segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Como foi, como é, como será o nosso Clube nos próximos anos?... (I)

Nota preliminar: o texto foi concluído no dia 29.09.2017, portanto, escrito antes do descalabro de ontem no estádio Nilton Santos; o texto publica-se em duas partes (2 e 3 de outubro).

Há muito tempo que o editor do Mundo Botafogo não se posiciona de fora sistematizada em termos de avaliação global da situação do nosso Clube, em especial o que respeita ao futebol profissional, já que o Remo continua sendo a modalidade topo do Clube ganhando tudo o que disputa, o Pólo Aquático campeão brasileiro mantém uma forte performance, o Basquetebol e o Voleibol estão regressando com grandes ambições, enfim, o Clube está vivo e bem vivo.

Havia razões para isso: não quis interferir de forma que parecesse negativa num momento tão importante de disputa da Copa Libertadores e da Copa do Brasil, além do Campeonato Nacional, evitando que pudesse ser conotado com a senda do pessimismo que caracterizou a nossa torcida nas duas últimas dezenas de anos – o que não seria nem justo nem verdadeiro.

Porém, após a melhor campanha da Copa Libertadores em todos os tempos (14 jogos e 7 vitórias!) em que afastamos cinco campeões sul-americanos de cinco países, bem como a melhor campanha da Copa do Brasil desde a frustrada final de 1999 (e semelhante às de 2007 e 2008), pode-se falar à vontade, tão à vontade quanto conseguimos chegar simultaneamente ao G6 do Brasileirão, não obstante as duas difíceis competições mencionadas, não obstante um plantel tecnicamente de mediano para baixo (exceção aos goleiros Jeferson e Gatito Fernandez) e não obstante Jair Ventura ter que refazer o plantel por duas vezes em pleno ano de 2017!

O nosso comentário procurará realçar todos os aspetos positivos e alguns menos positivos que são fundamentais para a reflexão sobre o futuro.

Veja-se apenas um breve retrospecto das quatro ‘figuras principais’ que, em minha opinião, dominaram a imagem do Botafogo na última dezena de anos (2007 a 2017):

Figura 2007-2008

Alex Stival, o ‘Cuca’, que com o seu futebol ofensivo, e a sua defesa do tipo ‘peneira para tapar o sol’, encantou os botafoguenses, mas deixou a marca do ‘chororô’ aproveitado pelos adversários. Não tenhamos dúvida: o perfil fatalista de Cuca nunca me convenceu que iria ganhar fosse o que fosse de importante.

Pode-se argumentar que fomos prejudicados, é verdade, mas sobretudo isso ocorreu no campeonato carioca, que já não era importante à época e menos ainda atualmente, e num jogo de semifinal da Copa do Brasil em 2007, já que em 2008 fomos afastados também na semifinal pelo Corinthians de forma limpa. O Botafogo de Cuca estava esgotado e ele mesmo reconheceu isso saindo do Clube por mútuo acordo.

Porém, foram os fantasmas de Cuca, os seus erros estratégicos e a sua incapacidade de montar uma defesa realmente forte (lembram-se dos resultados sucessivos de 2x2 e até mesmo de 3x3 e 4x4 após estarmos em vantagem em alguns casos por 2x0?...) que nos levaram à míngua de títulos com uma equipe que, diga-se, era realmente melhor que as que se seguiram, incluindo a atual, onde despontavam Dodô, Jorge Henrique, Túlio, Zé Roberto, até mesmo Zé Carlos e Lúcio Flávio. Cuca – que atualmente já refinou mais as suas opções táticas – chegou a falar, em vésperas de final – do gol que o São Paulo levou no último minuto e lhe retirou o título quando Cuca comandava o clube paulista. Falou em ´pesadelos’ ressurgidos…

Com todo o respeito pelo carinho de Cuca pelo Botafogo, na verdade a diretoria da época permitiu tudo a Cuca, desde ‘não ver’ os seus erros a desculpar Zé Roberto pelos atrasos permanentes aos treinos, até o mesmo solicitar a suspensão de Zé Roberto e depois pedir a sua reintegração após o incidente do doping de Dodô. Ou quando no jogo com o River Plate recuou para gerir o resultado pensando ter o jogo ganho e depois lançou as culpas para os jogadores, demitiu-se, e foi reintegrado pela mesma diretoria 9 dias depois, boicotando e desrespeitando o novo treinador Mário Sérgio nos meios de comunicação social.

Muita gente não viu a realidade, deixando-se envolver pelo que se designava de ‘carrossel alvinegro’ cujos resultados foram nulos… Nem títulos nem classificação à Copa Libertadores. O melhor que se obteve foi um 7º lugar no Brasileirão.

Manter Cuca após a sua demissão foi o maior erro da diretoria de Bebeto de Freitas, que acabou redundando, em 2008, no célebre chororô triplo de Cuca, Túlio e Bebeto de Freitas, cujo resultado foi este: Bebeto de Freitas suspendeu o seu mandato temporariamente, Cuca saiu ainda no 1º semestre e Túlio foi fazer vida noutras paragens.

