“Sei que Pelé foi grandioso e inatingível
como atleta. Mas Pelé – e isso, confesso, me incomoda um pouco – foi perfeito
demais. Será que o futebol também se torna mais sublime quando, através de
formas e caminhos imperfeitos, obtém a harmonia impensada? Será que, como nas
grandes obras da literatura, não é no mistério do não contado, na magia das
palavras não ditas, que reside a verdadeira arte do esporte? Quando penso em
Garrincha, recordo-me da história do Paulo Francis com o Picasso. Ele passou a
vida criticando, aqui e ali, o trabalho do génio espanhol. Mas um dia, poucos
anos antes de morrer, o Francis escreveu assim em sua coluna: ‘Picasso foi o
maior pintor. E ponto.’ Uma maneira direta e definitiva, bem ao seu estilo, de
encerrar a questão. Em seus dribles, Garrincha era como Picasso. Ele jamais
pintaria a Capela Sistina, mas poderia perfeitamente afirmar: ‘Eu não procuro, eu
acho.’ Não sei não, mas acho que um dia, quando estiver bem velhinho, sou capaz
de dar o braço a torcer para o amigo João e escrever assim: ‘Garrincha foi o
maior jogador. E ponto.’ Abençoado seja o nosso craque. Bendito seja o nosso
menino passarinho, único jogador a conseguir enxergar o jogo com olhos de
poeta. O Quasímodo dos gramados, que fez do Maracanã a sua catedral de
Notre-Dame – e das nossas vidas, uma aventura cheia de sentido.” – Marcos Caetano, adepto do Fluminense.
.
2 comentários:
Garrincha. Nós sentiremos sempre a sua falta. Os domingos, sem você, são intermináveis e quando chega a hora do jogo você não está mais lá. Falta você, Mané Garrincha, a Alegria de Todos os Povos. Loris
Belo comentário, Loris.
Abraços Gloriosos!
Enviar um comentário