
O artigo anterior da etiqueta ‘z.futebol bases’ relata as extraordinárias campanhas estaduais dos juniores (à época designados por juvenis) no início da década de 1960. O Botafogo possuía uma fabulosa escola de jogadores, a qual resultaria, mais tarde, nos inesquecíveis títulos de 1967-1968: bi-campeões da Taça Guanabara, bi-campeões cariocas e campeões da Taça Brasil.
Esses jogadores foram tetra-campeões cariocas de juniores entre 1961-1964 – alguns deles campeões pan-americanos em 1963 e campeões do mundo em 1970 – e foram convocados para o escrete canarinho sub-23 em inúmeras ocasiões, tal como se mostra:
· Arlindo (1963): 4 jogos, 0 gols
· Adevaldo (1963): 10 jogos, 0 gols
· Jairzinho (1963): 4 jogos, 2 gols
· Othon (1963): 7 jogos, 5 gols
· Zé Carlos (1963): 3 jogos, 0 gols
· Hélio Dias (1963): 5 jogos, 4 gols
· Dimas (1964): 3 jogos, 0 gols
· Florisvaldo (1964): 5 jogos, 2 gols
· Mura (1964): 6 jogos, 0 gols
· Roberto Miranda (1964): 5 jogos, 3 gols
· Humberto (1964): 2 jogos, 0 gols
O nosso amigo Jesiel Ribeiro foi assíduo acompanhante desses garotos, futuros campeões do mundo, e escreveu para o blogue Mundo Botafogo um depoimento exclusivo com base nas suas inúmeras memórias da época. Segue-se o texto inédito.
O mestre e a garotada
por Jesiel Ribeiro
O curto e saboroso fato que vou narrar aconteceu-me no início da década de 1960 em General Severiano.
Certo dia, passando pelo casarão sagrado, decidi entrar e verificar se os meus ídolos estavam treinando. Para minha sorte, estavam realizando um coletivo. Sentei-me nas sociais, acendi um cigarro e preparei-me para ver Garrincha, Didi, Nílton Santos e toda aquela extraordinária elite de futebolistas.
Lá pelas tantas, com certa surpresa, notei que havia alguns jovens, desconhecidos para mim, dando uma canseira nos titulares e infernizando a vida do mestre Nílton.
Após o treinamento fui para o bar e fiquei batendo papo com outros sócios. Porém, de repente, surgiu o mestre. Então, perguntei: “E aí, meu ídolo, levou um calorão da garotada, hein?...” De cara ele respondeu-me o seguinte: “Você não viu nada. Vá assistir aos jogos do juvenil, todos os domingos pela manhã. Aí você verá o show dessa molecada”.
Quando cheguei em casa comentei o fato com meu velho pai, que me disse ter conhecimento que o Botafogo tinha sido campeão de juvenil e que era favorito ao bi.
Naquela época havia o campeonato de juvenis e o de aspirantes nas preliminares do principal. No domingo seguinte lá estava eu, às dez da manhã, em São Januário, para verificar a tal ‘molecada’. Ah!... que coisa inesquecível… saí babando de orgulho…
Nós metemos quatro no Vasco, com exibições de bola de um ataque maravilhoso, formado por Jairzinho, Roberto, Canavieira e Othon Valentim. O Canavieira, que fazia os seus gols, articulava muito bem a meio de campo com o Arlindo, um talento acima da média, que acabou no México após um grave acidente.
Estes juvenis constituíam um timaço e faziam contra-ataques absolutamente ‘mortais’. Em certos momentos davam corda ao adversário, fingindo-se dominados. Na primeira chance, bola nos pés de Arlindo que esticava para Jairzinho, ou Othon, voando, um ou outro, pelo meio dos zagueiros adversários e presenteando o sempre raçudo, rompedor e ‘matador’ Roberto – um amigo e também botafoguense – que só tinha o trabalho de faturar.
Presenciei jogadas geniais de Jair, com dribles pelo lado direito, a exemplo de Mané, e com uma explosão que deixava atônitos os zagueiros adversários. Mas o melhor do time era o Othon Valentim. Tinha um chute forte, era muito bom driblador e um artilheiro nato, fazendo sempre muitos gols e servindo de garçom para os companheiros.
Porém, um brucutu do Corinthians, após levar um autêntico baile do garoto no Maraca, arrebentou-lhe o joelho e encerrou precocemente uma carreira promissora. Após a segunda cirurgia não foi mais o mesmo e encerrou a sua curta carreira. Tenho a certeza absoluta que ele teria um futuro brilhante no nosso clube.
Mas todo o time era muito bom e foi tetra-campeão carioca com o surgimento de outros grandes valores. A partir daquele domingo, e durante muito tempo, não havia namorada, praia, festa, trabalho ou qualquer outra coisa que me afastasse, tal como ao meu velho, dos campos de futebol, onde assistimos a fantásticas exibições de uma garotada maravilhosa, cuja maioria era torcedora e apaixonada pelo Botafogo – vibrando domingo a domingo com os gols e as vitórias.
E, detalhe importante, aquela ‘molecada’ fazia questão de ganhar só de goleada!
E foi graças ao mestre Nílton que pude presenciar as memoráveis façanhas de uma garotada fantástica, que conquistou o tetra campeonato carioca entre 1961-64, que foi a base do ataque canarinho tri-campeão do mundo em 1970 e que tornou aquelas belas manhãs de domingo absolutamente inesquecíveis para mim.
