Otávio Sérgio da Costa Moraes — meia-esquerda campeão carioca de 1948 e
artilheiro do campeonato com Orlando ‘Pingo de Ouro’, do Fluminense:
“Acontece que o
fato mais importante de todos, em 1948, foi o aparecimento de um guia, de um
estímulo. Carlito Rocha representou tudo isso. Com uma dignidade enorme, ele
foi mais do que um Presidente. Tinha um passado no clube e um grande carisma.
Ele nos cativou como um pai. O time e o título têm explicação: Carlito Rocha.
Antes
da partida final, nós viramos em cima do Olaria. Estávamos perdendo por 3 a 1.
Faltavam 16 minutos e fizemos 4 a 3. No decorrer do campeonato, tivemos alguns
contratempos devido a algumas contusões. Contra o Vasco, fomos pra cima.
Quando
o Gerson se chocou com o Dimas e o Dr. Paes Barreto foi socorrê-lo, ele
perguntou: ‘Onde é que eu estou?’ Gerson saiu e nós passamos a jogar com dez.
Rubinho queria ir para central de área, porque jogava nessa posição lá na Urca.
Veio o Paraguaio e disse: ‘Não, eu sou o melhor central da minha terra e vou
substituir o Gerson.’ Paraguaio cumpriu a missão sensacionalmente. O Pirilo
voltou um pouco e eu fiquei na frente, enfiado. Com dez, cercávamos o time do
Vasco. Eu não voltava. Quando queria ajudar, o Juvenal e o Geninho gritavam
comigo: ‘Fica lá, fica lá.’
No gol que eu
marquei, o Juvenal deu para o Ávila, que jogou por cima. Eu dominei no chão e
não dei tempo para o Wilson chegar. Correndo, levei para a perna direita, a
boa, e pensei, ao passar pela linha da grande área: ‘Vou chutar para não ser
alcançado.’ Olhei para o gol e o crioulo (referindo-se a Barbosa) estava apavorado. Olhei, vi
o olho do crioulo. Pensei, ele vai me dar um lado e ficar no outro. Como entrei
um pouquinho para a esquerda, ele abriu para a esquerda. Levantei a cabeça, não
precisei mais olhar para a bola. Dei uma porrada que passou entre ele e o
travessão.”
Osvaldo ‘Baliza’ — goleiro campeão carioca de 1948:
“O Botafogo
começou perdendo para o São Cristóvão por 4 a 0. Foi acomodação. O Botafogo
ficou 13 dias no Hotel Quitandinha. Tinha jogador que ficava na piscina,
pedindo sanduíche com suco de frutas, e o São Cristóvão aqui em baixo, comendo
prato feito. São piadas feitas na época. Bem, saímos de lá e fomos inaugurar o
Hotel Canadá, em Copacabana. O hotel era tão bom que ninguém dormiu na cama. A
gente dormia no chão, porque o tapete era mais gostoso. Saímos dali, viemos
para o campo do Botafogo e perdemos por 4 a 0.
Fizemos
depois uma mesa-redonda e resolvemos não ter mais concentração e ganhamos o
campeonato. Até o final tivemos mais dois empates: Bangu 0 a 0 e Fluminense 2 a
2.
Carlito
gostava muito de animais e era supersticioso demais. Se você entrasse em campo,
chutasse uma pedra e o time ganhasse, no outro jogo você tinha que chutar
aquela pedra. Então houve o caso do Biriba. Ele entrou na minha frente. Eu
parti para o gol e ele foi atrás de mim. Chegou lá, regou a baliza e veio para
o meio-de-campo tirar fotografia sem ninguém mandar. Acontece que o Botafogo
abriu o placar naquele lado que o Biriba fez xixi. O jogo foi 4 a 0 contra o
Madureira., em General Severiano. A partir dali, ninguém botava a mão no Biriba
antes do Carlito.
Ele era tão
supersticioso que uma vez o Fedato, gerente que tínhamos na nossa concentração,
chegou antes do jogo contra o Bangu e foi desmanchar os nós que ele fazia. Dois
já se tinham desmanchado quando o Carlito chamou o gerente e ameaçou colocá-lo
na rua. ‘Ai, meu Deus, se você desmanchar tudo nós perdemos o jogo, Fedato’,
dizia, com aquele gesto de bater na perna que ele sempre fazia.”
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