Finalmente encontrei um sujeito
muitíssimo aproximado do que eu entendo que no futebol deveria ser o comportamento
dos jogadores, dos treinadores e dos dirigentes do Botafogo.
Tenho ouvido os maiores disparates e
tenho assistido a comportamentos e a decisões absolutamente inacreditáveis
dentro do Botafogo. Em boa verdade, não consegui encontrar, neste século,
nenhum dirigente, nenhum treinador e nenhum atleta que eu pudesse eleger como
uma pessoa completa [que me lembre, o último protagonista do Botafogo que se
diferenciou ‘pessoalmente’ da mediocridade geral foi Paulo Autuori em 1995].
Assisti a dirigentes a detonar o time de
futebol e a tomar decisões absurdas, a diretores de futebol a efetuarem
contratações irresponsáveis e prejudiciais ao clube, a treinadores troca-tintas
e fazedores de panelinhas nos bastidores, a atletas indisciplinados e
funcionalmente analfabetos, a perdões absurdos a atletas altamente faltosos aos
seus compromissos, entre outras diatribes a que infelizmente assisti no meu
Botafogo de Heleno de Freitas, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Paulo César
Cajú, Carlito Rocha, Paulo Antônio Azeredo, Adhemar Bebiano, João Saldanha,
etc.
Salvou-se, em certa parte, Loco Abreu com
as suas magníficas respostas e provocações à mídia carioca e brasileira meio
analfabeta e merecedora do tratamento que El Loco lhes deu, mas quem me está
realmente a ‘encher as medidas’ – espero não ter que me retratar no futuro – é
Seedorf, que respira uma cultura futebolística moderna de elevadíssimo nível,
contrariando a mediocridade da verborreia corrente do futebol brasileiro.
Transcrevo a notícia que li:
“Com profissionalismo, atitude e
educação, Seedorf está mexendo com o dia a dia do futebol do Botafogo.
Recentemente, ao chegar no Engenhão para um jogo, o meia não gostou de ver os
uniformes atirados dentro dos armários dos atletas. Chamou os roupeiros e
explicou que a camisa é um símbolo do clube, precisa ser tratada com carinho e
esmero. Desde então, os jogadores passaram a encontrar os uniformes sempre
pendurados em cabides nos dias de jogos.
Seedorf não descuida também dos companheiros.
Noutro dia, percebeu que o zagueiro Brinner, de 25 anos, não estava se
empenhando num treino e não perdoou: "Você é um garoto, pode dar
mais". Os jogadores já estão se acostumando. Um deles disse que, após os
dois gols marcados contra o Corinthians, Seedorf ficaria ainda mais exigente.
"Vamos ter que aguentar o negão", brincou.
Até os dirigentes precisaram mudar seus
hábitos. Recentemente um deles foi ao vestiário, aos gritos, cobrar mais
empenho dos jogadores. Educadamente, o holandês disse que o vestiário não era
local para esse tipo de cobrança e pediu que o cartola saísse, o que de fato
aconteceu. Os jogadores adoraram.”
OBRIGADÃO, SEEDORF!
Fonte:
Coluna Panorama Esportivo – O Globo
4 comentários:
Rui,
Além dessas notícias li algumas outras nesse mesmo nível do Seedorf. Alguns jornalistas, diaristas no clube, afirmam que ele está mudando muitas coisas no Botafogo com suas atitudes, indicações e comentários.
Os profissionais e funcionários do clube o adoram e respeitam pela educação, carisma e humildade.
Os profissionais dizem que quando marcam alguma atividade chegam mais cedo, pois o Seedorf sempre chega meia hora antes do marcado.
Sabes que sou a emoção em pessoa e cada vez que leio notícias como essas, os olhos marejam e o corpo arrepia.
Que o Seedorf consiga grandes mudanças no nosso amado Botafogo!
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Gil, não me emociono exteriormente como tu porque aprendi a controlar as emoções e foquei-me na racionalidade por razões diversas da minha vida pessoal e profissional. Deve ser visível, contudo, que sou um sujeito muito emocionalmente controlado; ou racionalmente muito emocionado, talvez.