No final do mandato, Bebeto de Freitas, um presidente globalmente positivo que resgatou o Botafogo à segunda divisão, acabou saindo pela porta baixa do Clube e nunca mais surgiu como figura botafoguense de primeiro plano. Apareceu então o apoio de Montenegro a Maurício Assumpção nas eleições, figura que ele não conhecia e que lhe foi indicada por amigos como ‘possível’ e ‘desejável’.

Maurício Assumpção era dirigente desportivo do América Lions de futebol americano…

Figura 2009-2014

Maurício Assumpção, o presidente apoiado por Carlos Augusto Montenegro (que lançou vários presidentes que nos afundaram) e cuja ação redundou na chegada à 2ª divisão e na quase falência técnica e financeira do Clube.

Apoiei naturalmente Maurício Assumpção num tempo em que o nosso desespero era grande após o afundamento da gestão de 2007-2008. Mas neste blogue, que o designou por NÓDOA, Assumpção deixou de ser apoiado em vésperas da final da Taça Rio, em 2009, a qual perdemos para o Flamengo com um gol contra de Emerson num chute de bico em direção à nossa baliza e a dois metros dela… Na sexta-feira anterior, dirigentes do Botafogo reuniram-se num almoço com dirigentes do Flamengo (os presidentes não estiveram presentes) a pretexto de debater ‘assuntos de interesse’ para ambos, sendo que Assumpção não se opôs ao ‘convívio’. Não se sabe de que ‘assuntos de interesse’ foram tratados em antevéspera de clássico, mas no domingo o Botafogo perdeu com um gol contra resultante de um bico de Emerson. Seríamos campeões estaduais diretos por termos vencido a Taça Guanabara. Tivemos que ir à final do campeonato e Emerson fez novo gol contra no 1º jogo da decisão.

Desde aí era facilmente identificável a omissão e a covardia de Assumpção, e ao longo dos anos isso foi-se acentuando até que Assumpção, enraivecido desde que lhe descobriram publicamente ações condenáveis de gestão financeira e sendo muito criticado pelo próprio plantel, acabou por demitir 4 dos nossos 5 melhores atletas por vingança (só não demitiu Jeferson porque seria um terramoto ingerível na torcida) e atirou o Botafogo para a 2ª divisão e para a ruína técnica e financeira.

Muita gente não viu a realidade, Assumpção era vangloriado publicamente como gestor exemplar até ao próprio ano de 2014, enquanto as finanças do Botafogo minguavam, enquanto deixava o Engenhão entregue a negociatas sem dizer uma palavra até hoje, enquanto os planteis eram geridos vergonhosamente com jogadores contratados que nunca chegaram a jogar, enquanto afundava objetivamente o Clube e o seu futebol.

2015-2016

Carlos Eduardo Pereira, que corajosamente assumiu a presidência do Clube, vencendo felizmente o candidato de Carlos Augusto Montenegro, logrou selecionar um diretor financeiro capaz do ponto de vista financeiro e contabilístico e iniciou, embora timidamente, dada a nossa situação de descrença absoluta, a recuperação do Clube.

Não obstante a recuperação financeira e a conquista do campeonato brasileiro da 2ª divisão, que seria uma obrigação para um Clube da nossa grandeza, tecnicamente o Clube não evoluiu praticamente nada, saldando-se o ano por alguma recuperação financeira e pela conquista do título apenas garantido nas últimas rodadas. E, no entanto, com um erro crasso em minha opinião: a contratação de Ricardo Gomes como treinador após 4 anos de recuperação de um AVC que lhe deixou algumas sequelas. Gomes foi um excelente zagueiro e uma pessoa de caráter, mas o risco da sua contratação era muito grande.

No entanto, com uma pessoa desatualizada à frente do nosso departamento de futebol, e ainda por cima torcedor de outro Clube rival, a política de contratações foi tendencialmente um desastre, contratando-se jogadores a mais, tendo a maioria deles uma clara incapacidade de representar dignamente uma Gloriosa Camisa como a nossa. E Ricardo Gomes acabou por nos conduzir à linha do Z4. E rescindiu contrato ao ser desejado pelo São Paulo, que cometeu mais um erro de avaliação e acabou demitindo Gomes três meses depois face aos resultados. E ninguém contratou o treinador durante meses, acabando no refúgio da Arábia Saudita em julho deste ano, mas tendo sido demitido ainda em setembro, dois meses depois, face aos resultados…

E, então, uma vez mais o Clube não se mostrou ousado em contratar um técnico com créditos firmados e repetiu uma cena de há dois anos antes quando Assumpção foi disputar a Libertadores com Eduardo Húngaro, porque era um ‘treinador’ mais ‘baratinho’, cujos resultados todos se lembram: Carlos Eduardo Pereira promoveu Jair Ventura a treinador principal e (quase) todos nós, incluindo eu, ficamos com o coração nas mãos temendo por nova descida de divisão…

(CONTINUA)

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