
por Gerson Soares
ESCORPIÃO OU LIBRA? NÃO IMPORTA. NA VERDADE, GARRINCHA NASCEU E VIVEU SOB O SIGNO DA MAGIA, COMO PELÉ E MARADONA.
Dos três, sem sombra de dúvida, Pelé, no exato limite entre os signos de libra e escorpião, é aquele que ainda carrega mais hereditariedade da possível determinação dos astros no dia de seu nascimento. Garrincha, por exemplo, teve poucos traços de escorpião. Se teve magnetismo, nunca se deu conta disso - ou não ligou para o detalhe. Foi perspicaz - sem dúvida - mas jamais teve liderança. Ao longo de sua carreira, no Botafogo e na Seleção Brasileira, não pretendeu liderar coisa alguma. Pelo contrário. Tinha tanta confiança em si próprio que costumava dormir durante as preleções dos treinadores. E mais: a maioria das vezes, sequer sabia o adversário que o Botafogo ou a Seleção Brasileira iria enfrentar. Seus marcadores, então, sempre foram "joões". Um fenômeno de desligamento do mundo.
A rigor, Garrincha foi um homem tão malandro e esperto - dentro de sua simplicidade - que, pode-se dizer, driblou até mesmo os astros que o fizeram nascer como teoricamente escorpião a 28 de outubro. Numa excursão do Botafogo à Europa, em 1955, sob o comando do disciplinador Zezé Moreyra, Manoel dos Santos - o nome simples e reduzido que consta de seu registro na América Fabril da Raiz da Serra - tomava cuba-libre nas barbas do severo treinador. Como? Simplesmente adicionando uma generosa dose de rum na garrafa de coca-cola que tomava uma atrás da outra no luxuoso convés do transatlântico Conte Grande, que trouxe a delegação alvi-negra do Velho Mundo. Em terra não foram poucas as vezes em que o compadre Nilton Santos foi obrigado a resgatá-lo - mais para lá do que pra cá - de suas tranqüilas pescarias em Pau Grande. Regadas a cachaça, naturalmente, com os amigos Suíngue e Pincel.
É preciso, entretanto, que se dê a Garrincha o gigantesco desconto das incorrigíveis deformações nos joelhos que provocaram artroses irreversíveis. Até completar 29 anos, em 1962, parecia indestrutível. Nada o detinha: as noitadas muitíssimo bem regadas a álcool, as infiltrações de cortisona e os pontapés dos adversários. A partir dos 30 anos, porém, o panorama mudou. Crédulo, Garrincha agarrou-se a rezadeiras e, pois, deixou-se operar dos meniscos, os únicos anteparos do atrito entre o fémur e a fíbula (a velha tíbia). Seu declínio, até o último ato, a 20 de janeiro de 1983, foi fulminante. Ele ainda esteve no Corinthians, na Seleção Brasileira, no Flamengo e no Olaria, entre outros times. Mas jamais foi o Garrincha de antes. A observação e a análise médica é do renomado médico reumatólogo Nelson Senise (1918-2001), que o examinou detidamente em 1962.
Mas sobre a data do nascimento de Garrincha paira gigantesca dúvida. Para seu biógrafo Rui Castro ("Estrela Solitária"), ele teria vindo ao mundo a 28 de outubro, sendo escorpião de carteira assinada. Mas para o jornalista Roberto Assaf - autor de quase uma dezena de livros sobre futebol - a data de nascimento de Garrincha seria, com certeza, 18 de outubro de 1933. Particularmente fico com o companheiro Roberto Assaf e Manoel Francisco dos Santos seria libriano - signo do equilíbrio, que, aliás, ele só tinha com a bola nos pés. Para mim, que assisti à primeira partida de Garrincha pelo Botafogo, em General Severiano, no time de aspirantes alvinegro que enfrentou o do São Cristóvão, em 1953, Garrincha é mesmo de 18 de outubro. E tenho uma história muito particular sobre isso, arrancada da memória e com auxilio de alguns compêndios futebolísticos.
Na tarde de um domingo, 18 de outubro de 1953, o Botafogo derrotou o Madureira por 3 a 1, em General Severiano, e eu, ainda garoto. Ao final da partida, entrei em campo em companhia de meu irmão Carlos Porto - mais menino ainda - para conseguir um autógrafo de Garrincha. Fui obrigado a esperar alguns minutos porque ele estava dando uma entrevista a um repórter de campo. E na entrevista, com palavras simples, disse que estava duplamente satisfeito: primeiro, com a vitória; segundo, porque era dia de seu aniversário. Para mim, não há qualquer dúvida. O curioso é que depois da espera ansiosa, Manoel Francisco dos Santos, completando 20 anos, assinou o papel que eu e meu irmão levamos. E escreveu, com garranchos, “Garrincha”. Era mesmo um libriano, conciliador e disposto a agradar as pessoas.
