por
MÍLTON COSTA CARVALHO
revista
Placar, 05.01.1979
Foi
um dia inesquecível aquele 9 de junho de 1968. A decisão contra o Vasco
(campeão pela última vez dez anos antes) acabou se transformando em outro baile
alvinegro, com o ritmo vivo de uma bateria de escola de samba.
Aos
15, Roberto fez o primeiro; aos 33, aconteceu o segundo, de Rogério; depois do
intervalo, surgiu o terceiro, aos 15, de Jairzinho; e Gérson, cobrando falta,
aos 22, completou. Foi o último título de campeão carioca do Botafogo, também
seu último grande time: Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas, Valtencir, Carlos
Roberto, Gérson, Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César – destes, penas
Leônidas, Gérson e Pulo César não saíram da escolinha do clube.
O
mesmo time, com Félix, do Fluminense, e Brito, do Vasco, goleou a Argentina,
por 5 a 1, na Taça Roca de 1968. No fim do jogo, os argentinos chegaram a ficar
quatro minutos na roda: era o Botafogo, quase completo, representando a
seleção.
Todos
acreditavam que o tricampeonato seria conquistado em 1969. Surgiram boatos,
entretanto, de que Gérson seria vendido ao São Paulo, hipótese que não o
agradava. A seguinte frase, dita pelo jogador ao vice-presidente de futebol,
Rivadávia Correia Meyer, teria disso ouvida nos jardins de General Severiano: –
Vai me vender, não é? Pois saiba que não terá o tricampeonato.
Não
deu outra: o Fluminense foi o campeão, com um time apenas razoável.
Em
71, Gérson já tinha ido dar o bicampeonato ao São Paulo, enquanto o diretor de
futebol Xisto Toniato tentava reviver a mística do grande time. Contratou
Brito, Carlos Alberto Torres e Paulo Henrique, e o time chegou a ter uma
vantagem de cinco pontos sobre o fluminense, o mais próximo perseguidor na
tábua de classificação.
Aí,
começou a degringolada. O fato é que, na última partida, o Fluminense estava
apenas um ponto atrás – e acabou ganhando jogo e título, com um gol até hoje discutido
e reclamado pelos botafoguenses, marcado a quatro minutos do fim, quando os
alvinegros já festejavam o título – a festa simplesmente trocou de lado. No
gramado, Paulo César chorava sua frustração. O atual presidente, Charles Borer,
reclama até hoje:
–
O Flávio saltou com Ubirajara, e a bola acabou sobrando para o Lula, que tocou
para as redes. José Marçal confirmou o gol. Foi falta de Flávio!
Um
sopro de vida voltou a animar o clube em 1972,quando se chegou à final do
Campeonato Brasileiro, perdendo o título para o Palmeiras.
Então,
começou a notória decadência. Chegou o técnico Tim, que recomendou a
contratação do argentino Fischer, grande goleador. Luís Roberto Porto,
subeditor de esportes do Jornal do Brasil, recorda aqueles momentos:
–
Aquilo virou um covil. Jairzinho, com ciúmes, começou por boicotar Fischer e
afinal passou a fugir dos jogos. Não bastasse, emprestaram Roberto e venderam
Paulo César ao Flamengo.
A
situação chegou a um ponto insustentável, em 1974: o técnico Zagalo foi
demitido ao reclamar o pagamento atrasado dos jogadores. Era a crise financeira
que não podia mais ser escondida. A desorganização era tal que, por falta de
conservação, o campo se tornou impraticável e o time passou a treinar nos
jardins de General Severiano.
–
Servíamos de chacota para os torcedores dos outros clubes – lembra o jornalista
Sandro Moreyra, alvinegro famoso.
Nessa
altura, muita gente temeu pela própria sobrevivência do clube. O presidente
Rivadávia Correia Meyer hipotecou General Severiano em troca de um empréstimo
de 55 milhões. Seu sucessor, Charles Borer, sem meios de liquidar o
compromisso, vendeu o estádio por 96 milhões, ressarcindo o débito com a Caixa
Econômica. De quebra, ficou com algum dinheiro em caixa e com quatro andares no
edifício do Clube da Aeronáutica. Aí, partiu para a construção de novo
patrimônio, fundindo o União, de Marechal Hermes, ao Botafogo. No terreno do
União construiu um estádio simples, mas confortável. Hoje, o clube se orgulha
de ter dinheiro em caixa, de pagar seus compromissos em dia, e ate
antecipadamente.
–
São coisas que só acontecem ao Botafogo. Como esta: terminar o Brasileiro de 77
invicto, mas eliminado. Conseguir uma série de 53 jogos sem derrotas e nada
conquistar. Só podia mesmo acontecer ao Botafogo – diz o jornalista aposentado
Salim Simão.
Tipo
de coisa que só acontece ao Botafogo: Borer enfrenta opositores por ter levado
o clube para Marechal Hermes!
Muita
coisa aconteceu de ruim nos últimos dez anos – e mesmo assim a torcida continua
fiel, aumentando.
O
futuro?
Em
78, o Botafogo foi bicampeão de juvenis. Uma safra excelente. Quase todos foram
profissionalizados. A esperança é de que eles repitam a façanha do time
bicampeão em 67 e 68.
2 comentários:
Boa Noite!
É bom lembrar que a Taça Brasil de 1968 (Camp. Brasileiro de acordo com a CBF) foi erguida por nosso capitão Afonsinho, em 04-10-1969, Botafogo 4 x 0 Fortaleza, no Maracanã.
Saudações Alvinegras
Pedro Varanda
É verdade, Pedro.
Abraços Gloriosos.
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