por OSWALDO COIMBRA
Guarulhos.web 08.05.2015
Final dos anos 50. Uma década antes do
aparecimento da pílula anticoncepcional, as moças podiam abraçar rapazes
desconhecidos apenas quando se colavam aos corpos deles, num baile, para
dançar, conforme o costume daquela época. Nestas ocasiões, um ritmo musical
deixava os casais impregnados da máxima intimidade física consentida: o bolero.
Gênero de cadência lenta e letras insinuantes,
dançá-lo, quase sem sair do lugar, apenas fruindo as delícias de cheiros e
sensações provocados pela proximidade corporal da parceira, ativava a libido
dos rapazes, às vezes de modo inconveniente e embaraçoso. Notório mulherengo –
talvez o mais célebre da História do Futebol Brasileiro –, Garrincha dançava
bolero com a capacidade inventiva e o senso de liberdade com os quais se
portava nos campos de futebol. Uma habilidade do jogador que veio à tona
durante a excursão do Botafogo a El Salvador – contou o próprio treinador do
time, João Saldanha a Roberto Freire, jornalista da Realidade, numa entrevista
divulgada pela revista em março de 1968.
Na véspera do jogo o jogador desapareceu da
concentração, contou Saldanha. A caça a ele, nos lugares da cidade mais
frequentados pelas mulheres, foi feita pelo treinador e por Renato Estelita,
diretor do time. A certa altura eles leram num anúncio afixado a um muro: naquele
dia ocorria o “Gran Concurso de Bolero”. Os dois não tiveram dúvidas. Partiram
para o local do evento – uma boate.
Prossegue Saldanha: “Entramos no La Caverna.
Uma multidão se comprimia em torno da pista. Fumaceira dos diabos. A orquestra
atacava o maior bolero. E uma dançarina baixinha evoluía pela pista. Rebolava,
ia e vinha”. Do outro lado da pista, Saldanha viu Mané: “numa pose de toureiro,
atitude ereta, queixo levantado”. Ele era o partner
da baixinha. Batia palmas, fazia de conta que ia abraçá-la e a ela escorregava.
Quando voltava a rebolar sozinha a torcida vibrava. Renato Estelita ficou
furioso com a cena e avançou na direção de Garrincha: - “Dá o fora daqui seu
pilantra.” – Mané interrompeu sua dança e começou a rir sem parar.
No dia seguinte a dançarina ameaçou fazer
escândalo público caso não fosse recompensada pelo Botafogo. Queria os 20
dólares do prêmio oferecido pelo concurso. Foi quando o inacreditável
aconteceu: Mané, ferido no seu brio de dançarino, passou a fazer a mesma
exigência ao clube. Inutilmente, claro. Recebeu só gozações dos outros
jogadores.
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