E não se pode afirmar que era injusta, mesmo após o Botafogo
conquistar de maneira surpreendente o Campeonato Carioca de 1948, justamente
sobre o quase imbatível Vasco, que acabara de conquistar o título de Campeão
dos Campeões Sul-americanos em Santiago do Chile. Daí em diante, só o Botafogo
carregou esse fardo, repleto de fracassos e de ocorrências trágicas com
jogadores e ex-jogadores do clube, culminando com a necessidade de vender a sede
de General Severiano à Vale do Rio Doce, em 1973, para saldar dívidas quase
impagáveis com o INSS e o Imposto de Renda. Nunca, jamais, em tempo algum, um
clube grande do Rio havia perdido seu patrimônio imobiliário, sendo “exilado”
para o distante subúrbio de Marechal Hermes.
Mas mesmo antes dessa
inusitada transação – que demoliu o estádio e esteve prestes a derrubar a sede,
erguida em estilo mourisco –, uma sequência fatal com seus ex-jogadores começou
a ocorrer com o clube. Heleno de Freitas morreu louco num hospício em
Barbacena, aos 39 anos; Carlyle, ex-Fluminense, foi atropelado e morto na saída
do Mineirão; Chicão, lateral-esquerdo, foi assassinado a tiros num posto de
gasolina em Bonsucesso; Dirceu Guimarães, ex-Seleção Brasileira, morreu num
desastre de automóvel na Avenida das Américas; Garrincha despediu-se da vida aos
49 anos vítima de complicações com o alcoolismo; o jovem Clei, lateral que
começava a despontar, foi assassinado por traficantes; tudo isso sem contar as
mortes prematuras de Didi, Quarentinha, Édison Pinto de Assis, Bob, Orlando
Maia, Neivaldo Carvalho, Américo Pampolini e muitos outros.
Parecia maldição: vestia a
camisa alvinegra, ficava marcado para morrer. E a vocação para a tragédia era
coisa antiga. O glorioso zagueiro Dinorah Cândido de Assis, um dos campeões de
1910, suicidou-se em 1924 depois de ficar paraplégico em conseqüência de uma
bala alojada na espinha durante um duelo entre seu irmão, Dilermando, e o
escritor Euclides da Cunha. Para não citar o comandante Edu da Panair,
botafoguense e padrinho de Heleno de Freitas, que jogou seu avião Constellation
contra um morro em Porto Alegre em 1950, e o artilheiro Paulo Valentim, que se
casou com a prostituta Hilda Furacão, foi ídolo do Boca Juniors e acabou
enterrado como indigente no Cemitério de Chacaritas, em Buenos Aires.
ENTRE AS GLÓRIAS, IMPEDIU DUAS VEZES O TETRA DO MAIOR RIVAL, O FLAMENGO. Em campo, o Botafogo também sofreu – e sofreu muito. Ficou de 1935 a 1948 para conquistar um título carioca, justamente sobre o verdadeiro poderio que era o time do Vasco da Gama; aí, só foi ser novamente campeão em 1957, com a goleada de 6 a 2 sobre o Fluminense; e, depois do bicampeonato de 1967/68, conseguiu passar os 21 anos seguintes sem colocar a mão na taça. A sonhada vitória só viria em 1989 num jogo que entrou para a história do Campeonato Carioca, pois a decisão (1 a 0) foi contra o Flamengo, cuja poderosa equipe tinha Zico, Leonardo, Aílton e Alcindo. Isso para não falar nas arbitragens capciosas, como a de José Marçal Filho na decisão do título de 1971 diante do Fluminense, e a proteção dos árbitros no tricampeonato conquistado pelo Flamengo em 2007-2008-2009.
ENTRE AS GLÓRIAS, IMPEDIU DUAS VEZES O TETRA DO MAIOR RIVAL, O FLAMENGO. Em campo, o Botafogo também sofreu – e sofreu muito. Ficou de 1935 a 1948 para conquistar um título carioca, justamente sobre o verdadeiro poderio que era o time do Vasco da Gama; aí, só foi ser novamente campeão em 1957, com a goleada de 6 a 2 sobre o Fluminense; e, depois do bicampeonato de 1967/68, conseguiu passar os 21 anos seguintes sem colocar a mão na taça. A sonhada vitória só viria em 1989 num jogo que entrou para a história do Campeonato Carioca, pois a decisão (1 a 0) foi contra o Flamengo, cuja poderosa equipe tinha Zico, Leonardo, Aílton e Alcindo. Isso para não falar nas arbitragens capciosas, como a de José Marçal Filho na decisão do título de 1971 diante do Fluminense, e a proteção dos árbitros no tricampeonato conquistado pelo Flamengo em 2007-2008-2009.
Talvez por isso, o grande Mario Filho, ilustre flamenguista, escreveu: “Ser Botafogo é escolher um destino e dedicar-se a ele. Não se pode ser Botafogo como se é outro clube: você tem que ser de corpo e alma”. Já o gaúcho Luís Fernando Veríssimo costuma dizer que, “às vezes, torcemos pelo Botafogo apesar do Botafogo”. E Vinicius de Moraes perguntava: “O senhor sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? O senhor sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal? O senhor sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?”.
Mas, calma lá! O clube da
Estrela Solitária tem seus orgulhos. E se tem! Foi, por exemplo, o que mais
jogadores cedeu à Seleção Brasileira – Nílton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo
e Zagallo – no bicampeonato mundial, no Chile; foi apontado pela FIFA como um
dos 12 mais destacados clubes do século 20; detém o recorde de goleada numa
decisão de Campeonato Carioca (6 a 2 no Fluminense, em 1957); recuperou seu
patrimônio imobiliário de General Severiano; inspirou duas telenovelas na Rede
Globo (“Desejo” e “Hilda Furacão”); foi campeão da Conmebol, em 1993; e campeão
Brasileiro de 1995.
Infinitamente mais importante que tudo isso, foi o Botafogo que
impediu que seu mais temível adversário, o Flamengo, chegasse duas vezes ao
tetracampeonato, glória que só o alvinegro ostenta (1932-1933-1934-1935):
eliminou o rubro-negro em 1956, dando o título por antecipação ao Vasco da
Gama; e agora, em 2010 (100 anos depois de 1910, que é citado no hino do
clube), ao conquistar a Taça Guanabara e a Taça Rio, esta última justamente
sobre o rubro-negro, chamado pela imprensa de ‘Império do Amor’ – por causa da
dupla de ataque Adriano, o Imperador, e Vágner Love.
Como se vê, há coisas que
só acontecem mesmo ao Botafogo. Porque o clube tem algo que nenhum outro tem.
Ou nas palavras do iluminado tricolor Nelson Rodrigues, “o Botafogo é o clube
mais passional, mais siciliano, mais calabrês do futebol brasileiro”.
[Ressalva do Mundo
Botafogo: há fontes que asseguram que Mário Filho era fluminense e não
flamenguista, como alguns referem.]
1 comentário:
Eu já sabia…
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