quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A paixão botafoguense


O início do futebol carioca foi praticado pela ‘fina flor’ da sociedade e encarado como um duelo entre cavalheiros, segundo regras de cordialidade e fidalguia.

No entanto, a torcida de um clube fundado em 1904 por garotos de 15 anos transformou o que supostamente seria coisa de ‘gente fina’ em palco de emoções profundas. Em 1907, os doutos apreciadores do futebol de elite estavam preocupadíssimos com o “comportamento inadequado” da torcida do Botafogo, a qual torcia ‘exageradamente’, segundo os jornais da época.

A edição de 4 de Junho de 1907 do 'Correio da Manhã' referia que os dirigentes do Fluminense fizeram uma repreensão por escrito ao comportamento dos botafoguenses por estes introduzirem, segundo os ‘aristocratas tricolores’, a "condenável prática de vaiar jogadores e juízes". Indignados, os dirigentes pó de arroz lamentavam que durante uma partida um jogador "teria mesmo agredido o juiz, sob a ovação geral dos sócios do Botafogo".

A edição de 18 de Junho de 1907 do mesmo jornal relatava que, num jogo do Carioca Football Club, a primeira equipa infantil do Rio de Janeiro, apadrinhada pelo Botafogo, os sócios apresentavam fitas pretas e brancas nos chapéus e "torciam de maneira ostensiva e exagerada pelo time protegido, vaiando os adversários mesmo quando esses estavam machucados e invadindo o campo para comemorar os feitos do Carioca", manifestando um comportamento inédito nos gramados brasileiros.

O 'Correio' recusou-se a acreditar que assim fosse, "tal o elevado conceito em que é tido este simpático club", mas foram os próprios botafoguenses que assumiram tal comportamento, o qual atribuíram ao entusiasmo pelo clube.

A Gazeta de Notícias também repudiou os comportamentos dos torcedores do Botafogo, os quais colidiam com o club chic por excelência, que era o Fluminense. Consta que os botafoguenses chegaram a “apupar senhoritas presentes aos estádios”, que, chocadas com a algazarra, abanavam-se sem parar, abrindo os seus leques franceses e ameaçando toda sorte de desmaios e ‘faniquitos’ contra os deselegantes botafoguenses.

Portanto, desde o início, o Botafogo apresentou uma surpreendente passionalidade para a época, inaugurando uma relação especial entre jogadores, torcedores e o próprio clube.

Foi nesse mesmo ano de 1907 que o Botafogo chegou ao 1º título carioca, apesar de os ‘chiquérrimos’ pós de arroz terem torpedeado a verdade desportiva.

Sendo certo que Flamengo e Vasco da Gama ainda não possuíam equipas de futebol, terá sido o Botafogo, entre os leques das escandalizadas senhoritas tricolores e os assobios de torcedores entusiasmados, que inaugurou a fervorosa paixão futebolística que ainda hoje toma conta de uma parte muito significativa de cariocas.

Texto e pesquisa de Rui Moura (Mundo Botafogo)
Fontes: Jornais de 1907

4 comentários:

Gil disse...

Rui,
Mais um post que vai para meus arquivos!
Como é bom e diferente ser Botafoguense!
Por essas e outras que somos preteridos!

Abs e Sds, BOTAFOGUENSES!!!

Ruy Moura disse...

Pois é, Gil. Parece que tudo o que é interessante no futebol começou com o BFR, ou com atletas do BFR. O fair-play, o olé, a folha sêca, a torcida que vaiaou pela primeira vez, etc. Acho que só faltou o gol de bicicleta inventado pelo Leônidas, e que não foi durante a sua passagem pelo BFR.

Abraços Gloriosos!

Fernando Lôpo disse...

Excelente.

Álan leite disse...

Rui,

Para variar, sensacional.

Linkei lá no FOGOBLOG, toda nossa torcida merece saber, e até desconfiar que essa paixão partiu de nós.

Aproveita e dá uma passadinha por lá, tem uma matéria sobre a preferência de alguns de nossos atletas.

Grande abraço,
SAN!!!!!

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