uma vitória do que dinheiro juntado. Não sei bem o que me deu. O que sei é que bateu uma saudade danada. E, como naquelas caravanas que organizava em jogos fora do Rio de Janeiro, me planejei. O Luis Mendes Junior, recém-chegado por aqui, me vê arrumando as trouxas: morteiros, cabeção de nego. Rapaz, você não vai conseguir entrar com nada disso, me alerta. O Maracanã deve ter virado programa de classe média alta. Não se vê mais banguelas, homens do povo, pobres, arrisca Saldanha.

Muitos estranharam um jogo na terça. Oldemário, sempre bem informado – é chefe de redação do Diário de Pedro – esclareceu que as partidas da Libertadores acontecem de terça a quinta. Ainda bem que era jogo de uma torcida só. Sem riscos para arrumar alguma confusão. Confusão mesmo só quando tentei entrar com os morteiros, Quem mandou não seguir o conselho do filho do Luiz Mendes? Quase parei no Gecrim. Só não fui preso porque me desmaterializei. Só reapareci num camarote. Do meu lado, o embaixador Luiz Felipe Lampreia não disfarçava o nervosismo. Abandonara a frieza diplomática. Pra matar o tempo, mexia a toda hora no celular. A cada erro de passe lá vinha ele com o saudosismo. Meu pai, disse ele, me levava a jogos, até no exterior. Que goleiro é esse, perguntei. A cada chute contra nossa meta, um milagre. Ufa! Acabou: 1 a 0 nos rosinhas do independiente del valle. Com a rapidez comum aos fantasmas, fui o primeiro a alcançar a rua. Pra beber uma cachaça que aliviaria minha tensão. E pra soltar os morteiros que eu deixara malocado no pé de uma amendoeira.

* Otacílio Batista do Nascimento foi, nos anos 60, chefe da torcida do Botafogo.
Nota do editor:
O texto acima mistura um pouco de realidade e muita ficção.
Bibliografia:

2 comentários:

Unknown disse...

Realmente muita ficção. Tenho quase todo roteiro deste que foi pioneiro do Norte de Minas pra conquistar os corações dos cariocas. Otacílio Batista levou uma vida de altos e baixos. Até morrer voltando de sua terra, Grão Mogol.

Ruy Moura disse...

É uma lenda,uma das maiores lendas do Botafogo!
Abraços Gloriosos.

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