quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Debater futebol ontem e hoje

Imagem: Montagem Mundo Botafogo

por PEDRO AFONSO

Pegando na obsessão futebolística em voga, a tomada de decisão, não será de espantar que a idade, o tempo de jogo e o estilo de futebol de cada país, tenham uma influência direta na qualidade da decisão, que a maturidade seja apetecível para um treinador.

O papel de um timoneiro é, acima de tudo, criar uma ideia, uma ordem, que parte de premissas que variam entre diferentes técnicos e que contribuem para múltiplos resultados finais. Comandar 11 jogadores num terreno de 100x64 metros (variáveis) não é tarefa fácil e a desordem criada por múltiplas mentes que processam os estímulos de formas totalmente diferentes, fruto da sua nacionalidade, experiência, idade, estilo de jogo ou posição, é inimiga do sucesso.

Assim, o treinador terá de agregar um grupo de jogadores que acredite e, acima de tudo, entenda quais as suas ideias e premissas base ao nível do controlo de espaços, da pressão e da velocidade de jogo. Jogadores que decidam bem são jogadores que percebem o que é que o seu treinador pretende para cada momento de jogo e para cada situação, sendo impreteríveis para qualquer técnico.

A intelectualização do futebol é um processo que divide opiniões, mas inevitável. A procura incessante pelas rotinas, pela automatização de processos, a obsessão pelo controlo do espaço, o uso cada vez mais comum da estatística e das data sciences no processo de preparação de um jogo, demonstram essa procura por uma fórmula de sucesso. O acaso deixou de ser tido em conta, tudo passou a ser quantificado, analisado, dissecado e melhorado. O romântico do futebol irá sempre preferir o futebol partido ao futebol pensado, mas este último irá sempre prevalecer e vencer. […]


Nota do Mundo Botafogo: Nelson Rodrigues afirmou que se tivesse que escolher entre o indivíduo e a humanidade, que morresse a humanidade! Dito de outro modo para o contexto desta nota, Nelson Rodrigues acreditava piamente na inspiração futebolística do craque em detrimento da virtude do funcionamento coletivo. Mas Nelson Rodrigues morreu há muito, o futebol mudou radicalmente nas últimas três décadas e a ideia original de criação de um complexo jogo com regras inspiradas no movimento coletivo, em tudo parecido com a própria vida em sociedade, está cada vez mais plenamente instalada no atual futebol quantificado, analisado, dissecado, tecnologizado e pensado ao pormenor dentro e fora de campo. E em que o sucesso individual do ‘artista’ depende cada vez mais de múltiplos fatores estratégicos, táticos, gerenciais, metodológicos e comportamentais.

2 comentários:

Carlos Eduardo disse...

O futebol sempre foi um jogo cerebral,só que nunca,mesmo em tempos passados,houve esse "martelamento" cheio de mecanismos e firulas complexas para explicar o jogo de futebol em si.
Ter as ditas boas "raposas velhas" no time é de extrema importância ainda mais mesclada com os mais jovens.Ora,não se pode montar times só com "velhos" ou só com a correria"jovem",isso é fato.
A verdade é que o futebol nunca aceitou jogador "burro".O que seria isso,então?
Simples,seria o tal jogador que não compreende o que se passa dentro do campo na hora do jogo.Melhores opções de jogada para um determinado lance,qual o melhor estilo de jogo pra determinada partida,etc.Isso sempre aconteceu.
O que eu acho é que as "grandes raposas velhas" ou os "mais experientes" sempre tiveram essa leitura de jogo não apenas com 30 anos,mas desde o inicio da carreira,mesmo isso sendo "imperceptível" para a época.Diferente,por exemplo,dos "jovens" altos e brucutus,que saem da base,sem saber o mínimo.

*Obs(Não precisa publicar esse parágrafo,é só um exemplo):Até nas peladas,há uma "predileção" pelos mais velozes e pseudos-habilidosos,mas "burros" em campo/quadra,e que não resolvem nada,simplesmente por que ele corre e é mais habilidoso que você.
Aí os "mais experientes" são os ultimos a ser escolhidos,porque não correm,mas que na verdade,são os mais técnicos(ou seja,os que "tem o dominio de um pouco de tudo")são os que pensam o jogo como deve ser,correm certo,e acabam sendo os "donos do jogos".Falo por experiencia própria e me incluo nesse "grupo de experientes" de futebol mesmo tendo 22 anos,mas que joga há 17 anos.





Ruy Moura disse...

Carlos Eduardo, V. me fez lembrar o Didi: pouca correria e lançamentos de 40 metros para o local onde algo havia de correr e marcar gol.

O que acho é que especialmente no Brasil, porque teve um período de craques fabulosos aos montes (e que hoje escasseiam), dava-se excessiva importância ao drible e ao individualismo, e muitissimo menos à estratégia, à tática e outros aspetos importantes. Lembro-me de João Saldanha ou Vicente Feola que deixavam praticamente tudo nas mãos dos craques. Hoje, os craques têm que obedecer ao sistema tático e a muitos outros atributos de preparação. Vale bem mais o conjunto do que o brilho de um craque.

Mas claro que sempre houve jogadores cerebrais com visão de jogo. Esses, hoje, aliando a sua visão à obediência tática, são um perigo para os adversários.

Abraços Gloriosos.

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