domingo, 20 de janeiro de 2008

Neném Prancha, o 'filósofo' da bola


Antônio Franco de Oliveira nasceu a 16 de Junho de 1906 e faleceu a 16 de Janeiro de 1976, tendo sido conhecido por todos como Neném Prancha devido às suas mãos medirem 23 centímetros de comprimento e calçar sapatos número 44.

Foi torcedor incondicional do Botafogo de Futebol e Regatas desde o dia em que chegou a Copacabana, procedente de Resende, ganhando fama no extinto Posto Quatro Futebol Clube e no Carioca Esporte Clube. Verdadeiro mito e profundo conhecedor do futebol brasileiro, Neném Prancha foi 'roupeiro' do departamento de atletismo do Botafogo desde 1943 e trabalhou para a divisão juvenil de futebol.

Neném Prancha foi sempre uma figura misteriosa que nunca falava do seu passado e que, apesar de viver imenso tempo na praia, nunca o viram tomar banho de mar. Vivia num quarto na sede do Botafogo e tal como muitos outros funcionários, passou privações frequentes devido a salários em atraso. Porém, jamais pensou em abandonar o clube do seu coração e foi com muita dificuldade que acedeu a ser internado na casa de saúde onde viria a despedir-se do mundo. Neném Prancha também nunca pensou em casamento, quer por alegadamente ter dinheiro apenas para “manter o estômago em dia”, quer porque lia sempre nos jornais as notícias sobre brigas conjugais e dizia que “casamento é coisa muito séria para terminar nas manchetes de jornais”.

Ao longo de décadas Neném Prancha foi criador de imensas frases lapidares sobre o futebol. É possível que algumas fossem da autoria de João Saldanha, mas o próprio Saldanha parece que as assumia como se fossem do homem que, por essa razão, ficou conhecido como o 'filósofo da bola' Neném era adepto do futebol objectivo e sem floreados, afirmando que o “futebol é muito simples: quem tem a bola ataca, quem não tem defende…”. Por isso ele não gostava do drible e recomendava aos jogadores de área para “jogar a bola para cima, enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol.” Neném Prancha também não era adepto das concentrações e dizia que “se concentração ganhasse jogo, o clube do presídio não perdia uma partida”, tal como era inimigo de superstições porque acreditava realmente era no talento e, por isso, afirmava que “se macumba resolvesse, o campeonato baiano terminava sempre empatado”.

Neném lançou muitos jovens jogadores – entre os quais o famoso Heleno de Freitas – e sempre que deparava com um rapaz habilidoso aconselhava-o a que “jogador de futebol tem que ir na bola com a mesma disposição com que vai num prato de comida. Com fome, para estraçalhar.” Para os goleiros ele tinha também uma máxima: “O goleiro deve andar sempre com a bola, mesmo quando vai dormir. Se tiver mulher, dorme abraçado com as duas”. Esta frase está seguramente relacionada com outra em que afirma que “O Goleiro é uma posição tão amaldiçoada que onde ele pisa nem nasce grama…”.

Sobre bons jogadores o 'filósofo da bola' garantia que “jogador bom é que nem sorveteria: tem várias qualidades.” Um dos jogadores que mais admirou, considerando-o um dos maiores armadores de futebol do mundo, foi Didi, tendo dito que “O Didi joga bola como quem chupa laranja, com muito carinho”.

Neném era admirador do futebol clássico e por isso considerava que o “futebol moderno é que nem pelada; todo mundo corre e ninguém sabe para onde…”. Por isso é que defendia que “quem corre é a bola; senão, era só fazer um time de batedores de carteira…”.

A seriedade era uma das características fundamentais de Neném Prancha e quando foi jogador no futebol de praia, antes de ser treinador dos juvenis do Botafogo, o 'filósofo da bola' evitava bater penalties, porque “penalty é uma coisa tão importante, que quem devia bater é o presidente do clube”.

Às vezes as suas frases eram um pouco incompreensíveis, como a que afirma que “quem pede tem preferência, quem se desloca recebe…”. Mas quem tiver dúvidas sobre a perspicácia do 'filósofo', convém lembrar que, entre vários receios da altitude em que se realizava a Copa do Mundo de 1970, Neném Prancha previra a conquista definitiva da Taça Jules Rimet com o tricampeonato brasileiro de futebol: “Jogador brasileiro não vai ter problema no México, não; tudo já morou em favela e não pode se queixar de altitude…”

Fonte
Artigo publicado originalmente por Rui Moura no blogue História do Futebol: http://blog.soccerlogos.com.br/

Fontes principais do artigo original
Folha de S. Paulo, 17 de Janeiro de 1976.
Nunca houve um Homem como Heleno, de Marcos Eduardo Neves, Ediouro, 2006.

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