Só podia ter escrito certo em meu papelucho.
ESCORPIÃO OU LIBRA? NÃO IMPORTA. NA VERDADE, GARRINCHA NASCEU E VIVEU SOB O SIGNO DA MAGIA, COMO PELÉ E MARADONA.
Dos três, sem sombra de dúvida, Pelé, no exato limite entre os signos de libra e escorpião, é aquele que ainda carrega mais hereditariedade da possível determinação dos astros no dia de seu nascimento. Garrincha, por exemplo, teve poucos traços de escorpião. Se teve magnetismo, nunca se deu conta disso - ou não ligou para o detalhe. Foi perspicaz - sem dúvida - mas jamais teve liderança. Ao longo de sua carreira, no Botafogo e na Seleção Brasileira, não pretendeu liderar coisa alguma. Pelo contrário. Tinha tanta confiança em si próprio que costumava dormir durante as preleções dos treinadores. E mais: a maioria das vezes, sequer sabia o adversário que o Botafogo ou a Seleção Brasileira iria enfrentar. Seus marcadores, então, sempre foram "joões". Um fenômeno de desligamento do mundo.
A rigor, Garrincha foi um homem tão malandro e esperto - dentro de sua simplicidade - que, pode-se dizer, driblou até mesmo os astros que o fizeram nascer como teoricamente escorpião a 28 de outubro. Numa excursão do Botafogo à Europa, em 1955, sob o comando do disciplinador Zezé Moreyra, Manoel dos Santos - o nome simples e reduzido que consta de seu registro na América Fabril da Raiz da Serra - tomava cuba-libre nas barbas do severo treinador. Como? Simplesmente adicionando uma generosa dose de rum na garrafa de coca-cola que tomava uma atrás da outra no luxuoso convés do transatlântico Conte Grande, que trouxe a delegação alvi-negra do Velho Mundo. Em terra não foram poucas as vezes em que o compadre Nilton Santos foi obrigado a resgatá-lo - mais para lá do que pra cá - de suas tranqüilas pescarias em Pau Grande. Regadas a cachaça, naturalmente, com os amigos Suíngue e Pincel.
É preciso, entretanto, que se dê a Garrincha o gigantesco desconto das incorrigíveis deformações nos joelhos que provocaram artroses irreversíveis. Até completar 29 anos, em 1962, parecia indestrutível. Nada o detinha: as noitadas muitíssimo bem regadas a álcool, as infiltrações de cortisona e os pontapés dos adversários. A partir dos 30 anos, porém, o panorama mudou. Crédulo, Garrincha agarrou-se a rezadeiras e, pois, deixou-se operar dos meniscos, os únicos anteparos do atrito entre o fémur e a fíbula (a velha tíbia). Seu declínio, até o último ato, a 20 de janeiro de 1983, foi fulminante. Ele ainda esteve no Corinthians, na Seleção Brasileira, no Flamengo e no Olaria, entre outros times. Mas jamais foi o Garrincha de antes. A observação e a análise médica é do renomado médico reumatólogo Nelson Senise (1918-2001), que o examinou detidamente em 1962.
Mas sobre a data do nascimento de Garrincha paira gigantesca dúvida. Para seu biógrafo Rui Castro ("Estrela Solitária"), ele teria vindo ao mundo a 28 de outubro, sendo escorpião de carteira assinada. Mas para o jornalista Roberto Assaf - autor de quase uma dezena de livros sobre futebol - a data de nascimento de Garrincha seria, com certeza, 18 de outubro de 1933. Particularmente fico com o companheiro Roberto Assaf e Manoel Francisco dos Santos seria libriano - signo do equilíbrio, que, aliás, ele só tinha com a bola nos pés. Para mim, que assisti à primeira partida de Garrincha pelo Botafogo, em General Severiano, no time de aspirantes alvinegro que enfrentou o do São Cristóvão, em 1953, Garrincha é mesmo de 18 de outubro. E tenho uma história muito particular sobre isso, arrancada da memória e com auxilio de alguns compêndios futebolísticos.
Na tarde de um domingo, 18 de outubro de 1953, o Botafogo derrotou o Madureira por 3 a 1, em General Severiano, e eu, ainda garoto. Ao final da partida, entrei em campo em companhia de meu irmão Carlos Porto - mais menino ainda - para conseguir um autógrafo de Garrincha. Fui obrigado a esperar alguns minutos porque ele estava dando uma entrevista a um repórter de campo. E na entrevista, com palavras simples, disse que estava duplamente satisfeito: primeiro, com a vitória; segundo, porque era dia de seu aniversário. Para mim, não há qualquer dúvida. O curioso é que depois da espera ansiosa, Manoel Francisco dos Santos, completando 20 anos, assinou o papel que eu e meu irmão levamos. E escreveu, com garranchos, “Garrincha”. Era mesmo um libriano, conciliador e disposto a agradar as pessoas.
