quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Aida dos Santos, uma Estrela Solitária na imensa Constelação de ídolos do Clube

Imagem replicada de O Globo.

por CARLOS EDUARDO

Crônicas de Quinta no Mundo Botafogo

Hoje é dia de homenagear mais uma lenda botafoguense que honrou a expressão "noutros esportes tua fibra está presente" do nosso hino e que nos enche tanto de orgulho. É hora de estender o tapete vermelho para Aida dos Santos.

A menina do Morro do Arroz, em Niterói, que adorava vôlei, brincava de bolinha de gude e andava de bicicleta, quando adentrou numa pista de atletismo pela primeira vez foi paixão à primeira vista.

Chegou a correr, mas foi o salto em altura que fez seus olhos brilharem.

E a menina Aida saltava muito!

E se o salto em altura era o que tinha chamado a atenção de Aida, tão logo aquela menina faria o público olhá-la espantosamente.

Mostrando a que veio (ou a que viria a ser) apesar da inexperiência, fez seu primeiro salto da carreira com uma marca próxima ao recorde brasileiro da época.

Aida muitas vezes ia à escola com fome e trabalhava em casas de família para ajudar no ‘pão de cada dia’ na sua casa.

Com tudo isso, e com o sonho de ser atleta na cabeça, ela não tinha o apoio em casa (achavam que o esporte não daria futuro e nem enchia barriga).

Então, a contragosto de todos, Aida tornou-se ‘atleta escondida’ deles no Fluminense, Vasco (onde o dinheiro que ganhava do clube era confiscado em casa para comprar alimentos), até que chegou ao clube do coração, o Botafogo.

Imagem replicada do blogue Mundo Botafogo.

E a luta dela não parou por aí!

Antes de sair de casa para a prova classificatória aos Jogos Olímpicos de 1964, tal qual a Cinderela antes do sonhado baile, precisou fazer os afazeres domésticos em casa para poder ser liberada para a prova.

Nessa classificatória precisou de 5 tentativas para alcançar o Índice Olímpico (1,65m), de acordo com o COB à época (mas ela já tinha conseguido a marca no 1° tentativa).

Nossa Cinderela chegou a Tóquio, sem sapatilha (um cubano ofereceu-lhe uma), sem uniforme oficial (levou um cinza do Botafogo), sem técnico (um saltador peruano auxiliava-a), sem médico (quando precisou, um médico da delegação cubana ajudou-a) sem apoio em casa, sem apoio do COB e sem o apoio dos demais atletas brasileiros, foi a única mulher (e negra) na delegação brasileira.

Seu baile triunfal (que não terminaria à meia-noite e estava a um passo da eternidade) veio definitivamente, quando ela conseguiu um honroso 4° lugar na competição (1,74m e de pé machucado) com um brilho que nenhuma medalha pode alcançar.

Ao retornar ao Brasil, Aida tinha as luzes dos holofotes virados para si. E como no Brasil, para se obter apoio em qualquer área, primeiro exigem o resultado e não o contrário, Aida recusou qualquer tipo de ‘brilhareco fosco’ trajado de ‘apoio incondicional’ vindo de quem não acreditou no talento dela.

O apoio que precisava antes tinha vindo tarde.

O extraordinário legado que Aida dos Santos Menezes deixou ao Esporte Brasileiro foi inspiração para várias gerações com o seu exemplo de garra, determinação e talento, inclusive na família, tendo sua filha Waleskinha – que iniciou a carreira no Botafogo – sido campeã sul-americana (2003) e campeã olímpica (2008) em voleibol.

Crédito: Vitor Silva / Botafogo.

Seu bri(lh)oso 4° lugar nas Olimpíadas de 1964 foi a melhor marca de uma mulher brasileira nos Jogos Olímpicos até 1996.

Aida foi inúmeras vezes campeã estadual, nacional, sul-americana, além de 2 bronzes Panamericanos no Pentatlo em Winnipeg (1967) e em Cáli (1971).

Aida iria às Olimpíadas de 1972, mas foi boicotada pelos mandatários do COB que lhe prometeram o tal ‘apoio’ e, como sempre, não fizeram coisa alguma, nem antes nem depois de 1964, e corretamente ela criticou-os veementemente.

Após a carreira vitoriosa como atleta, Aida graduou-se em Educação Física, Pedagogia e Geografia. Foi professora da UFF entre 1975 e 1987.

Foi laureada com o título de emérita em 1966 e benemérita em 1995 no Botafogo, e ganhou o Troféu Adhemar Ferreira da Silva pela importância que teve como atleta.

Em 2012 a vida da formidável atleta foi apresentada no 1º Festival Internacional de Filmes de Esporte com a película ‘Aida dos Santos, Uma Mulher de Garra’, documentário de 26 minutos dirigido por André Pupo e Ricardo Quintela.

Entre tudo isso e mais um pouco, a lenda maior do atletismo feminino do Botafogo mantém o Instituto Aida dos Santos, orientado ao atletismo e ao vôlei para as crianças.

Merecidamente teve seu busto inaugurado em General Severiano (sua casa predileta) ao lado de outras duas lendas do Botafogo: Nilton Santos e Garrincha.

E não houve data melhor e mais simbólica: o busto foi inaugurado durante as comemorações dos 32 anos do título de 1989 e próximo ao aniversário de 127 anos do Club de Regatas Botafogo.

A nossa ‘Madrinha dos Esportes Olímpicos’ "honrou as cores do Brasil de nossa gente" vestida de preto e branco e com a estrela solitária ao peito.

Uma lenda no meio de outras tantas lendas botafoguenses pelo mundo.

Que honra! Que orgulho! Que privilégio!

Aida dos Santos Menezes, a ‘Leoa de Tóquio’ é (d)o Botafogo, é (d)o Brasil!

6 comentários:

Sergio disse...

Parabéns pelo artigo.Belíssima história dessa lenda do esporte. Me causa espanto e revolta os dirigentes esportivos do país, é inacreditável.
Fora do posto, gostaria de registrar minha admiração por outra lenda do esporte: Cristiano Ronaldo. Não só pelo seu futebol mas também pelo ser humano que é. Abs e SB!

Ruy Moura disse...

Obrigado pelo comentário, meu querido amigo. Claro que essas duas personagens falam por si próprias, mas eu gostaria de acrescentar algo que os dois têm e que muitos atletas, mesmo entre os melhores, não conseguem reunir cumulativamente: uma alma de 5ª essência, ética desportiva, perseverança, resiliência, capacidade de gerar dinâmicas à sua volta e forte sentido de liderança inquebrantável!

Abraços Gloriosos.

Filipe disse...

Que pérola radiosa caro, Ruy..minha mãe se emocionou comigo aqui,esse testemunho representa o Botafogo que a gente gosta,cheio de brios,não desiste nunca!!
Uma abraço caloroso amigo, que Deus continue te iluminando , boa semana

Ruy Moura disse...

É verdade, Filipe! Aida é Botafogo da cabeça aos pés! No sofrimento e na Glória!

Calorosos abraços, meu amigo, extensivos à sua querida mãe!

Carlos Eduardo disse...

Ruy e Sérgio,as histórias de grandes personalidades esportivas são em suma inspiradoras e fabulosas.
E a maioria deles realmente tem as 6 coosas que o Ruy explanou aqui. E sobre a nossa Aida dos Santos, ela é fenomenal. E é botafoguense!

Carlos Eduardo disse...

Filipe, que relato bonito o seu aqui no "Crônicas de Quinta".

Aída dos Santos é uma pérola inestimável para nós Botafoguenses!

É um privilégio!!!

Abraços!!!

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