sábado, 18 de outubro de 2008

Botafogo: um clube de atletas-médicos

por Claudio Marinho Falcão
Escrito no Rio de Janeiro em setembro de 2008, especialmente para o Mundo Botafogo

O Mundo Botafogo associa-se ao Dia do Médico, que se comemora hoje, e publica informação sobre os seus atletas que, mais tarde, se tornaram médicos profissionais.

Na minha pesquisa encontrei cinco dos mais conhecidos jogadores de futebol que envergaram a camisa gloriosa do Botafogo, os quais, após encerrarem suas respectivas carreiras esportivas, dedicaram-se à profissão médica.

Somente um deles conheci pessoalmente, Carvalho Leite, e também somente um deles pude ver jogar, Afonsinho, craque que viveu com o clube da estrela solitária situações opostas de afinidade e de grande conflito, como está descrito mais adiante. Em homenagem a estes craques do futebol e da medicina, segue-se uma breve trajetória de cada uma das cinco personagens.

Carvalho Leite

Carlos Antônio Dobbert de Carvalho Leite, a ´maravilha da serra’, nasceu em Petrópolis (RJ) a 26 de maio de 1912, tendo falecido a 19 de julho de 2004, ou seja, pouco depois de completar 92 anos. Foi centro-avante do então Botafogo Football Club, para onde se transferiu em 1929, oriundo do Petropolitano F.C. Devido a ser craque e ser serrano, foi apelidado de ‘Maravilha da Serra’. Pelo Botafogo foi campeão carioca em 1930, 1932-1933-1934-1935 (tetra), sendo artilheiro máximo da competição nos anos de 1936 (FMD), 1938 e 1939. Pelo alvinegro carioca assinalou 261 gols em 303 partidas (média de 0,86). Abandonou a carreira em maio de 1941, por motivo de contusão, ainda com 29 anos de idade. Participou de duas copas do mundo (1930 e 1934) e de um campeonato sul-americano (1937) pela seleção brasileira. Durante muitos anos foi médico do clube, tendo sido o ‘doutor’ na conquista do campeonato carioca de 1957, assim como médico do antigo INAMPS. Conheci-o, já idoso, na sede do Mourisco Mar, nos anos 90 do século passado, quando o ex-jogador era um dos médicos responsáveis pelo exame que habilitava os associados a freqüentarem as piscinas do clube.

Nariz

Álvaro Lopes Cançado, o Nariz, nasceu em Uberaba (MG) a 8 de fevereiro de 1912, tendo se suicidado na mesma cidade a 19 de setembro de 1984, com 71 anos de idade. Zagueiro, transferiu-se do C. Atlético Mineiro em 1933 para o Fluminense F.C. e daí para o Botafogo em 1934, onde atuou até 1941. Foi campeão carioca pelo “Glorioso” em 1935. Competiu pela seleção brasileira no sul-americano de 1937 e na copa do mundo de 1938. Encerrada a carreira como atleta de futebol, especializou-se em ortopedia, tendo criado no Botafogo, em 1940, o primeiro departamento médico de um clube no Brasil. Em sua cidade natal foi um dos fundadores, em 1954, da faculdade de Medicina, sendo o seu primeiro professor. Deixou dois filhos, Vânia e Álvaro Filho, ambos médicos.

René

René Mendonça nasceu em São João Nepomuceno (MG) a 1 de janeiro de 1921, tendo sido atacante e tricampeão carioca de primeiros-quadros amadores pelo Botafogo (1942-1943-1944), figurando em 1945 entre os jogadores profissionais do clube na disputa do campeonato carioca. Diplomou-se em Medicina pela antiga Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, na turma de 1947. Foi médico do futebol do clube alvinegro (década de 50, do século passado) e, como exemplo, era ele quem cuidava da saúde dos atletas botafoguenses campeões invictos de aspirantes em 1958. Já falecido.

Tovar

Luiz Paulo Neves Tovar, habilidoso atacante, nasceu em Vitória (ES) em 19 de setembro de 1923 e, tal como René, foi tricampeão carioca de primeiros-quadros amadores (1942-1943-1944). Por diversas vezes integrou a equipe de jogadores profissionais do clube, porém sempre como atleta amador, já que nunca aceitou remuneração para defender o clube de sua paixão. Compôs, juntamente com o grande Heleno de Freitas, o grupo de atletas da seleção brasileira na disputa do campeonato sul-americano extra de 1945, em Santiago do Chile. Ainda em 1945, por proposta do então presidente Adhemar Bebiano, foi-lhe concedido, pelo conselho deliberativo do Botafogo, o título de benemérito. Sua formatura em Medicina deu-se em 1946. Especializado em Traumatologia e Ortopedia, foi membro da Sociedade Brasileira da especialidade (SBOT-RJ). Conceituado ortopedista, atuou nos hospitais Geral de Bonsucesso e dos Servidores do Estado (onde ingressou após ser aprovado em primeiro lugar no concurso de 1955), bem como no extinto Hospital da Cruz Vermelha Brasileira. Reside no Rio de Janeiro (informação colhida no dia de seu aniversário de 85 anos, 19 de setembro de 2008).

