por OSWALDO COIMBRA
Guarulhos.web 17.04.2015
A Arte Performática
nem estava ainda claramente compreendida, entre os anos de 1958 a 1962, quando
Garrincha brilhou nela. Por isto, até hoje, sua genialidade continua mal
compreendida, dentro da História da Cultura Brasileira, encerrada, de modo
artificial, nos limites rígidos de uma prática esportiva, o futebol. Na
verdade, pouco tinha do formalismo rígido do esporte a fúria criativa dele,
jamais e nunca mais vista nos estádios. Garrincha desmontava esquemas táticos
de jogos, desarrumando a distribuição dos jogadores nos gramados, com dribles
que derrubavam adversários, deixando-os ridiculamente de pernas para o ar.
Promovia um espetáculo-solo que espalhava alegria desde os torcedores de seu
time oficial, o Botafogo, até as torcidas inimigas. Unindo-as em explosões de
risos como se ambas estivessem num teatro a céu aberto.
Quando já desfrutava
da glória de campeão do mundo, obtida na Suécia em 1958, Garrincha viveu uma
“situação-limite”, na qual, segundo o filósofo existencialista Jean Paul
Sartre, o ser humano é obrigado a se revelar inteiramente. O Botafogo, durante
uma excursão internacional, enfrentou um empate, na Costa Rica, contra o
Saprisa, campeão local, até quase o final da partida. Tornara-se
dramática a necessidade de gol. Quando Garrincha driblou “Deus e o mundo” e
ficou cara a cara com o goleiro do Saprisa – registrou Roberto Freire, na
Revista Realidade, em maio de 1968. Naquela situação, qualquer jogador de
futebol logo tentaria enfiar a bola na rede do adversário. Garrincha, no
entanto, “ameaçou chutar e não chutou - descreveu Roberto Freire. “Deu uma
voltinha com a bola, driblou mais um adversário. E, de novo, cara a cara com o
goleiro, tornou a ameaçar o chute e, outra vez, desistiu”. O Saprisa inteiro
então voou em cima dele. Novos dribles de Garrincha, e ele, novamente, ficou sozinho
à frente do goleiro. Fez outra ameaça, e, por fim, chutou a bola, um segundo
antes do fim do jogo, por entre as pernas do goleiro, marcando o gol.
Partida encerrada, o
treinador do Botafogo, Paulo Amaral, avançou furioso sobre Garrincha: “Por que
não chutou logo, ‘Seo’ irresponsável?”. Garrincha, tranquilo como um escultor,
após lapidar sua obra-prima, explicou: “O goleiro não queria abrir as pernas,
‘Seo’ Paulo”.
Fonte: http://www.guarulhosweb.com.br/noticia.php?nr=102448&t=Garrincha+o+genio+da+Arte+Perfomatica
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