por
ISABELLA TRINDADE MENEZES
“Entre
a Fúria e a Loucura Análise de duas formas de torcer pelo Botafogo Futebol e
Regatas” Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito para
obtenção do Grau de Mestre – Excerto do capítulo ‘Conclusões’, pp. 146-147.
«Neste trabalho, analisamos algumas mudanças no
comportamento dos torcedores, que foram motivadas ou, até mesmo impulsionadas,
pelo modelo de futebol moderno, a partir de uma matriz espetacularizada. O
desenvolvimento de nosso argumento possibilitou percebermos que um torcedor que
participa de um agrupamento, de qualquer natureza, necessita de um engajamento
emocional, ou seja, de uma participação prática e de investimento emocional que
os faz diferentes do “povão”, do torcedor que não integra nenhum subgrupo do
seu time.
Ao se tornar diferente internamente, esses grupos assumem
uma disputa pelo capital simbólico do seu próprio grupo. Esse é um movimento
constante que existe entre as torcidas, desde o surgimento da figura do
torcedor, como foi possível perceber ao longo do processo histórico do
torcedor: as práticas foram sendo mudadas em uma perspectiva dialógica com o
campo esportivo; as torcidas uniformizadas surgem com o objetivo de auxiliar o
time; depois temos as torcidas jovens que surgem para protestar e garantir os
direitos dos torcedores, em uma perspectiva associativa.
Esse ideal se perdeu ao longo da década de 80 e as
torcidas organizadas adquirem um comportamento mais violento. Nos anos 2000,
surgem os “movimentos”, torcidas que juram o amor e fidelidade clubística,
acima, até mesmo, de sua própria identidade, quase como uma continuidade do
time. Em um dos casos estudados, a Fúria Jovem do Botafogo se encaixa no perfil
das torcidas organizadas, mesmo tendo surgido nos anos 2000. Por ser uma
dissidência da TJB (Torcida Jovem do Botafogo), manteve os mesmos valores
associativos do grupo que a precedeu. Já no caso da Loucos pelo Botafogo,
podemos tipificá-la como um desses “movimentos”.
No primeiro capítulo apontamos que os torcedores
engajados passam a realizar um investimento econômico, a partir da aquisição de
bens e produtos do clube ou, até mesmo, consumindo o próprio espetáculo do
futebol, vide o aumento crescente do preço dos ingressos e a diminuição do
público dos estádios, visando à diminuição dos distúrbios. Essa demanda pela
pacificação dos estádios é, em grande parte, iniciada pela mídia em geral, a
partir da difusão de ideias de controle e cadastramento das torcidas
organizadas e de controle dos torcedores de modo geral. Nesse sentido, os
“movimentos”, no caso aqui estudado, a Loucos pelo Botafogo, recebe grande
estímulo da imprensa esportiva, como apontamos no segundo capítulo.
Ao torcer de forma
pacífica, sem agressões verbais, sem os conhecidos símbolos bélicos das
torcidas organizadas e sem a os enfrentamentos físicos dos quais as organizadas
são agentes, o “movimento” se constrói a partir da negação dos parâmetros
socialmente reconhecidos das organizadas e pelos quais elas são culpabilizadas
pela violência nos estádios. Portanto, percebemos que seu comportamento está
mais alinhado com as transformações do futebol em espetáculo comercial e
pacificado, o modelo moderno, do que a Fúria Jovem do Botafogo, uma organizada
tradicional.»
Tese original disponível em: http://www.repositorio-bc.unirio.br:8080/xmlui/bitstream/handle/unirio/12329/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Isabella%20T%20Menezes.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Referência Editorial:
MENEZES, I. (2017). Entre a Fúria e a Loucura Análise de
duas formas de torcer pelo Botafogo Futebol e Regatas. Edição: Drible de Letra.
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