sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Estudo exaustivo sobre a unificação dos títulos nacionais de futebol (III)

por LUIZ GUSTAVO MEDEIROS DE LIMA
Graduado em Ciência Sociais e cursando atualmente mestrado em Literatura, carioca, botafoguense, leitor assíduo do blogue

Outro clube que evidentemente dispensa comentários é o Santos. O esquadrão de Pelé, Zito e Pepe era soberano no seu estado na década de 1960 e venceu o Rio-São Paulo de 1963, 1964 (ex aequo com Botafogo) e 1966 (ex aequo com Botafogo, Corinthians e Vasco). O Torneio Rio-São Paulo viu em 1961 uma das maiores equipes do Flamengo de todos os tempos vencer. O time tinha Dida e Joel como destaques e revelou o talento daquele que viria a ser um dos maiores meio-campistas da história da Seleção Brasileira e do futebol mundial: Gérson. O Rio-São Paulo também coroou o grande Palmeiras de 1965, que tinha Servílio, Dudu, Djalma Santos e Ademir da Guia e que foi campeão com uma campanha praticamente perfeita, aplicando goleadas em grandes times e colocando o clube alviverde como uma das maiores potências da década. O Robertão confirmaria a espantosa qualidade daquele elenco Palmeirense. Corinthians e Vasco ganharam o Rio-São Paulo de 1966 em um final de campeonato confuso em que os clubes, desfalcados de seus jogadores convocados para a seleção, optaram por não jogar o quadrangular final fazendo com que os quatro clubes, que tinham a mesma quantidade de pontos, fossem considerados campeões. O Corinthians de 1966 tinha Garrincha, Rivelino e Dino Sani e o Vasco tinha Fontana e Brito. Todos eles campeões do mundo. É claro que não se pode ignorar o Cruzeiro de Tostão, Dirceu e Piazza, que venceu a Taça Brasil de 1966 esmagando o Santos e foi pentacampeão mineiro consecutivamente. Foi a partir do massacre cruzeirense em cima do Santos do Pelé que as federações paulista e carioca em parceria com a CBD resolveram, de forma justa, colocar clubes de outros estados no torneio, gerando assim o Robertão ou Taça de Prata.

Destaco, ainda, a infelicidade de não haver, na década de 1940, torneios regulares e bem organizados que pudessem fazer justiça ao futebol daquela época. Infelizmente o Rolo Compressor do São Paulo e o Expresso da Vitória do Vasco, que foram a base da seleção de 1950, não podem ser considerados campeões nacionais em virtude de não haver naquela época um grande torneio, com regularidade, que reunisse os maiores clubes do país, embora poucas vezes um clube tenha sido tão hegemônico em seus estados como esses dois times foram. O Vasco ganhou quatro cariocas naquela década, enquanto o São Paulo venceu por cinco vezes o Paulista. Os dois clubes também tiveram dois dos maiores jogadores do futebol brasileiro do período anterior aos títulos mundiais conquistados por Pelé, Garrincha e companhia: Ademir Menezes e Leônidas da Silva.

É claro que os torcedores de Santos e Palmeiras não podem reclamar da unificação acatada pela CBF, pois foram os clubes mais contemplados. Santos foi pentacampeão da Taça Brasil, além de ter vencido uma Taça de Prata, e foi beneficiado com mais seis títulos de campeão Brasileiro. O Palmeiras foi bi-campeão da Taça Brasil e bi-campeão da Taça de Prata, ganhando quatro novos títulos. Torcedores de Bahia e Cruzeiro devem ter ficado em êxtase com a decisão da CBF, pois foram considerados o melhor time do Brasil por outro ano.

Entretanto, compreendo que a decisão da CBF não traduz a realidade do futebol brasileiro dos anos contemplados. Efetivamente, não revela a importância dos jogadores e clubes daquela época de forma justa. Gostaria de ver uma revogação dessa decisão e acredito que a melhor e mais justa maneira de unificar os títulos de campeão Brasileiro e honrar o futebol brasileiro evidenciando com justiça a qualidade de esquadrões inesquecíveis de tempos atrás, é interpretar que o Torneio Rio-São Paulo ou o Roberto Gomes Pedrosa foi o embrião do atual Campeonato Brasileiro, pois o Robertão realizado entre 1967 e 1970 nada mais é do que uma ampliação do Rio-São Paulo e o atual mais importante campeonato nacional é justamente a consolidação do Robertão e que, isto posto, deve ser apreciado como o primeiro Campeonato Brasileiro, haja vista que definiam de forma justa o melhor time do país.

