Nota
preliminar: o texto foi concluído no dia 29.09.2017, portanto, escrito antes do
descalabro de ontem no estádio Nilton Santos; o texto publica-se em duas partes
(2 e 3 de outubro).
Há muito
tempo que o editor do Mundo Botafogo não se posiciona de fora sistematizada em termos de avaliação
global da situação do nosso Clube, em especial o que respeita ao futebol
profissional, já que o Remo continua sendo a modalidade topo do Clube ganhando
tudo o que disputa, o Pólo Aquático campeão brasileiro mantém uma forte
performance, o Basquetebol e o Voleibol estão regressando com grandes ambições,
enfim, o Clube está vivo e bem vivo.
Havia razões
para isso: não quis interferir de forma que parecesse negativa num momento tão
importante de disputa da Copa Libertadores e da Copa do Brasil, além do
Campeonato Nacional, evitando que pudesse ser conotado com a senda do
pessimismo que caracterizou a nossa torcida nas duas últimas dezenas de anos –
o que não seria nem justo nem verdadeiro.
Porém, após
a melhor campanha da Copa Libertadores em todos os tempos (14 jogos e 7
vitórias!) em que afastamos cinco campeões sul-americanos de cinco países, bem
como a melhor campanha da Copa do Brasil desde a frustrada final de 1999 (e semelhante
às de 2007 e 2008), pode-se falar à vontade, tão à vontade quanto conseguimos
chegar simultaneamente ao G6 do Brasileirão, não obstante as duas difíceis
competições mencionadas, não obstante um plantel tecnicamente de mediano para
baixo (exceção aos goleiros Jeferson e Gatito Fernandez) e não obstante Jair
Ventura ter que refazer o plantel por duas vezes em pleno ano de 2017!
O nosso
comentário procurará realçar todos os aspetos positivos e alguns menos
positivos que são fundamentais para a reflexão sobre o futuro.
Veja-se
apenas um breve retrospecto das quatro ‘figuras principais’ que, em minha
opinião, dominaram a imagem do Botafogo na última dezena de anos (2007 a 2017):
Figura 2007-2008
Alex Stival, o ‘Cuca’, que com o seu futebol ofensivo,
e a sua defesa do tipo ‘peneira para tapar o sol’, encantou os botafoguenses,
mas deixou a marca do ‘chororô’ aproveitado pelos adversários. Não tenhamos
dúvida: o perfil fatalista de Cuca nunca me convenceu que iria ganhar fosse o
que fosse de importante.
Pode-se
argumentar que fomos prejudicados, é verdade, mas sobretudo isso ocorreu no
campeonato carioca, que já não era importante à época e menos ainda atualmente,
e num jogo de semifinal da Copa do Brasil em 2007, já que em 2008 fomos
afastados também na semifinal pelo Corinthians de forma limpa. O Botafogo de
Cuca estava esgotado e ele mesmo reconheceu isso saindo do Clube por mútuo
acordo.
Porém, foram
os fantasmas de Cuca, os seus erros estratégicos e a sua incapacidade de montar
uma defesa realmente forte (lembram-se dos resultados sucessivos de 2x2 e até
mesmo de 3x3 e 4x4 após estarmos em vantagem em alguns casos por 2x0?...) que
nos levaram à míngua de títulos com uma equipe que, diga-se, era realmente melhor
que as que se seguiram, incluindo a atual, onde despontavam Dodô, Jorge
Henrique, Túlio, Zé Roberto, até mesmo Zé Carlos e Lúcio Flávio. Cuca – que
atualmente já refinou mais as suas opções táticas – chegou a falar, em vésperas
de final – do gol que o São Paulo levou no último minuto e lhe retirou o título
quando Cuca comandava o clube paulista. Falou em ´pesadelos’ ressurgidos…
Com todo o
respeito pelo carinho de Cuca pelo Botafogo, na verdade a diretoria da época
permitiu tudo a Cuca, desde ‘não ver’ os seus erros a desculpar Zé Roberto
pelos atrasos permanentes aos treinos, até o mesmo solicitar a suspensão de Zé
Roberto e depois pedir a sua reintegração após o incidente do doping de Dodô. Ou quando no jogo com o
River Plate recuou para gerir o resultado pensando ter o jogo ganho e depois
lançou as culpas para os jogadores, demitiu-se, e foi reintegrado pela mesma
diretoria 9 dias depois, boicotando e desrespeitando o novo treinador Mário
Sérgio nos meios de comunicação social.
Muita gente
não viu a realidade, deixando-se envolver pelo que se designava de ‘carrossel
alvinegro’ cujos resultados foram nulos… Nem títulos nem classificação à Copa
Libertadores. O melhor que se obteve foi um 7º lugar no Brasileirão.
Manter Cuca
após a sua demissão foi o maior erro da diretoria de Bebeto de Freitas, que
acabou redundando, em 2008, no célebre chororô triplo de Cuca, Túlio e Bebeto
de Freitas, cujo resultado foi este: Bebeto de Freitas suspendeu o seu mandato
temporariamente, Cuca saiu ainda no 1º semestre e Túlio foi fazer vida noutras
paragens.