[Leia outro texto inédito de Jesiel Ribeiro no Mundo Botafogo enaltecendo o seu maior ídolo – Nílton Santos – sob o título ‘O primo botafoguense’]
Esses jogadores foram tetra-campeões cariocas de juniores entre 1961-1964 – alguns deles campeões pan-americanos em 1963 e campeões do mundo em 1970 – e foram convocados para o escrete canarinho sub-23 em inúmeras ocasiões, tal como se mostra:
· Arlindo (1963): 4 jogos, 0 gols
· Adevaldo (1963): 10 jogos, 0 gols
· Jairzinho (1963): 4 jogos, 2 gols
· Othon (1963): 7 jogos, 5 gols
· Zé Carlos (1963): 3 jogos, 0 gols
· Hélio Dias (1963): 5 jogos, 4 gols
· Dimas (1964): 3 jogos, 0 gols
· Florisvaldo (1964): 5 jogos, 2 gols
· Mura (1964): 6 jogos, 0 gols
· Roberto Miranda (1964): 5 jogos, 3 gols
· Humberto (1964): 2 jogos, 0 gols
O nosso amigo Jesiel Ribeiro foi assíduo acompanhante desses garotos, futuros campeões do mundo, e escreveu para o blogue Mundo Botafogo um depoimento exclusivo com base nas suas inúmeras memórias da época. Segue-se o texto inédito.
O mestre e a garotada
por Jesiel Ribeiro
O curto e saboroso fato que vou narrar aconteceu-me no início da década de 1960 em General Severiano.
Certo dia, passando pelo casarão sagrado, decidi entrar e verificar se os meus ídolos estavam treinando. Para minha sorte, estavam realizando um coletivo. Sentei-me nas sociais, acendi um cigarro e preparei-me para ver Garrincha, Didi, Nílton Santos e toda aquela extraordinária elite de futebolistas.
Lá pelas tantas, com certa surpresa, notei que havia alguns jovens, desconhecidos para mim, dando uma canseira nos titulares e infernizando a vida do mestre Nílton.
Após o treinamento fui para o bar e fiquei batendo papo com outros sócios. Porém, de repente, surgiu o mestre. Então, perguntei: “E aí, meu ídolo, levou um calorão da garotada, hein?...” De cara ele respondeu-me o seguinte: “Você não viu nada. Vá assistir aos jogos do juvenil, todos os domingos pela manhã. Aí você verá o show dessa molecada”.
Quando cheguei em casa comentei o fato com meu velho pai, que me disse ter conhecimento que o Botafogo tinha sido campeão de juvenil e que era favorito ao bi.
Naquela época havia o campeonato de juvenis e o de aspirantes nas preliminares do principal. No domingo seguinte lá estava eu, às dez da manhã, em São Januário, para verificar a tal ‘molecada’. Ah!... que coisa inesquecível… saí babando de orgulho…
Nós metemos quatro no Vasco, com exibições de bola de um ataque maravilhoso, formado por Jairzinho, Roberto, Canavieira e Othon Valentim. O Canavieira, que fazia os seus gols, articulava muito bem a meio de campo com o Arlindo, um talento acima da média, que acabou no México após um grave acidente.
Estes juvenis constituíam um timaço e faziam contra-ataques absolutamente ‘mortais’. Em certos momentos davam corda ao adversário, fingindo-se dominados. Na primeira chance, bola nos pés de Arlindo que esticava para Jairzinho, ou Othon, voando, um ou outro, pelo meio dos zagueiros adversários e presenteando o sempre raçudo, rompedor e ‘matador’ Roberto – um amigo e também botafoguense – que só tinha o trabalho de faturar.
Presenciei jogadas geniais de Jair, com dribles pelo lado direito, a exemplo de Mané, e com uma explosão que deixava atônitos os zagueiros adversários. Mas o melhor do time era o Othon Valentim. Tinha um chute forte, era muito bom driblador e um artilheiro nato, fazendo sempre muitos gols e servindo de garçom para os companheiros.
Porém, um brucutu do Corinthians, após levar um autêntico baile do garoto no Maraca, arrebentou-lhe o joelho e encerrou precocemente uma carreira promissora. Após a segunda cirurgia não foi mais o mesmo e encerrou a sua curta carreira. Tenho a certeza absoluta que ele teria um futuro brilhante no nosso clube.
Mas todo o time era muito bom e foi tetra-campeão carioca com o surgimento de outros grandes valores. A partir daquele domingo, e durante muito tempo, não havia namorada, praia, festa, trabalho ou qualquer outra coisa que me afastasse, tal como ao meu velho, dos campos de futebol, onde assistimos a fantásticas exibições de uma garotada maravilhosa, cuja maioria era torcedora e apaixonada pelo Botafogo – vibrando domingo a domingo com os gols e as vitórias.
E, detalhe importante, aquela ‘molecada’ fazia questão de ganhar só de goleada!
E foi graças ao mestre Nílton que pude presenciar as memoráveis façanhas de uma garotada fantástica, que conquistou o tetra campeonato carioca entre 1961-64, que foi a base do ataque canarinho tri-campeão do mundo em 1970 e que tornou aquelas belas manhãs de domingo absolutamente inesquecíveis para mim.
[Leia outro texto inédito de Jesiel Ribeiro no Mundo Botafogo enaltecendo o seu maior ídolo – Nílton Santos – sob o título ‘O primo botafoguense’]
2 comentários:
Rui,
Não consegui localizar o artigo Primo Botafoguense.
Um abraço.
Geninho
Olá, amigo Geninho, está na etiqueta 'vozes', de 19 de Maio.
SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES
Enviar um comentário