Afonsinho

Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho, é paulista da capital, onde nasceu a 3 de setembro de 1947, tendo chegado ao Botafogo em 1965, oriundo do XV de Novembro de Jaú (SP). Clássico jogador de meio-campo, compôs o setor, no “Glorioso”, ora com Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, ora com Nei Conceição, ambos atletas de rara habilidade. Teve uma carreira vitoriosa no alvinegro, conquistando os títulos de campeão carioca de aspirantes (1965), de juvenis, atuais juniores (1966), tendo participado das campanhas dos bicampeonatos da Taça Guanabara e carioca de profissionais (1967-1968) e erguido, como capitão da equipe, o troféu de campeão da extinta Taça Brasil (1968), decidida no ano seguinte. Tido como rebelde, por gostar de usar cabelos compridos e barba, entrou em litígio com seu técnico à época, Zagallo, e com a diretoria do clube, tendo conquistado na Justiça Desportiva o passe livre, quando, em 1971, transferiu-se para o Olaria A.C., que montava naquele ano um time que classificou-se em terceiro lugar no campeonato carioca. Defendeu ainda vários outros clubes, como o C.R. Vasco da Gama, o Santos F.C., o C.R. Flamengo e o Fluminense F.C. Biografado por Kleber Mazziero de Souza, na obra “Prezado Amigo Afonsinho” (Método Editora – 1998), por sinal a expressão do primeiro verso da música “Meio de Campo”, para ele composta por Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura (governo Lula). Diplomou-se em Medicina pela antiga Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, hoje Escola de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), tendo se especializado em Fisiatria.

5 comentários:

Anónimo disse...

Rui,
Por gentileza, o que fazer quando o próprio informou, em 2000, ter nascido em Niterói, em 26-05-1912, e que foi criado em Petrópolis?

Saudações Botafoguenses,
Pedro Varanda.

Ruy Moura disse...

Amigo Pedro, a data que eu tenho no artigo dedicado ao Carvalho Leite (etiqueta 'figuras') coincide com a sua, mas o Claudio Falcão suportou-se na entidade 'mais oficial' de todas: http://www.cbf.com.br/ca2/52j.html

É um sítio da CBF.

Quanto ao local, optou-se também pela CBF, mas veja esta entrevista do C. Leite à revista 'Botafogo' n. 226, de dezembro de 1976, à pág. 34: "Veio da serrana cidade de Petópolis, sua terra natal, onde jogava no Petropolitano, alvinegro daquela cidade". Assim disse Carvalho Leite: - Além de mim, vieram meu irmão Fernando, Canali e Ariel. O Fernando cedo abandonou a prática do futebol. Os outros dois continuaram no Botafogo".

A entrevista foi conduzida pelo Luiz Filipe, co-autor de livro com Braz Pepe, ambos sócios beneméritos do BFR.

Claro que C. Leite não diz explicitamente que nasceu em Petrópolis, mas sim que veio de lá.

Então, solicito ao Pedro que informe a fonte na qual o Carvalho Leite faz as declarações a que se refere (2000). Para que não restem dúvidas (há sempre imensas, como por exemplo as que se referem ao mané Garrincha).

Obrigado pela sua nota.

Saudações Gloriosas!

Anónimo disse...

Ele me informou em 2000. Nasceu 26-05-1912, em Niterói, criado em Petrópolis. Inclusive, solicito que entre em contato com o Departamento de Pessoal do nosso clube (BFR). E também sobre seu aniversário tem informação em 26-05-1931 no Jornal dos Sports.
Quanto a data de falecimnento foi divulgada pelo 'JS' em 20-07-2001.
Será que ele faleceu em maio?

Outro atleta: Não seria René Furtado de Mendonça?

Cuidado com os sítios

Data de nascimento e falecimento dos maiores artilheiros do Botafogo F. R.
1) Quarentinha – Waldir Cardoso Lebrego (15-09-1933 / 11-02-1996).
2) C. Leite – Carlos Antônio Dobbert de Carvalho Leite (26-05-1912 / 19-07-2004).
3) Garrincha – Manoel dos Santos (18-10-1933 / 20-01-1983).
4) Heleno – Heleno de Freitas (20-02-1920 / 08-11-1959).
5) Nilo Murtinho – Nilo Murtinho Braga (03-04-1903 / 05-02-1975).
6) Jairzinho – Jair Ventura Filho (25-12-1944).
7) Octávio Moraes – Octávio Sérgio da Costa Moraes (09-07-1923).
8) Túlio ‘Maravilha’ – Túlio Humberto Pereira Costa (02-06-1969).
9) Roberto Miranda – Roberto Lopes de Miranda (31-07-1943).
10) Dino – Dino da Costa (01-08-1931).
11) Amarildo – Amarildo Tavares da Silveira (29-07-1939).
12) Paulinho Valentim – Paulo Valentim (20-11-1932 / 09-07-1984).


Saudações Botafoguenses,
Pedro Varanda.

Anónimo disse...

Boa noite!

Nilo Murtinho Braga faleceu em 14-01-1975 de acordo com o JB do mesmo mês e não em fevereiro.

Carlos Antonio Dobbert de Carvalho Leite.

Nasceu em 26 de maio de 1912 – Niterói e batizado em 19 de julho de 1914 (o escrivão no batismo escreveu "Carlo", mas é Carlos mesmo.

Pai: Manuel Antonio de Carvalho Leite
Mãe: Helena Dobbert de Carvalho Leite.

Esposa Lygia Costa de Carvalho Leite faleceu em 22 de março de 1995

Não estou encontrando a certidão de óbito do Carvalho Leite, mas o jornal O Globo de 20 de julho de 2004 diz que “morreu ontem”.

Pesquisa de Eduardo Santos no Site Search Family confere com o q Carvalho Leite me disse.

Saudações Alvinegras
Pedro Varanda.

Ruy Moura disse...

Obrigado pela correção e informações complementares.
Abraços Gloriosos.

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