quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O dia em que a ditadura matou Mané Garrincha…

por ROBERTO VIEIRA
Blog do Roberto, 19.06.2011

20 de junho de 1964.
Garrincha e Elza Soares dormem na Ilha do Governador.
O casal mais odiado do país.
Castelo Branco se define como homem de centro-esquerda.
Os cariocas apoiam Castelo.
O São Paulo é campeão em Florença.
O Flamengo é campeão do Torneio Naranja com Paulo Choco.
Mas Elza estava com Jango no Comício da Central.
Elza estava com Jango na sede do Automóvel Clube.
Garrincha estava com Elza pro que desse e viesse.
A ditadura chega de madrugada.
Os homens acordam todo mundo na casa.
Garrincha, Elza, a mãe e os três filhos da cantora.
Armas em punho.
Todo mundo nu virado pra parede da sala.
Paredão.
Garrincha pede que poupem as mulheres.
Os militares vasculham a casa.
Destroem os móveis.
Semeiam o terror.
Garrincha está só diante do time adversário.
Garrincha bicampeão mundial.
Garrincha das pernas tortas.
A ditadura vence o jogo.
Mas antes de sair, deixa uma lembrança.
Um dos carabineiros abre a gaiola do mainá.
Pássaro indiano.
Xodó de Mané Garrincha.
Curiosamente presente de Carlos Lacerda.
Lacerda que amava os tanques.
Lacerda que também teria seu dia de mainá.
O pássaro desaparece nas mãos do futuro torturador.
O mainá tem seu pescoço torcido.
Garrincha observa o gesto e chora.
O último a sair agarra Mané e afirma:
“Se abrir o bico vai ficar que nem esse passarinho!”
Os jornais publicam a notícia.
Subtraindo a verdade.
O Brasil do mulato inzoneiro.
O Brasil do homem cordial.
Mostra sua face brutal.
Longe das arquibancadas.
Longe dos campos de futebol.
20 de junho de 1964.
O dia em que a ditadura matou Mané Garrincha…

1 comentário:

Ruy Moura disse...

Acróstico de Sérgio Sampaio como comentário ao texto de Roberto Vieira:

Ruy, desta feita me fizeste recordar:
O Apanhador No Campo De Centeio, lar
Base das minhas letras e dos meus escritos...
E em acróstico faço ao autor, irrestritos,
Raros, elogios à forma como escreve,
Texto enxuto, concisão e cortes bonitos,
O descalabro descrito de jeito breve!

Vivi os tempos e guardo bem as manchetes,
Incluso o veraz relato à Nelson Rodrigues...
Espero sincero que, comigo, não brigues,
Intrometer-me em teu achado tal pivetes,
Refastelar-me com tua perfeita escolha
Ao fazer comentário de quase uma folha!

Sérgio Sampaio
www.umpoetinha.com.br

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