Antonio Maria Filho
13 de novembro de 2005
http://oglobo.globo.com
Ulf Lindberg, de 46 anos, o filho sueco de Garrincha, emocionou-se
ao visitar o túmulo do pai, no Cemitério de Raiz da Serra, em Pau Grande,
distrito de Magé. Sempre acompanhado do filho Martin, era visível o seu
sofrimento. Porém, ao chegar ao modesto Estádio Mané Garrincha e se encontrar
com quase todas as irmãs e parentes brasileiros, sua fisionomia mudou. E o
ânimo também.
Ele e as irmãs não conseguiam parar de se abraçar. E o que mais
chamava a atenção dos filhos de Garrincha — de Ulf, inclusive — eram os narizes
batatudos da família, que os deixavam parecidos com o famoso pai.
— “Vejo o meu nariz no rosto delas” — afirmou Ulf em inglês.
Márcia não resistiu: apertou o nariz do irmão sueco com tanta
força que o levou a fazer careta.
— “Fiz plástica, mas ainda assim o dele é igualzinho ao meu” —
comentou Márcia, apontando para o de Martin, o sobrinho sueco, de 16 anos, que
acabara de conhecer.
Ulf se sentia à vontade e confortável ao receber o carinho das
irmãs Cintia, Rosangela, Juraciara, Marinete, Márcia, Terezinha e Cecília.
Denise, que reside no distrito de Fragoso (Magé), foi a única que não apareceu.
— “Abraçar irmão é diferente. Existe mais afeto. E elas são minhas
irmãs.”
A pequena cidade parou para recepcioná-lo. Quando se preparava
para entrar no Mané Garrincha, onde disputaria uma pelada contra um time de
veteranos de Vila São João, de Duque de Caxias, ficou curioso para saber o que
estava escrito numa faixa.
O sueco Frederick Ekelund, que fala português e comandava o grupo
de visitantes, fez a tradução:
— Ela diz: “Ulf Lindberg, seja bem- vindo. Sinta-se em casa.
Saudações.”
Aquela localidade tão distante de uma grande cidade, mas um
recanto tão humilde quanto acolhedor, mexeu com o coração do filho de
Garrincha.
— “Descobrir irmãos num país tão distante provoca grande
ansiedade. E chegou esse dia tão especial” — disse Ulf.
Mas não eram apenas os parentes que o assediavam. Boa parte da
população daquele distrito queria saudá-lo e tirar fotos ao seu lado. Ulf, uma pessoa
simples, que sequer conheceu os pais (gerado do romance entre Garrincha e sua
mãe em 1959, ele foi criado por pais adotivos), atendia a todos.
Martin, o neto de Garrincha, também mereceu o carinho dos parentes
brasileiros. Eram tias, primas, primos e avós emprestadas querendo abraçá- lo,
passar a mão em seu cabelo.
E na pelada, vencida pelos veteranos de Caxias por 4 a 3, o
destaque acabou sendo o jovem Martin: ele, como apoiador, marcou dois gols e
distribuiu as jogadas exibindo estilo refinado. Com problemas no joelho, Ulf
atuou como goleiro e todos os gols sofridos foram por cobertura. Pelo que se
viu, do pai ele herdou a simpatia, o nariz batatudo e as pernas tortas.
3 comentários:
Impressionante está matéria de um filho em busca do pai biológico e sem frescuras abracando a todos!
Encontros da vida, Genaldo... Muito bonito!
Abraços Gloriosos.
Maravilhoso ! Providęncia Divina !
Enviar um comentário