No final do
mandato, Bebeto de Freitas, um presidente globalmente positivo que resgatou o
Botafogo à segunda divisão, acabou saindo pela porta baixa do Clube e nunca
mais surgiu como figura botafoguense de primeiro plano. Apareceu então o apoio
de Montenegro a Maurício Assumpção nas eleições, figura que ele não conhecia e
que lhe foi indicada por amigos como ‘possível’ e ‘desejável’.
Maurício
Assumpção era dirigente desportivo do América Lions de futebol americano…
Figura 2009-2014
Maurício Assumpção, o presidente apoiado por Carlos
Augusto Montenegro (que lançou vários presidentes que nos afundaram) e cuja
ação redundou na chegada à 2ª divisão e na quase falência técnica e financeira
do Clube.
Apoiei
naturalmente Maurício Assumpção num tempo em que o nosso desespero era grande
após o afundamento da gestão de 2007-2008. Mas neste blogue, que o designou por
NÓDOA, Assumpção deixou de ser apoiado em vésperas da final da Taça Rio, em
2009, a qual perdemos para o Flamengo com um gol contra de Emerson num chute de
bico em direção à nossa baliza e a dois metros dela… Na sexta-feira anterior,
dirigentes do Botafogo reuniram-se num almoço com dirigentes do Flamengo (os
presidentes não estiveram presentes) a pretexto de debater ‘assuntos de interesse’
para ambos, sendo que Assumpção não se opôs ao ‘convívio’. Não se sabe de que
‘assuntos de interesse’ foram tratados em antevéspera de clássico, mas no
domingo o Botafogo perdeu com um gol contra resultante de um bico de Emerson. Seríamos
campeões estaduais diretos por termos vencido a Taça Guanabara. Tivemos que ir
à final do campeonato e Emerson fez novo gol contra no 1º jogo da decisão.
Desde aí era
facilmente identificável a omissão e a covardia de Assumpção, e ao longo dos anos
isso foi-se acentuando até que Assumpção, enraivecido desde que lhe descobriram
publicamente ações condenáveis de gestão financeira e sendo muito criticado
pelo próprio plantel, acabou por demitir 4 dos nossos 5 melhores atletas por
vingança (só não demitiu Jeferson porque seria um terramoto ingerível na
torcida) e atirou o Botafogo para a 2ª divisão e para a ruína técnica e financeira.
Muita gente
não viu a realidade, Assumpção era vangloriado publicamente como gestor
exemplar até ao próprio ano de 2014, enquanto as finanças do Botafogo
minguavam, enquanto deixava o Engenhão entregue a negociatas sem dizer uma
palavra até hoje, enquanto os planteis eram geridos vergonhosamente com
jogadores contratados que nunca chegaram a jogar, enquanto afundava
objetivamente o Clube e o seu futebol.
2015-2016
Carlos Eduardo Pereira, que corajosamente assumiu a
presidência do Clube, vencendo felizmente o candidato de Carlos Augusto
Montenegro, logrou selecionar um diretor financeiro capaz do ponto de vista
financeiro e contabilístico e iniciou, embora timidamente, dada a nossa
situação de descrença absoluta, a recuperação do Clube.
Não obstante
a recuperação financeira e a conquista do campeonato brasileiro da 2ª divisão,
que seria uma obrigação para um Clube da nossa grandeza, tecnicamente o Clube
não evoluiu praticamente nada, saldando-se o ano por alguma recuperação
financeira e pela conquista do título apenas garantido nas últimas rodadas. E,
no entanto, com um erro crasso em minha opinião: a contratação de Ricardo Gomes
como treinador após 4 anos de recuperação de um AVC que lhe deixou algumas
sequelas. Gomes foi um excelente zagueiro e uma pessoa de caráter, mas o risco
da sua contratação era muito grande.
No entanto,
com uma pessoa desatualizada à frente do nosso departamento de futebol, e ainda
por cima torcedor de outro Clube rival, a política de contratações foi
tendencialmente um desastre, contratando-se jogadores a mais, tendo a maioria
deles uma clara incapacidade de representar dignamente uma Gloriosa Camisa como
a nossa. E Ricardo Gomes acabou por nos conduzir à linha do Z4. E rescindiu
contrato ao ser desejado pelo São Paulo, que cometeu mais um erro de avaliação
e acabou demitindo Gomes três meses depois face aos resultados. E ninguém
contratou o treinador durante meses, acabando no refúgio da Arábia Saudita em julho
deste ano, mas tendo sido demitido ainda em setembro, dois meses depois, face
aos resultados…
E, então,
uma vez mais o Clube não se mostrou ousado em contratar um técnico com créditos
firmados e repetiu uma cena de há dois anos antes quando Assumpção foi disputar
a Libertadores com Eduardo Húngaro, porque era um ‘treinador’ mais ‘baratinho’,
cujos resultados todos se lembram: Carlos Eduardo Pereira promoveu Jair Ventura
a treinador principal e (quase) todos nós, incluindo eu, ficamos com o coração
nas mãos temendo por nova descida de divisão…
(CONTINUA)
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