Quanto à Taça Brasil, acredito que deva ser qualificada como Copa do Brasil, pois os dois possuem o mesmo formato e a peculiaridade de permitir que um clube desconhecido possa conquistar um título nacional. A Taça Brasil não define a melhor equipe, pois seu formato de mata-mata restringe os duelos fazendo com que um clube possa vencer o torneio disputando apenas contra clubes de qualidade extremamente inferior. Outra observação a respeito da Taça Brasil é o dela colocar os clubes paulistas e cariocas diretamente na fase final, enquanto clubes de outros estados tinham que realizar mais partidas. É curioso que muitos dos que criticam a hipótese de se considerar o Rio-São Paulo como Brasileiro afirmam que um torneio entre equipes de apenas dois estados não pode ser considerado de âmbito nacional. Mas, veja-se bem, a Taça Brasil também privilegiava enormemente os clubes paulistas e cariocas, colocando-os a dois duelos do título. Podemos usar novamente como exemplo o Campeonato Argentino. Em um determinado período do futebol argentino, havia torneios disputados apenas por clubes de Buenos Aires. Estes torneios eram de grande importância justamente pelo fato de Buenos Aires concentrar os melhores clubes da Argentina. Pouco depois a AFA resolveu incluir clubes do interior do país de modo a federalizar a competição, dando origem ao Campeonato Argentino como conhecemos hoje.  Contudo, estes torneios metropolitanos foram unificados pela AFA e são considerados como Campeonato Argentino.

Acredito que o combustível para que a CBF venha a fazer esta unificação é o desejo de atribuir uma importância maior ao futebol de clubes ocorrido durante o período mais importante do futebol Brasileiro e para que, se o fizer, o faça da forma mais justa. O futebol brasileiro está tão maculado de desonestidade que uma decisão dessas não pode ser feita sem uma análise profunda que procure uma resolução digna.

A lista dos campeões Brasileiros e da Copa do Brasil, segundo a minha sugestão de unificação, ordenada pela quantidade de títulos por clube, assumiria a seguinte forma:

Campeonato Brasileiro

» Corinthians – 10 títulos – 1950, 1953, 1954, 1966, 1990, 1998, 1999, 2005, 2011, 2015
» Palmeiras – 9 títulos – 1951, 1965, 1967, 1969, 1972, 1973, 1993, 1994, 2016
» Santos – 7 títulos – 1959, 1963, 1964, 1966, 1968, 2002, 2004
» Flamengo – 6 títulos – 1961, 1980, 1982, 1983, 1992, 2009
» Fluminense – 6 títulos – 1957, 1960, 1970, 1984, 2010, 2012
» São Paulo – 6 títulos – 1977, 1986, 1991, 2006, 2007, 2008
» Vasco da Gama – 6 títulos – 1958, 1966, 1974, 1989, 1997, 2000
» Botafogo – 4 títulos – 1962, 1964, 1966, 1995
» Cruzeiro – 3 títulos – 2003, 2013, 2014
» Internacional – 3 títulos – 1975, 1976, 1979
» Grêmio – 2 títulos – 1981, 1996
» Portuguesa – 2 títulos – 1952, 1955
» Atlético Mineiro – 1 título – 1971
» Atlético Paranaense – 1 título – 2001
» Bahia – 1 título – 1988
» Coritiba – 1 título – 1985
» Sport – 1 título – 1987

Copa do Brasil

» Palmeiras – 6 títulos – 1960, 1967, 1998, 2000, 2012, 2015
» Santos – 6 títulos – 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 2010
» Cruzeiro – 5 títulos – 1966, 1993, 1996, 2000, 2003
» Grêmio – 5 títulos – 1989, 1994, 1997, 2001, 2016
» Flamengo – 4 títulos – 1990, 2001, 2006, 2013
» Atlético Mineiro – 3 títulos – 1937, 1978, 2014
» Corinthians – 3 títulos – 1995, 2002, 2009
» Botafogo – 2 títulos – 1931, 1968
» América-RJ – 1 título – 1982
» Bahia – 1 título – 1959
» Bangu – 1 título – 1967
» Criciúma – 1 título – 1991
» Fluminense – 1 título – 2007
» Internacional – 1 título – 1992
» Juventude – 1 título – 1999
» Paulista – 1 título – 2005
» Paulistano – 1 título – 1920
» Paysandú – 1 título – 2002
» Santo André – 1 título – 2004
» Sport – 1 título – 2008

» Vasco da Gama – 1 título – 2011

4 comentários:

Luiz Gustavo disse...

Rui, muito obrigado por gentilmente postar meu texto aqui no seu espaço. Espero que consiga gerar um burburinho em torno desse assunto.

Saudações alvinegras

Grande abraço!

Ruy Moura disse...

Sempre à sua disposição, Luiz Gustavo. O blogue é de e para todos nós.

Abraços Gloriosos.

Anónimo disse...

A relevância da taça Brasil é muito maior que da atual copa do Brasil,a taça Brasil tinha como finalidade apontar o time campeão brasileiro e o levar a disputar a libertadores, fórmulas parecidas não tornam competições equivalentes mas sim a finalidade

Ruy Moura disse...

Eu concordo, Anônimo. É por isso que mudei de opinião quanto aos supostos três títulos mundiais do Botafogo, dos quais até foram confecionadas taças há uns pouco anos. Nenhum desses tantos torneios que ganhamos tinha por finalidade definir um campeão do mundo. E por outro lado discordo de se considerarem títulos mundiais jogos de natureza privada, não oficiais, designadamente as Copas Intercontinentais de antigamente.

Abraços Gloriosos.

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