Só podia ter escrito certo em meu papelucho.
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12 comentários:
Rui, ótimo texto!!! É um dia importante, para nós botafoguenses, não podemos deixar que essas memórias se percam!!! Mesmo não tendo visto ele jogar, tentei escrever um pouco sobre ele!!!
Abs!
blogdojoaoninguem.blogspot.com
Infelizmente não vi o Garrincha jogar, mas vendo jogos do Brasil nas Copas do Mundo, realmente ele era um jogador habilidoso e dizem até que poderia ter sido o melhor jogador do Brasil e do Mundo.
Podemos trocar links sim Rui, já adicionei o seu, se quiser adiciona o meu...galoparasempre.blogspot.com
abraço
Essa homenagem é muito justa. O Garrincha é o nosso eterno ídolo e pra mim, é o maior jogador de todos os tempos. É claro que eu não vi jogar, mas pelas imagens, vídeos que presenciei, comprova isso que eu falei.
Rui, seu blog já está adicionado na lista de links do Jogo Duro.
Obrigado.
quero ver esse dançarino ae fazer o que ele fez, só que com a bola no pé... concerteza teria escorregado e caído diversas vezes, seria 10 vezes mais difícil!!!
Rui, você não acha que o Botafogo deveria ter homenageado o Didi também, já que ele faria 80 anos a alguns dias???
Olá, Bruno. Já somos parceiros. Que bom!
Eu vi o Garrincha jogar. E o Pelé. E o Maradona. Não tenha dúvida nenhuma que os três foram fantásticos, mas Pelé era marcável, Maradona era marcável e Garrincha era imarcável! Veja o depoimento do Gerson Canhotinha de Ouro quando o marcou num BotafogoxFlamengo. (youtube) O Garrincha passou no único palmo de terra entre o Gerson e a linha de fundo. Passou ele, passou a bola e fez gol. Não havia nenhum Pelé que fizesse isso, nem nenhum Maradona. Não sei se foi o melhor do mundo (para mim foi), mas certamente foi o único jogador do mundo imarcável! Ele era a pura alegria de jogar futebol! Chegava a driblar o goleiro e voltar para trás em vez de fazer gol para poder pôr a bola debaixo das pernas do goleiro á 2ª vez. Delirava como uma criança quando fazia isso.
Saudações esportivas!
Saulo, ninguém em todo o mundo foi ver jogos do clube adversário para poder ver um jogador adversário a jogar. Pois muitos flamengos, fluminenses e vascos - só para falar do Rio - pagaram bilhete só para o ver jogar - era realmente a ALEGRIA DO POVO!!!
Saudações Gloriosas!
Arthur, eu também já o adicionara. Somos parceiros!
Saudações esportivas!
Vinícius, completamente de acordo. Penso que Didi, Garrincha e Nilton Santos são de nível muito semelhante. Acrescentava o Heleno e o Nilo (ambos devido ao que li sobre eles) e temos aí o quinteto mais fabuloso do Botafogo.
Acontece que o Garrincha tinha muuito bom feitio, entrou para o BFR no início da carreira e saíu no fim. Foi essencialmente um botafoguense (creio que torceu pelo flamengo, mas deixou de o fazer, como se pode notar nas suas declarações no jogo de agradecimento). Com o Didi não foi assim.
O Didi tinha mau feitio, era jogador e torcedor do Fluminense, pediu para sair do BFR para Espanha, fracassou, voltou, pediu para sair em 1965 para o Sporting de Cristal. Não tinha a mesma alma botafoguense, e os homens, os grupos, os partidos políticos e os clubes dão valor a alguém que esteve sempre do mesmo lado da barricada.
Por isso, Nilton e Garrincha estarão sempre acima de Didi. Ambos fizeram toda a carreira no BFR (o Garrincha quando saiu já não era o velho Garrincha, mas um jogador em fim de carreira) e Didi não começou nem acabou no BFR.
Mas acrescento que isto nunca foi escrito em lado nenhum, trata-se da minha interpretação pessoal.
Saudações Gloriosas!
Ruy, você vai amanhã ao GP de Estoril?
Não, Miguel. Terei que sair para fora de Lisboa durante a semana e no outro fim da semana viajo para Moçambique. Está apertado o trabalho...
Saudações Esportivas
Garrincha Fantastico!
Tranquilamente foi aquele que mais se aproximou de Pelé na qualidade futebolistica. Um bom exmeplo de jogador do futebol romantico.
Ótima lembrança e que o Mané permaneça eternamente não só na cabeça dos botafoguenses, mas de todos aqueles que gostam de um bom futebol.
Abs amigo Rui....
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