Ao longo de
quase oito anos de Mundo Botafogo tenho manifestado que o futebol é altamente
profissionalizado e competitivo e que os clubes que querem realmente ser
grandes e ganhadores de títulos nacionais e internacionais significativos têm
que se estruturar a partir de um planejamento de médio e de longo prazo, visão
a dez anos, objetivos estratégicos rigorosos e gestão altamente profissional.
O mesmo é
válido para as federações e confederações nacionais que querem desenvolver o
seu futebol ao nível de seleções e ao nível de clubes.
O mundo é
construído. Os clubes e o futebol também não caem do céu: são construídos,
‘estrategizados’ e desenvolvidos.
Seis
treinadores portugueses são/serão campeões nacionais em 2014-2015. Há umas
semanas José Mourinho em Inglaterra e Vítor Pereira na Grécia sagraram-se
campeões com várias rodadas de antecipação. Neste fim-de-semana sagraram-se
campeões nacionais, também antecipadamente, André Villas Boas na Rússia, Paulo
Sousa na Suíça e Jorge Jesus em Portugal. O 7º treinador campeão possível
perdeu o título por um gol marcado no último minuto do campeonato. Também
Jesualdo Ferreira será certamente campeão no Egito, já que dispõe atualmente de
3 pontos de avanço, de 4 jogos a menos e venceu pelos menos os últimos 5 jogos.
Outros treinadores portugueses lograram alcançar 2ºs e 3ºs lugares.
Na Europa, 5
das 10 principais Ligas Europeias foram ganhas por treinadores portugueses,
incluindo a Liga mais dinâmica e competitiva do mundo. Eis a lista dos campeões
de 2014-2015 nos 10 campeonatos europeus mais importantes:
» José
Mourinho, português, Chelsea
(Inglaterra)
» André
Villas-Boas, português, Zenit
(Rússia)
» Paulo
Sousa, português, Basileia (Suíça)
» Vítor
Pereira, português, Panatinaikos
(Grécia)
» Jorge
Jesus, português, Benfica (Portugal)
» Luís
Enrique, espanhol, Barcelona (Espanha)
» Pep
Guardiola, espanhol, Bayern München (Alemanha)
» Massimiliano
Allegri, italiano, Juventus (Itália)
» Laurent Blanc, francês, Paris
Saint-Germain (França)
» Phillip
Cocu, holandês, PSV Eidhoven (Holanda)
Meus amigos,
tal coisa não caiu do céu: foi construída, ‘estrategizada’ e desenvolvida.
Quando o FC Porto se tornou campeão europeu pela primeira vez em 1984, com um
treinador de ‘ponta’, desenvolveu-se um movimento de ‘criação’ de treinadores
em terras Lusas. Uma nova escola de nível mundial surgiu sob o impulso da
Associação dos Treinadores. Nenhum outro país forjou treinadores tão
sistematicamente como Portugal nos últimos trinta anos, granjeando prestígio
por esse mundo fora.
Eu creio que
as conquistas dos treinadores portugueses nesta temporada são um exemplo de
nível mundial e um recorde que certamente nunca ocorreu antes. Mais a mais num
país de apenas 11 milhões de habitantes, sendo estrangeiros 1 milhão desses
habitantes.
O Sporting
tem a 2ª melhor Academia do mundo, atrás do Barcelona, tendo formado nas suas
fileiras todos os portugueses que conquistaram Bolas de Ouro (Eusébio, 1; Luís
Figo, 1; Cristiano Ronaldo, 3).
Portanto, se
com pouco se pode fazer muito, com muito também se poderá fazer muito,
certamente.
Se o nosso
Botafogo e a Seleção Brasileira querem erguer-se ao patamar mais lato, têm que
fazer por isso. Não podem contar com a ‘galinha dos ovos de ouro’, porque ‘ovos
de ouro’ não se põem, são construídos. Têm que criar escolas de treinadores,
têm que se virar novamente para a estruturação de ‘ninhos de craques’, têm que
profissionalizar os seus dirigentes, têm que formar os seus árbitros, têm que
estabelecer regras éticas e acabar de vez com os tapetões.
Mas tal como
a Conmebol não teve coragem de infligir pesadas punições ao Boca Juniors,
perdendo a oportunidade de dar um sinal de exemplo a seguir para o futuro,
também a confederação brasileira, as federações, as comissões de arbitragens e
os clubes não têm coragem de revolucionar o que está podre e impor novas regras
de ‘boa governança’.
Talvez
porque ‘ganhar sem fair-play é mais
saboroso’; talvez porque se pense que o futebol ainda vive da ‘malandragem’ dos
seus jogadores e não do treino afincado e permanente de atletas altamente
profissionais; talvez porque ainda haja a esperança vã de um novo Havelange a
mexer os ‘cordéis nos bastidores’.
O nosso
Botafogo de hoje parece ter uma diretoria que pensa em caminhar com muito maior
rigor, mas no passado recente o nosso Clube e a Seleção Brasileira são os
exemplos mais acabados do fracasso: o Clube, nas garras da 2ª divisão; a Seleção,
cilindrada por 7x1 pela Alemanha jogando a passo na 2ª parte.
Até quando o
futebol brasileiro continuará sem aprender com as melhores práticas
mundiais?...
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