terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Livro 86: Entre a Fúria e a Loucura – duas formas de torcer pelo Botafogo

por ISABELLA TRINDADE MENEZES

“Entre a Fúria e a Loucura Análise de duas formas de torcer pelo Botafogo Futebol e Regatas” Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito para obtenção do Grau de Mestre – Excerto do capítulo ‘Conclusões’, pp. 146-147.

«Neste trabalho, analisamos algumas mudanças no comportamento dos torcedores, que foram motivadas ou, até mesmo impulsionadas, pelo modelo de futebol moderno, a partir de uma matriz espetacularizada. O desenvolvimento de nosso argumento possibilitou percebermos que um torcedor que participa de um agrupamento, de qualquer natureza, necessita de um engajamento emocional, ou seja, de uma participação prática e de investimento emocional que os faz diferentes do “povão”, do torcedor que não integra nenhum subgrupo do seu time.

Ao se tornar diferente internamente, esses grupos assumem uma disputa pelo capital simbólico do seu próprio grupo. Esse é um movimento constante que existe entre as torcidas, desde o surgimento da figura do torcedor, como foi possível perceber ao longo do processo histórico do torcedor: as práticas foram sendo mudadas em uma perspectiva dialógica com o campo esportivo; as torcidas uniformizadas surgem com o objetivo de auxiliar o time; depois temos as torcidas jovens que surgem para protestar e garantir os direitos dos torcedores, em uma perspectiva associativa.

Esse ideal se perdeu ao longo da década de 80 e as torcidas organizadas adquirem um comportamento mais violento. Nos anos 2000, surgem os “movimentos”, torcidas que juram o amor e fidelidade clubística, acima, até mesmo, de sua própria identidade, quase como uma continuidade do time. Em um dos casos estudados, a Fúria Jovem do Botafogo se encaixa no perfil das torcidas organizadas, mesmo tendo surgido nos anos 2000. Por ser uma dissidência da TJB (Torcida Jovem do Botafogo), manteve os mesmos valores associativos do grupo que a precedeu. Já no caso da Loucos pelo Botafogo, podemos tipificá-la como um desses “movimentos”.

No primeiro capítulo apontamos que os torcedores engajados passam a realizar um investimento econômico, a partir da aquisição de bens e produtos do clube ou, até mesmo, consumindo o próprio espetáculo do futebol, vide o aumento crescente do preço dos ingressos e a diminuição do público dos estádios, visando à diminuição dos distúrbios. Essa demanda pela pacificação dos estádios é, em grande parte, iniciada pela mídia em geral, a partir da difusão de ideias de controle e cadastramento das torcidas organizadas e de controle dos torcedores de modo geral. Nesse sentido, os “movimentos”, no caso aqui estudado, a Loucos pelo Botafogo, recebe grande estímulo da imprensa esportiva, como apontamos no segundo capítulo. 

 Ao torcer de forma pacífica, sem agressões verbais, sem os conhecidos símbolos bélicos das torcidas organizadas e sem a os enfrentamentos físicos dos quais as organizadas são agentes, o “movimento” se constrói a partir da negação dos parâmetros socialmente reconhecidos das organizadas e pelos quais elas são culpabilizadas pela violência nos estádios. Portanto, percebemos que seu comportamento está mais alinhado com as transformações do futebol em espetáculo comercial e pacificado, o modelo moderno, do que a Fúria Jovem do Botafogo, uma organizada tradicional.»


Referência Editorial: MENEZES, I. (2017). Entre a Fúria e a Loucura Análise de duas formas de torcer pelo Botafogo Futebol e Regatas. Edição: Drible de Letra.

Sem comentários:

Neto: o goleiro-reserva

Crédito: Botafogo de Futebol e Regatas. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo Norberto Murara Neto nasceu no dia 19 de julho de 1989,...