terça-feira, 10 de março de 2020

Os anos de 1970: a vocação do erro e as coisas que nos acontecem

por MÍLTON COSTA CARVALHO
revista Placar, 05.01.1979

Foi um dia inesquecível aquele 9 de junho de 1968. A decisão contra o Vasco (campeão pela última vez dez anos antes) acabou se transformando em outro baile alvinegro, com o ritmo vivo de uma bateria de escola de samba.

Aos 15, Roberto fez o primeiro; aos 33, aconteceu o segundo, de Rogério; depois do intervalo, surgiu o terceiro, aos 15, de Jairzinho; e Gérson, cobrando falta, aos 22, completou. Foi o último título de campeão carioca do Botafogo, também seu último grande time: Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas, Valtencir, Carlos Roberto, Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César – destes, penas Leônidas, Gérson e Pulo César não saíram da escolinha do clube.

O mesmo time, com Félix, do Fluminense, e Brito, do Vasco, goleou a Argentina, por 5 a 1, na Taça Roca de 1968. No fim do jogo, os argentinos chegaram a ficar quatro minutos na roda: era o Botafogo, quase completo, representando a seleção.

Todos acreditavam que o tricampeonato seria conquistado em 1969. Surgiram boatos, entretanto, de que Gérson seria vendido ao São Paulo, hipótese que não o agradava. A seguinte frase, dita pelo jogador ao vice-presidente de futebol, Rivadávia Correia Meyer, teria disso ouvida nos jardins de General Severiano: – Vai me vender, não é? Pois saiba que não terá o tricampeonato.

Não deu outra: o Fluminense foi o campeão, com um time apenas razoável.

Em 71, Gérson já tinha ido dar o bicampeonato ao São Paulo, enquanto o diretor de futebol Xisto Toniato tentava reviver a mística do grande time. Contratou Brito, Carlos Alberto Torres e Paulo Henrique, e o time chegou a ter uma vantagem de cinco pontos sobre o fluminense, o mais próximo perseguidor na tábua de classificação.

Aí, começou a degringolada. O fato é que, na última partida, o Fluminense estava apenas um ponto atrás – e acabou ganhando jogo e título, com um gol até hoje discutido e reclamado pelos botafoguenses, marcado a quatro minutos do fim, quando os alvinegros já festejavam o título – a festa simplesmente trocou de lado. No gramado, Paulo César chorava sua frustração. O atual presidente, Charles Borer, reclama até hoje:

– O Flávio saltou com Ubirajara, e a bola acabou sobrando para o Lula, que tocou para as redes. José Marçal confirmou o gol. Foi falta de Flávio!

Um sopro de vida voltou a animar o clube em 1972,quando se chegou à final do Campeonato Brasileiro, perdendo o título para o Palmeiras.

Então, começou a notória decadência. Chegou o técnico Tim, que recomendou a contratação do argentino Fischer, grande goleador. Luís Roberto Porto, subeditor de esportes do Jornal do Brasil, recorda aqueles momentos:

– Aquilo virou um covil. Jairzinho, com ciúmes, começou por boicotar Fischer e afinal passou a fugir dos jogos. Não bastasse, emprestaram Roberto e venderam Paulo César ao Flamengo.

A situação chegou a um ponto insustentável, em 1974: o técnico Zagalo foi demitido ao reclamar o pagamento atrasado dos jogadores. Era a crise financeira que não podia mais ser escondida. A desorganização era tal que, por falta de conservação, o campo se tornou impraticável e o time passou a treinar nos jardins de General Severiano.

– Servíamos de chacota para os torcedores dos outros clubes – lembra o jornalista Sandro Moreyra, alvinegro famoso.

Nessa altura, muita gente temeu pela própria sobrevivência do clube. O presidente Rivadávia Correia Meyer hipotecou General Severiano em troca de um empréstimo de 55 milhões. Seu sucessor, Charles Borer, sem meios de liquidar o compromisso, vendeu o estádio por 96 milhões, ressarcindo o débito com a Caixa Econômica. De quebra, ficou com algum dinheiro em caixa e com quatro andares no edifício do Clube da Aeronáutica. Aí, partiu para a construção de novo patrimônio, fundindo o União, de Marechal Hermes, ao Botafogo. No terreno do União construiu um estádio simples, mas confortável. Hoje, o clube se orgulha de ter dinheiro em caixa, de pagar seus compromissos em dia, e ate antecipadamente.

– São coisas que só acontecem ao Botafogo. Como esta: terminar o Brasileiro de 77 invicto, mas eliminado. Conseguir uma série de 53 jogos sem derrotas e nada conquistar. Só podia mesmo acontecer ao Botafogo – diz o jornalista aposentado Salim Simão.

Tipo de coisa que só acontece ao Botafogo: Borer enfrenta opositores por ter levado o clube para Marechal Hermes!

Muita coisa aconteceu de ruim nos últimos dez anos – e mesmo assim a torcida continua fiel, aumentando.

O futuro?

Em 78, o Botafogo foi bicampeão de juvenis. Uma safra excelente. Quase todos foram profissionalizados. A esperança é de que eles repitam a façanha do time bicampeão em 67 e 68.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa Noite!

É bom lembrar que a Taça Brasil de 1968 (Camp. Brasileiro de acordo com a CBF) foi erguida por nosso capitão Afonsinho, em 04-10-1969, Botafogo 4 x 0 Fortaleza, no Maracanã.

Saudações Alvinegras
Pedro Varanda

Ruy Moura disse...

É verdade, Pedro.
Abraços Gloriosos.

Botafogo campeão estadual de futebol sub-17 (com fichas técnicas)

Fonte: X – Botafogo F. R. por RUY MOURA | Editor do Mundo Botafogo O Botafogo conquistou brilhantemente o Campeonato Estadual de Futebol...