Portanto, valorizo tanto as emoções como a razão. Porém, esta última tem que ser predominante no trabalho quando se prepara a ação, seja num escritório, numa universidade, numa fábrica ou num campo de treino futebolístico. Então, não alinho com a maioria do pensamento e dos sentimentos dos torcedores de futebol que usam pouco a razão e da boca saem muitos disparates.
Isto para dizer que as emoções baratas que vejo na mídia, nos torcedores de futebol, nos dirigentes, nos treinadores, nos atletas e até em juízes do tribunal desportivo que deviam ser a racionalidade em pessoa, valem zero para mim, dispenso-as e rejeito-as com toda as forças das minhas emoções secundárias e da minha razão mais pura.
Um time vencedor no futebol faz-se com a razão. A emoção serve sobretudo para acrescentar à razão de um futebol bem jogado, um futebol emocionante. O Seedorf está provando que a razão é uma poderosa arma que é muito mais eficaz do que os perdões da torcida, dos treinadores ou dos dirigentes feitos ao Zé Roberto, ao Dodô, ao Jobson; ou o regresso absurdo de Cuca 9 dias depois de se demitir; ou as detonações medíocres de C.A. Montenegro ao time do Botafogo; ou as zanguinhas públicas de Anderson Barros; ou os chororôs de André Silva; ou as expressões orais melodramáticas de Maurício Assumpção; ou as arrogâncias do Sargento Zero-Zero, etc. etc. etc.
Um time de futebol tem que ser gerido profissionalmente, sem cedências a conduzir-se à imagem da mesquinhez que diariamente se lê/ouve/vê na SporTV, na rádio Globo, no Globoesporte, na Lancenet, na Marca BR, no Extra, no Meia Hora, e nos respetivos comentários que os torcedores tecem.
Nisto tudo só há uma única coisa que me dói verdadeiramente: é que uma parte significativa da atual torcida botafoguense também não usa a razão. E não compensa esse 'não uso' da razão com emoções sérias e sinceras como as tuas. E o resultado é que se defendem coisas absurdas.
O meu menor envolvimento nos comentários ao futebol relaciona-se com isso: não tenho paciência para, jogo após jogo, semana após semana, escrever as mesmas coisas, comentar os mesmos erros, debater as mesmas soluções já conhecidas, suportar as mesmas babosices de dirigentes, treinadores e atletas (isso diminui as pessoas e acaba por fazer definhar o nosso nível de qualidade, e eu não tenho nada a ver como a 'mesmice') num clube que seguramente me fez escolhê-lo pelo nível intelectual e prestígio social que tinha na década de 1960.
Hoje não é mais do que um clube mediano a caminhar para clube pequeno - a não ser que um qualquer dirigente à estilo Seedorf tome conta do clube e espante todas estes disparates que ouço diariamente vindos de General Severiano. E não será concerteza nem A.C. mantuano nem André Silva, os tais que aspiram a 'presidente'. Serão piores do que Maurício Assumpção.
Abraços Gloriosos.
Rui,
Li reportagem, hoje, no Vestiário Alvinegro dizendo que alguns dirigentes e sócios já pensam na indicação do Seedorf para algum cargo ao final do seu contrato, tamanha mudanças provocada em General Severiano.
Abs e Sds, Botafoguenses!!!
Ainda é cedo para se avaliar isso, em minha opinião. Mas se houver evolução adequada com o Seedorf, então seria uma coisa interessante a pensar, porque ele poderia introduzir uma cultura mais europeia na gestão de clubes no Brasil. O Brasil só voltará a ter verdadeiro prestígio internacional se mudar a gestão, e essa mudança terá que acompanhar os modelos americanos ou europeus de gestão esportiva. No caso, seria o modelo europeu. Se isso ocorresse no Botafogo teríamos um pé à frente de todos os outros clubes.
Abraços Gloriosos.
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